Língua Afiada
Futricas à parte, a carola e demais paroquianos, estavam envolvidos com a organização da quermesse que começaria no dia seguinte. Para desapontamento geral, a igreja que tinha acabado de ser pintada na noite anterior, amanheceu toda pichada. D. Rosa não poupou munição, disparou seu AR15 verbal: - Isso é coisa de marginal!!! Deve ser filho de alguma quenga safada, que fica correndo atrás de homem e não educa esse maconheiro herege! Tem que ser preso, tomar uma surra de gato morto, até o gato miar!
O delegado foi se aproximando e recebeu logo sua bala perdida: - Mais a culpa é sua Sr. delegado!!! A polícia anda muito mole, esses desordeiros pintam e bordam, e não acontece nada! Vocês estão dormindo é? Se não tem competência, entregue o cargo!
Num misto de constrangimento e satisfação, o policial calou a desaforada, dizendo: - Já identificamos o delinqüente. A câmera da portaria do prédio ao lado, flagrou o seu filho fazendo a pichação.
Desse dia em diante, a língua afiada foi guardada e a vida dos outros, passou a ocupar menos espaço da sua atenção, agora dedicada ao que acontecia na própria casa.
Algumas pessoas são assim. Não raro, escandalizam os outros e escondem suas mazelas. Não percebem, ou não querem perceber; que o dedo que aponta os erros alheios, dissimula muito mal, ostrês que se voltam para o acusador.
Autor: Antonio Pereira (Apon)
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