O diabetes e suas principais complicações



O DIABETES E SUAS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES 

Cristiano Ferreira dos Santos

Suzi Francelina de Freitas dos Santos

Claudia Helena Ramos da Silva

 Resumo

O diabetes melito compõe um grupo de doenças metabólicas que tem como característica principal a hiperglicemia. As causas da doença são decorrentes dos defeitos da secreção e/ou da ação da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas e responsável pela regulação da glicose na corrente sanguínea. A doença pode se desenvolver como pré-diabetes, diabetes tipo 1, diabetes tipo 2, diabetes gestacional e, ainda, diabetes associado a outras condições ou síndromes. Os fatores de risco incluem antecedentes familiares de diabetes, sedentarismo, hipertensão arterial, diabetes gestacional prévio, entre outras condições. As manifestações clínicas mais comuns estão descritas como polidipsia, poliúria, polifagia e perda de peso – comumente conhecidos como os “três Ps”. O tratamento está direcionado para o controle da glicemia através da mudança dos hábitos alimentares, prática de exercícios físicos, controle do peso, e tratamento medicamentoso. Se não tratado, o diabetes leva a sérias complicações que comprometem sistemicamente o organismo afetado. Tais complicações referem-se, mais frequentemente, ao pé diabético, à retinopatia diabética, à cardiopatia diabética, entre outras manifestações também aqui citadas. 

Abstract

Diabetes mellitus is a heterogeneous group of metabolic diseases that is characterized by hyperglycemia. The causes of the disease are due to defects in secretion and / or action of insulin, a hormone produced by the pancreas and responsible for the regulation of glucose into the bloodstream. The disease can develop as pre-diabetes, type 1 diabetes, type 2 diabetes, gestational diabetes, and also diabetes associated with other conditions or syndromes. Risk factors include family history of diabetes, sedentary lifestyle, hypertension, previous gestational diabetes, among other conditions. The most common clinical manifestations are described as polydipsia, polyuria, polyphagia and weight loss - commonly known as the "three Ps". Treatment is directed to glycemic control by changing dietary habits, physical exercise, weight control, and drug treatment. If untreated, diabetes leads to serious complications that compromise the body systemically affected. Such complications refer more often to the diabetic foot, the diabetic retinopathy, the diabetic heart disease, among other demonstrations also mentioned here. 

Palavras-Chave: diabetes melito, complicações, autocuidado.

Justificativa

Informar sobre a doença e suas respectivas alterações/complicações quando há um déficit de autocuidado por parte do cliente portador do diabetes melito. 

Metodologia

Para a elaboração deste trabalho foi realizada uma revisão da literatura científica do tema abordado através de livros e sites disponíveis na internet. 

Objetivo

Informar os processos da doença desde o início da patologia e promover a educação na prevenção das complicações do diabetes melito favorecendo o autocuidado. 

Introdução

A glicose também, chamada de glucose ou dextrose, é um carboidrato monossacarídeo importante na biologia, pois as células do organismo vivo a usa como fonte de energia e intermediário metabólico, sendo esta uma das principais fontes de energia no metabolismo celular no qual através de sua degradação por processo respiratório das células (processo químico) se obtém energia denominada trifosfato de adenosina (ATP). Sua função, além do fornecimento de energia, é ser precursora de outras moléculas. Níveis elevados de glicose no sangue (hiperglicemia) são decorrentes dos defeitos da secreção e/ ou da ação da insulina (ADA; American Diabetes Association, 2003). O diabetes melito (DM) é conhecido por ser um grupo de doenças metabólicas decorrentes dessas alterações, nas quais as principais fontes desses carboidratos são obtidas através da absorção dos alimentos ingeridos no trato intestinal, mas também pode ser formada no fígado a partir das substâncias alimentares. O pâncreas, que é a glândula responsável pela produção do hormônio insulina aqui discutido, também produz enzimas que ajudam na digestão dos alimentos, além do glucagon e a somatostatina - que também são hormônios. A insulina por sua vez, tende a controlar os níveis de glicose no sangue regulando a produção e o armazenamento da glicose. Porém, um indivíduo no estado diabético, devido aos altos níveis de açúcar circulante no sangue, pode desenvolver complicações metabólicas agudas como a cetoacidose diabética e a síndrome não-cetótica hiperosmolar hiperglicêmica, pois as células param de responder à ação da insulina ou o pâncreas deixa de produzi-las totalmente nesse estado, contribuindo também em longo prazo para complicações micro e macrovascular  como doenças renais e oculares e doença da artéria coronária. 

