Ressuscitação cardiopulmonar: atuação do socorrista leigo diante de uma parada cardiorrespiratória



Cristiano Ferreira dos Santos

Suzi Francelina de Freitas dos Santos

Claudia Helena Ramos da Silva

Resumo

A parada cardiorrespiratória é definida como a interrupção súbita e abrupta da circulação sistêmica e da respiração, que ocorre geralmente em decorrência de problemas cardíacos, principalmente no que diz respeito a síndromes coronarianas agudas. Também pode ser causada por um evento elétrico como a taquicardia/ fibrilação ventricular; bradicardia profunda progressiva; assistolia ou quando a atividade elétrica está presente, porém com contração cardíaca ou volume circulante ineficaz,  denominado atividade elétrica sem pulso. Se não reconhecida e tratada de imediato, a parada cardiorrespiratória leva a vítima à morte em poucos minutos. As novas Diretrizes da American Heart Association (2010) trazem modificações que nortearão o atendimento imediato e trarão maior sobrevida à vítima. Tais modificações consistem, para o socorrista leigo, na ênfase de se iniciar as compressões torácicas de imediato de alta qualidade; na frequência de no mínimo 100 compressões por minuto com profundidade de 5cm; na abolição do “ver, ouvir e sentir a respiração”; e, ainda, em priorizar o “C-A-B” (Compression, Airway e Breathing – Compressão, Vias Aéreas e Respiração) em vez do “ABC”. Quanto mais precoce se iniciar o atendimento de ressuscitação cardiopulmonar, maiores as chances de sobrevida da vítima. O socorrista leigo colabora no atendimento sob orientação do Serviço Médico de Emergência contribuindo de modo favorável na prestação dos primeiros cuidados à vítima de parada cardiorrespiratória.

 

Abstract

Cardiac arrest is defined as the sudden and abrupt interruption of the systemic circulation and respiration, which usually occurs due to heart problems, especially with regard to acute coronary syndromes. It can also be caused by an electrical event as tachycardia / ventricular fibrillation, deep progressive bradycardia, asystole, or when electrical activity is present, but with cardiac contraction or ineffective circulating volume, called pulseless electrical activity. If not recognized and treated promptly, to cardiac arrest causes the victim to death within minutes. The new American Heart Association Guidelines (2010) bring changes that will guide the immediate and longer survival will bring to the victim. These changes consist, for the lay rescuer, the emphasis to start chest compressions immediately for quality, at a frequency of at least 100 compressions per minute with a depth of 5cm, the abolition of the "see, hear and feel the breath"; and also to prioritize the "CAB" (Compression, Airway and Breathing) instead of "ABC". The earlier treatment is started cardiopulmonary resuscitation, the greater the chances of survival of the victim. The rescuer collaborates in care of the victim under the guidance of the Emergency Medical Service contributing favorably in the provision of primary care.

 Palavras-Chave: socorrista, ressuscitação cardiopulmonar, parada cardiorrespiratória.

 Justificativa

Este artigo foi elaborado frente à necessidade de orientar o indivíduo leigo na prestação de socorro à vítima de parada cardiorrespiratória de forma rápida e eficaz, contribuindo na assistência extra-hospitalar e na sobrevida de indivíduos acometidos por este episódio.

 Metodologia

Buscou-se através de pesquisas em livros, sites de conteúdo acadêmico, artigos científicos específicos o conteúdo necessário para a confecção deste trabalho, bem como as normas e os padrões para sua realização.

 Objetivo Geral

O objetivo deste artigo é nortear qualquer indivíduo aos primeiros-socorros à vítima de parada cardiorrespiratória ou gasping (respiração agônica), com a finalidade de contribuir na redução da incidência de morte ocasionada por doenças cardiovasculares e acidentes vasculares encefálicos através de atendimento emergencial.

 Objetivos específicos

  • Orientar o socorrista leigo na prestação dos primeiros cuidados à vítima em relação ao procedimento a ser tomado diante de um evento de parada cardiorrespiratória.
  • Realizar avaliação primária de forma imediata para iniciar os primeiros cuidados à vítima.
  • Acionar o serviço de urgência e emergência através dos telefones disponíveis e receber do serviço de atendimento as orientações quando não souber como proceder.
  • Iniciar, após a avaliação primária, a ressuscitação cardiopulmonar com o objetivo de manter a circulação sanguínea em atividade até a chegada do serviço de urgência/ emergência acionado.

