Resenha Sobre Imagem Máquina



Introdução

Este livro, IMAGEM MÁQUINA a era das tecnologias dos virtuais, é organizado por André Parente. Ele reúne em quatro capítulos o trabalho de vinte e três autores que tratam sobre a relação das novas tecnologias com a arte.

PARENTE (1999, p. 7) introduz o leitor ao assunto principal do seu trabalho logo no primeiro parágrafo, quando escreve que:

"Esta coletânea não é uma somatória. Ela quer registrar a emergência de questões e pensamentos sobre as novas tecnologias da imagem que pontuam nossa atualidade, no nível dos saberes artísticos e científicos."

O Capítulo I leva o título Novas Imagens, Novos Modelos. Este é composto por cinco textos de diferentes autores. E em sua essência busca tratar sobre a mudança que ocorreu com as imagens e o que acarretou a partir deste fato, além no novo posicionamento que a sociedade deve tomar com a presença dos novos modelos tecnológicos que surgem.

O Capítulo II é intitulado O Virtual e a Quarta Dimensão da Imagem. Nele também são apresentados cinco textos de outros escritores. Ele trata da realidade virtual, em que o operador passa a participar ativamente de um mundo virtual, a ação tem início com o homem e término com a máquina. A imagem é funcional.

O Capítulo III trata da Mídia / Pós-Mídia. Ele traz outros cinco textos, que abordam a problemática do desenvolvimento desenfreado da mídia e as suas conseqüências, além de procurar definir como o homem reage a isso e a sua posição diante da pós-mídia.

O Capítulo IV é A Arte e as Tecnologias do Virtual. Esta divisão é um pouco mais extensa que as anteriores e traz sete textos. O seu conteúdo abrange desde o surgimento do vídeo ao surgimento do cinema e algumas diferenças básicas entre os diferentes tipos de imagens utilizados em cada um deles.

O último autor colaborador deste trabalho escreve o Posfácio em forma de uma carta endereçada ao organizador deste. ERIC ALLIEZ cumpre a tarefa de retomar e comentar com suas palavras todos os textos que compõem este livro.

A seguir são apresentadas as colaborações deixadas por cada um dos autores na composição deste livro, entretanto, estão organizadas em seus respectivos capítulos.


Sobre o Capítulo I - Novas Imagens, Novos Modelos.

EDMOND COUCHOT trata da evolução das técnicas e das artes da figuração, da passagem da automatização da imagem, da analógica à numérica em Da Representação à Simulação: Evolução das Técnicas e das Artes da Figuração.

O desenvolvimento da automatização da imagem começou na pintura, mas devido aos grandes avanços se estendeu também ás matemáticas, à físicas e mecânica e à indústria. No século XIX essa automatização foi retomada, principalmente pelos fotógrafos.

Depois do registro da imagem pela fotografia e pelo cinema, as investigações sobre o assunto progrediram muito, com o trabalho de engenheiros e técnicos, surgiu a televisão.

Desta forma, foram desenvolvidas técnicas de figuração numérica, que podem controlar as imagens automáticas (fotografia, cinema, televisão), as quais são transmutadas em números para serem tratadas, conservadas, manipuladas. Para o autor, os artistas devem se utilizar das novas tecnologias, para que estas trabalhem a seu favor.

ROGÉRIO LUZ aborda a temática das Novas Imagens: Efeitos e Modelos. Ele afirma que as novas tecnologias terão cada vez mais influência sobre os modos de intelecção, sobre a gestão do espaço e do tempo e sobre a relação do sujeito consigo mesmo e com os outros.

LUZ (1996, p. 50) acredita que o surgimento de uma nova tecnologia acarreta o surgimento de uma nova linguagem, como, por exemplo, o cinema: "invenção científica e diversão de parque, tornou-se uma fábrica de contar estórias e uma indústria de produção de consenso".

Segundo LOTMAN (1978, apud LUZ, 1999, p. 53), haveria três grandes tipos de modelização do mundo através de linguagens: o modelo científico, o lúdico e o estético. Ou seja, três simulações de mundo em que a imagem cumpre funções diferentes. "A ciência elaboraria modelos como "as coisas"; o jogo, "como a ação prática"; a arte, "como a vida"".