Fisiopatologia do Diabetes Mellitus 

O DM é uma doença causada pela deficiência de produção e/ou de ação da insulina, levando o organismo a sintomas agudos e a complicações crônicas características. A doença pode se apresentar de diversas formas como: diabetes melito tipo 1; diabetes melito tipo 2; diabetes gestacional e diabetes associado a outras doenças (como pancreatite alcoólica ou diabetes medicamentosa), que podem comprometer a produção de insulina aumentando as taxas de glicose no sangue levando ao pré-diabetes. Este distúrbio envolve não somente o metabolismo da glicose, mas também das gorduras e das proteínas, e sem os devidos cuidados e precauções pode levar a graves consequências à curto e longo prazo após a instalação da doença (SMELTZER et al., 2009). Visando manter a glicemia constante, o pâncreas também produz outro hormônio antagônico à insulina, denominado glucagon. Quando o nível de glicemia está baixo, o glucagon é secretado para manter o nível de glicose na circulação. Ou seja, o glucagon é liberado nos períodos de jejum e a insulina nos períodos pós-prandiais (após refeição). Sendo a insulina o principal hormônio regulador da glicose que é absorvida pelas células sanguíneas - células de gordura e musculares, excluindo-se as células do sistema nervoso central -, a falha na sua produção ou a incapacidade de ser absorvida gera um grande risco em todas as formas do diabetes melito. O aumento da glicemia traz complicações crônicas que se desenvolvem a longo prazo sendo os sintomas mais comuns: queixas visuais, cardíacas, circulatórias, digestivas, renais, urinárias, neurológicas, dermatológicas, ortopédicas, entre outras. Pacientes que apresentam sede excessiva, aumento do volume do número de micções (incluindo o surgimento do hábito de acordar a noite para urinar – queixa comum entre os pacientes), fome excessiva e emagrecimento, devem procurar o medico para confirmar o diagnostico.(VARELLA & JARDIM, 2009). Faz-se necessário ao portador de qualquer forma de DM, o acompanhamento e o compromisso junto a uma equipe multidisciplinar, uma reestruturação do plano alimentar, exercícios físicos, controle da pressão arterial, evitando medicamentos como cortisona e diuréticos tiazídicos - pois prejudicam o pâncreas - manter-se atento aos medicamentos hipoglicemiantes orais e a quaisquer mudanças em seu organismo. (SMELTZER et al. 2009) 

Pré Diabetes

O termo é utilizado para identificar as pessoas que possuem risco potencial de desenvolver o diabetes. É o estado intermediário entre a normalidade e o diabetes do tipo 2 no adulto. No entanto, sabe-se que nem todos irão deixar a condição de pré-diabético para se tornar um diabético. Mas, por precaução, são considerados em estado de risco para essa progressão. 

Diabetes Tipo 1

Caracterizado pela destruição das células beta pancreáticas por fatores ambientais (vírus ou toxinas que podem destruir as células beta), imunológicos (auto anticorpos) e genéticos em combinações, o diabetes denominado tipo 1  surge devido a uma predisposição genética como um dos fatores para o seu desenvolvimento, que de forma comum se inicia ou é detectado na infância e adolescência. Indiferente à sua etiologia, a destruição das células beta leva a uma menor produção de insulina provocando livre produção de glicose pelo fígado e o aumento da mesma na circulação sanguínea também pela alimentação, já que esta não é armazenada no fígado, constituindo assim, a hiperglicemia pós-prandial. 

