A atuação do psicopedagogo junto ao trabalho dos técnicos em enfermagem com os pacientes



 ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO JUNTO AO TRABALHO DOS TÉCNICOS EM ENFERMAGEM COM OS PACIENTES

Maria José Germano Pereira Lima[1] 

RESUMO

O estudo apresentado tem como objetivo analisar as dificuldades que interferem no trabalho dos técnicos de enfermagem na unidade hospitalar com o intuito de sugerir algumas reflexões que os conduzam a reavaliar e repensar sua prática junto aos enfermos por eles acompanhados. Escolheu-se como fonte de pesquisa os pacientes internados e os profissionais de enfermagem de um determinado plantão no período de 24 horas em um hospital público de uma cidade do interior de Pernambuco. Alguns dados foram coletados e analisados. Os principais pontos que dificultam a inter-relação do paciente x funcionário foram: o inter-relacionamento no trabalho de equipe, a falta de humanização, comprometimento e amor a causa, negligência nos cuidados de enfermagem, os transtornos causados por alguns acompanhantes, ausência do médico no sentido de avaliar a evolução dos pacientes e a falta de diálogo e informação. Diante da análise, percebeu-se a necessidade da atuação do psicopedagogo como mediador no processo de humanização embasado na técnica e nos conhecimentos visto que este profissional atuará de forma coerente para criar um ambiente harmônico onde a relação se torne benéfica, tomando como parâmetro a afetividade. 

 

Palavras-chave: Inter-relacionamento. Humanização. Psicopedagogia Hospitalar. Afetividade.

 

ABSTRACT

Alpha

 

The presented study aims to analyze the difficulties that interfere with the work of nursing staff at the hospital in order to suggest some thoughts that lead them to reassess and rethink their practice with the sick accompanied by them. It was chosen as a research resource hospitalized patients and nursing staff of a particular duty within 24 hours in a public hospital in a country town of Pernambuco. Were.Some ithens were colected and analyzed. The main points that hinder inter x -employee relatioship of the patient were the inter- relationship in the teamwork, the dehumanization, commitment and love the cause, neglect of nursing care, diseases caused by some companions, the doctor’s absence in order to assess progress of patients and lac of dialogue and information. The analysis realized the necessity of acting as a mediator of psychopedagogists in the humanization process grounded in technical and professional knowledge as this will act consistently to create a harmonious environment where the relationship becomes beneficial, taking as parameters affectivity.

 

Keywords: Inter-relationship.   Humanization.   Psychology  Hospital.   Afectivity.

INTRODUÇÃO

 

No que se refere ao processo de recuperação do enfermo, o estudo apresentado evidencia que no contexto hospitalar a atuação do psicopedagogo é de suma importância, por se tratar de um profissional com formação interdisciplinar atuando junto ao trabalho dos técnicos em enfermagem orientando-os no trato com os pacientes na unidade hospitalar. Pretende também demonstrar o campo de trabalho e o papel que este profissional desempenha junto à equipe multidisciplinar destacando as suas atribuições, o nível de interação entre ele e os pacientes dando suporte de apoio aos que passam por internações de curta ou longa duração criando situações novas de aprendizagem e colaborando com outros profissionais para que o ambiente hospitalar seja um lugar onde as pessoas se sensibilizem e se preocupem umas com as outras.

Cada vez mais a psicopedagogia vem sendo fortalecida como ciência, tornando-se necessária, tanto para prevenir quanto para tratar de distúrbios relacionados à aprendizagem.

Embora a profissão do psicopedagogo ainda não esteja regulamentada a sua ação é reconhecida pelos resultados que vem produzindo nas instituições (escolas, empresas e hospitais) e na Clínica.

 

Cabe a profissional psicopedagogo construir seu referencial profissional sempre em busca da sua teoria e da sua prática, buscando seu espaço,seja na área de saúde e educação, elaborando, reelaborando, compartilhando, trocando experiências, o que construirá o corpo teórico da profissão de psicopedagogo (PORTO,2009.p.132).

 

 

Em outras áreas, as dificuldades para definir ou assegurar o papel do psicopedagogo tem se intensificado, como por exemplo, no campo hospitalar. São poucos ainda os profissionais da área que atuam junto às equipes multidisciplinares trabalhando as dificuldades nas inter-relações. Na unidade hospitalar, junto aos pacientes que passam por um período de curta ou longa duração, o psicopedagogo exerce a função de agente educador, operando nos aspectos sociais e emocionais, e no auxílio à superação e/ou aceitação da doença, em casos de conflito, seu enfoque é correlacionar o atendimento individual ou em grupo com foco principal na motivação, aprendizagem ou reaprendizagem e bem estar do enfermo. Tais funções tornam as ações desse profissional um cenário de suporte psicossocial, fator fundamental, tanto para pacientes como seus familiares.

