PERISPÍRITO E COMPLEXIDADES SOMÁTICAS



 PERISPÍRITO E COMPLEXIDADES SOMÁTICAS 

Quanto já se estudara do Corpo Espiritual até os presentes tempos do Espiritismo consolidado por Allan Kardec (1804-1869)? Difícil dizer, pois que tudo, e, do ponto de vista bíblico, se iniciara com o apóstolo Paulo em uma de suas formidáveis epístolas. Mas tenho informações de que os humanos primitivos já o conheciam e o chamavam de Corpo Sombra e, de lá pra cá, o vimos ser taxado de corpo etérico, de kha, de ochema, de corpo astral, carro sutil da alma, que, passando por Kardec, o denominara perispírito e que, mais recentemente ainda, recebera o nome de corpo energético ou bioplasmático.

 

Kardec, em suas brilhantes lições doutrinárias, ministrava que o Homem é composto por:

 

-Espírito: centelha anímica imortal;

-Perispírito: corpo invisível que, na reencarnação, se enraíza na célula zigoto e a ela se une molécula por molécula, dirigindo a formação fetal; e o

-Corpo BioMaterial humano, resultado daquela direção perispirítica.

 

Entretanto, o que mais me chama a atenção no Espiritismo é justamente esta sua mobilidade saudável, aonde nossos conhecimentos se vão aprofundando mais e mais, e que, segundo preceitos doutrinários, seus limites estão no infinito que não tem fim.

 

Assim, avançando um tanto mais que Kardec, se nos depara a figura ímpar de Gabriel Delanne (1857-1926), o missionário responsável pelos aspectos científicos do Espiritismo. Para ele, o perispírito:

 

“ ... é a sede dos estados conscienciais pretéritos, o armazém das lembranças, a retorta em que se processa a memória de fixação, e é nele que o Espírito se abastece quando necessita de cabedais intelectuais para raciocinar, imaginar, comparar, deduzir, etc. Também receptáculo de imagens mentais, é nele que reside, finalmente, a memória orgânica e inconsciente”. (Vide: “A Evolução Anímica” – Gabriel Delanne – Feb).

 

 

 

 

E confirma, mais ainda, noutra de suas obras, que:

 

“A memória não reside no cérebro, está contida no perispírito”. (Vide: “A Reencarnação” – Gabriel Delanne – Feb).

 

Sem dúvidas que, com o mais importante instrutor no campo da filosofia cristã do século vinte – Emmanuel – este sábio Espírito que fora o diretor responsável pela iluminada lavra mediúnica xavieriana, pode-se apurar muito mais. No opúsculo que estampa o seu próprio nome: “Emmanuel” (Feb – 1937), Capítulo 24: “O Corpo Espiritual”, o caro leitor vai se deparar com uma das mais intrigantes páginas do Espiritismo moderno, conquanto sua síntese, sua condensação em tão poucas páginas, ditadas pelo grande sábio do astral. Mas vamos devagar, pois que o tema, como tudo no Espiritismo, é de uma complexidade inimaginável; e o perispírito não escaparia de tal propriedade. Reiniciemos, pois, com uma indagação:

 

-Poderia ser o perispírito a sede da memória e de tantas outras potencialidades como o quer o notável Gabriel Delanne?

 

E, para Emmanuel, mais que tudo isso, pergunta-se:

 

-Poderia ser o perispírito, além de santuário da memória, ser a sede das faculdades, dos sentimentos e da inteligência?

 

Parece que não, que não pode ser assim. Pois que tais potencialidades pertencem ao Espírito e não ao perispírito. Mas haveria alguma forma de se compreender tais potencialidades do Espírito, extensíveis ao perispírito? De tal ponto de vista, penso que sim; é bem possível que sim! Pode-se, pois, compreender as assertivas de Delanne e de Emmanuel, tal como uma espécie de reflexo, de faculdades notoriamente espirituais, porém, extensíveis ao campo perispirítico, e que, ao se analisá-lo em si mesmo, especifica e exclusivamente, pode-se cair na ambigüidade – não tão grave assim, é claro – de se tomar o efeito pela causa, porém, sem prejudicar-se o sistema completo integralizado por Espírito, perispírito e corpo físico animado por eflúvios vitais.