DERRICK DE KERCKHOVE aborda a problemática de O senso comum, antigo e novo. O autor começa seu trabalho se referindo à capacidade de captação cerebral daquilo que lemos. Para ele, o "senso comum" é o ancestral da digitalização contemporânea, ou seja, antigamente se armazenava na memória as informações importantes, hoje estas são digitalizadas.

No texto de KERCKHOVE se percebe a preocupação em se posicionar conscientemente frente às mudanças tecnológicas e a crença de que os artistas são os que melhor convivem com tais mudanças, sendo eles, os possíveis elos de ligação do sujeito comum com este novo mundo.

O autor deixa clara a necessidade de reatar os laços entre arte e ciência, tarefa em que a cultura anterior fracassou.

GIANFRANCO BETTETINI trabalha com a Semiótica, Computação Gráfica e Textualidade. Ele propõe uma reflexão sobre as relações entre semiótica e computação gráfica, que seria a relação de alguns núcleos conceituais (como signos, texto e contexto) com a produção de imagens sintéticas no computador.

Tratando-se basicamente do texto, o operador do computador se utiliza da leitura e da construção da imagem para construí-lo em forma de imagem, e este fica disponível às mudanças do usuário.

Assim, se dá a interação homem-máquina, em que o texto pode ser modificado pelo usuário, o qual participa ativamente da construção de sentido do mesmo.

As Imagens de Terceira Geração, Tecno-Poética são tratadas por JULIO PLAZA. Ele recorda que a imagem, além de registrar o imaginário, de significar e de dar sentido ao mundo, tem sido usada como meio de registrar o conhecimento.

Esta é difundida no século XV com a gravura e com o surgimento da imprensa. Com a fotografia se tem um avanço do conhecimento científico. Hoje este avanço é registrado através de sistemas eletrônicos, assim surgem as imagens de Terceira Geração. As Imagens de Síntese, Numéricas ou Holográficas vêem após as imagens pictóricas, das pré-fotográficas e das fotoquímicas.

Estas Imagens de Terceira Geração são criadas com a colaboração da informática e se chama infografia ou computer graphics. Através da infografia se tem também a interação entre usuário e máquina, o instantâneo feedback, este sistema de comunicação bidirecional é chamado de infografia interativa.

Surge então com essas imagens-linguagens um novo modelo sistemático de comunicação, o usuário do computador pode ser ao mesmo tempo emissor e receptor da mensagem. A imagem se desloca através das interfaces e permite criar novos contatos entre emissor e receptor.

Sobre o Capítulo II – O Virtual e a Quarta Dimensão da Imagem.

FILIPE QUÉAU, autor de O Tempo do Virtual, trata da característica principal da imagem, que é ser linguagem. Antes a imagem era desprezada por ser apenas cópia do real ou um sonho irreal, agora se torna uma arma econômica ou guerreira, meio de escrita funcional e heurística.

O autor destaca que se os programas de síntese da imagem são capazes de produzir imagens muito realistas, as quais se tornam impossíveis de distinguir das fotografias ou das tomadas reais. Isto ocorre, por exemplo, no filme o Exterminador do Futuro II em que, segundo QUÉAU (1999, p. 93), aparece em "cena o primeiro ator sintético capaz de rivalizar, pela sua animação e pelo seu realismo, com as estrelas de cinema".

QUÉAU cita ainda uma das conseqüências da numerização e da virtualização da imagem que é a sua eminente propensão a circular em redes interativas, assim com a televirtualidade podem surgir novas formas de telepresença e de teletrabalho.

Ele ressalta ainda que o perigo que contém nisso, mais do que levar a sério o virtual, é considerar o real como uma extensão do mundo virtual.

ARLINDO MACHADO trabalha a temática Anamorfoses Cronotópicas ou a Quarta Dimensão da Imagem. O termo anamorfose é utilizado desde o século XVII, o que seria, basicamente, uma duplicidade de pontos de vista na construção de uma imagem. Com a generalização do termo, o conceito passa a tratar de toda e qualquer distorção do modelo "realista" de representação figurativa.