A pesquisa será feita com um Gerente de enfermagem, dois Técnicos em Enfermagem e dois pacientes de um plantão de 24 horas em um Hospitalpúblico de uma cidade do interior de Pernambuco. Este trabalho será dividido em três capítulos: o primeiro apresenta a psicopedagogia hospitalar, como mediadora no processo de humanização. Nesta abordagem são apresentados também o seu campo de atuação e as normas de conduta do psicopedagogo na unidade hospitalar. O segundo capítulo trás algumas reflexões sobre a importância da afetividade no ambiente hospitalar e nas relações dos profissionais com os pacientes. O terceiro capítulo apresenta um estudo de caso, propõe algumas atividades com base nos conhecimentos psicopedagógicos para serem aplicadas com o paciente interno numa abordagem mais humana e uma visão holística da pessoa humana junto aos processos que envolvem a recuperação do paciente hospitalizado, e por fim, as considerações finais.

O trabalho destina-se, pois, aos profissionais de saúde que encontram dificuldades no enfrentamento de suas atividades com os procedimentos e cuidados de enfermagem, gerando insatisfação na profissão em conseqüência de um trabalho mal sucedido. Destina-se ainda aos pacientes que acreditam nas bases afetivas como principal instrumento para a cura das enfermidades que afetam não só o corpo como também a alma. 

 

1  PSICOPEDAGOGIA HOSPITALAR

 

O artigo I do Código de ética do psicopedagogo da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) enfatiza que,

 

a psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana; seus padrões normais e patológicos, considerando a influência do meio _ família, escola e sociedade -no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da psicopedagogia.

 

            Segundo Porto (2007, p. 48),

 

a psicopedagogia vai além da aplicação da psicologia à pedagogia, pois não pode ser vista sem um caráter interdisciplinar, que implica a dependência da contribuição teórica e prática de outras áreas de estudo para se construir como tal.Por outro lado, a psicopedagogia não é apenas o estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorrem, visto que ela não se limita à aprendizagem da criança, mas abrange todo o processo de aprendizagem e, consequentemente, inclui quem está aprendendo, independente de ser criança, adolescente ou adulto.A psicopedagogia é um campo de atuação que integra saúde e educação e lida como conhecimento, sua ampliação, sua aquisição, suas distorções, suas diferenças e seu desenvolvimento por meio de múltiplos processos.

 


        Em qualquer campo em que a psicopedagogia for aplicada trabalha, principalmente, as questões relacionadas à ansiedade, baixa auto-estima e depressões; minimizando os danos de caráter cognitivo no processo de aprendizagem e reaprendizagem, promove uma relação proveitosa do sujeito com o meio ressignificando o seu aprendizado inclusive nas questões ligadas à sua maneira de ser, nos seus limites e desenvolvendo as suas potencialidades.

 Na Instituição Hospitalar, a Psicopedagogia surgiu da necessidade de proporcionar um acompanhamento psicopedagógico aos pacientes pediátricos internados, que possuem doenças crônicas como as Imunológicas, Hematológicas, e Psicopatológicas, necessitando assim, permanecer por longos períodos hospitalizados.

 A Psicopedagogia Hospitalar apresenta especializações que tem como objeto de estudo o aprendizado humano e seus processos, dando suporte e apoio ao paciente interno, humanizando e contribuindo para a promoção da saúde.

A proposta da Psicopedagogia Hospitalar é ser interlocutor de todos que passam por internações curtas ou de longa duração, pacientes terminais ou com doenças crônicas, dando uma atenção especializada, mas criando um mundo onde as pessoas se importam umas com as outras.

A tendência da enfermidade é afetar as interações do paciente com o ambiente em que está inserido, em conseqüência disso costuma alterar os aspectos do círculo em que vive e, por sua vez, as relações são abaladas como decorrência da doença, a capacidade de aceitar sua nova situação e lidar com ela de modo positivo, bem-sucedido e saudável poderá fazer toda diferença na futura realização desse indivíduo, especialmente aquele que passa por longo período de internação. Uma eficiente intervenção psicopedagógica desencadeia o processo de resiliência consistindo na habilidade de superar-se diante das adversidades e do estresse no decorrer do desenvolvimento.