Diabetes Tipo 2

O diabetes do tipo 2 é assim denominado quando há resistência à insulina pela redução da sensibilidade tecidual, ou seja,  as reações intracelulares com a insulina estão diminuídas tornando-a menos efetiva no metabolismo da glicose e a secreção da mesma  torna-se comprometida no organismo do indivíduo afetado. 

Diabetes Gestacional

Esse tipo é diagnosticado devido a intolerância à glicose no início da gestação por causa da secreção de hormônios placentários que provocam a resistência à insulina. Idade acima de 25 anos, obesidade, grupo étnico (afros americanos e hispânicos são a maioria), ou ainda, quadro familiar de diabetes em parentes de primeiro grau são critérios para o desenvolvimento da doença. É necessário realizar uma triagem para um diagnóstico preciso, pois há aumento do risco de distúrbios de hipertensão sendo necessária a modificação da dieta e monitoração da glicemia e da pressão arterial. A insulina pode ser prescrita no tratamento da hiperglicemia, pois não devem ser administrados ou prescritos os hipoglicemiantes orais. 

Fatores de Risco para o Diabetes Melito

De acordo com SMELTZER et al. (2009) os principais fatores que aumentam as chances de desenvolver o DM são: 

  • Idade maior ou igual a 45 anos.
  • História familiar de DM ( pais, filhos e irmãos).
  • Sedentarismo.
  • HDL baixo ou triglicerídeos elevados.
  • Hipertensão arterial.
  • Doença coronariana.
  • DM gestacional prévio.
  • Filhos com peso maior que 4 kg, abortos de repetição ou morte de filhos nos primeiros dias de vida.
  • Uso de medicamentos que aumentam a glicose ( cortisonas, diuréticos tiazídicos e beta-bloqueadores). 

Manifestações Clínicas

As manifestações clínicas mais frequentes desta doença são: sensação de fadiga, irritabilidade, visão turva, poliúria (aumento do número de micções ou o ato de urinar), polidipsia (sede excessiva) , polifagia (apetite aumentado)  e feridas cutâneas de difícil cicatrização. Em mulheres, as infecções vaginais constantes também estão relacionadas ao estado hiperglicêmico. Esses sintomas a longo prazo irão contribuir para complicações severas quando não detectados no indivíduo portador da doença, pois muitas vezes as complicações são detectadas ou diagnosticadas de forma separada e o diagnóstico de diabetes não é concluído. 

Diagnóstico

Existem dois critérios iniciais utilizados para o diagnóstico de diabetes. Um deles é o da glicose plasmática em jejum (de 126 mg/dl (7,0 mol/L) ou mais, ou superiores a 200 mg/dl (11,1 mmol/L) em mais de uma ocasião. O outro é o teste de tolerância a glicose oral e também o intravenoso. Os dois critérios são importantes componentes para a elaboração dos cuidados deste indivíduo, embora SMELTZER et al. (2009) relate que o teste de tolerância a glicose oral já não seja mais indicado como critério diagnóstico. Dentre esses achados não podemos excluir as manifestações clínicas apresentadas pelo indivíduo como a poliúria (micção aumentada), a polidipsia (sede aumentada) e a polifagia (apetite aumentado), além de fadiga, fraqueza, tremores, alterações visuais súbitas, formigamento ou dormência nas mãos e pés, lesões de cicatrização lenta e infecções recorrentes. 

