Consequências de uma imprensa que opina e não informa.



Consequências de uma imprensa que opina e não informa. 

Nós que habitamos na era da informação, ainda sofremos com uma imprensa que opina e não informa. As opiniões nela expressa são de total “autoria” dos patrocinadores, sem que tenham qualquer responsabilidade sobre as consequências da divulgação ilegítima daquelas opiniões como no *Caso Escola Base.  O argumento de que as programações são determinadas pela audiência é falacioso. Ao buscar índices cada vez maiores de audiência, as emissoras estão apenas oferecendo produtos para serem consumidos no mercado.  Ao mercado, por definição, só se oferece o que é vendável.  A pergunta é: “quem disse que o que é vendável tem qualidade?” Existem inúmeros produtos culturais valiosos que não são oferecidos aos telespectadores por não encontrarem “espaço” no mercado.  Portanto sem se democratizar a comunicação, não se democratiza o acesso a informação na  sociedade. Quando uma emissora comercial encontra uma fórmula de sucesso, com grande audiência, logo é copiada pelas concorrentes, tirando do espectador qualquer tipo de escolha. Se no entretenimento esta prática leva á rotina e à monotonia das escolhas dos iguais, no jornalismo cria situações de unanimidade que são, todavia, perigosas para a vida democrática. Muita gente não entende qual é o produto das noticias da televisão. Eles não vendem carros ou cervejas, por que quando você compra esses produtos o dinheiro não vai para a televisão. A televisão vende o espectador, vende seus olhos para os anunciantes de cervejas e carros. O espectador é uma commodity. Se as pessoas perceberem que são o produto, vão assistir televisão de um modo diferente. Com a concentração dos meios de comunicação nas mãos de grandes corporações, o direito à informação que é uma prerrogativa básica a qualquer sociedade verdadeiramente livre, fica seriamente ameaçado.

  Oferecer informação deve ser prerrogativa daqueles que podem ser imparciais. A imparcialidade é fundamental para a saúde mental daqueles que recebem uma informação. O preço que se paga pela ausência desta imparcialidade é demonstrado claramente no posicionamento midiático que promove verdadeira patrulha ideológica ao escolherem os temas que vão estampar as noticias dos jornais ou o caráter das personagens de novelas.

    As manifestações populares sempre são vendidas sob o viés de  “causa de transtorno no trânsito”, não se observa a validade das reinvindicações, somente quantos quilômetros de congestionamento a passeata causou, como se nos dias sem passeata não ocorressem congestionamentos na cidade. Observe como é oferecida a informação de uma greve de determinado grupo social: 

“Passeata de professores paralisa Av. Paulista e causa transtornos”. 

A causa da passeata pouco importa. - Mantenham as ruas livres, fiquem calados! Aceitem o fato de que a educação nunca será respeitada neste País.

    A nossa postura de ignorar os movimentos sociais de luta contra a opressão, é resultado da cultura de desvalorização da mobilização. É contra ela que devemos resistir, pois, estamos inseridos como autores sociais, ou seja, fazendo a história e não atores que apenas cumprem um papel predeterminado.

   A sensação de pequenez sob a qual aprendemos a subsistir, não é a postura correta do individuo racional. Donos de um querer criativo, é demasiado violento reprimir no homem suas potencialidades, sua capacidade de criar e recriar sua história. As reações de violência nascidas da miserabilidade imposta a eles são retrato do desamparo, do abandono e desencanto destes desgraçados deixados e esquecidos. Eles não são apresentados para ninguém, não são representados por ninguém, eles são ninguém. Segregados e excluídos por uma cerca ideológica, que os impede de experimentar uma vida de dignidade. Vivendo no país do superávit  primário mais vivenciando a realidade dos déficits secundários. Déficits habitacional, social, rural, urbano, ambiental, cultural, educacional... 

Os avanços tecnológicos não tem tornado a vida da imensa maioria da população mais confortável. Os que podem pagar o preço para experimentar os avanços tecnológicos, ocupam uma privilegiada casta social.  A politica neoliberal de redução de taxas de juros que assistimos atualmente no país, só reflete a realidade de que a divisão de renda não será realizada. Uma vez que o endividamento alcançará os mais pobres, pois, as taxas mais baixas, sempre serviram aos portadores de grande capital, não são estes que irão entusiasmar-se para consumo imediato deste crédito. Será a vez da demanda reprimida de consumo enriquecer ainda mais as empresas internacionais alocadas no país. Uma maneira bem arquitetada para transferir renda do Brasil para os estrangeiros. Parabéns PT! Está comprovado, vocês não são comunistas, muito pelo contrário.

   Este estado de coisas foi alcançado por meio de um processo lento de desfiguração humana.  A indiferença com a qual tratamos os que por algum motivo se indignaram contra a sua situação, ou as condições contra as quais tem de lutar, para fazer valer os seus direitos, esta indiferença não nos é natural. Ela foi sendo esculpida após anos seguidos de opinião da mídia das massas. Essas chamadas notícias, que nada são além de opinião formadora de reprodução da opinião, inibem a produção de conhecimento, pois, como a opinião já esta embutida na notícia, quando às reproduzimos, reproduzimos também a opinião. Reprimindo pouco a pouco o impulso crítico, o querer filosófico. Passo a passo constituiu esta nossa geração desfigurada, desenganada e desencantada.

   A Crença é um subproduto da cultura, pois, lida com elementos de natureza simbólica local, portanto, não universalizáveis, da mesma forma, como é o caso de uma, a outra, também carrega intrinsecamente características semelhantes de deformação. Como vimos, este é um exemplo do resultado da transformação de opiniões em informação ‘Doxa em Episteme’, tendo como objetivo a manutenção do controle de um homem sobre o outro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

*Caso dos anos 90, em que um delegado civil vazou na imprensa paulista uma acusação de abuso sexual contra crianças matriculadas daquela escola. O caso gerou revolta popular, linchamento, e danos pessoais e emocionais aos acusados (os donos da escola), que posteriormente foram inocentados de todas as acusações. Eles aguardam até hoje o resultado do processo contra o Governo do Estado de São Paulo.

 


Autor: Rafael Da Silva Tinoco


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