Amor e outros desastres



Vamos começar então.

Bom eu era o tipo de pessoa que hoje chamam de ‘popular’. Era bom ser eu. Eu podia dar ‘patada’ em quem eu quisesse. Todos os garotos lambiam o chão quando eu passava. Eram capazes de enfrentar grandes dragões só para chegar perto de mim. Todos se derretiam.Mas por incrível que pareça eu não me interessava por nenhum deles. Mesmo com essa vida um tanto que ‘agitada’, com pessoas me rodeando por todos os lados, todos querendo apenas que eu soubesse seus nomes, eu chorava. Um dia cheguei a me perguntar: ‘o que eu quero? Mais que isso?’ Impossível. Essa duvida rodeava meus pensamentos.

É claro, até surgir alguém para acabar com elas. Em um dia claro, bonito, calmo, brilhante, ou melhor, radiante, conheci alguém. Por mais absurdo que seja ele não gostava de mim como todos os outros, e isso me incomodava. Comecei a conversar com ele, até descobrir o perfeito grosso e idiota que ele era. Com os outros ele era tão gentil, mas comigo - a pessoa mais importante da cidade -, diga-se de passagem, ele era diferente. Mas quanto mais nós brigávamos, mais eu fui descobrindo que eu o amava. A primeira vez que eu havia me apaixonado. Eu queria que ele sentisse o mesmo por mim, mas com cada palavra pronunciada dele, eu notava que nunca ele ia sentir isso. Comecei a perceber que ele estava interessado em outra. Foi ai que eu pirei. Eu sabia que não podia obrigar ninguém a gostar de mim. Quer dizer, eu até podia fazer isso com qualquer um, mas com ele era diferente. Comecei a desistir do meu sentimento, mas era mais forte que eu.

No outro ano ele acabou indo embora. Foi muito triste ver a partida dele. Ele estava tão perto e era só eu dizer duas palavrinhas. Mas não disse. Ele se foi. E anos e anos passaram, mas eu não conseguia esquecê-lo.

Viajei a Nova York por algum tempo. E para provar que o mundo é pequeno, reencontrei-o. Foi tão... Inesquecível o momento. Infelizmente essa era minha ultima semana La. Mas passamos essa ultima semana nos divertindo. Foi tão bom. Algo com que eu nunca sonhei. Brincamos, rimos, cantamos. Mas tudo passou tão rápido. No meu ultimo dia La, ele me levou pra jantar. Ele me disse que foi bom ter uma amiga por perto. Com essas palavras eu entendi a mensagem e me despedi. Era tão óbvio que ele tinha arranjado uma namorada por La. Vi que eu nunca seria nada mais que uma amiga para ele. No dia seguinte corri ao aeroporto, não queria mais ficar La, e me lembrar dos últimos acontecidos. Chorosa, eu estava. Bem comum isso, não? Entrei no avião com o rosto escorrendo lagrimas, com as mãos tremelicando e com a cabeça baixa. Sentei ao lado de um estranho. Na verdade não vi seu rosto, ele olhava para fora, com cara de quem estava esperando alguém. Quando olhei direito para a janela, vi que quem estava ali era ele. Ele tinha vindo. Não sabia por quê. Não consegui falar nada. Queria falar tanta coisa, mas as palavras se embaraçavam dentro da minha boca. Quando ele virou pro lado, viu que era eu. E levou um susto. Havia ficado espantado. Não sei por quê. Ele disse com a voz meio trêmula: ‘o que faz aqui?’ E eu respondi que era meu vôo de volta para casa. Ele disse que pensava que eu havia pegado o de noite que chegava mais rápido. Ele ficou tão feliz em me ver, e eu em ver ele. Eu perguntei por que ele estava pegando aquele vôo e deixando a namorada sozinha. Ele espantado me perguntou que namorada. Eu contei sobre o que ele havia me dito na noite passada. Ele sorriu e explicou que eu havia me enganado. Não havia ninguém. Não havia namorada! Estava tudo indo bem. O caminho estava livre para mim. Eu podia ter dito as duas palavrinhas, mas não consegui. Mais uma vez eu joguei fora a oportunidade. Depois de algumas horas de silencio, ele me perguntou se eu gostaria de saber por que ele estava naquele avião. Eu respondi que sim. Ele disse: ‘eu não podia deixar você escapar dessa vez. ’ Eu me choquei quando ele disse isso. Ele sentia o mesmo que eu. E pensar que tudo poderia ter sido diferente. Mas ainda restava tempo. Quando fui dizer as palavras, senti uma turbulência, um tremor. A ultima palavra que ouvi foi a do piloto pedindo silencio dos passageiros. Depois não me lembro de mais nada.

Acordei em uma cama com lençóis brancos. Eu perguntei onde eu estava e me contaram do acidente. Eu perguntei sobre ele para as enfermeiras e elas me levaram até o quarto que ele estava. Ele estava em coma, sem previsão de melhoras. Eu chorei muito naquele dia. As enfermeiras me disseram que ele havia colocado o único tubo de oxigênio do avião em mim e quando o resgate chegou La ele estava quase desmaiando. E antes de desmaiar ele pediu para que entregassem um recado para mim. Uma carta que ele havia escrito em Nova York para me entregar. Eu peguei e li. Dizia o seguinte:

“Há muito tempo eu gostaria de ter dito isto,

Mas sabe que eu nunca fui bom com palavras,

Eu estava tentando achar um jeito de te falar isso.

Mas antes eu queria descobrir o que eu sentia por você.

Foi então que decidi ir embora.

Percorri vários caminhos, conheci varias pessoas,

Até eu descobrir que te amava.

Fui a vários países,

Para descobrir palavras,

Jeitos,

Para te dizer da melhor maneira,

Da maneira mais romântica,

Mais perfeita,

O quanto te amo.

Percebi que fazer isso não era necessário.

Que só a união de duas palavrinhas bastava.

Amo Você.”

Depois que li, as enfermeiras me disseram mais. Que logo após ele entregar a carta pediu para que elas me dissessem para eu esperar ele. Eu prometi.

Embora eu não saiba até hoje se ele um dia sairá do coma, eu não voltarei atrás com a minha promessa.

Eu te esperarei.


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