O autor trata, no entanto, da anamorfose cronotópica, que se refere às "deformações" resultantes de uma inscrição do tempo na imagem. O cinema, por exemplo, cria o seu efeito de continuidade sobre uma seqüência de imagens descontínuas, o dispositivo cinematográfico se baseia em uma espécie de ilusão de ótica, daí a crítica ao cinema, de trabalhar com um movimento falso, pois coloca imagens fixas muito próximas umas das outras.

A Quarta Dimensão diz respeito à imagem eletrônica, os efeitos cronofotográficos produziram, a partir de efeitos diversos, o vídeo e a televisão. Entretanto as câmeras eletrônicas são diferentes das fotográficas e das cinematográficas por sua imagem ser constituída de linhas sobrepostas e sucessivas, como se fosse um mosaico de cores. Tecnicamente, a imagem eletrônica é um feixe de luz que percorre a tela, enquanto variam sua intensidade e seus valores cromáticos.

JEAN-LOUIS WEISSBERG escreve sobre Virtual e Real, ele recorda que o "fazer parecer real o que não é" foi utilizado desde na escultura grega, quanto na perspectiva da pintura, até o apogeu do movimento barroco.

Com a tecnologia atual, a imagem não é mais representação, é também funcional. O virtual é, na verdade, uma dimensão do real, não existe exatamente para substituí-lo.

Programas de computador permitem a participação ativa do usuário, a partir das interfaces ou de telas sensíveis, o homem toca-a e aciona um dispositivo do sistema. Há uma continuidade da ação do homem na ação da máquina.

A NASA, por exemplo, desenvolve um programa de "realidade artificial" em que o operador é projetado em um universo virtual de imagens, onde o virtual ganha consistência inédita, mas o importante é recordar que quem cria este universo virtual é o homem (não virtual).

PAULO VIRILIO trata sobre A Imagem Virtual Mental e Instrumental. Neste texto aparece a "videônica" em que a imagem seria percebida por uma câmera de vídeo e enviada ao computador para analisá-la, não sendo mais um ser humano a identificá-la, como a tecnologia utilizada na produção industrial, na administração de estoques ou ainda na robótica militar.

Surge então o problema das imagens virtuais instrumentais da ciência e o seu caráter paradoxal.

Hoje, tem-se a alta definição, a alta resolução, que não tanto é a imagem (fotográfica ou televisiva), mas a própria realidade. Ao mesmo tempo que algo está ocorrendo, isto está sendo transmitido aos telespectadores. Além disso, com os aparelhos de "apreensão de imagens" e de sons, também se tem acesso ao tele-espetáculo, à tele-ação, ao tele-comando e às tele-compras a domicílio.

Entretanto, a imagem publicitária faz com que a fotografia abandone aquela característica de guardar a memória do passado, para envolver o futuro. Segundo VIRILIO, a imagem fática audivisual, a imagem publicitária torna-se uma vontade, e talvez no futuro as "máquinas de visão" serão capazes de perceber, de ver no lugar nas pessoas.

O Virtual nas Ciências é abordado por SERGE DENTIN, ele relata que o termo virtual está na moda e é utilizado nos terrenos da criação artística que utilizam tecnologias da simulação digital, como imagens, sons sintéticos, etc. Onde este termo se torna palavra de ordem em uma nova estética, acompanhada de certa ideologia da comunicação.

Segundo DENTIN, não há nada mais virtual em uma imagem digital do que em qualquer outra imagem. E isto é visível desde o ponto de vista tanto da arte como da ciência, com os seus mecanismos físicos-químicos.

Assim, a ciência tem um ponto em comum com a arte, que é o ato de inventar, de criar novas representações e não de tomá-las como um quadro preestabelecido.

Sobre o Capítulo III – Mídia / Pós-Mídia.

A respeito do assunto, JEAN BRAUDILLARD escreve a Televisão / Revolução: O caso Romênia. Diante do caso da Romênia e da Guerra do Golfo a informação passa a ser escandalizada. Aqui o cinema pode ser definido como a encenação da ficção como realidade, onde aquela ainda é o imaginário, o campo virtual.

