Educação Para Os Pobres Com Lucro E Alta Tecnologia: O Caso Focus:hope
Num segundo passo, a organização empenhou-se em ajudar as pessoas assistidas a obterem boas colocações no mercado de trabalho. Em Detroit, pensar em empregos e não pensar em indústria automobilística é algo quase impossível. Avaliando alternativas, Cunningham e Josaitis descobriram que um dos empregos mais bem pagos e mais estáveis nesse setor era o de técnico de usinagem. Propuseram-se, então, o desafio de treinar trabalhadores para essa área. Vale a pena ressaltar a visão da dupla, de que os trabalhadores formados pela Focus:Hope não deveriam receber empregos porque executivos socialmente conscientes tinham pena deles, mas por serem profissionais altamente capacitados. Nas palavras de Cunningham: formar não apenas técnicos de usinagem adequados, nem acima da média, mas os melhores técnicos de usinagem do mundo (p.190).
Desde 1981, quando começou o Machinist Trainning Institute (MTI) da Focus:Hope, milhares de alunos foram formados e empregados (há aproximadamente 250 alunos por curso). Atualmente, o padrão de formação de técnicos é altíssimo. As oficinas da Focus:Hope contam com o que há de mais moderno em máquinas e instalações.
Em pouco tempo, o MTI começou a ter dificuldades de encontrar, nos bairros pobres, estudantes com nível educacional à altura de seus cursos. Criou-se, então, um programa de cursos de matemática e língua inglesa para preparar os estudantes da vizinhança, seus futuros alunos.
Em 1990, foi criado o Center for Advanced Tecnologies (Centro para Tecnologias Avançadas CAT), com o apoio de seis universidades e seis fabricantes de automóveis. Trata-se de um centro avançado de ensino de Engenharia, onde os graduandos dividem o seu tempo entre teoria e prática de fabricação. O currículo inclui cursos sofisticados de projeto e engenharia, além de treinamento em administração de empresas e idiomas. Os alunos que optam por continuar os estudos no mestrado serão fluentes também em alemão e japonês.
O equilíbrio financeiro para iniciativas tão surpreendentes vem da renda gerada pela fabricação de peças de alta precisão para as indústrias automobilísticas de Detroit. O trabalho realizado pelos estudantes é real. O CAT é um negócio lucrativo, o volume de vendas anuais ultrapassa os dez milhões de dólares.
As indústrias compram peças da Focus:Hope não pelo seu senso de responsabilidade social, mas porque os produtos dela atendem aos mais altos níveis de qualidade. Na realidade, o CAT tem sido capaz de fabricar peças de tão alta qualidade e com tolerâncias tão rigorosas, que ele é o único fornecedor de alguns tipos de peças, para o setor.
O caso da Focus:Hope provoca uma profunda reflexão sobre as fronteiras entre educação e trabalho, entre atividade educativa e atividade econômica, entre escola e empresa. Os estudantes recebem salários e viabilizam a sua própria educação. Não uma educação qualquer, mas uma educação de primeira e com um emprego esperando no fim do processo. Nas palavras de Cunningham: Temos..., hoje mesmo, centenas de jovens... que podem competir com os melhores cientistas e operários do mundo. São, hoje, de classe mundial, e nem mesmo começaram...(p.187).
Bibliografia:
TICHY, Noel M., McGILL, Andrew R., ST.CLAIR, Lynda. Desenvolvimento de Comunidades Metropolitanas de Alta Tecnologia. IN: HESSELBEIN, Frances... et al. (ed.). A Comunidade do Futuro: idéias para uma nova comunidade. São Paulo: Futura, 1998.
Autor: Luis Caldas
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