O Livro da Capa Amarela
Dormia abraçada a uma almofada na cama ao lado da janela, sem coberta e ainda com os tênis que usara durante o dia, as cortinas abertas, um livro ao seu lado.
Ouviu algo bater no vidro da janela e despertou com o leve susto. Sentou-se na cama, olhou e viu a mesma vista de sempre: Alguns apartamentos com as luzes acessas e outros apagados, os mesmos carros estacionados no meio fio, a mesma lua da noite passada, porém sentia a estranha sensação de estar sendo observada. Apenas ignorou a sensação e tirou os tênis, colocou o livro sobre a mesa ao lado, puxou a coberta e apagou a luz amarelada do abajur. Fechou os olhos e a luz fraca da lua tocava seu rosto delicado, a noite estava agradável.
Sentiu uma sombra encobrir seu rosto e parar ali, abriu os olhos.
Ele estava ali, parado com seu rosto adorável, a olhando. Colocou-se de joelhos na cama de forma que ficou mais próxima da janela, levou uma das mãos a boca e abriu bem os olhos tentando acreditar, ele abriu um sorriso. Deixou uma lágrima escorrer do canto dos olhos, era ele, quem ela havia desejado durante os últimos oito meses.
Ele entrou e sentou-se na cama, ela deitou no seu colo, o abraçava, sorria e chorava. Ele apenas passava as mãos em seus cabelos e a observava com olhar de ternura. Poderia ficar a vida toda ali, olhando aqueles olhos e aquele sorriso, sentindo aquelas mãos que corriam pelo seu rosto secando as lágrimas que agora eram bem poucas.
Ficaram em silencio o tempo todo, mas nesse tempo todo cada um podia ver o quanto se amavam, não precisando dizer nada.Quando já era tarde ele deitou-se ao seu lado na cama, ainda abraçados adormeceram ali.
Quando a manhã chegou, a garota acordou, as cortinas estavam fechadas, o quarto escuro e ao seu lado apenas o livro de capa amarela continuava ali. O vento soprou e a cortina se abriu um pouco. Olhando para a porta de madeira avermelhada, enxergava uma luz branca que vinha lá de fora. A poeira subindo naquela luz da manhã a fez se sentir como se estivesse presa em um sonho. Ali observava, elas dançavam na luz que mudava de lugar conforme o vento soprava nas cortinas, luz do dia que aos poucos revelava o que aquele escuro do quarto escondia. Mas não havia nada mais do que poeira e saudade daquele sonho que ainda não virou verdade.
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