Tratamento

O tratamento consiste em normalizar a atividade da insulina e os níveis sanguíneos de glicose fazendo com que os riscos e as complicações advindas da doença sejam minimizados ou não progridam a ponto de afetar de forma total ou parcial algum órgão ou membro do indivíduo portador da doença. Basicamente, o tratamento está relacionado principalmente com o controle do peso do cliente, a realização de exercícios físicos, monitorização e controle da glicose, terapia farmacológica e a educação para avaliar posteriormente o autocuidado deste cliente por parte dos profissionais que o acompanham, possibilitando dessa forma alterações ou ajustes na terapia. No caso nutricional, a base é o controle da ingesta calórica total para a manutenção do peso e dos níveis sanguíneos pré e pós-prandiais. Neste caso, a ajuda e acompanhamento de um nutricionista possibilita um planejamento ideal de alimentos para satisfazer as necessidades energéticas do indivíduo; bem como horários adequados das refeições considerando as preferências alimentares, estilo de vida e bases étnico-culturais do paciente, para que no momento em que o mesmo estiver sendo assistido por um profissional de saúde, este possa dar suporte ao paciente que necessitar de implementações e alterações na dieta programada e no estilo de vida. O consumo de álcool por parte do diabético deve ser moderado devido aos efeitos adversos potenciais desta substância assim como os não portadores, pois o principal perigo para o diabético são os quadros de hipoglicemia, principalmente aqueles que fazem uso de insulina exógena, não permitindo a percepção por parte do paciente de um possível episódio hipoglicêmico. 

Prevenção

A prevenção está ligada principalmente ao controle da ingesta de alimentos ricos em carboidratos e gorduras, bem como exercícios frequentes, controle da pressão arterial e glicêmico, ingesta moderada de álcool e bebidas contendo açúcares como licores, doces à base de frutose (contendo sorbitol, xilitol), uso de adoçantes substituindo o açúcar industrial, além do controle do colesterol e triglicérides através de exames laboratoriais, pois todos os benefícios alcançados com este planejamento favorecem o não desenvolvimento das doenças macro e microvasculares. 