As imagens da foto e a do cinema possuem um negativo, mas a imagem transmitida ao vivo, televisiva, não possui um negativo. Esta é virtual, o que faz com que perca a referência da história, dos acontecimentos.

Segundo BRAUDILLARD (1999, p. 151), os americanos desacreditaram a Guerra do Golfo pelo seu excesso de representação, pela exibição desmesurada de seu controle e de seu poder de informação.

O autor ainda afirma que na Romênia, os recursos televisivos tão utilizados pelos americanos foram também utilizados pelos romenos, que no lugar do acontecimento histórico, transmitiram o acontecimento com publicitário, diretamente na tela da televisão, tirando proveito de recursos muitas vezes empregados por seus inimigos.

Ainda sobre a Televisão e a Guerra do Golfo escreve LAYMERT GARCIA DOS SANTOS. Para o autor, esta guerra mostrou o poder da mídia no mundo contemporâneo, esta guerra foi o limite do poder da imagem.

De acordo com CHOMSKY (1991, apud LAYMERT, 1999, p. 156) os Estados Unidos deseja vencer a Guerra do Golfo pela força e não pela diplomacia, porque esta será a característica da nova ordem mundial imposta por este país, está será a nova ordem internacional.

LAYMERT destaca que a partir do momento em que se percebe o poder da transmissão das imagens de guerra, passa-se a disputar o poder de controle da televisão que opera em guerra.

Na Guerra das Malvinas os jornalistas eram mantidos à distância e as imagens de guerra eram inacessíveis, sendo a Guerra do Golfo a primeira guerra totalmente eletrônica.

Max Headroom: O último jornalista é escrito por STELLA SENRA. Max Headroom é a primeira criatura televisual a ser entrevistadora de TV. Este seria um filme criado em homenagem a um clone criado por Peter Wagg. Com este novo fato a imagem não está mais no lugar de alguma coisa, ela é a informação.

Assim, com a transmissão de imagens de alta tecnologia através da televisão, as pessoas deixam de sair às ruas e praticar outras atividades, que não a de assistir aos programas de TV, permanecendo nas ruas somente os excluídos desta tecnologia, um novo tipo de marginais sociais.

Da mesma forma que LAYMERT, SENRA entende que quem detêm a tecnologia, detêm também o poder.

No filme, as redes televisivas são detentoras da tecnologia, e, portanto, possuem o poder de controlar o espaço, de criar ou de extinguir mercados, e por conseqüência, de atuar sobre as populações.

Sobre a Infinitude da Comunicação / Finitudo do Desejo escreve ANTONIO NEGRI. O autor inicia seu trabalho destacando que na relação mídia-espectador, a primeira é alvo de muitas injustiças, sendo comumente acusada de aniquilar ao espectador, quem não passaria de vítima do sistema.

Ele destaca que a esquerda se utiliza de argumentos como este para propor a conspiração de manipulação. O autor não descarta os efeitos da mídia sobre o telespectador. Entretanto, considera que após a tomada de consciência da atuação da mídia, o ser humano se torna capaz de reconhecer as possibilidades do saber e de transformação que possui. Ele é capaz de assegurar para si a liberdade, sobretudo a do pensamento.

NEGRI ressalta que os novos tempos são de pós-mídia, em que com a tomada de consciência se deve desmistificar a perspectiva de escravidão política. Assim, torna-se necessário construir um sistema de comunicação pública que seja baseado na interrelação ativa e cooperativa dos indivíduos de uma mesma sociedade.

O último texto deste capítulo é de autoria de FÉLIX GUATTARI e é intitulado Da produção de Subjetividade.

GUATTARI levanta a questão de o ser humano ser capaz de escapar à dependência da máquina, questionando se em seu dia-a-dia não sente a necessidade da "assistência por computador"?

De acordo com o pensamento de NEGRI, GUATTARI acredita que as máquinas não são potências diabólicas que estariam ameaçando dominar ao homem.

