As Ironias Da Vida...



Viver, no dizer de muitos poetas, é uma penosa jornada. A vida tem mesmo momentos difíceis, dor, sofrimento, medos, angústia... Mas tem também momentos de alegria, de riso, de leveza, de sublimidade até. Ninguém conseguiria sobreviver se esses momentos também não houvesse. Talvez por isso exista tanta ironia na vida.

O ser que mais amamos é exatamente aquele a quem atingimos com nossas frustrações. Não temos maiores cerimônias em eleger o nosso grande amor como nossa "legítima" válvula de escape. É o ladrão de nossa caixa d'água, ou, melhor dizendo, de nossa caixa de lágrimas. Pena que a ira comumente seja o veículo desses desabafos destemperados e, a bem dizer, indefensáveis. Triste, não é? O nosso grande amor é quem mais sofre com nossas mazelas, com nossa incapacidade de aceitar revezes que nada têm a ver com o Amor que esse ser nos destina todos os dias.

A alegria de embalar uma criança nos braços, por outro lado, é inexcedível. É uma alegria sutil, silenciosa, um embevecimento de sublime realização. Nossos filhos são tesouros que fazem transbordar do coração o senso de felicidade que raramente nos consola quando, anos depois, é dos olhos que transbordam preocupações, inseguranças e desgostos que esses mesmos filhos nos doam com absoluta generosidade. Mal atingida a noção de si próprios enquanto almas independentes, na adolescência, vergam-se sobre o amor dos pais como o transeunte que limpa os pés no tolerado capacho da entrada.

Ainda por outra, o indômito espírito de poder infinito que os jovens mal contêm no semblante leva à caminhada forte, firme e desnorteada com que todos nós inauguramos a senda de nossa própria vida na Vida que nos convoca à realização. Depois, quando o passo já não ostenta mais o vigor de antanho, os caminhos ficam claros e bem definidos na visão apequenada que os óculos corrigem. É na incapacidade de caminhar que repousa o pleno conhecimento da jornada, sob as nuvens brancas e rareadas dos cabelos que então, talvez, ainda nos restem.

Em toda a vida, seja como for, o Amor teima em arder no peito de todos. Em ao menos um momento da vida o Amor instiga, envolve, domina e conduz a pessoa para atitudes, posturas, providências, tolerância ou mesmo resignação, sem que a razão possa declinar sequer esboço de uma explicação. É assim quando o Amor toca as almas gêmeas que se reencontram, nascendo ali a aboluta e inquebrantável certeza de que a Beleza ali reina. A Beleza que está nos olhos de quem a vê e – quem se importa? – de mais ninguém.

Sim, a vida tem mesmo muitas ironias... Mas são ironias somente porque, também de forma irônica, a ironia está nos olhos de todos nós, que a enxergamos.


Autor: Marco Aurélio Leite da Silva


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