Para o paciente hospitalizado a psicopedagogia é de fundamental importância para manter um vínculo com as informações básicas e desenvolver as habilidades de natureza psicossocial. Para a criança, a escola e a conquista de novos conhecimentos são meios pelo qual ela pode ser inserida e reconhecida no meio social, indispensáveis para sua avaliação como pessoa em processo de construção de aprendizagem. Diante de uma internação de longo período, parte desse processo tende a ser interrompido bruscamente, afetando sua auto-imagem e auto- estima dificultando as suas capacidades de retornar ao ambiente escolar. Além disso, a patologia, quando não compreendida pelo paciente, causa um sofrimento duplo, pela enfermidade em si e por se manter afastado de seu meio de desenvolvimento e do convívio educacional e social.

Assim sendo a psicopedagogia aplicada a segmentos hospitalares está voltada para a conservação de um ambiente harmônico e à identificação e prevenção dos insucessos interpessoais e de aprendizagem, podendo ser aplicada de forma individual ou em grupo.

 

1.1 CAMPOS DE ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA HOSPITALAR

 

 Embora se torne difícil a inserção do profissional psicopedagogo na unidade hospitalar quase sempre constituída como espaço de profissionais de saúde, na sua atuação alguns conhecimentos são necessários:

 

Como psicopedagogo hospitalar é imprescindível compreender todo o corpo de uma estrutura hospitalar, por se tratar de uma área relativamente nova, onde a instituição hospitalar em alguns casos não saberá ao que pedir ao psicopedagogo e cabe a ele o que pode acrescentar em benefício do paciente e da instituição. O psicopedagogo irá por em ação um questionamento e reflexão de como se adaptar a este novo ambiente, provido de regras, normas, valores e função social, o qual o mesmo deverá se conscientizar de sua identidade profissional e delimitar e até onde vai a sua atuação e a do outro profissional, realizando o devido encaminhamento quando se fizer necessário. O psicopedagogo junto à equipe multidisciplinar atuará de forma coesa e nunca isoladamente ou fragmentada, é importante que haja um espaço para que os conhecimentos de ambos profissionais envolvidos neste contexto sejam integrados a novas idéias, compartilhados e ressignificados, conhecer o olhar de cada um contribuirá para reconhecer as dificuldades pessoais e institucionais para por em ação uma atitude sistemática, contínua e reflexiva, de maneira a contribuir para que o vínculo entre a equipe se consolide o mais prazeroso possível, visando um ambiente mais humanizado ao paciente pediátrico. O qual nos remete a ser um ambiente impessoal, frio, hostil, assustador, incompreensível e depressivo, vivenciado e sentido na condição de hospitalizado. (VASCONCELOS, 2000, p. 7)

 

 

Fica evidente que o campo de atuação da psicopedagogia hospitalar tem suas limitações. Devagar,escutando,observando e dialogando é possível se conhecer toda a rotina do hospital, criar vínculos com outros profissionais somando competências e dividindo responsabilidades junto a outros especialistas.

De um modo geral o papel do psicopedagogo é interagir junto às equipes multidisciplinares intervindo nos estabelecimentos de saúde, colaborando com outros profissionais, orientando a metodologia a ser aplicada no trato com o paciente e sua família; elaborar diagnóstico das condições de aprendizagem das pessoas internadas; Adaptar os recursos psicopedagógicos para o contexto da saúde, utilizando estes recursos para elaborar programas terapêuticos de ensino/aprendizagem nas circunstâncias em que as pessoas estejam com as suas habilidades adaptativas enfraquecidas por razões de saúde; elaborar e aplicar programas comunitários de prevenção de conduta de risco e de promoção de comportamentos saudáveis; criar e desenvolver métodos e programas psicopedagógicos em contextos de reabilitação psicossocial, para pessoas em recuperação de doença; elaborar relatórios de condições terapêuticas de ensino/aprendizagem e outras comunicações; fornecer orientação ao paciente hospitalizado, com o objetivo de trabalhar não só os conhecimentos básicos, apesar da importância de se cuidar do não afastamento destes pacientes do mundo acadêmico. É importante, no entanto, focalizar o trabalho no desenvolvimento das capacidades de natureza psicossociais para que o paciente se habilite como agente ativo do seu próprio processo de tratamento, recuperação e promoção de sua saúde; dar suporte à família, profissionais e acompanhantes do paciente envolvido.