Antes o homem era governado por uma subjetividade inconsciente, hoje a máquina o é. Claro que não de uma subjetividade humana, mas maquínica. Hoje as mídias e telecomunicações tendem a duplicar as antigas relações orais e escritas, as matérias-primas naturais vão dando espaço à novos materiais, com a velocidade das máquinas, milhares de dados podem ser tratados em pouquíssimo tempo e a engenharia biológica busca novas modelações de formas vivas...

Com todas estas mudanças o homem se encontra perdido. As figuras inconscientes de poder e do saber são universais e estas controlam a subjetividade. Entretanto, num amanhã, outras modalidades de produção subjetiva podem se tornar a razão de viver da espécie humana.

Sobre o Capítulo IV – A Arte e as Tecnologias do Virtual.

O primeiro texto deste último capítulo tem o título de Fractais: uma Forma de Arte a bem da Ciência e tem como autor BENOIT MANDELBROT.

A arte Fractais se trata de um trabalho que ao princípio buscava uma funcionalidade, mas que por sua beleza é considerado obra artística.

A geometria fractal foi desenvolvida em 1970, um corpo de pensamentos, fórmulas e figuras que podem ser chamadas de uma nova linguagem geométrica.

A utilização desta arte em auxílio à ciência não pode ser dissociado do computador e não teria sido possível sem o desenvolvimento do hardware e do software.

Assim, fórmulas matemáticas podem dar origem a uma quantidade de estruturas gráficas. E com o fractal muitas pessoas podem ser criadoras de obras-de-arte, através da utilização da informática.

FRANK POPPER, de 1967 a 1987, escreve sobre As Imagens Artísticas e a Tendência. O autor trata sobre uma das questões mais interessantes dos últimos vinte anos, que é a criação de imagens seja através de métodos científicos ou através de experimentos tecnológicos.

Entretanto, ele evidencia que nos anos 80 houve uma ruptura das pesquisas que vinham sendo desenvolvidas. Com o computador, o audiovisual e as telecomunicações no cotidiano, ocorre uma verdadeira revolução tecnológica.

Nesta nova realidade, os artistas buscam desenvolver propostas visuais que sejam significativas para as experiências humanas com relação às novas técnicas.

Essas mudanças radicais da cultura dizem respeito ao mesmo tempo à criação da imagem, sua percepção e sua socialização. O novo estatuto do artista, da obra e do espectador se define a partir da situação sócio-cultural do hoje. Nesta nova era, o pensamento técnico e o pensamento simbólico se encontram e com as novas tecnologias toda a esfera cultural é modificada.

A Dupla Hélice, de RAYMOND BELLOUR.

Neste trabalho o autor afirma que se sabe cada vez menos o que é imagem, pois hoje em dia se torna difícil de definir a palavra, com as muitas mudanças e inovações que têm surgido.

Ele aplica a teoria da dupla hélice tanto à fotografia quanto ao cinema. Na primeira o tempo, a qualidade de presença ou a falha do tempo é visado. Já no cinema, que é mais vasto, possui um acesso mais direto e complexo e ainda, mas geral do movimento e do tempo. Há várias modalidades, além da fotografia, com as quais o movimento é levado para o cinema. Entretanto, mesmo com a rapidez do vídeo é sabido sobre a presença de um intervalo entre uma imagem e outra a ser transmitida.

JEAN-PAUL FARGIER, escreve sobre a Poeira nos Olhos.

O autor recorda da necessidade da realidade para que se crie qualquer coisa, como a escrita, por exemplo. A realidade é anterior a escrita, e da mesma forma, ao vídeo e ao cinema.

Esta realidade é apresentada de distintas formas pelo vídeo e pelo cinema. Até que uma imagem apareça no vídeo ela sofre muitas transformações, então esta imagem será muito diversa da realidade.

Não só a imagem é transformada, mas o espaço e o tempo também, daí o efeito de poeira nos olhos, apresentado pelo autor logo no título do texto. O espectador já não tem acesso à imagem real, mas sim a uma imagem produzida para ser apresentada.

Por fim, o autor ainda recorda que entre as novas tecnologias há opção entre o vídeo digital e vídeo analógico.