Complicações do Diabetes

Geralmente compreensíveis por apresentar sintomas específicos desta patologia, as complicações possíveis do individuo diabético nos permite avaliar quadros de hiper ou hipoglicemia, porém a monitoração frequente nos traz dados importantes e confiáveis para determinada ação frente as estes tipos de alterações. Por isso é fundamental a monitorização por parte do cliente quando o mesmo é capaz e orientado, possibilitando a adequação do tratamento escolhido (medicação oral ou insulinoterapia) atingindo os níveis desejados de glicose sanguínea. Contudo, as alterações que podem ocorrem diante de um episódio de hipoglicemia e hiperglicemia, se constantes, trazem diversas complicações a longo prazo ao cliente como: diminuição das funções renais (nefropatias), alterações na visão (retinopatias), doenças cardiovasculares e neuropatias (alterações nervosas periféricas). A cetoacidose diabética (DKA) ocorre devido à ausência e/ou de uma quantidade inadequada de insulina, resultando em distúrbios no metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídios. Basicamente, acontece devido ao aumento de glicose produzida pelo fígado quando a glicose não entra na célula ou entra de forma insuficiente, levando a episódios de hiperglicemia fazendo com que os rins iniciem a excreção desse excesso de glicose junto com a água e eletrólitos (sódio e potássio) levando a desidratação e perda de eletrólitos do indivíduo afetado. Seus aspectos clínicos decorrentes são: hiperglicemia, desidratação e perda de eletrólitos e acidose. Outro meio pelo qual a acidose ocorre é a clivagem dos lipídios (lipólise) em ácidos graxos e glicerol, que convertidos em corpos cetônicos em excesso pelo fígado, pela falta de insulina ou insuficiência desta, levam a um acúmulo na circulação sanguínea provocando a acidose metabólica. Diminuídas doses de insulina ou ausência delas ocorrem por desconhecimento dos pacientes nesta terapêutica principalmente quando acham que devido à doença ou um quadro de vômito persistente deixam de usar a insulina ou diminuem a dose administrada. A aspiração inadequada, doses diminuídas pelo não enfrentamento da doença ou oclusões em bombas de infusão contínua também causam a cetoacidose. As manifestações clínicas incluem: poliúria e polidipsia; além de fraqueza, cefaleia e alterações visuais. Hálito cetônico - que é um odor característico deste episódio - bem como hiperventilação, com respirações profundas, denominadas respirações de Kussmaul, acontecem na tentativa de diminuir o acúmulo de cetonas e reduzir a acidose pelo próprio mecanismo fisiológico. Os diagnósticos são de variações de glicose de 300mg/dl a 800mg/dl ou mais, dependendo do grau de desidratação. Mas isso não indica necessariamente que o indivíduo esteja em acidose, pois os valores refletidos que evidenciam a cetoacidose são os baixos valores de bicarbonato sérico e do pH (potencial de hidrogênio) de10 a30 mmHg. A prevenção está relacionada à capacidade do cliente avaliar-se diante de uma infecção e não eliminar as doses usuais de insulina mesmo diante de episódios seguidos de vômito e diarreia, além de consumir carboidratos em pequenas quantidades como sucos, refrigerantes e gelatina, já que são rapidamente absorvidos e de fácil reidratação. As complicações a longo prazo são menos comuns devido a qualidade de vida que os diabéticos passaram a ter com o desenvolvimento de novas drogas e terapêuticas diversas com auxílio de profissionais capacitados, a educação continuada e o autocuidado, porém as complicações cardiovasculares e renais têm aumentado o número de mortalidade relacionada ao diabete à medida que se torna comum viver com a doença. Os estudos têm mostrado as relações de altos níveis de glicose no sangue de forma persistente com os problemas neurológicos, complicações micro e macro vasculares como o espessamento dos vasos através da esclerose, tornando o fluxo sanguíneo ineficaz e acarretando aumento de pressão arterial sistêmica e renal com comprometimento severo do néfron. Além das cardiopatias coronarianas, a doença vascular periférica e a vascular cerebral são as complicações que mais ocorrem nos clientes diabéticos, como infarto do miocárdio e suas complicações além da possibilidade de um segundo infarto do miocárdio. As cardiopatias em um indivíduo diabético levam a essas complicações de difícil detecção uma vez que a isquemia e a sintomatologia típica podem estar ausentes, observados apenas através de um eletrocardiograma (ECG). Já nos vasos cerebrais, o comprometimento devido a aterosclerose acelerada, leva a episódios de êmbolos e crises isquêmicas causadas por estes êmbolos diminuindo a circulação do sangue e aumentando a probabilidade de mortes por  este tipo de alteração. As alterações nos vasos sanguíneos dos membros inferiores constituem as doenças vasculares periféricas, com presença de oclusões devido às escleroses dos vasos diminuindo o retorno venoso, pulso periférico e claudicação intermitente (dores nas coxas, nádegas e panturrilhas durante a deambulação), levando a gangrena e amputação nos casos mais graves. Nas doenças microvasculares, por exemplo, a retinopatia, os portadores do diabete estão sujeitos a múltiplas complicações visuais por ocorrer pequenas alterações nos vasos sanguíneos da retina (área do olho que recebe as imagens e envia as informações para o cérebro). Embora a maioria não desenvolva comprometimentos visuais, quando ocorrem, estes podem ser devastadores levando a distorção visual e perda da visão, principalmente nos casos de retinopatia proliferativa, que é a proliferação de novos vasos sanguíneos que quando sofrem hemorragia impedem que a luz do vítreo seja transmitida para a retina resultando em perda de visão. 

Pé Diabético

A neuropatia sensorial periférica em associação com a má circulação e o imunocomprometimento, no caso de infecções nos pés, ocasionarão feridas de difícil cicatrização, além da perda da sensibilidade e atrofia muscular que pode levar a alterações morfológicas e até incapacidades motoras, resultando no chamado pé diabético. Essa típica sequência de eventos pode ocorrer quando o indivíduo não faz devidamente o controle de inspeção dos seus pés e nem segue as orientações de autocuidado relacionado ao uso de sapatos confortáveis, hidratações dos pés (menos entre os dedos) e o controle da glicose sanguínea, uma vez que os níveis elevados não permitem a cicatrização das feridas e o fim das infecções locais.