 Introdução

Responsável por muitas mortes anualmente não só em nosso país, como em outros países do mundo, a parada cardiorrespiratória (PCR) quando detectada, deve ter os primeiros-socorros iniciados o mais precocemente possível pelo socorrista leigo através da ressuscitação cardiopulmonar ou massagem cardíaca com o objetivo de aumentar as chances de sobrevida do indivíduo acometido de forma significativa, bem como o seu prognóstico neurológico. A vítima deve ser submetida apenas às compressões torácicas de forma imediata e contínua para que o sangue continue a circular oxigenando todos os órgãos alvos (coração, pulmão e cérebro) até que a equipe de resgate acionada chegue ao local e inicie o socorro de forma adequada.  Por sua capacitação profissional e suporte no atendimento, a vítima será transportada após o evento inicial ao hospital mais próximo para cuidados intensivos.

 Fisiologia Cardíaca e Fisiologia da Circulação Sistêmica

O coração se contrai cerca de setenta vezes por minuto reproduzindo de forma periódica o que chamamos de ciclo cardíaco. O coração poderia ser comparado a duas bombas acopladas, direita e esquerda, que trabalham automática e sincronizadamente. Cada uma das bombas possui cavidades independentes denominadas de átrio e ventrículo; portanto o coração terá um átrio e um ventrículo direitos e um átrio e um ventrículo esquerdos. A passagem dos átrios para os ventrículos é regulada por uma válvula situada entre as cavidades; do mesmo modo a passagem do sangue dos ventrículos para as artérias é regulada por outra válvula. Durante o ciclo cardíaco são repetidas  uma série de fases chamadas de sístole ou contração e de diástole ou relaxamento. O ciclo da bomba direita tem inicio com a diástole atrial. Quando o átrio esta cheio de sangue, abre-se a válvula tricúspide e o sangue passa para o ventrículo direito tendo inicio a diástole ventricular que envia o sangue para o ventrículo direito. Quando acaba a diástole ventricular é produzido o fechamento da válvula tricúspide e se abre a válvula pulmonar, então tem inicio a contração ou sístole ventricular a qual expulsa o sangue por meio da artéria pulmonar para os pulmões. Dos pulmões o sangue oxigenado retorna pelas veias pulmonares para o átrio esquerdo do coração dando inicio ao ciclo da bomba esquerda. O ciclo da bomba esquerda é igual ao da bomba direita e tem inicio com a diástole atrial. Quando o átrio esquerdo esta cheio de sangue, a válvula bicúspide mitral se abre e o sangue passa para o ventrículo esquerdo tendo inicio então a diástole ventricular.  O venticulo esquerdo termina de encher quando expulsa todo o sangue do átrio pela sístole atrial. Quando termina a diástole ventricular ocorre o fechamento da válvula bicúspide e há abertura da válvula aórtica tendo inicio então a contração ou sístole ventricular a qual expulsa o sangue pela artéria aorta. O sangue expulso se distribui pela artéria aorta a todos os órgãos do corpo e retorna para o coração pelas veias cavas. As duas bombas trabalham em paralelo de forma automática:

  • Diástole atrial ------------ Diástole ventricular;
  • Sístole atrial -------------- Sístole ventricular.