 

 

 

1.2 NORMAS DE CONDUTA DO PSICOPEDAGOGO HOSPITALAR

           

         Como em qualquer instituição, em todos os hospitais existem regras e normas, a serem cumpridas para o bom andamento do estabelecimento.

         PORTO (2010) propõe as principais normas de boa conduta a serem observadas pelo psicopedagogo dentro do contexto hospitalar:

 

  • Observar todos os setores e a dinâmica hospitalar: Rotinas médicas da equipe de enfermagem, procedimentos, hora das refeições, hora da visita. Não interferir no trabalho do outro profissional, embora discorde,podendo expor opinião no momento da interconsulta com embasamento teórico e não em achismo.
  • Anotar todos os setores do hospital e suas atribuições (da portaria à direção), usando sempre sutileza e fazendo vínculos afetivos, pois por se tratar de um trabalho desconhecido para a comunidade hospitalar, podemos estar desenvolvendo um movimento persecutório. É preciso mostrar que não se trata de detetives nem “espiões da direção do hospital”.
  • Dependendo do tipo do hospital, seja geral, ou especializado em determinadas patologias, o psicopedagogo deve procurar estudar sobre as doenças ali encontradas, pois, em sua profissão sempre irá encontrar barreiras. É este estudo e o aperfeiçoamento constante que farão o diferencial como profissional de psicopedagogia hospitalar.
  • Ser profissional, ser amigo, compartilhar com as equipes a vitória e, também a dor.
  • Entrar no hospital sempre com um sorriso no rosto, procurando diluir o clima que quase sempre é pesado;
  • Ler sempre os prontuários para ver a evolução do quadro e as recomendações médica;
  • É importante saber que quem transmite notícias de doenças e de morte, quando for o caso, é o médico. O psicopedagogo não deve aceitar esta atribuição, pois não é tarefa sua e, sim da equipe médica;
  • A ética é um dos fatores mais importantes na sua profissão.

 

 

2   A AFETIVIDADE NO AMBIENTE HOSPITALAR

           

Inicialmente, o homem é um animal dependente da interação entre os seus semelhantes. Precisa do outro para receber cuidado, carinho, afeto e se manter vivo. Sendo assim, possui necessidades específicas que outros animais não apresentam para seu pleno desenvolvimento físico, social, intelectual e cognitivo.

Desde o momento de nossa concepção, estas necessidades fazem com que sejamos afetados e influenciados pelo outro. Podemos exemplificar, neste caso, a influência da mãe sobre o filho recém-nascido, quanto às respostas às suas reações adversas, à sua irritação ou ao carinho dedicado por sua vez, que a faz começar a ser reconhecida pelo bebê.

De acordo com Wallon (1968 p. 149),

 

as influencias afetivas que rodeiam a criança desde o berço não podem deixar de exercer uma ação determinante na sua evolução mental. Não porque originem completamente as suas atitudes e as suas maneiras de sentir, mas pelo contrário, precisamente porque se dirigem, à medida que eles vão despertando, aos automatismos que o desenvolvimento espontâneo das estruturas nervosas mantém em potencia e, por seu intermédio, as reações íntimas e fundamentais. Assim se mistura o social com o orgânico.

 

 

 A influência das excitações afetivas sobre o comportamento do recém-nascido pode ser suficiente para modificar sistematicamente a conduta do sujeito.

Na literatura psicológica, podemos encontrar as chamadas doenças por carência de afeto mencionada por Spitz (1993) em sua obra O Primeiro Ano de Vida. É notório que o homem possui necessidades de ouvir, ver, sentir e tocar o outro. Tudo isso faz parte de nossa natureza social o que nos leva a sermos descritos como um animal social.

O diálogo entre partes, em qualquer ambiente, é sempre um desafio. Várias idéias surgem em nossa mente quando a palavra é relacionamento.

Boff (2000) afirma que cuidar do outro é zelar para que esta dialogação, esta ação diálogo eu-tu seja libertadora, sinergética e construtora de aliança perene de paz e de amorização.

Boff sugere que a amorização deve ser exercida como forma de reconhecer no outro o olhar de colaboração, da simpatia e da boa convivência. Ele faz referência à última condição ética da filosofia: o amor em forma de amorização. Quando se acha que ama o próximo, os relacionamentos tempestuosos tornam-se mais amenos.

