Sobre a histeria



O histérico é a criança magnífica que, sozinha, ás portas da experiência decisiva, pronta para atravessá-la, nos diria: Enfrentarei minha angústia deixando-a passar por mim, através de mim. E quando, graças a uma palavra, um silêncio ou um grito, a angustia tiver passado, voltarei meu olhar interior para seu rastro. E onde ela tiver passado, não haverá mais nada. Nada a não ser eu, transformando na marca de uma cicatriz, impulso de um novo nascimento. (Nasio, J.D, p.85, 1991.)

 

A clínica da histeria é uma das bases principais da Psicanálise. Freud, através da sua formação acadêmica com o médico Charcot, e seu trabalho com Breuer, que ele desvenda os fenômenos da divisão psíquica do sujeito, o que o levaram a descoberta do inconsciente. E é, no tratamento da neurose histérica que ele molda uma técnica e um método psicanalítico, propondo um tratamento através da palavra. O livro Estudos sobre a histeria (FREUD-BREUER,1895-1969), estão suas ideias sobre a histeria, como originaria de uma fonte na qual os pacientes não costumam falar, ou explicar a sua origem por não conseguirem discernir, a origem dessa neurose, seria um trauma psíquico que ocorreu na infância do individuo (a), em que uma representação atrelada a um afeto aflitivo teria sido isolada do circuito consciente das ideias, sendo o afeto dissociado desta e descarregado no corpo. Freud usou da hipnose para conseguir reencontrar a lembrança que causa o trauma, e tendo assim a oportunidade da histérica de reagir a esta por suas palavras, o que aliviaria os sintomas. (REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE PSICOLOGIA, Ano VII, Nº 13, Londrina, 2009)

A estrutura histérica aproxima-se do que é tido como normal, nela, o controle do ego é derrubado, ocorrendo ações que o ego não visa. A denominação histérica vem do grego “hysteron” que significa útero, e da forma como foi percebida entre as mulheres antigamente, denominaram-se histéricas as mulheres que apresentavam quadro de sintomas comuns. Com o tempo observou-se que a histeria, ou o desenvolvimento da estrutura histérica, ocorre

com maior frequência, em mulheres do que em homens, devido ao fato de apresentarem uma complicação maior no desenvolvimento sexual, a menina se sente castrada e por isso é levada a passividade.

Na histeria, a angústia é expressa via o corpo, ela pode apresentar os sintomas como manifestações agudas, grandes ataques, crises menores, quadros dissociativos e quadros funcionais duradouros, como paralisias, anestesias e transtornos sensoriais, tendo como característica principal a forma exagerada que se apresentam os sintomas. Na neurose histérica encontram-se dois grupos: a neurose histérica de conversão que se caracteriza pela necessidade do neurótico em chamar a atenção sobre si, de vislumbrar e de conquistar a piedade dos outros, usando para isso, doenças com utilização de órgãos alvo, usa de comportamentos frágeis e delicados para atrair os outros e a neurose histérica de angústia que evidencia a projeção da personalidade que é frustrante, em outra que agrade o indivíduo, utilizando no lugar daquela geradora de angústia e de ansiedade. Atualmente, a histeria aparece no consultório de uma forma peculiar, como sintomas de anorexia, até as modalidades assintomáticas, com queixas de cansaço, o tedium vitae ou em epidemias contemporâneas que podem ser lidas em clave histérica.

No texto, o que é uma mulher? (Lacan, 1956-1988), ele inicia considerando o neurótico como sendo aquele que usa o seu eu para colocar a sua própria questão e faz isso não a colocando. O Eu sento uma entidade imaginária, faz com que o sujeito se iluda com a realidade que o cerca, e aponta ainda, o engano de algumas clinicas psicanalíticas quando centraram as intervenções terapêuticas na histérica, alimentando essas ilusões ao invés de desmontá-las. (REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE PSICOLOGIA, Ano VII, Nº 13, Londrina, 2009)

De acordo com o livro A HISTERIA, de JUAN DAVID NASIO,VERA RIBEIRO (1991), o tratamento psicanalítico da histérica, consiste em levar o analisando a atravessar a prova da angustia da castração. Ele fala de uma nova forma de pensar essa ação da psicanalise e de destacar o fato fundamental que deve ser produzido na análise para aliviar o sintoma da neurose histérica, e que inicialmente, esta será conduzida a angustia. Para o autor, a fantasia angustiante de castração que domina o psiquismo da histérica, além de ser a

fonte e o motivo desse sofrimento neurótico, é também, uma espécie de proteção e de defesa contra qualquer eventual aproximação do gozo máximo. Ou seja, ela prefere adoecer de uma fantasia que causa angustia do que enfrentar o que teme como perigo absoluto: o gozo. O gozo aqui constitui para o histérico, um limite, que transposto, o fará mergulhar na loucura, e diante desse perigo, ele então opõe uma recusa a esse gozo, para se manter afastado e persistir em recusar, ele inventa uma fantasia protetora, que pode ser a fantasia da castração. Tudo isso se transforma em angústia, e o objeto ameaçado não é a totalidade do ser, mas é o falo. Logo, essa fantasia salva o histérico do gozo, mas o mergulha em um sofrimento corporal, somático, sexual, e relacional (desejo de insatisfação). (Nasio, J.D, 1991.)

Lacan (1992, p.90) diz que o discurso da histérica tem como mérito a manutenção na instituição discursiva a pergunta sobre o que é a relação sexual, como o sujeito pode sustenta-la ou não e a resposta pra essa pergunta se encontra na verdade que está recalcada. Para o autor, o que a histérica quer, é:

... É um mestre. A tal ponto que podemos indagar se a invenção do mestre não partiu dai ... Ela quer que o outro seja um mestre, que saiba muitas e muitas coisas, mas mesmo assim, que não saiba demais, para que não acredite que ela é o prêmio máximo de todo o seu saber. Quer um mestre sobre o qual ela reine. (LACAN, 1992 p.122).

A histeria se encontra no alicerce da psicanálise, com lugar fundamental quando se fala em teoria dos discursos, por que o discurso do histérico é a chave do processo psicanalítico. (Carolina Marra S. Coelho, Psicanalise e Laço social – Barcena, 2006).

 

 

 

 

REFERENCIAS TEORICAS

 

Nasio, J.D. A histeria: teoria clinica e psicanalítica/J.-D.Nasio; tradução, Vera Ribeiro. – Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed., 1991. (Coleção transmissão da psicanálise)

Carolina Marra S. Coelho. Psicanálise e Laço social – uma leitura do seminário 17, Mental, Junho, ano/vol IV número 006, Universidade Presidente Antônio Carlos, Barbacena, Brasil, pp. 107-121

REVISTA CIÊNTIFICA ELETRÔNICA DE PSICOLOGIA, issn: 1806-0625, Ano VII, Número 13,- Novembro de 2009 – Periódico Semestral; Um breve histórico da histéria: de Freud a Lacan, Londrina, 2005)

Neurose Histérica, Cida Melo, Domingo, 27 de Setembro, 2009 . Disponível em:


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