O ciclo é repetido setenta  vezes por minuto, mas pode ser acelerado ou reduzido conforme as exigências do corpo humano.  Certas células do coração são altamente especializadas na produção e na transmissão de estímulos elétricos, formando um sistema com uma anatomia não apresentada por outros órgãos.  Esse sistema é constituído por alguns centros de excitação denominados Nodos, onde são gerados os impulsos elétricos e por algumas ramificações que os distribuem pelo coração para que se contraia. O processo tem inicio em um centro situado na parede externa do átrio direito denominado Nodo Sinoatrial. O estimulo então se propaga pelos átrios e chega a um segundo centro situado entre a átrio direito e o Septo Ventricular, denominado Nodo Atrioventricular. A partir de onde o estímulo se propaga por todo o miocárdio dos ventrículos. Esta atividade elétrica do coração é estudada mediante a colocação de uma serie de eletrodos no tórax e nas extremidades, que recolhem e traduzem os estímulos elétricos em uma serie de ondas, obtendo-se dessa forma o eletrocardiograma. Embora como visto, o coração se contraia de forma automática também recebe estímulos do sistema nervoso central que aumenta ou diminui o seu ritmo conforme as necessidades do organismo. A audição da abertura ou do fechamento das válvulas do coração é feita por meio de um aparelho denominado fluoroscópio que o medico coloca sobre o tórax. As válvulas cardíacas são quatro: duas situadas entre os átrios e os ventrículos e outras duas entre os ventrículos e as artérias aorta e pulmonar. A audição dos sons das válvulas ocorre nos focos de auscultação: bicúspide, tricúspide, pulmonar e aórtico. O primeiro ruído é causado pelo fechamento simultâneo das válvulas mitral e tricúspide e o segundo pelo das válvulas aórtica e pulmonar. A auscultação dos ruídos nos ajuda a interpretar o estado do coração. O sangue entra no átrio direito passando pela válvula tricúspide formada por três pequenos véus, estes ao se separarem permitem a passagem do sangue para o ventrículo direito . Os véus são segurados por algumas cordas chamadas de cordas tendíneas. Do ventrículo direito o sangue passa pela válvula pulmonar formada por três pequenas pregas que ao se separarem permitem a saída do sangue. Depois de ter viajado pelos pulmões, o sangue regressa para o átrio esquerdo passagem do sangue para o átrio esquerdo do coração. Neste átrio está a válvula bicúspide ou mitral que é diferente da tricúspide por possuir apenas dois véus. Quando se abre o sangue passa para o ventrículo esquerdo, esta também esta presa por cordas tendíneas, quando todo o sangue já passou para o ventrículo a válvula se fecha impedindo o retrocesso para o átrio. No ventrículo pode ser vista a válvula aórtica, quando esta se abre permite a passagem do sangue através da artéria aorta para que seja redistribuído por todo o organismo. A nutrição do coração não ocorre por difusão dos nutrientes e gases do sangue que chega a suas cavidades, mas por meio de um sistema especial de artérias coronárias que tem origem na aorta e que circundam o coração de modo semelhante a uma coroa. A artéria coronária esquerda circunda o coração pela sua margem esquerda e ao longo de sua trajetória prove ramificações colaterais que nutrem principalmente o átrio e o ventrículo esquerdo. A artéria coronária direita circunda o coração pela margem direita e ao longo de sua trajetória prove ramificações colaterais que nutrem principalmente a aurícula e o ventrículo direito. Em escala microscópica as artérias coronárias se unem mediante conexões muito variáveis em numero e mediante um desenvolvimento influenciado por diversos fatores: a idade, o exercício físico, a alimentação. O coração também dispõe de um sistema de veia, que recolhem o sangue transportado para as artérias para devolvê-lo novamente ao coração por meio da aurícula direita.