NELSON BRISSAC PEIXOTO é o autor de Passagens da Imagem: Pintura, Fotografia, Cinema, Arquitetura.

A passagem de todos os tipos de imagens, como os citados no título confunde o imaginário das pessoas, que se encontram em um grande cruzamento de imagens na contemporaneidade.

Estas pessoas estão entre o real e o imaginário, o figurativo e o abstrato, o movimento e o repouso, seja no filme ou na arquitetura, na pintura ou na TV.

A imagem contemporânea é agrupada no vídeo, através da hibridização de imagens, da assimilação das outras imagens surge o vídeo, a imagem eletrônica. O vídeo é o ponto de intersecção entre duas partes, é o suporte destas experiências de decomposição e recomposição.

A Última Imagem é o título do texto de KATIA MACIEL. Nele a autora trata do cinema. Para ela, o cinema é a expressão da imaginação e está ligado à representação da ilusão.

A imagem do cinema é compreendida como sonho, como espelho, como fantasia...

MACIEL define como a grande mudança deste tipo de imagem a interação/tempo real. Com a velocidade dos computadores a distância que separava a imagem do observador foi suprimida.

Hoje alguns filmes são frutos de programas de computador. A cinematografia sucumbiu à influência da era computadorizada. Na opinião da autora, filmes como Tron: uma odisséia eletrônica ou O Exterminador do Futuro II, não fazem cinema, mas efeitos especiais.

Ela apresenta ainda a idéia de CLEMENTE ROSSET, quem acredita que as pessoas, por ser iludidas diante da era da não-imagem, e por isso incuráveis, não se questionarão sobre o futuro do cinema.

JEAN-FRANÇOUS LYOTARD escreve o texto Algo assim como: "Comunicação... sem Comunicação".

Para o autor a partir do termo comunicação se deduz que a obra, ou tudo o que tido como arte, induz a um sentimento.

Entretanto, é introduzida outra concepção de comunicação ao se conceber que a comunicabilidade está intimamente ligada ao sentimento estético singular, que por sua vez é imediato. O autor questiona o que ocorre com o sentimento estético quando são propostas situações calculadas como estéticas?

O sentimento é a recepção imediata daquilo que se dá. Toda obra, necessariamente, leva cálculos em sua criação, toda e qualquer reprodução industrial está profundamente conectada ao sentimento estético.

ERIC ALLIEZ escreve o Posfácio deste trabalho e o intitula como Carta a André Parente: Entre Imagem e Pensamento. O autor ganha do organizador deste trabalho a tarefa de concluir e de comentar todo o conteúdo do mesmo. É quando ALLIEZ (1999, p. 267) cumpre sua tarefa através das palavras:

"Não é toda a imagem "clássica" do pensamento que se vê invertida, quando o próprio registro da imagem escapa – objetivamente, isto é, tecnicamente – à lógica da representação que na forma interior de sua historicidade bimilenar ela havia contribuído para fundar?"

Conclusão

Para concluir esta resenha é possível se utilizar ainda das palavras de LYOTARDE (1999), quando resume a função desta coletânea organizada por PARENTE ao escrever que:

"A questão colocada pelas novas teconologias aqui, quanto à sua relação com a arte, é a do aqui e agora. O que o "aqui" indica quando usamos o telefone, a televisão, o receptor do telescópio eletrônico? E o "agora"? Será que o componente "tele-" não irá, necessariamente, misturar a presença, o "aqui-agora" das formas e de sua recepção "carnal"?"

O autor define o sentimento e a percepção, sua e dos autores que tratam das novas funções da imagem e dos meio eletrônicos, e, além disso, apresenta a insegurança e as incertezas das pessoas neste ambiente novo, envolvido pelo mundo do virtual.

Isto é o que se depreende da leitura desta coletânea, em que autores esclarecem o sentido da imagem, a sua evolução na história, e o seu caráter altamente mutável que possui hoje. Desta forma, se verificam algumas possíveis reações do homem e do artista diante destas mudanças.


Autor: Tania Regina Martins Machado


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