Vivemos outra Era Feudal?!



Quem fez Ensino Médio sabe alguma coisa sobre feudo e feudalismo, modo de organização social e política da Idade Média, baseada em relações servis, entre senhores de feudos (detentores de terras concedidas por reis) e camponeses, que cuidavam da agropecuária e recebiam gleba de terra para morar, o que lhes dava certa proteção em relação a ataques bárbaros. Para atravessar uma ponte, entre um feudo e outro, os servos tinham de pagar pedágio, algo que nos parece tão atual e familiar, embora estejamos falando de Idade Média, ocorrida há entre mil e 1.500 anos.

E hoje, não parece que vivemos outra, ou melhor, outras Eras Feudais? Vamos avaliar primeiro a questão da classe alta. Donos de feudos protegidos por alarmes, cães e cercas elétricas se dão direito a fechar ruas e fazer condomínios com o objetivo de evitar, senão  ataques bárbaros da Idade Média, mas possíveis ataques da criminalidade explicita nas ruas ou para evitar o “desconforto” da não menos explicita desigualdade social.

Desta forma, temos seguranças particular e oficial voltadas para a elite. Certa vez um ex-secretário estadual de Segurança disse em programa de TV de repercussão nacional que não podia ter a mesma Polícia que cuida de áreas nobres entrando na favela onde o risco de confronto era maior. (Não concordo com a fala do ex-secretário, mas o entrevistador sequer questionou e acredito que caberia a expressão indignada: “Então, o Estado admite manter uma Polícia pra ricos e outra pra pobres?”) Sem a pergunta, ficamos sem a resposta...

A outra Era Feudal da atualidade talvez esteja se formando por pessoas que poderíamos comparar aos camponeses, então servos dos senhores feudais da Idade Média. Vivendo em comunidades, desacreditando de toda ação de órgãos públicos, mesmo as bem intencionadas,  parte dessas pessoas se deixa levar por lideranças, que ditam leis e normas e assumem condição de “donos” do local, que devia ser público.

Em algumas situações, tais ações impedem que as melhorias cheguem, afinal, são “os donos do pedaço” quem determinam se esta ou aquela pessoa ou mesmo algum serviço pode entrar. Eles se tornam uma espécie de juízes de vontades alheias e individuais. Passado o momento, as ditas lideranças se ocuparão em avaliar perdas e ganhos, que nem sempre beneficiaram a comunidade.

Seduzidos por promessas, não é raro eles verem a aproximação amistosa se transformar em dominação. Que sirva de exemplo o que aconteceu aos índios, primeiros habitantes de nossa terra, no fim da Idade Média, início da dita Idade Moderna. Passado nunca mais, participar sempre fazendo o presente e projetando o futuro.  

 


Autor: Edson Terto Da Silva


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