Todo ser humano tem uma ligação básica com alguém e com a própria humanidade. Esse sentimento liga um ser a outro e desenvolve um sentimento de autonomia dependente das interações do que os outros sujeitos realizam. Esta ligação fundamental é mediada pela ética.

A solidariedade é um sentimento que deveria ligar um ser humano a outro.

A forma de as pessoas comunicarem a dor está intimamente ligada a padrões culturais de valorização ou desvalorização da exteriorização da resposta a ela e ao sofrimento. Sendo assim, a cultura é um dos fatores que determina se a dor privada será traduzida em comportamento e a forma que tal comportamento assume, bem como as condições sociais em que ocorre. (Budo, 2007, apud  Pinheiro & Bomfim 2009, p. 11).

 

Pensando no paciente hospitalizado com sua enfermidade e a forma de expressar sua dor e seu sofrimento, que de maneira geral está ligada a cultura que impõe padrões de procedimentos admissíveis e não admissíveis, consideremos esses aspectos culturais como ponto de partida para a formação do sentido da dor. Com isso é necessário conhecer o contexto sociocultural no qual o paciente está inserido para melhor compreender o significado da dor, levando em consideração os hábitos do sujeito. Durante o período de internação a escuta constante, o acolhimento e o olhar dirigido ao enfermo são de fundamental importância para amenizar o sofrimento e a dor.

Só o cuidado de um para como outro humaniza verdadeiramente a existência. E o cuidado é o modo próprio do ser humano (BOFF, 2000).

O olhar clínico do profissional para com o paciente estabelece nos espaços do hospital um vínculo afetivo. À medida que o enfermo é nomeado e identificado torna-se singular. Quem não gosta de ser cuidado, reconhecido, identificado?

Cabe aos Técnicos de Enfermagem que se encontram diretamente ligados ao doente, exercer com carinho e dedicação os cuidados de enfermagem, embora estes profissionais também apresentem suas dificuldades com relação ao comportamento de alguns pacientes. Neste sentido a escuta, o aconselhamento sugere uma forma de interação, pois o que fragiliza o estado do paciente não são apenas os aspectos orgânicos, o afetivo e o cognitivo também são afetados.

 

3  O  PSICOPEDAGOGO E O TRABALHO NO HOSPITAL COM OS PACIENTES

 

Segundo Porto (2010), o objetivo principal do Psicopedagogo Hospitalar junto com outros profissionais é contribuir na promoção da saúde. Implementar uma visão humanizadora na relação e no trato com os pacientes é uma das suas funções.

O ambiente hospitalar afasta o paciente de suas atividades rotineiras. Nesse sentido, quando a internação é longa geralmente o paciente se deprime e como consequência seu sistema imunológico é afetado dificultando assim a sua recuperação.

Compete ao psicopedagogo apontar algumas reflexões que auxiliem os profissionais que lidam diariamente com o paciente, no tocante às questões afetivas, no intuito de fazer com que cada um possa reavaliar suas práticas por meios de dinâmicas, tendo como objetivo principal intermediar a humanização no hospital e na saúde.

Nessa perspectiva, tem-se a seguir a análise de alguns dados colhidos em entrevista a fim de identificar alguns pontos que dificultam a relação do paciente com técnico de enfermagem interferindo também no processo de recuperação do enfermo para, então, diante da realidade, apresentar propostas que auxiliem estes profissionais no trato com os pacientes de maneira a contribuir para que o ambiente hospitalar torne-se um espaço harmônico e acolhedor.

Os resultados obtidos foram analisados com base na fundamentação teórica apresentada anteriormente, estes por sua vez foram comentados com base em conceitos de estudiosos da aprendizagem humana como PORTO (2010) e WALLON (1968) com o intuito de informar como a psicopedagogia contribui para o aprendizado humano no ambiente hospitalar.

Para tanto, uma entrevista foi realizada e transcrita. Os questionamentos levantados foram separados em categorias hierárquica para uma análise adequada. Os entrevistados foram: um Gerente de Enfermagem, dois técnicos em enfermagem e dois pacientes.