 Fisiologia Respiratória

A respiração pulmonar é um processo mecânico de trocas gasosas, na qual ocorrem a inspiração e a expiração pela cavidade nasal. O diafragma (músculo que se encontra na base do pulmão) e os músculos intercostais externos, por movimentos de contração e elevação respectivamente, forçam a entrada de ar. A inspiração se dá quando o diafragma se contrai e desce aumentando o volume interno do pulmão, ou seja, há a expansão do pulmão diminuindo a pressão interna, sendo a pressão externa maior o ar é forçado a entrar no pulmão. A expiração se dá quando o diafragma se contrai comprimindo os pulmões, aumentando a pressão interna expelindo o ar dos pulmões. Esses dois processos mecânicos (inspiração e expiração) resultam na respiração que é controlada pelo sistema nervoso autônomo localizado no bulbo que emite  sinais nervosos e os transmite através da coluna espinhal para os músculos da respiração. A respiração tem a função de oxigenar todo o organismo, levando para dentro das células O2 e excretando CO2. O ar entra pela cavidade nasal, onde é filtrado e aquecido e umidificado até sua chegada aos pulmões. Ao inspirarmos, as partículas de impurezas presentes no ar ficam retidas no muco, presente nas cavidades nasais- os cornetos: que são estruturas revestidas por células epiteliais ciliadas.  Devido a grande vascularização das cavidades nasais, o ar é pré-aquecido, para o equilíbrio da temperatura deste com a temperatura corporal, tornando-o ideal ao ambiente pulmonar. Ao deixar a cavidade nasal o ar passa pela faringe e laringe chegando até a traqueia onde existe uma divisão. A entrada da laringe chama-se glote. Acima dela existe uma espécie de “lingueta” de cartilagem denominada epiglote, que funciona como válvula que serve para fechar a ligação da faringe com a glote durante a deglutição, onde o alimente segue da faringe para o esôfago e o ar segue da faringe para a laringe e então para a traquéia. O alimento não deve ser conduzido da faringe para a laringe, pois ocorre o engasgamento, que é uma forma de defesa do organismo. O epitélio que reveste a laringe apresenta pregas, as cordas vocais, capazes de produzir sons durante a passagem de ar. Seguindo a traquéia que é um “tubo” formado por anéis de cartilagem se divide em dois tubos menores chamados de brônquios. Os brônquios levam o oxigênio em direção aos pulmões. Os pulmões humanos são órgãos esponjosos, com aproximadamente 25 cm de comprimento, envoltos numa membrana serosa chamada pleura. Os pulmões apresentam uma forma que lembra uma pirâmide com um ápice, uma base e três faces com características morfológicas diferentes: o pulmão direito é constituído por três lobos enquanto o esquerdo apenas por dois; sendo que o pulmão direito é mais espesso e largo que o esquerdo e um pouco mais curto, pois o diafragma é mais alto no lado direito para acomodar o fígado; e dentro deles, os brônquios  se ramificam dando origem aos bronquíolos preenchendo todo o espaço, e ao seu final encontram-se os alvéolos pulmonares. Os alvéolos pulmonares tem aparência de “cachos de uva”,  são microscópicos e se encontram em grande quantidade compondo todo o tecido pulmonar; circundados por extensa quantidade de vasos sanguíneos onde ocorre as trocas gasosas, ou seja, no alvéolo pulmonar o oxigênio sai do pulmão e entra na corrente sanguínea e o gás carbônico que esta na corrente sanguínea vai para o pulmão fazendo o caminho contrario para ser expelido. Essa troca gasosa – o recebimento do O2 e devolução de CO2, é chamada de hematose, que só ocorre devido a intensa vascularização do pulmão, onde o gás oxigênio do ar entra nos capilares sanguíneos e penetra nas hemácias, onde se combina com a hemoglobina, enquanto o gás carbônico (CO2) é liberado para o ar; oxigenando as milhões de células existentes no organismo. É importante lembrar que todo oxigênio que entra dentro o nosso organismo tem a função de chegar dentro da célula e dentro desta metabolizar o que é consumido (nutrientes, glicose...) para a produção de energia, garantindo ao organismo a realização de todas as atividades orgânicas e diárias. A hemoglobina, proteína presente nas hemácias tem a função de transportar o gás oxigênio da seguinte forma: cada molécula de hemoglobina se combina com quatro moléculas de oxigênio dando origem a oxi-hemoglobina. A adrenalina geralmente liberada nos estados de ansiedade tem forte influencia sobre a respiração e frequentemente levam à hiperventilação, até mesmo eliminando grande quantidade de dióxido de carbono, originando um quadro de contrações dos músculos por todo o corpo. Se a concentração de gás carbônico ficar reduzida em demasiado, podem ocorrer outras consequências extremamente danosas, como um quadro de alcalose prejudicando o sistema nervoso, resultando, em tetania (contrações musculares involuntárias por todo o corpo) ou mesmo convulsões epilépticas. Se inspirarmos e expirarmos forçadamente conseguiremos retirar dos pulmões cerca de quatro litros de ar, aproximadamente que corresponde a capacidade vital dos pulmões. Mesmo assim ao final de uma expiração forçada restaria cerca de i litro de ar, sendo este o volume residual que impede que os alvéolos se colabem.  Os brônquios e a traquéia são providencialmente sensíveis a qualquer corpo estranho ou irritabilidade dando inicio ao reflexo da tosse sendo um meio pelo qual as vias aéreas pulmonares podem expelir corpos estranho.  A irritação das vias nasais estimula o reflexo do espirro onde grandes quantidades de ar passam rapidamente através do nariz e boca promovendo a limpeza das vias nasais de qualquer corpo estanho.

