Hip-Hop No Brasil



O termo Hip-Hop foi estabelecido, por volta de 1968, pelo negro África Bambaataa, inspirado em duas movimentações cíclicas.
A primeira delas estava na forma cíclica pela qual se transmitia a cultura dos guetos norte-americanos. A segunda estava justamente na forma de dançar mais popular da época, ou seja, saltar (HOP) movimentando os quadris (HIP). Era um convite à festa.Nesta época (década de 60) as sociedades modernas movimentavam calorosas discussões sobre direitos humanos e, nesta ordem dos fatos, os marginalizados da sociedade da cidade de Nova York se articularam para fazer valer suas propostas na diminuição dos preconceitos. Assim surgiram grandes líderes negros, como Martin Luther King e Malcom X, e grupos que lutavam pelos direitos humanos com os famosos Panteras Negras.


No Brasil 10 a 15 anos mais tarde,o modelo do Movimento dos
Panteras Negras,das próprias chamadas "gangs urbanas",se
espalharam entre os jovens da classe média nas principais capitais brasileiras.
Particularmente no inicio da década de 70,eu fiz parte de alguns destes grupos,que se interagiam entre os seus seguidores,e seguidoras,
a maioria dos relacionamentos de namoro,e curtição de finais de semanas,
se dava no interior do grupo.A figura de amiga integrante, e participante do nosso grupo,era extremamente volátil, não permanecia estática,por muito tempo.
Alguns destes grupos,faziam uso de armas brancas, como canivetes,estiletes,e adagas.
Outra modalidades de armas muito usada eram os chamados "sôco inglês" e o "chacos"
(dois bastões curtos interligados por uma média corrente).
Os jovens desta época,no Brasil,não usavam armas de fogo.
O punho humano cerrado,(a mão fechada) do ser negro,simbolizou durante muito tempo,o símbolo maior do Black Power.
O primeiro grande movimento musical que
chegou pelo Brasil,foi o "Soul"
recordo-me bem da melodia de um dos clássicos deste rítimo, o afamado:
Say it loud – I’m Black and I’m Proud
( de James Brown, 1968)
Se me perguntarem,por que razão os modelos das comunidades negras americanas,foram melhor assimilado pela juventude brasileira das decadas de 60 e 70,logo como uma justificativa resposta flui em minha mente.Penso e creio,até pela minha formação de Advogado,estudante,e pesquisador incassável do Direito e das Relações Sociais no Brasil,que as raizes negras pela sociedade brasileira, foi mantida dentro de uma marginalidade silenciosamente velada. Até os meados dos anos 50, os Códigos Penais,possuiam uma serie de artigos, que o alvo central era a população negra,assim como suas heranças culturais e acestrais, alguns destes exemplos são bem claros, quando falamos nas punições aos crimes de "curandeirismo" e "capoeirismo" costumes largamente difundidos na cultura afro-brasileira. A própria pratica religiosa da umbanda e do candomblé,era vista pelas autoridades, como movimentos religiosos menores,perigosos, e marginais. Quando vimos a cena de "Muhammad Ali - Cassius Clay" ao receber à medalha de ouro olimpica, e gesticulando o punho cerrado, mostrando para o mundo que o Poder Negro americano, era contra a Guerra do Vietnã.
O Movimento do Poder Negro da América,
rompe as barreiras regionais, começa gerar uma nova consciência negra, na história das sociedades modernas e contemporãneas.Não quero dizer,que este feito de Cassius Clay - o grande boxeador americano, seja o maior feito a favor da luta negra.
E esse ambiente influenciou, bastante, os primeiros praticantes do Hip-Hop, principalmente artistas como Isaac Hayes que faziam os habitantes do guetos dançarem as músicas que eles mesmo intitulavam de "Rap", a exemplo dos "Ike's Raps" contidos nos LP's de Hayes, que eram compostos por uma base musical dançante acompanhado de rimas faladas que seguiam o ritmo. Além disso, a mensagem contida nas letras era uma informação de alto teor político-social-marginal..
Portanto, juntando a música (Rap), a dança (Break) e a arte plástica (Graffiti) você têm todos os elementos que deram origem ao Hip-Hop,na América..
Hip Hop no Brasil
No Brasil, o Hip-Hop chegou no início da década de 80 por intermédio das equipes de baile,principalmente a Furacão 2000,do Rio de Janeiro,e das revistas de pequenas tiragens,tidas como publicações alternativas e dos discos vendidos na 24 de Maio (São Paulo). Os pioneiros do movimento, que inicialmente dançavam o Break, foram Nelson Triunfo, depois Thaíde & DJ Hum, MC/DJ Jack, Os Metralhas, Racionais MC's, Os Jabaquara Breakers, Os Gêmeos e muitos outros. Eles dançavam na Rua 24 de Maio, mas foram perseguidos por lojistas e policiais; depois foram para a São Bento e lá se fixaram.
Houve um período de divisão entre os breakers e os rappers, os primeiros continuaram na São Bento, os outros foram para a Praça Roosewelt. O Rap, a principio chamado de "tagarela", ascende e os breakers formam grupos de Rap. Em 1988 foi lançado o primeiro registro fonográfico de Rap Nacional, a coletânea "Hip-Hop Cultura de Rua" pela gravadora Eldorado. Desta coletânea participaram Thaide & DJ Hum, MC/DJ Jack, Código 13 e outros grupos iniciantes.
Nesse período de ascensão do Rap, a capital paulista passou a ser governada por uma prefeitura petista, o que muito auxiliou na divulgação do movimento Hip-Hop e na organização dos grupos. Por esse motivo foi criado em agosto de 89 o MH2O - Movimento Hip-Hop Organizado, por iniciativa e sugestão de Milton Salles, produtor do grupo Racionais MC's até 1995. O MH2O organizou e dividiu o movimento no Brasil. Ele definiu as posses, gangues e suas respectivas funções. Nesse trabalho de divulgação do Hip-Hop e organização de oficinas culturais para profissionalização dos novos integrantes, não podemos esquecer de citar a participação do músico de reggae Toninho Crespo. Este trabalho teve sua continuidade no município de Diadema com o profissionalismo de Sueli Chan (membro do MNU - Movimento Negro Unificado).