Retinopatia Diabética

Conforme SMELTZER et al. (2009), a retinopatia diabética é tida como a principal causa de cegueira entre as pessoas portadoras de diabetes. A retinopatia ocorre por alterações microvasculares na retina, área do olho que recebe as imagens e envias as informações sobre as imagens para o cérebro. Tais alterações são descritas como microaneurismas, hemorragia intrarretiniana, exsudatos duros e fechamento capilar focal. A retinopatia tem três estágios principais: não-proliferativo (basal), pré-proliferativo e proliferativo. O edema macular é uma complicação da retinopatia não-proliferativa que pode levar à distorção visual e à perda da visão central. Na retinopatia pré-proliferativa alterações vasculares disseminadas e perda de fibras nervosas ocorrem com muita frequência. Em10 a50% dos indivíduos com retinopatia pré-proliferativa desenvolverão retinopatia proliferativa em um curto intervalo de tempo. Já a retinopatia proliferativa é caracterizada pela proliferação de novos vasos sanguíneos que crescem a partir da retina para dentro do humor vítreo estando propensos a sangramento, denominado hemorragia vítrea. A perda visual está associada à essa hemorragia e ao descolamento da retina. Em consequência da hemorragia vítrea, a reabsorção do sangue leva à formação de um tecido cicatricial fibroso, que ocasiona o descolamento da retina e a perda da visão.

Cardiopatia Diabética

Mantida por muito tempo, a hiperglicemia leva à lesões de diversos órgãos, como é o caso da cardiopatia diabética resultante de um tratamento inadequado do DM. Muito frequente, a doença cardiovascular é uma complicação crônica e seus eventos isquêmicos cardiovasculares estão presentes em pacientes diabéticos (duas vezes mais comum em homens diabéticos e três vezes mais comuns em mulheres diabéticas), principalmente se houver hipertensão arterial, obesidade e/ou tabagismo associado em maior incidência do que na população em geral (SMELTZER et al., 2009). A interrupção do fluxo sanguíneo (eventos isquêmicos) responsável pela oxigenação dos tecidos podem se manifestar no diabético sem a dor típica que os caracterizam, devido a alterações neurológicas associadas ao diabetes: conhecidos como infartos do miocárdio “silenciosos”. Isso porque a doença cardíaca pode envolver as coronárias, o músculo cardíaco e o sistema de condução dos estímulos elétricos do coração (SMELTZER et al., 2009). Pacientes diabéticos apresentam risco aumentado em50 a60% em chance de morte em um evento cardiovascular - doença cardiovascular (DCV) -, incluindo a doença arterial coronariana (DAC), acidente vascular encefálico (AVC) e doença arterial periférica (DAP)) quando comparados a populaçãoem geral. Asalterações ateroscleróticas nos grandes vasos sanguíneos dos membros inferiores são responsáveis pela incidência aumentada de DAP oclusiva nos pacientes com diabetes.  Os sinais e sintomas da doença vascular periférica incluem os pulsos periféricos diminuídos e a claudicação intermitente (dor nas nádegas, coxas ou panturrilhas durante a deambulação) em sua forma mais grave pode causar gangrena e amputação de membros (SMELTZER et al, 2009). A prevenção de doenças cardiovasculares diabéticas se dá com um controle rigoroso da glicemia e dos demais fatores de risco no diabetes, possibilitando intervenções precoces em pacientes de alto risco reduzindo a mortalidade.

Promovendo a Educação e o Autocuidado

Segundo COELHO & SILVA (2006), a educação para o indivíduo com diabetes é a base para um autocuidado consciente, pois previne complicações e melhora a qualidade de vida. As autoras defendem que o indivíduo deve ser participante nas decisões, considerando seus valores, crenças, nível de conhecimento, habilidades e motivação. Ele deve ter o direito de exercer o controle sobre si mesmo e sobre sua assistência. 