 Modalidades da Parada Cardiorrespiratória

Segundo ROSA, MACHADO & GANEN (2011), a parada cardiorrespiratória (PCR) é definida como a interrupção súbita e abrupta da circulação sistêmica e da respiração, que ocorre geralmente em decorrência de problemas cardíacos, principalmente no que diz respeito a síndromes coronarianas agudas. Para SMELTZER et al. (2009), a PCR também pode ser causada por um evento elétrico como a taquicardia/ fibrilação ventricular, bradicardia profunda progressiva, assistolia ou quando a atividade elétrica está presente, porém com contração cardíaca ou volume circulante ineficaz  denominado atividade elétrica sem pulso (PEA). A PEA pode ser consequência de hipovolemia (p. ex.: sangramento excessivo), hipóxia, hipotermia, hipercalemia, embolia pulmonar maciça, IM e superdosagem de medicamento (p.ex.: betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio).

 Taquicardia/ Fibrilação Ventricular

Conforme SMELTZER et al. (2009), a taquicardia ventricular é definida como complexos ventriculares prematuros com uma frequência maior de 100 batimentos por minuto, constitui uma emergência pois o indivíduo não responde e fica sem pulso. Pode preceder a fibrilação ventricular. A fibrilação ventricular (FV) refere-se ao ritmo ventricular rápido e desorganizado que causa arritmia nos ventrículos. As causas são devido à isquemia ou infarto do miocárdio; sobrecarga cardíaca por exercícios, febre, hipervolemia, insuficiência cardíaca ou taquicardia; intoxicação digitálica; hipóxia; acidose ou distúrbios eletrolíticos, principalmente hipocalemia. Tem, ainda, como outras causas o choque elétrico e a síndrome de Brugada – tal síndrome é caracterizada por história de um coração estruturalmente normal, mínimos fatores de risco ou nenhum para doença da artéria coronária, porém com história familiar de morte cardíaca súbita, com frequência em indivíduos de descendência asiática. A FV possui as seguintes características:

  • Frequência ventricular: > que 300/minuto.
  • Ritmo ventricular: intensamente irregular, sem padrão ordenado.
  • Formato e duração do QRS: ondas irregulares e sinuosas, sem complexos QRS identificáveis.

Há ausência de batimento cardíaco audível, ausência de pulsos palpáveis e ausência de respirações. A atividade cardíaca desorganizada leva à parada cardíaca e à morte se não corrigida a tempo por intermédio da reanimação cardiopulmonar e/ou desfibrilação. 

Bradicardia Progressiva

SMELTZER et al. (2009) definem bradicardia como um impuso do nodo sinusal com uma frequência mais lenta que o normal. As causas estão descritas como necessidades metabólicas diminuídas, estimulação vagal, medicamentos, pressão intracraniana aumentada e infarto do miocárdio. São, ainda, citadas outras causas como hipovolemia, hipóxia, acidose, hipo ou hipercalemia, hipoglicemis, hipotermia, toxinas, tamponamento cardíaco, trombose e trauma. A bradicardia possui as seguintes características:

  • Frequências ventricular e atrial: < que 60bpm no adulto.
  • Ritmos ventricular e atrial: regulares.
  • Formato e duração do QRS: normais, ou regularmente anormais.

A frequência cardíaca diminuída causa alterações hemodinâmicas como a falta de ar, alteração aguda do estado mental, angina, hipotensão, alterações do segmento ST ou complexos ventriculares prematuros. O tratamento é conduzido de forma a aumentar a frequência cardíaca.

Assistolia

IRWIN & RIPPE (2007) definem assistolia como a ausência de pulso arterial com probabilidade de ser irreversível. Para SMELTZER et al. (2009) a assistolia é caracterizada por ondas QRS ausentes, sem batimentos cardíacos, ausência de pulsos palpáveis e ausência de respiração. O tratamento está direcionado para identificação da causa e RCP de alta qualidade. As possíveis causas são citadas como hipóxia, acidose, distúrbio eletrolítico grave, overdose de drogas, hipovolemia, tamponamento cardíaco, pneumotórax hipertensivo, trombose coronária ou pulmonar, trauma ou hipotermia.

Atividade Elétrica sem Pulso

Segundo SMELTZER et al. (2009), corretamente denominada Dissociação Eletromecânica (DEM), a atividade elétrica sem pulso (AESP) é definida quando há atividade elétrica porém com contração cardíaca ou volume circulante insuficiente. Para IRWIN & RIPPE (2007), a AESP evidencia-se por um traçado organizado no eletrocardiograma mas sem associação com um pulso palpável e sem evidência de circulação. Está geralmente associada à hipovolemia (hemorragia maciça), hipóxia, hipotermia, hipercalemia, embolia pulmonar maciça, infarto do miocárdio e overdose de medicamentos (betabloqueadores, bloqueadores do canal de cálcio). A expansão volêmica intravenosa rápida se faz necessária enquanto a causa é investigada.