 

Tem-se seguir, o teor das questões:

 

Questão01 aQuestão 05- Gerente de Enfermagem

 

A profissional entrevista é graduada em Enfermagem, especializadaem Saúde Públicae atua na profissão há dez anos. De acordo com o que foi abordado, as principais dificuldades relatadas em relação ao trabalho dos técnicos junto aos pacientes foram: a falta de humanização, comprometimento e amor a causa, a interação entre os técnicos de enfermagem dificultando o trabalho em parceria, a negligência por parte de alguns em relação aos cuidados de enfermagem na administração de alguns procedimentos com o paciente e a forma pouco afetiva de acolhida aos pacientes, ressaltando ainda que alguns pacientes são trabalhosos e dificultam também o trabalho do técnico,embora considere que este estado de agressividade em muitos casos é consequência da doença, fato que deve ser levado em consideração.

 

Questão01 aQuestão 05-Técnicos em Enfermagem

 

Os profissionais entrevistados possuem apenas o Curso Técnico em Enfermagem, atuam na profissão a menos de dez anos. Em suas falas relataram suas insatisfações com relação a alguns colegas no que diz respeito a um trabalho conjunto, os transtornos causados por alguns acompanhantes e a ausência do médico na evolução do quadro clínico do paciente o que os torna alvo de críticas quando o quadro não evolui para melhor.

 

Questões01 aQuestão 05-Pacientes

 

Os pacientes entrevistados residem na Zona Rural, baixo grau de escolaridade, internados há dois dias, por  vezes ressaltaram a falta de diálogo no que diz respeito a sua enfermidade, o tratamento áspero em alguns procedimentos e a falta da visita do médico no decorrer da internação. Vale ressaltar que um dos pacientes já esteve hospitalizado nesta unidade de saúde diversas vezes ficando evidente que isto já lhe ocorreu em outros momentos, porém o mesmo ressalta que nem todos os profissionais se comportam da mesma maneira.

Durante a entrevista foi possível observar que existe uma falta de motivação e de um assessoramento no trabalho dos técnicos de forma a acompanhar os procedimentos diários com os pacientes que os levem a refletir suas práticas. Percebe-se também que o nível de interação entre eles é o que mais dificulta o trabalho, pois o espírito de equipe ainda precisa ser trabalhado. A relação com o paciente é estritamente profissional, falta uma visão holística que venha a considerar os aspectos que envolvem a história do paciente, aspectos estes, que irão nortear os procedimentos de forma que venha a colaborar para um bem-estar não somente físico, mas também cognitivo,social e afetivo. 

Diante do exposto, faz-se necessário apontar algumas reflexões que irão contribuir com um tratamento humanizado na perspectiva de um ambiente melhor.

Na busca do conhecimento, estabelecemos relações com objetivos físicos, concepções ou outros indivíduos. Afeto e cognição se constituem em aspectos inseparáveis, estando presentes em qualquer atividade a ser desenvolvida variando apenas as suas proporções. O afeto e a inteligência se estruturam nas ações e pelas ações, sendo o afeto entendido como uma fonte energética necessária para que a estrutura cognitiva passe a operar, ou seja, sem matéria-prima, não podemos realizar um produto. Todavia é importante ressaltar que o produto, para ser transformado, necessita de máquinas adequadas, criatividade e principalmente energia (a parte afetiva relacionada à emoção). Se não houver energia para movimentar ou mobilizar a estrutura que atua sobre a matéria prima, não será possível trabalhar com nenhum tipo de máquina, igualmente, ninguém consegue a pensar se não tiver a emoção adequada para mobilizar tal pensamento (PORTO, 2009.p.44).

 

O paciente não pode ser visto e tratado como uma máquina desajustada que está ali simplesmente para ser reajustada. É comum presenciar a despersonalização do enfermo no ambiente hospitalar, o qual passa a ser reconhecido como o “leito três”, “o doente tal”, “o paciente da TB”. De certa forma é até compreensível usar esse termo como referência para identificar o paciente, mas até que ponto esse tipo de comportamento irá influenciar na sua singularidade? Afinal trata-se de “Seu Luiz”, “Dona Zefinha”, “Ritinha”, seres humanos providos de emoções, aspirações e características próprias.

Poucos são os profissionais que se referem ao enfermo pelo nome. Alguns se comportam de maneira fria e objetiva, só reconhece o paciente por sua enfermidade, local onde está acomodado, procedimentos a serem realizados entre outras rotinas hospitalares. Nessa visão, a atuação do Psicopedagogo Hospitalar busca redimensionar a singularidade do sujeito, construindo sua identidade, dando um novo significado ao seu viver, através da escuta e disponibilidade para acolher, o que irá contribuir com a promoção da saúde do doente. Estes são fatores primordiais na relação do psicopedagogo com o paciente.

