Ciências Forenses Em Sala De Aula



SOUZA, C. M.

INTRODUÇÃO

O ensino de ciências em sala de aula, nem sempre é uma tarefa fácil, muitas vezes os resultados não são os desejáveis, e às vezes até desastrosos. Isso se dá em grande parte devido ao uso sistemático de métodos tradicionais, considerados por muitos estudantes como entediante, maçante e pouco proveitoso, principalmente em tempos nos quais ciência e tecnologia impregnam profundamente nossa cultura e permeiam nosso cotidiano. Segundo Yamazaky e Yamazaky (2006), o ensino através de Metodologias Alternativas é mais uma ação que complementa a prática cotidiana de professores do que um abandono de práticas anteriores.Os autores afirmam ainda, que o ensino através de brincadeiras, jogos, desafios etc., parecem provocar aprendizagem de forma mais eficiente, no sentido de que os estudantes, além de mostrarem-se dinâmicos quando em meio ao processo, mostram-se também dispostos a continuar a aprendizagem mesmo que em outros contextos, algumas vezes motivados a discutirem sobre assuntos referentes às ciências em lugares como restaurantes, bares, praças, algumas vezes prosseguindo os estudos em cursos mais avançados.

Pimentel (2006), afirma que a ciência não é um processo mágico e inacessível, pessoas com o mínimo de formação básica podem compreender muitos fenômenos cotidianos. Mas segundo o autor, para que isso ocorra, se faz necessário instigar a curiosidade e o senso de observação. Assim, a principal proposta pedagógica aqui apresentada é a utilização de séries televisivas como veiculo de comunicação no ensino alternativo de ciências.

Como afirmam Hernández e Robles (1995), as estatísticas demonstram de forma irrefutável que a televisão é o meio de comunicação preferido pelo grande público. Atualmente, a televisão faz parte das nossas vidas acompanhando-nos no nosso percurso existencial, servindo-nos não raras vezes como instrumento de socialização, pelo qual muitas vezes orientamos quer as nossas ações quer os nossos padrões de consumo. Neste contexto, o aumento significativo de séries televisivas que abordam temas referentes às ciências forenses como: CSI, sigla para Crime Science Investigation (Investigação Criminal), Cold Case (Arquivo Morto), Without a Trace (Desaparecidos), The Closer (Divisão Criminal), Criminal Minds entre outras (Veja Fig. 1), auxiliam na construção de situações que possibilitam o desenvolvimento da cognição devido o grande interesse que estas séries despertam principalmente no público adolescente.


Fig. 1 – Séries televisivas que abordam temas referentes à ciências forenses.

Nos últimos anos esse interesse pelas ciências forenses e áreas a fins tem crescido gradativamente. O desejo do público em saber como se desenvolve uma investigação criminalística para se determinar os motivos e autores dos crimes, tem sido cada vez mais aguçado pelas várias séries televisivas que retratam o cotidiano das equipes de pesquisadores forenses.Houck (2006), afirma que as ciências forenses nunca foram tão populares: oito séries criminais, entre elas CSI: Crime Scene Investigation, e outras do mesmo gênero estão na lista dos 20 programas mais vistos em outubro de 2005. Ainda segundo o autor a ciência forense sempre foi a espinha dorsal de contos de mistérios, desde as aventuras de Dupin, de Edgar Allan Poe, até as histórias de Sherlock Holmes, de Sir Arthur Conan Doyle da série televisiva Quincy, de Jack Klugman, até os atuais programas de investigação criminal de grande sucesso.

As Ciências Forenses abrangem diferentes ramos de pesquisas ligados às ciências físicas e naturais, tais como antropologia, engenharia, física, química, biologia, dentre outras, cujos princípios se aplicam à Justiça, em qualquer de seus aspectos. Tornando-se um forte aliado no ensino de ciências, uma vez que a transdisciplinaridade em sala de aula é um tema importante e que deve ser sempre explorado pelo professor.

BREVE HISTÓRICO SOBRE CIÊNCIAS FORENSES.

A palavra forense vem do latim forensis, com significado de público; ao fórum ou à discussão pública; argumentação; retórica; pertencendo ao debate ou à discussão. Atualmente, a palavra é comumente usada nas cortes judiciais. Assim sendo, Ciência Forense é a ciência utilizada em uma corte ou no sistema judiciário. Toda a ciência usada para as finalidades da lei, portanto, é uma ciência forense.