 Diretrizes da American Heart Association de 2005 para a Ressuscitação Cardiopulmonar

Os estudos relacionados aos atendimentos realizados por socorristas leigos e socorristas profissionais de saúde desde o ano de 2005 em ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e atendimento cardiovascular de emergência (ACE) demonstraram a necessidade de alterações em diversas modalidades que compõem a execução das técnicas de ressuscitação cardiopulmonar e atendimento às vítimas de parada cardiorrespiratória ou gasping (respiração agônica). Por isso, as novas Diretrizes de 2010 para RCP e ACE se fizeram necessárias para dar continuidade na orientação dos profissionais de saúde e orientá-los em ocorrências de eventos deste tipo, bem como a orientação e norteamento de socorristas leigos capazes de executar as técnicas básicas determinadas pelo suporte básico de vida (SBV). As Diretrizes da American Heart Association (AHA) de 2005 para RCP e ACE enfatizavam a importância de compressões torácicas de alta qualidade (com frequência e profundidade adequadas, permitindo retorno total do tórax após cada compressão e com interrupção mínima nas compressões torácicas). Estudos publicados antes e a partir 2005 demonstram que: (1) a qualidade das compressões torácicas continua necessitando de melhoria embora a implementação das Diretrizes de 2005 para RCP e ACE tenham sido associadas a uma melhor qualidade de RCP e maior sobrevivência; (2) existe uma variação considerável na sobrevivência da PCR extra-hospitalar entre os serviços médicos de urgência/ emergência (SME); e, (3) a maioria das vitimas de PCR súbita extra-hospitalar não recebe nenhuma manobra de RCP de pessoas presentes no local. As alterações recomendadas nas Diretrizes de 2010 para RCP e ACE tentam dar conta dessas questões e também fazem recomendações para melhorar o resultado da PCR por meio de uma nova ênfase nos cuidados pós-PCR.

 Diretrizes de 2005 Comparadas às Diretrizes de 2010 para Socorristas Leigos

 As Diretrizes da AHA (2005) para RCP e ACE não forneciam recomendações diferentes para socorristas treinados e não treinados, mas, sim, recomendavam que os atendentes/ operadores fornecessem instruções de ressuscitação cardiopulmonar somente com compressões às pessoas presentes não treinadas. As Diretrizes de 2005 para RCP e ACE observavam que se o socorrista não estivesse disposto a aplicar ventilações ou preparado para tal, ele deveria aplicar somente compressões pelo seguinte motivo: a RCP somente com as mãos (somente compressões) é mais fácil de ser executada por um socorrista não treinado e pode ser prontamente orientada por telefone pelos atendentes/ operadores. Além disso, as taxas de sobrevivência às PCR de etiologia cardíaca são similares para a RCP somente com as mãos que a RCP com compressões e ventilação de resgate. No entanto, para o socorrista leigo treinado e capaz, a recomendação continua sendo a de aplicar compressões e ventilações (2010 American Heart Association).

 Ressuscitação do Adulto por Socorrista leigo

Os principais pontos de discussão e alterações nas recomendações das Diretrizes da AHA 2010 para RCP e ACE para a RCP de adultos por socorristas leigos são os seguintes:

  • Foi criado o algoritmo universal simplificado de SBV para adultos.

Foram realizados refinamentos nas recomendações para o reconhecimento e acionamento imediatos do serviço de urgência/ emergência com base nos sinais da vítima não responde, e para o início da RCP se a vítima não responder e não apresentar respiração ou apresentar respiração anormal (isto é, com gasping).