Ensinando o Autocuidado com os Pés

Para SMELTZER et al. (2009) o ensino é a principal estratégia que envolverá os portadores de diabetes para o autocuidado, bem como o familiar que também é envolvido de forma a assistir no tratamento. O diabético é ensinado acerca das habilidades de reconhecer, tratar e prevenir complicações no que concerne aos cuidados com os pés. As dicas de cuidados incluem:

  • Inspeção diária dos pés: com a finalidade de detectar manchas avermelhadas, edemas, cortes, bolhas e mudanças na temperatura dos pés.
  • Lavar os pés diariamente: higienizar os pés em água morna, secar bem entre os artelhos. Não verificar a temperatura da água com os pés, usar um termômetro ou o cotovelo.
  • Manter a pele macia e hidratada: aplicar loção hidratante nas partes superior e inferiores, nunca entre os artelhos.
  • Usar pedra-pome para amaciar calos e calosidades.
  • Aparar as unas dos pés em linha reta e arredondar as bordas com lixa de unha.
  • Não andar descalço, usar calçados confortáveis.
  • Proteger os pés contra o calor e o frio.
  • Movimentar os artelhos e os tornozelos para cima e para baixo por 5 minutos por2 a3 vezes ao dia, não cruzar as pernas por longos períodos, evitar o fumo.
  • Solicitar ao médico que inspecione seus pés descalços a fim de detectar problemas graves – lembre-se que você pode não sentir a dor de uma lesão.
  • Procurar seu médico caso um corte, úlcera, bolha ou equimose não começar a cicatrizar depois de um dia.
  • Nunca se automedicar, não usar remédios caseiros ou populares com o intuito de tratar os pés. 

Ensinando o Autocuidado na Prevenção da Retinopatia Diabética

Ainda segundo SMELTZER et al. (2009), o autocuidado envolve elaborar um plano de cuidados e oferecer a educação ao indivíduo para o autogerenciamento com cuidado ocular. Os cuidados incluem:

  • Controle adequado dos níveis de glicose e da pressão arterial.
  • Exames oftalmológicos frequentes a fim de preservar a visão, pois permitem a detecção e tratamento imediato da retinopatia. 

Ensinando o Autocuidado na Prevenção da Cardiopatia Diabética

Deve se estabelecer um cuidadoso e rigoroso controle obedecendo às mesmas regras para aquelas que não sofrem da doença, atentando para algumas diferenças no caso dos diabéticos (SMELTZER et al., 2009):

  • Controle da pressão arterial – a pressão não deve ser maior que 130 x 80 mmHg.
  • Controle do colesterol e triglicérides – o controle rigoroso dos níveis de colesterol e triglicérides no sangue é fundamental para a prevenção de agressões aos vasos sanguíneos.
  • Controle do tabagismo – pessoas que sofrem com o diabetes não devem fazer uso do cigarro, pois o cigarro agrava a doença; precisam ser fortemente estimuladas a abandonar o cigarro (VARELLA & JARDIM, 2009). 

Considerações Finais

A promoção do autocuidado no indivíduo diabético é de fundamental importância na prevenção das complicações decorrentes da doença. O número de mortes leva a crer que a educação e o ensino não são adequadamente aplicados, o que torna difícil para o portador da doença compreender as alterações fisiológicas que acomete o organismo devido à enfermidade. A mudança nos hábitos devem ser priorizados e incentivados para se alcançar uma qualidade de vida satisfatória e mais perto da normalidade possível.O indivíduo deve ser adequadamente orientado sobre o regime terapêutico e deve ter suas dúvidas esclarecidas a fim de colaborar no processo do cuidado e a fim de evitar complicações que coloquem em risco sua capacidade motora, bem como alterações sistêmicas que comprometam a vida. Portanto, não somente o cuidador e o profissional devem estar empenhados na prevenção das complicações, como também o próprio indivíduo e a sua família. 

Referências 

Smeltzer, S. C. et al. Brunner & Suddarth: Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica.  11ª edição, vol. 2. Editora Guanabara Koogan, 2009. Cap. 41 págs.1215 a 1264. 

Coelho, M. S. & Silva, D. M. G. V. Grupo de Educação-Apoio: Visualizando Autocuidado com os Pés das Pessoas com Diabetes Mellitus. Disponível em : http://eduem.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/5101/3321  acesso em 21/04/2012. 

Varella, D. & Jardim, C. Guia Prático de Saúde e Bem-estar. Gold Editora Ltda. 2009. Cap. 2 e 3 págs.30 a 57.

 


Autor: Suzi Francelina De Freitas Dos Santos


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