A Mão Do Amo



"O homem dormia de mão aberta e quando ele adentrava o cone de escuridão onde pairavam os sonhos, uma manada de gatos saia de sua boca rasgada por berros de cio e mergulhava no rio dos engenhos de açúcar. Mãe esperava na margem, como sempre, protegendo-se do verão com a sobrinha, a blusa abotoada até o pescoço apesar dos ardores da tarde, e ao lado dela pai, revirando os bolsos do colete em buscados óculos." página 11


O argentino septuagenário Tomás Eloy Martinez (Túcuman, 1934) é um escritor consagrado, ganhador do premio Alfaguara de melhor romance em 2002, por El vuelo de la Reina, foi um dos dezoito autores nomeador para a lista do primeiro prêmio Internacional Man Booker em 2005, juntamente com nomes como Gabriel García Márquez, Milan Kundera e Ian Mc Ewan. Possui um estilo ficcional que cruza a realidade da história com sua ousada imaginação, compondo narrativas semelhantes a reportagens em operações literarias exclusivas, contudo diferente dos romances políticos como O romance de Péron ou Santa Eviza, em seu último livro lançado no Brasil, A mão do amo(La mano del amo, tradução de Sérgio Molina e Lucas Itacarambi, Companhia das Letras, pp,R$), o aclamado autor, estudioso da obra de Borges, campeia por uma planície pouco conhecida de sua criação. Aqui ele aprofunda a temática da "pequena história", nos mitos familiares, nas estorias cotidianas, trazendo o intimo dos mecanismos sociais prosaicos e poéticos em um vórtice cujos personagens se embrenham nos pesadelos do poder e nas paisagens do inconsciente.
Expondo um artista fracassado, Tomás Eloy Martinez, que usou de recordações de sua infância para compor a história de Carmona, um cantor estupendo, mas que perde tudo - fama e tempo - com as teias castradoras de amor e ódio de uma arquitípica mãe castradora, aqui nomeada como simplesmente Mãe para essa figura, Carmona e o seu dom é exclusivo para a sua vaidade.
A vida passa e o garoto- prodígio envelhece e o artista não decola, seu talento fica na província como curiosidade de feira a exibir aos visitantes, restando a vergonha de que poderia ter sido e o ressentimento perante a ilusão de que ainda poderia ser. Com a morte da mãe, chega a hora da verdade, isolado na casa paterna, tendo por companhia um bando de gatos herdados da mãe recém-morta, Carmona passa o fracasso em revista e nos carrega por um sombrio labirinto familiar, onde sua mãe mesmo do além, ainda conspurca sobre sua vida.
Martinez usa em sua linguagem sátira, o gótico, o surrealismo e o expressionismo em sonhos, devaneios, fantasia, memórias e realidade, tudo reunido em uma amalgama distorcida numa só dimensão. Escrito no período que morava na Venezuela, onde trabalhava produzindo roteiros para o cinema, A mão que cria é uma novela que fala da felicidade, de sua busca, da morte, da família e o poder perante a arte.
Um livro sobre o autoritarismo, que evolui da família, e se impõe na sociedade, em diferentes graus. Crítico e surreal.


Autor: Cadorno Teles


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