  • O procedimento "Ver, ouvir e sentir se há respiração" foi removido do algoritmo.
  • Tem-se dado ênfase permanente em RCP de alta qualidade (com frequência e profundidade das compressões torácicas adequadas, permitindo retorno total do tórax após cada compressão, minimizando interrupções nas compressões e evitando ventilação excessiva).
  • Houve uma alteração na sequência recomendada para o socorrista profissional que atua sozinho para que ele inicie as compressões torácicas antes de aplicar ventilações de resgate (C-A-B, em vez de A-B-C, onde C é “Compression” Compressão, A é “Airway” Vias Aéreas e B éBreathing Respiração). O socorrista atuando sozinho deve iniciar a RCP com 30 compressões, em vez de 2 ventilações, para reduzir a demora na aplicação da primeira compressão, assim como o socorrista leigo se sentindo capaz de executar a manobra.
  • A frequência de compressão deve ser, no mínimo, de 100/minuto (em vez de “aproximadamente” 100/ minuto).
  • A profundidade de compressão, em adultos, foi alterada da faixa de 1 à 2 polegadas para, no mínimo, 2 polegadas (5 cm).

Tais alterações foram planejadas para simplificar o treinamento de socorristas leigos e continuar enfatizando a necessidade de aplicar compressões torácicas o quanto antes em víitimas de PCR súbita. Nos tópicos a seguir, as alterações ou os pontos a enfatizar para socorristas leigos são semelhantes aos utilizados para profissionais de saúde.

 Ênfase nas Compressões Torácicas

Se o socorrista presente não tiver treinamento em RCP, ele devera aplicar a RCP somente com as mãos (somente “compressões torácicas”) na vítima adulta com colapso repentino com ênfase em "comprimir forte e rápido" no centro do tórax, ou seguir as instruções do atendente/ operador do SME. O socorrista deve continuar a RCP somente com as mãos até a chegada e preparação de um desfibrilador externo automático (DEA/ DAE), ou até que os profissionais do Serviço Médico ou Móvel de Emergência (SME) ou outros encarregados assumam o cuidado da vítima. Todos os socorristas leigos devem aplicar compressões torácicas em vitimas de PCR. Além disso, se o socorrista puder realizar ventilações de resgate, as compressões e as ventilações devem ser aplicadas na relação de 30/2, ou seja, 30 compressões para cada 2 ventilações.

 Alteração na Sequência da RCP: C-A-B em vez de A-B-C.

A sequência de RCP em adultos nas Diretrizes de 2005 tinha início com a abertura das vias aéreas seguida da verificação de presença de respiração e, em seguida, a aplicação de duas ventilações de resgate, acompanhadas de ciclos de 30 compressões torácicas e 02 ventilações de resgate mudando para o atendimento inicial da vítima com compressões torácicas antes das ventilações na nova Diretriz de 2010.

 Motivo: Embora nenhuma evidência publicada demonstre que iniciar a RCP com 30 compressões em vez de 2 ventilações leve a um melhor resultado, as compressões torácicas fornecem fluxo sanguíneo vital ao coração e ao cérebro; ademais, estudos de PCR extra-hospitalar em adultos demonstraram que a sobrevivência é maior quando as pessoas presentes se dispõem a alguma tentativa de aplicar a RCP em vez de simplesmente não tentarem fazê-la. Dados em animais demonstram que atrasos ou interrupções nas compressões torácicas reduzem a sobrevivência; logo, tais atrasos ou interrupções devem ser minimizados ao longo de toda a ressuscitação. As compressões torácicas devem ser iniciadas imediatamente, ao passo que posicionar a cabeça e obter um selo para a respiração boca a boca ou com bolsa-válvula-máscara/ insuflador manual sempre demoram certo tempo. A demora no início das compressões poderá ser reduzida se houver dois socorristas presentes: o primeiro inicia as compressões torácicas e o segundo abre as vias aéreas e se prepara para aplicar as ventilações tão logo o primeiro socorrista complete a primeira série de 30 compressões torácicas. Quer haja um ou mais socorristas presentes, o inicio da RCP com compressões torácicas garante que a vítima receba de imediato tal intervenção.

 Eliminação do procedimento “Ver, ouvir e sentir se há respiração”.

Nas Diretrizes de 2005 o procedimento "Ver, ouvir e sentir se há respiração” era usado para avaliar a respiração após a abertura da via aérea. No entanto, de acordo com as Diretrizes de 2010, o procedimento "Ver, ouvir e sentir se há respiração” foi removido da sequência da RCP, duas ventilações de resgate pelo socorrista que está atuando sozinho devem ser aplicadas quando da abertura das vias aéreas após a aplicação de 30 compressões.