O ponto de partida para o psicopedagogo trabalhar é identificar a relação do sujeito com o relacional/real, ou seja, com o outro e consigo mesmo. No primeiro momento irá trabalhar o lado afetivo, a auto-estima dos profissionais, em seguida irá trabalhar a identidade do paciente identificando o que ele mais gosta de fazer. Sendo criança, o processo se dá através da brinquedoteca onde serão desenvolvidas atividades lúdicas centradas na aprendizagem e até atividades escolares subsidiadas pela escola. A arteterapia também poderá ser desenvolvida no intuito de promover a saúde do enfermo, seja criança, adolescente, adulto ou idoso. Deste modo através do lúdico e das oficinas psicopedagógicas, a psicopedagogia hospitalar possibilita a aprendizagem, evitando o afastamento total das atividades rotineiras de pessoas que estão afastadas do convívio social por período longo de tempo. Faz-se, pois necessário que o ambiente hospitalar torne-se um espaço acolhedor e alegre, proporcionando oportunidades para que as crianças sigam suas atividades costumeiras, como, estudar, jogar, falar, sorrir, conviver com outras crianças etc., assim o tratamento de saúde se tornará bem mais eficaz. O mesmo se aplica aos demais pacientes de acordo com idade.

É importante que o paciente compreenda o que está se passando com ele, sua enfermidade, tempo provável de internação, que faça perguntas, tire dúvidas, se esclareça e encare sua estadia como um acontecimento natural, mesmo que inspire cuidados, para que este também se sinta envolvido com o processo de recuperação. E que sua permanência no hospital, não se torne desagradável.

 A hora da visita é estimulante para os pacientes que compartilham sua dor com seus familiares e amigos recebendo em troca o conforto e o incentivo que ajudam na recuperação. Para outros, este momento é doloroso quando não existem parentes nem amigos para visitá-lo, gerando tristeza, com isso vêm a solidão, a depressão e o medo da morte. É ai que entra o trabalho do psicopedagogo embasado na prática e na técnica, ocupando o espaço vazio tornando especial a vida do paciente.

Assim sendo, no contexto hospitalar o psicopedagogo contribuirá para dar uma abordagem mais humana e uma visão holística aos processos que envolvam a recuperação do paciente hospitalizado, trabalhando não só as dificuldades de aprendizagens e sim, criando situações novas de aprendizado permitindo que o paciente sinta-se “vivo”, apto, conectado ao mundo externo, mesmo estando hospitalizado. Cada profissional em sua especialidade deve sempre ter em mente que sua atuação deverá considerar o ser humano de forma completa e digna, respeitando todas as suas dimensões e particularidades e que com ele deve interagir também de forma harmônica, considerando-o na sua totalidade, respeitando suas necessidades, limitações e competências.

A Política Nacional de Humanização-PNH (2009) destaca: é impossível cuidar da saúde sem considerar as situações pelas quais passamos ou as formas como nos organizamos para lidar com as experiências que nos adoecem.

Portanto, humanizar é o ato de tornar humano. E deve ser compreendido em saúde como a valorização do respeito à vida e das condições humanas, levando em consideração os aspectos individuais e particulares de cada ser humano, como a história de vida, suas angústias, os seus medos, seus sonhos e suas crenças, suas pretensões e demais singularidades.

Partindo destes pressupostos, podemos considerar que a proposta de acompanhamento psicopedagógico hospitalar pode contribuir espantosamente para a sustentação deste projeto de humanização. E seguindo todo este processo para regulamentação de uma política nacional de humanização, os grupos hospitalares também aparecem como mais uma ferramenta a ser implementada pelos hospitais.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Este trabalho tratou da atuação do psicopedagogo no hospital junto ao trabalho dos técnicos em enfermagem, no intuito de contribuir para a humanização na rede hospitalar. Se o objeto de estudo da psicopedagogia é a aprendizagem humana, este profissional não poderia ficar de fora do contexto hospitalar, pois sendo as internações breves ou longas, quando o paciente recebe alta da unidade hospitalar, muitas vezes, precisa aprender a aprender a lidar com situações novas no seu percurso de vida.Internação de longo período necessita da intervenção do psicopedagogo, para trabalhar a auto-estima e a reinserção do paciente em seu grupo social.O psicopedagogo hospitalar pode ser visto como intermediador, porque ele dá voz ao paciente, ensina, aprende, reaprende em permanente movimento, pois a vida é um aprendizado constante. Se aprendizagem é mudança de comportamento, o psicopedagogo pode ser visto como um profissional das transformações de vidas.

