Agência Brasil: Agência Brazil?
AGÊNCIA BRASIL OU AGÊNCIA BRAZIL?
Cuiabá, 12 de abril de 2012, quinta-feira, 5h15min. Sentado à minha famélica mesa de servidor público municipal, tomo minha rala xícara de café com leite e depois corro ao computador para a mais rica ceia do espírito: a discussão da pólis mundial. Na página de notícias do Google o foguetão coreano atrai a minha atenção. Os norte-coreanos estão de parabéns pelo lançamento do foguete carregado do satélite a ser colocado em órbita. Um povo incapaz de se elevar aos céus terá sempre alguma coisa de um animal rastejante, preso em sua inferioridade ao rés do chão. Felizmente a natureza e a política deram asas aos norte-coreanos. Terão olhos no espaço. Uma necessidade das mais prementes diante de sua vizinhança de lacaios ianques no Japão e na Coreia do Sul.
O computador do Google que seleciona as notícias, entre outras “opções”, ofereceu-me uma página de um jornal do Rio Grande do Norte, o Tribuna do Norte, o qual noticiava a auspiciosa conquista aeroespacial dos altivos norte-coreanos. Foi então que senti o primeiro tapa na cara: "O mundo está em alerta devido ao lançamento de satélite pela Coreia do Norte".
O mundo? Todo o mundo? Poxa! São sete bilhões de pessoas... Por que só eu não estaria em alerta? Devo ser bem esquisito, pensei. De fato, eu não estava nem um pouco em alerta. Mas lá estava eu, metido entre sete bilhões de seres humanos, todos em "alerta" ante a Coreia do Norte, a se acreditar no Tribuna do Norte.
Acontece que eu não acredito no Tribuna. Sei que antes de um veículo de informação o Tribuna é uma empresa e deve vender um produto (ponto). A qualidade deste produto não se afere pelo teor crítico-consciencial das notícias publicadas, mas pela eficácia mercadológica, pelo quântum de lucro que rende ao seu proprietário.
Disso todo o mundo sabe. A questão que mais importa é esta: por que a mentira daria mais lucro do que a verdade? Não faltam verdades vendáveis. Quem não acompanha fofoca, escândalos, denúncias, brigas, conflitos sociais, guerras? Tudo isso é verdade de boa extração no mercado. Por que, então, o Tribuna do Norte mentia tão flagrantemente?
Ocorre que o noticiário internacional é apenas uma parte do que é vendido. O jornal pode, por exemplo, ser mais verdadeiro ao tratar de escândalos e mais discreto ao tratar de guerras, mesmo sendo estas o maior dos escândalos, sob certas circunstâncias. E a nossa presente circunstância é uma dessas circunstâncias. Empenhadas na repartilha do mundo, as potências transeuropeias maquiam cada mínima foto dos campos de batalha. Por igual, controlam cada vírgula de textos jornalísticos.
Ademais, poder-se-ia pensar que há por trás disso apenas a questão comercial. Custaria caro ao dono do Tribuna manter um correspondente na Coreia do Norte. Não se trata disso, na verdade. A comunicação redial anula distâncias. A informação está na rede. Outra possível razão: a falta de concorrência. Não existem jornais diários na contracorrente midiática. Por isso mesmo os jornais vendem cada vez menos. Os que resistem, como o Tribuna do Norte, persistem no erro da manipulação.
Quanto à manipulação, há uma dúvida: os editores seriam antes manipulados do que manipuladores? Editores ingênuos não parece coisa plausível. Decerto querem apenas ser felizes. E os jornalistas, por que parece que não contam para a informação? Coitados... Os jornalistas dependem do patrão, a quem não podem contrariar.
Dessa análise ressaltou a explicação final daquela revoltante manchete do “mundo em alerta”. Pensei: o patrão desse jornal, decerto um jovem coronel babaca e alienado, apenas reproduz o que noticiam as agências internacionais de notícia. As “informações” ele deve receber de um jornal maior, ou de associação qualquer da indústria midiática. Pode ser até que a notícia pronta que recebe ele nem pudesse mudar, mesmo que quisesse, por uma questão de direito autoral, ou mesmo alguma forma de orientação política superior, tão impositiva na área sensível das relações internacionais em tempos de guerra.
Diante de tanto pressupostos e premissas já me sentia um filósofo a desvendar os arcanos mais recônditos da indústria jornalística. Aquela m... que o Tribuna do Norte tinha publicado sobre a Coreia do Norte só poderia ser coisa de uma CNN da vida, ou da museológica AFP, quem sabe da Reuters, outra bandida do mundo da contrainformação corporativa internacional.
Foi então que levei o segundo tapa na cara. Como fonte da supertendenciosa informação o Tribuna do Norte citava a Agência Brasil.
Agência Brasil? Brasil? Desejei padecer do que os psicólogos chamam de dissonância cognitiva. Pareceria a mim que a verdadeira Agência Brasil havia sido confundida com uma segunda agência de nome bem parecido, a Agência Brazil. Quanto à Tribuna do Norte, nunca me enganou. Seu nome não induz a erro: uma tribuna do Norte não é uma tribuna do Sul.
Autor: Chauke Stephan Filho
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