Alguns pesquisadores comentam que sentem enorme estranheza quando alguns diletos representantes do movimento Hip-Hop brasileiro,fazem alusão a proteção e inspiração de Jesus Cristo.Mas isto se deve aos fatos,de que durante muito tempo aconteceu,e ainda hoje acontece que dentro das maiores instituições prisionais do sistemas carcerário brasileiro,populariza se a figura do pastor evangélico.A igreja católica,por mais que tenha uma vertente especializada para o sistema prisional em todo país,a famosa Pastoral Penal,que por alguns anos eu mesmo fiz parte,aqui no Estado do Rio de Janeiro,sob a coordenação do Padre Bruno Trombeta, famoso por ser um defensor dos direitos humanos.
Mesmo assim a Pastoral Carcerária,tem menor representatividade dentro dos presídios..A religião que transparece como um todo,são as diversas variações das chamadas seitas pentecostais.
Outro detalhe de muita importância ,deve se a representatividade destas seitas pentecostais,nas comunidades de baixa renda,das periferias nas principais capitais brasileiras.
A igreja católica,de certa forma,transitou se para uma religiosidade de esclarecidos,uma religiosidade de uma classe média universitária,esquecendo das matrizes evangelizadoras e assistenciais para as comunidades menores,seguimentos da sociedade, que vivem por meio de vocações tangenciais,bem longe da mão protetora e das esferas do poder público do estado.
Dentro do crescente estado de pobreza,de nossas populações operárias,de nossa população de aposentados,e população de baixa renda,que residem nas periferias,os templos e casas de oração,das chamadas seitas pentecostais,tornam-se concomitantemente a única oportunidade viável e legitima forma,para ingresso do ser comum,de posses limitadas, no meio da arte.
Os investimentos músicais,por parte dos pastores e reverendos religiosos,da chamada área de mercado Gospell,são sem dúvida alguma de grande monta,são verdadeiras cifras astronômicas,razão pela qual,da existência clara de uma super-produção espetacular,televisada diariamente nos vários canais da tv aberta no pais,em múltiplos horários e tornando se assim,o caminho mais fácil para todo aquele que quer aprender a cantar,ou tocar algum instrumento musical,que particularmente custa muito caro,e ainda mais,ter a possibilidade de fazer parte de um grande grupo musical.
Por tudo,isto,a presença de Jesus Cristo,está intimamente ligada à história pessoal de cada família,seja pelas oportunidades de crescimento de status dentro das próprias comunidades,seja pela conversão e regeneração dos membros alcoólatras,e viciados em drogas,ou seja pela reintegração dos desgarrados sociais,às relações produtivas retomam milagrosamente o crescimento,para melhor situação da família,da pessoa,e das comunidades.
Outro papel fundamental na vida das famílias originais dos artistas de hip-hop das periferias,é a vocação simples religiosa de cada seguimento,que por si só,existe para observância desta função de proteção divina que permite dar esperança para a continuação sobrevivente de cada dia,seguir em frente,neste guetos,de grande miséria,sem temer a violência,o poder do crime,o poder das drogas,que mutila e mata cada vez mais.
Esta ligação carismática com Jesus Cristo,é muito importante,muitas vezes,pelo que se vem observando,bem maior que nacionalismo brasileiro.A condição de ungido,por Deus,e abençoado por Jesus Cristo,constrói um auto-julgamento privilegiado,e fortalece à força de vontade para qualquer luta.
Tudo posso,por que vivo forte na proteção de Deus.Por mais que vários autores,e pesquisadores das chamadas áreas de pesquisas acadêmicas e observatórios de acompanhamentos da história das sociedades contemporâneas,querem se desligar,das pseudo-influencias das religiões.Isto,me parece cada vez mais abstrato e impossível,transparece me de forma bem clara,principalmente nas historias sociais,culturais,educacionais,publicas dos grupos sociais das periferias nas grandes cidades.
Enquanto à sociedade,financeiramente ativa,classe dominante,classe consumidora se afasta da instituição Igreja,as chamadas classes operárias,financeiramente inativas,os consumidores de crediários,ficam cada vez mais,fortes em fé,e assumem maiores participações religiosas dentro de suas respectivas comunidades.
Da mesma forma cresce,a participação das chamadas “ religiões “ e “seitas”,toda vez,que o poder público,se aliena,por incapacidade administrativa ou por falta de interesse,deixa de cumprir,seu original papel constitucional.Toda vez que o Estado deixa de praticar sua parcela jurisdicional,na observância e mantenedora função da proteção do bem comum.
As “ religiões e seitas “ entram preenchendo às lacunas sociais. Este preenchimento destas lacunas sociais,se tornam preocupantes,quando movimentos paralelos privados de poder, passam a ter de certa forma,o poder operante frente à comunidade e ao poder do Estado.

nota do autor 1:
Cassius Clay (1942), o boxeador Muhammad Ali mudou de nome após ter se tornado membro da "Nação do Islã", organização religiosa de muçulmanos negros, em 1964. Em 1966 recusou-se a servir no Exército norte-americano e a lutar na Guerra do Vietnã,por esta posição,criou e acelerou,uma serie de conlitos raciais nos E.U.A. que desistabilizaram às políticas governamentais e estatais do governo americano da época,e tiveram várias repercursões internacionais.


Autor: RICARDO BARRADAS


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