 

 

 

Neste caso, então, dir-se-ia que o perispírito é a sede das faculdades, da inteligência, da memória e dos sentimentos, pois que sua análise está se fazendo ao seu campo exclusivo e, portanto, e, especificamente, dele mesmo, conquanto saibamos que tais potências dependem da Vida que lhe fora insuflada pelo Ser principal, ou seja, pelo seu agente tonificador que é o Espírito imortal.

 

Mas, por sua complexidade, o assunto requer novos entendimentos. Não queiramos tudo saber do Espiritismo, de sua extrema profundidade, numa só existência planetária. Ora, se temos toda uma vasta imortalidade pela frente, que tenhamos um pouco de paciência, pois que estamos apenas adentrando as iluminadas páginas de nossa imortalidade espiritual. Imortalidade que, careceria de sentido se não fosse para o aprendizado de todo o sempre, e, que, portanto, se não for para hoje, será para o amanhã, e, depois do amanhã, no futuro de proporções eternas e imensuráveis.

 

Mas de retorno ao tema ora proposto, já disse e torno a repetir que:

 

A vida, em sua multidão de fenômenos involuntários, e que se verifica no

soma físico de todas as criaturas reencarnadas, demonstra, positivamente, que o perispírito é, de fato, detentor de potencialidades e automatismos que escapam à nossa frágil compreensão por sua inteligência, sua capacidade de reter informações pretéritas na forma de registros informacionais bastante precisos de nossa imensurável aventura palingenésica.

 

Ora, há algo de inteligentíssimo em mim mesmo, em meu corpo de tão complexas funções, e, do qual, eu, pessoalmente, e, portanto, de forma consciente, não participo, não tomo conhecimento de forma alguma. Funções tais como: funcionamento ritmado e perfeito da dinâmica cardíaca; das diversas glândulas; das filtragens renais; dos trabalhos gastro-intestinais; da aspiração oxigenada, permuta dos gases nos alvéolos pulmonares e respectiva expiração do gás carbônico, e tantas outras funções que nos passam despercebidas no transcurso de toda uma existência terrena.

 

 

 

 

Dizem que as funções fisiológicas chegam às raias do inimaginável; que o diga, pois, os estudiosos de biologia, de medicina...

 

E, com razão, se indagaria:

 

A quem cabe, pois, o exercício de tais funções? Se eu não as exerço, quem as faz por mim? Diz-se que é o perispírito e seus automatismos fisiológicos instalados e aderentes à máquina física dotada de vida biológica e material. Mesmo sendo tudo executado de forma mecânica e automática, é algo, ainda assim, bastante inteligente e porque não dizer, de uma notória capacidade para algo que nos parece ser não-inteligente, mecanizado, automatizado. Portanto, o que eu vejo ali não parece ser apenas alguma forma de inteligência primitiva, instintiva e maquinal. Parece ser algo superior ao basicamente primitivo e maquinal, ou seja, acima do estritamente mecânico do automatismo perispiritual.

 

Mas há mais! Muito mais!

 

Para que eu estivesse hoje fisicamente corporificado neste mundo, algo fora acionado nos registros imponderáveis de mim mesmo, e, sem que eu soubesse ou saiba – pois que de tal não tomei conhecimento e não se toma conhecimento – para dirigir, recapitular a filogênese e magnificamente orquestrar aquela pequenina célula zigoto durante os nove meses de sua, ou, de minha gestação, que acabara por culminar neste complexo fisiológico do corpo humano, do qual sou um dirigente meio que inconsciente do referido complexo, pois que, de tal, ou seja, de muitas coisas dele mesmo, de suas enigmáticas funções, eu não tomo conhecimento, pois que vem a tratar-se, para mim, de um mistério, de tantas e tantas funções, das quais, eu pessoalmente, muito pouco entendo, e que são, repito, de uma inteligência bem interessante, para não dizer, bastante expressiva, pois que, de tudo isso, repito, eu não participo conscientemente e nem imagino saber de tais.

 

 

 

 

 

 

Há, portanto, mais que a minha inteligência de consciência desperta, outra forma de inteligência em mim mesmo, e, também, um tanto sofisticada, pois que não só plasmara este corpo biológico, como também sabe dirigi-lo sabiamente em suas tantas funções orgânicas, e, que, de fato, pudera memorizar todas as fases filogenéticas do ser na forma de camadas superpostas de informações pretéritas, para que pudesse, pois, criar, recapitular e recriar a vida, concedendo novas oportunidades reencarnatórias ao Ser componente de sua integração principal, ou seja, ao Espírito que ainda cresce, quer crescer e evoluir sempre, pois que tal é meta da determinística Lei.