Procurou-se mostrar a importância do trabalho do psicopedagogo no ambiente hospitalar junto aos enfermos e aos técnicos de enfermagem uma vez que estes profissionais lidam diariamente com os pacientes internos. Ficou claro que o profissional psicopedagogo também pode atuar de forma muito ampla em relação ao desenvolvimento cognitivo dos pacientes através de atividades lúdicas – pedagógicas em um enfoque psicopedagógico e psicológico em conjunto com o psicólogo, intervindo de forma a prevenir os estados emocionais do paciente, que resultam em quadros depressivos por razão das enfermidades e de sua estadia no hospital.

Durante a entrevista ficou evidente que os pacientes internos apresentam um quadro de ociosidade por se encontrarem afastados dos parentes e amigos, deixando-os tristes e desamparados, o que prejudica também sua recuperação durante o tratamento. O afastamento social afeta a auto-estima e reduz os resultados na melhoria da saúde. No que diz respeito à relação dos técnicos com os pacientes foi possível observar que há uma diversidade de profissionais cujos conceitos não são excelentes, variam entre regular e bom, deixando a desejar no que se refere à afetividade. Com relação ao inter-relacionamento entre profissionais, ficou evidente que há disparidade no trabalho de equipe onde por vezes o maior prejudicado é o paciente. Em geral há uma grande necessidade de empenho no processo de recuperação do paciente internado no sentido de tornar singular a vida do sujeito em seu período de internação.

O estudo apresentado evidenciou que o psicopedagogo não poderia ficar de fora do contexto hospitalar, por se tratar de um profissional com formação interdisciplinar, o nível de interação entre ele e os pacientes dando suporte de apoio aos que passam por internações de curta ou longa duração criando situações novas de aprendizagem e colaborando com outros profissionais para que o ambiente hospitalar seja um lugar onde as pessoas se preocupam umas com as outras.

Como se pode ver, no caminhar da psicopedagogia hospitalar, o trabalho do psicopedagogo passará inicialmente pelo “Eu” para poder olhar o “Outro”. Dessa forma quando o outro “surgir” estaremos aptos para analisar a relação de forma humanizada.

Para que isto aconteça, é muito importante que os profissionais se dediquem e estejam preparados para lidar com todos os tipos de doenças e sentimentos como, por exemplo: ansiedade, dor, angústia, medo, insegurança e também a morte. É importante também que os pacientes que expressem esses sentimentos, sejam estimulados. Para isso, o psicopedagogo pode ser um mediador, assim como um membro ativo da equipe multidisciplinar. A equipe, trabalhando em parceria, pode conseguir que o paciente não acumule esses sentimentos que poderão lhe causar algum tipo de desconforto, seja físico ou psicológico, independente do grau da doença ou motivo da internação. É preciso prevenir que isso aconteça. Cabe então ressaltar que o psicocopedagogo não trabalha sozinho em rede hospitalar e para conseguir seu espaço, precisa conquistá-lo com seu saber e estar aberto a novos aprendizados.

Espera-se que a profissão do psicopedagogo tão logo seja regulamentada, uma vez que a sua eficácia já foi reconhecida. Estamos apenas no começo dessa nossa trajetória no campo hospitalar, mas, com nossa dedicação, aperfeiçoamento, determinação, ousadia e coragem, conseguiremos, sem dúvida, romper mais um paradigma - o psicopedagogo na Instituição Hospitalar.

 

REFERÊNCIAS

 

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA (ABPp). Código de Ética. Leis, códigos e diretrizes. Reformulado pelo Conselho Nacional e Nato do Biênio 95/96. 1996. < Disponível em: http://www.abpp.com.br/ leis_regulamentacao_etica /leis_regulamentacao_etica.htm. Acesso em: 17 de julho de 2012.

 

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar-ética do humano, compaixão pela terra. Petrópolis: Ed. Vozes, 2000. In: PORTO, Olívia. Psicopedagogia hospitalar: intermediando a humanização na saúde. 2ª ed.-Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010.

 

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[1] Aluna do Curso de Especializaçãoem Psicopedagogia Institucional e Clínica, das Faculdades Integradas de Patos. Trabalho de Conclusão de Curso.


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