Zé ninguém.



Zé Ninguém.

 

O bom sábio.

É aquele que procura.

Iluminar se por dentro.

Escurecer por fora.

Escurecendo por dentro.

Ao iluminar por fora.

Fica-se absolutamente escuro.

Ser escuro é a propriedade.

Da nossa intuição.  

 

O bom sábio.

Procura não ser sábio.

Procura ser bobo.

Para poder ser sábio.

Sendo sábio, torna-se incompreensivo.

Com efeito, tem que ser sábio.

Sendo bobo.

Por isso o bom sábio.

 Entende se que não sabe.

 O que sabe.

Comporta-se com sobejidão.  

O saber é apenas o fundamento.

Naturalmente da ignorância.

 

Quem caminha, vacila no incerto.

No perdido mundo desértico.

A vida é sinérgica.

A sabedoria de vez em quando.

Manca, trava-se, enlouquece.

Completamente.

Encontra se no caminho errado.

Quem fala sempre em sabedoria.

Não fala sério.

Reflete bobologia.

É mais sábio falar.

Em idiotologia.

O sobestar no mundo.

Desvanece. 

 

Revela muito mais.

O absurdo.

Diz se a poeta.

Quem se ilumina.

Por si, no deserto.

Caminha perdidamente.

Entorta para lá.

Entorta para cá.

Quebra-se ao meio.

Fica dividido.

Vitupério aos sinais.

Torna-se varias partes.

Sem ter nenhuma delas.

Canso-me com isso.

 

 

O homem é inteiramente torto.

Em todas suas variáveis.

Do mesmo modo suas sínteses.

Parece-me que no universo.

Só existem as curvaturas.

Aquelas as quais os cilindros.

Não compreendem.

Porque prelibar ao destino.

E quem diria ser uma sinopse. 

 

Quanto ao homem.

Costuma-se.

Ter os seus olhos.

Presos na escuridão.

E quem progride.

 Por fora.

 É um retrógrado por dentro.

Por dentro ilumina se.

Por fora fica cheio de reflexos.

Por dentro cheio de focos.

Por todos os lados.

Um refratário, filaucioso.  

 

E quem parece ser realizado.

Costuma-se ser um alienado.

Torna-se um homem imprescritível.

Segue-se sua luz interna.

E quando se encontra com a luz externa.

Apaga-se, por fora e por dentro.

Do lado também.

Apaga tanto. O próprio oposto.

Torna-se.

O mais lastimável abismo.

 

 Nega-se o mito.

Ao negar o mundo.

Afirma à metafísica.

Nega a si mesmo.

Apaga-se a luz interna.

E sem luz interna o sol.

Perde seus reflexos de raios.

 

E quem conserva tudo puro.

Torna-se bobo e simplório.

Quem torna.

Paciente, tolerante.

Torna-se.

 Sem caráter.

Fútil e vazio.

Não sendo mais útil.

A sociedade.

 

Quem vive.

Com seu eu espiritual.

Torna-se enigmático.

Transforma-se num quadrado.

Infinito, sem ângulos.

Sem renuir seus conteúdos.

O mundo é o destino comum.   

 

Igual a um tacho.

Ilimitado.

Sem nenhum conteúdo.

Parece um som.

De infinita vibração.

Mas quem ninguém escuta.

Quem não pode ser visto.

Não corre o risco.

 

Embora não seja incognoscível.

E muito menos numerável.

Realiza-se tudo.

Entretanto, tudo.

Fica por fazer.

E perde o que foi feito.

 

Mas quando omite.

Torna-se mefistofélico.

Perde-se a ira.

Num vai e vem

Desdenhosamente.

Esquece o mundo.

E ao dizer tudo.

Não diz quase nada.

Torna-se.

Um Zé ninguém.

Um Zé ninguém.

É o mundo.

 

Edjar Dias de Vasconcelos.

 


Autor: Edjar Dias De Vasconcelos


Artigos Relacionados


Procura-se

Gerenciando Conflitos

Melhor Que O Amor é Ser Amado

Poeta Imortal

O Sábio Está Morto, A Sabedoria Jaz!

Três Bobos - O Ingênuo, O Esperto E O Sábio

Aprendendo Com Os Ignorantes, Os Inteligentes E Os Sábios