Segundo Saferstein (2001), a ciência forense em sua definição mais ampla á a aplicação da ciência à lei. Como a sociedade tornou-se dependente das leis para regular as atividades de seus membros e considerando-se a vasta disposição das leis civis e criminais que regulam a sociedade, as ciências forenses aplicam o conhecimento e a tecnologia da ciência no cumprimento das leis sociais. Sendo sua meta principal prover apoio científico para as investigações de danos, mortes e crimes inexplicados, ela contribui na elucidação de como ocorreu determinado crime, ajudando a identificar os seus intervenientes através do estudo da prova material recolhida no âmbito da investigação criminal.

A ciência forense em si teve sua Origem na China antiga. Documentos do Século XVII atestam que mil anos antes, Ti Yen Chieh já utilizava a lógica e a prova forense na resolução de crimes ocorridos no Século VII, baseando-se em estudos da cena dos crimes, exame das pistas e conversas com testemunhas e suspeitos.

Atualmente, com os avanços tecnológicos ocorridos neste campo de pesquisa, como a identificação do DNA - considerada uma revolução nos meios científicos - várias técnicas que antes existiam somente na ficção, passaram a fazer parte das ciências forenses. Conforme afirmam Gerber e Saferstein (1997), "Arthur Conan Doyle, através de Sherlock Holmes, descreveu técnicas forenses, especialmente de identificação do sangue, que só foram descobertas muito mais tarde". Graças a esses avanços, os cientistas forenses (Investigadores de CSI) conseguem analisar os mais variados tipos de vestígios encontrados na cena do crime.

Em criminalística, entende-se por vestígio, qualquer marca, fato, sinal ou material, que seja detectado em local onde haja sido praticado um fato delituoso. Enquanto que indício é o vestígio que, após devidamente analisado e interpretado, tem estabelecido sua inequívoca relação com o fato delituoso e pessoas com este relacionadas, permitindo assim a formulação de conclusões acerca do caso investigado, repercutindo diretamente no êxito dos investigadores forenses e da Justiça.

Qualquer aficionado de uma dessas séries, por exemplo, já ouviu falar de luminol, uma substância composta de nitrogênio, hidrogênio, oxigênio e carbono, que aplicada a uma superfície qualquer e exposta à luz ultravioleta, revela a presença de sangue no local, ainda que este tenha sido bem lavado (veja Fig. 2). Isso ocorre porque as moléculas de luminol fazem brilhar as partículas de ferro existentes na hemoglobina, uma proteína do sangue.

Abordaremos aqui, no entanto, a área de maior destaque na física forense, que trata da análise e interpretação de acidentes de trânsito, cujos princípios da Mecânica utilizados na investigação são os mesmos presentes na grade curricular do curso de Física do ensino médio.


Fig. 2. luminol

DISCUSSÃO REFERENTE À POTENCIALIDADE DO USO DE SÉRIES TELEVISIVAS NO ENSINO DE CIÊNCIAS.

Dentre as ciências forenses, a física forense alcançou papel de destaque como segmento da física que tem por principal objetivo observar e analisar os fenômenos físicos naturais, cuja interpretação é de interesse do poder judiciário. A utilização dos conceitos físicos relacionados à área forense datam do Século III a.C., quando Arquimedes solucionou o famoso caso da coroa do rei Heron II de Siracusa, sendo seu trabalho um exemplo adiantado de como a ciência física pode ser usada na resolução de um crime."Eureka!", esse foi o legendário grito de Arquimedes, ao descobrir um método (Princípio de Arquimedes) de determinar se a coroa real era composta totalmente de ouro ou se continha prata, como desconfiava o rei, provando assim a adulteração desta por parte do ourives.

Dentre as áreas de atuação da Física nos processos forenses, destaca-se a análise e interpretação de acidentes de trânsito. Eventos cada vez mais freqüentes nos centros urbanos, e que envolve vários fenômenos físicos podendo ser analisados, como parte da dinâmica de corpos rígidos.