 

Então, é possível sim, é inevitável sim, falar-se de uma inteligência e de uma memória perispiríticas, não é mesmo?

 

Tais fatos fazem-nos refletir seriamente acerca do imponderável de todos nós. Fazem-nos pensar que exista, de fato, uma inteligência e uma memória profunda nos escaninhos do Ser principal, pois que registrada está, muito provavelmente, no que o instrutor André Luiz, e, após aquela instrução de Emmanuel, nos descreve como corpo mental que, por sua vez, reflete-se e imprime-se no perispírito, o que poderia certamente nos conduzir a uma síntese da “Usina Intelectual Humana” e suas capacidades registradas no cérebro atual e nos imponderáveis perispiríticos:

 

No consciente ou cérebro atual e presentemente consolidado, temos:

 

-Inteligência e memória superficiais: de nossa vida de relação e que se representam por uma faixa insignificante da integralidade espiritual;

 

No subconsciente ou cérebro remoto e preteritamente consolidado, temos:

 

-Inteligência e memória ancestrais: da vastidão de nossas experiências transpostas e tecnicamente comprovadas por diversos pesquisadores do tema em todo o mundo.

 

 

 

 

 

Há que se acrescentar, ainda, algo bastante interessante relativamente às pequeninas peças componentes da estrutura orgânica biológica, ou seja, das células, que agregam, intimamente, fatores psíquicos rudimentares, ou, o que se conhece no meio espírita, como princípio inteligente, sujeitos, pois, à mente superior do homem que lhes coordena e lhes submete por sua ascendência espiritual na hierarquia das espécies.

 

Para André Luiz, no plano de seus estágios espirituais, reconhece-se:

 

“... as células como princípios inteligentes de feição rudimentar, a serviço do princípio inteligente em estágio mais nobre nos animais superiores e nas criaturas humanas, renovando-se continuamente, no corpo físico e no corpo espiritual, em modulações vibratórias diversas, conforme a situação da inteligência que as senhoreia, depois do berço e depois do túmulo”. (Vide: “Evolução Em Dois Mundos” – André Luiz – 1958 - Feb).

 

De tal forma que poderíamos acrescentar naqueles dois parágrafos acerca das complexidades da “Usina Intelectual Humana”, que tais células:

 

“Articulam-se em múltiplas formas, adaptando-se às funções que lhes competem, no veículo de manifestação da criatura que temporariamente as segrega, à maneira de peças eletromagnéticas inteligentes, em máquina eletromagnética superinteligente, atendendo com precisão matemática aos apelos da mente, ...”. (Opus Citado de André Luiz).

 

Ora, já pude alertar, no artigo de minha inspiração: “Conceituação do Espírito na Natureza” (webartigos), para a sentença cósmica de que:

 

“O universo é feito de inteligência diversificada na forma”.

 

Que, ao nível de vida orgânica, e, portanto, de nossa etapa reencarnatória na composição física e biológica, se traduziria de forma semelhante, onde:

 

“O universo somático do ser é feito de inteligência diversificada na forma”.

 

 

 

 

Daí dizer-se, com André Luiz, que o Homem constitui-se, estruturalmente, de “Superinteligência” governando as pequeninas “peças eletromagnéticas inteligentes” de sua organização biológica.

 

A tal ponto, pois, poderíamos encerrar com os dois expoentes da lavra mediúnica xavieriana, refletindo que:

 

Se o perispírito é a Alma Fisiológica do corpo físico, poder-se-ia dizer, complementando, que o corpo mental é a Alma Fisiológica do perispírito, onde tudo se confunde numa trama conectiva de admirável complexidade, onde não se sabe onde começa o Espírito e onde termina a matéria, sendo difícil falar-se de uma coisa sem confundi-la com outra, jungidas que estão por suas qualidades um tanto similares, pois que, do contrário, não se acoplariam ajustando-se de forma tão equilibrada, tão bela e tão perfeita nos precisos entrosamentos () de: 

   [(Corpo-Físico)] (Perispírito) (Mental-Soma) (Espírito) 

Assim, é bem possível que, no infinito extremo de nossa trajetória evolucional, desprovidos dos envoltórios que nos serviram de escadas redentoras, restará ao Espírito apenas a consciência plena de sua existencialidade sintetizando amor e vasta sabedoria nos altíssimos planos da eterna divindade.

Autor: Fernando Rosemberg Patrocínio

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