 Motivo: Com a nova sequência “compressões torácicas em primeiro lugar”, a RCP será executada se o adulto não estiver respondendo e nem respirando ou não respirando normalmente (como já mencionado, os socorristas leigos serão instruídos a aplicar a RCP se a vitima que não responde “não estiver respirando ou estiver apenas com gasping”). A sequência da RCP começa com compressões (sequência C-A-B). Logo, a respiração é verificada rapidamente como parte da verificação quanto à PCR; após a primeira série de compressões torácicas, as vias aéreas são abertas e o socorrista aplica duas ventilações.

 Frequência de compressão torácica: mínimo de 100 por minuto

A Diretriz de 2010 estabelece que os socorristas leigos e os profissionais de saúde devem realizar compressões torácicas a uma frequência mínima de 100 compressões por minuto; a Diretriz de 2005 determinava executar aproximadamente 100 compressões por minuto.

 Motivo: Por ser um fator determinante e importante no retorno espontâneo da circulação sanguínea (RCE) e da sobrevivência com boa função neurológica, o número de compressões torácicas aplicadas por minuto durante a RCP é determinado pela frequência das compressões torácicas e a duração dos intervalos entre as interrupções nas compressões (para, por exemplo, abrir as vias aéreas, aplicar ventilações de resgate ou permitir a análise do DEA/DAE). Na maioria dos estudos, a aplicação de mais compressões está associada a maiores taxas de sobrevivência, ao passo que a aplicação de menos compressões está associada a uma menor sobrevivência. A aplicação de compressões torácicas adequadas exige ênfase não somente na frequência adequada de compressões, mas também em minimizar interrupções componente da RCP. Uma frequência de compressão inadequada ou interrupções frequentes (ou ambas) reduzirão o número total de compressões aplicadas por minuto.

 Profundidade das compressões torácicas

Em relação à profundidade das compressões torácicas, as Diretrizes de 2010 enfatizam que o esterno adulto deve ser comprimido, no mínimo, 2 polegadas (5 cm), já nas Diretrizes de 2005 a determinação era de aproximadamente  de 1 à 2 polegadas, ou seja, (aproximadamente de 4 a 5 cm).

 Motivo: As compressões criam fluxo sanguíneo principalmente por aumentarem a pressão intratorácica e comprimirem diretamente o coração, gerando o fornecimento de fluxo sanguíneo, oxigênio e energia, imprescindíveis para o coração e o cérebro. Pode haver confusão quando se recomenda uma faixa de profundidade; por isso, agora, recomenda-se uma profundidade de compressão específica. Os socorristas muitas vezes não comprimem adequadamente o tórax durante a ressuscitação, porém este é um fator determinante e importante para a sobrevivência em uma PCR, além da frequência e profundidade desta compressão.

 Fatores que podem alterar a frequência das compressões

O número de compressões aplicadas é afetado pela frequência de compressão e pela fração da compressão (a parte do tempo total de RCP dedicada à execução das compressões); onde os aumentos na frequência e na fração da compressão elevam o total de compressões aplicadas, ao passo que reduções na frequência e na fração diminuem o total de compressões aplicadas. Durante uma RCP, o objetivo é aplicar compressões eficazes a uma frequência (no mínimo, 100/minuto) e profundidade apropriadas obtendo o retorno total do tórax após cada compressão, além de evitar ventilação excessiva, minimizando o número e a duração das interrupções nas compressões torácicas melhorando a RCP.

Considerações

A ressuscitação cardiopulmonar constitui procedimento básico de emergência que pode ser utilizado por profissionais de saúde ou socorristas leigos sob orientação adequada do Serviço Médico de Emergência às vítimas de parada cardiorrespiratória. As medidas de RCP para o socorrista leigo aumentarão as chances de sobrevivência da vítima e diminuirão as possibilidades de complicações decorrentes do atraso dos procedimentos iniciais. Portanto, é imprescindível enfatizar a importância de saber reconhecer uma vítima de parada cardiorrespiratória de modo que qualquer pessoa possa atuar como socorrista. A atenção às novas Diretrizes de 2010 objetiva tornar mais eficiente o atendimento prestado e traz de forma simples e facilitadora as etapas do Suporte Básico de Vida, poupando tempo e melhorando a assistência extra-hospitalar, evitando injúrias motoras ou neurológicas de forma permanente ou transitória.

Referências

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Autor: Suzi Francelina De Freitas Dos Santos


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