A investigação de acidentes de trânsito, e a sucessão de eventos que envolvem estas fatalidades são apresentados de formas minuciosas ao telespectador, que acompanha passo a passo o desenrolar das investigações geralmente realizadas por uma equipe de peritos. Exemplificando, destaca-se aqui o episódio 218 (Chasing The Bus), da Segunda temporada do seriado norte-americano CSI, sigla para Crime Scene Investigation.No referido episódio, um ônibus com 23 passageiros vindo de Los Angeles para Las Vegas bate a menos de 65 quilômetros de seu destino, matando nove pessoas. Antes de morrer, o motorista lembra que, antes do acidente, o volante começou a vibrar como uma britadeira, fazendo com que fosse praticamente impossível ele controlar a velocidade do veículo. Quando o ônibus finalmente parou, ele estava do outro lado da pista, em cima de um carro esportivo que o estava seguindo.

Na análise preliminar Gil Grissom, chefe da equipe forense afirma que o motivo de o ônibus ter virado para a direita deveu-se ao fato de o pneu direito ter arrebentado e o da esquerda permanecer intacto. 3ª Lei de Newton diz ele:"Para toda ação há uma igual no sentido oposto." Do pneu para o aro, do aro para o eixo, do eixo para a suspensão, da suspensão para o chassis.Então se o braço da suspensão que liga o eixo ao chassis partiu enquanto o motorista dirigia, este, aovirar o ônibus pôs muita pressão no pneu dianteiro direito, causando sua explosão. Com isto o ônibus vira para direita e sai da estrada.Então voltamos ao Newton reforça Grissom. A teoria está correta se o braço da suspensão foi a primeira ação.

Após toda seqüência de investigação a equipe de investigadores descobre vestígios de clorofórmio dentro do pneu. O clorofórmio destrói a elasticidade da borracha, assim, mais cedo ou mais tarde a pressão dentro do pneu o fará arrebentar. O pneu direito da frente foi sabotado afirma Grisson, a 3ª lei de Newton, ligeiramente modificada.O pneu começou a se desfazer, primeira ação, o que provocou a derrapagem, e quando arrebentou deixou uma marca no asfalto, que foi coberta pelas marcas de derrapagem do pneu traseiro analisa Grissom. O motorista tentou segurar o ônibus, mas sem o pneu, toda força ficou sobre o sistema da suspensão.Os parafusos saltam, o braço da suspensão quebra e o ônibus bate no carro que o estava seguindo.

Com a utilização de flashback o telespectador pode visualizar passo a passa a análise apresentada pela equipe de investigação, como se esta estivesse ocorrendo em tempo real. Essa forma de abordagem desperta bastante o interesse dos alunos do ensino médio, por tratar-se de um tema recorrente no cotidiano dos mesmos. Desse modo, baseando-se em Paulo Freire para qual ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo, esses eventos possibilitam ao professor a utilização dos mesmos como método alternativo de ensino em sala de aula.

Os princípios da Mecânica utilizados numa investigação são os mesmos presentes na grade curricular do curso de Física do ensino médio: atrito, aceleração constante, Leis de Newton, Conservação do Momento Linear, Movimento Circular e Movimento de Projéteis.

Atualmente, em boa parte graças ao grande aumento do numero de séries televisivas, as técnicas de investigação utilizadas, são interessantes e podem, facilmente, ser entendidas pelos estudantes secundaristas. Além da utilização das leis de Newton e da lei de variação da energia cinética, em acidentes de trânsito, destaca-se o princípio da conservação da quantidade de movimento (PCQM), que pode ser aplicado para determinar as velocidades pré-impacto dos veículos se a massa e as velocidades após o impacto são conhecidas. As velocidades pós-impacto são usualmente determinadas a partir das marcas de derrapagem. Essas marcas são de fundamental importância para a reconstituição do acidente. Por serem duráveis elas dão conta dos estados intermediários ocorridos nesse processo. Em uma parada de emergência, a principal tendência do motorista é aplicar os freios fortemente. Para sistemas de freios não ABS[1], esta ação faz com que as rodas sejam trancadas e impedidas de girar. Como resultado, o carro derrapa e desacelera. A força de desaceleração é, na verdade, o atrito de escorregamento. Nesse caso, é um empurrão para trás, do solo sobre os pneus. Durante este processo, o carro desenha na pista as marcas dos pneus com um processo que utiliza muita energia. O conhecimento desse processo permite designar tempos em cada ponto da trajetória.




Autor: Cleber Moreira de souza


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