O Surrealismo e os sonhos



O Surrealismo contestava a neutralidade da cultura burguesa dominante na Europa no início do século XX e propunha uma revolução nas artes a partir do desejo. Foi o escritor e psiquiatra  André Breton que lançou as bases do movimento, definidas a partir de uma livre interpretação da obra de Freud.

Os surrealistas entendiam os sonhos a partir da perspectiva freudiana, segundo a qual eles seriam a principal forma de acesso ao nosso inconsciente. Freud acreditava que as pessoas sabiam o significado dos sonhos que tinham, mas não tinham consciência de que sabiam, porque uma espécie de auto-censura as impedia de admitir isso para si mesmas. Os sonhos seriam a distorção do verdadeiro desejo, e isso explicaria a aparição das coisas mais absurdas neles. Salvador Dalí, pintor surrealista, chegava a afirmar que o sonho é a origem mais legítima da arte, porque no universo onírico as imagens não têm nenhum compromisso com a realidade, não são limitadas por ela. Dalí as chamava de imagens “super-reais”.

Para obter essas imagens super-reais o pintor desenvolveu seus próprios métodos. Um deles consistia em passar muito tempo sem dormir, para induzir a ocorrência de alucinações. Para sonhar e acordar a tempo de lembrar do que viu, Dalí inventou outro truque: dormia sentado em uma cadeira, segurando uma colher pesada, tendo a seus pés um prato de metal. Quando adormecia, seus dedos relaxavam e a colher caía sobre o prato. O barulho o fazia despertar, então ele pintava imediatamente o que viu no sonho. Hoje sabe-se que o método funcionava porque no momento em que estamos começando a dormir passamos por um curto estágio de sono parecido com a fase do sono REM, em que ocorrem muitas imagens mentais.

Como resultado dos seus sonhos, Dalí pintava cenários distorcidos, paisagens absurdas, alegorias e todo tipo de representação do que ele entendia ser seu inconsciente. A tela mais famosa do artista é “A persistência da memória”, em que são retratados relógios derretendo. O quadro faz referência às preocupações do ser humano com o tempo e a memória.


Autor: Telma Gomes Souza


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