Quatro legados da educação hebraica que caracterizam a educação cristã hodierna



QUATRO LEGADOS DA EDUCAÇÃO HEBRAICA

QUE CARACTERIZAM A EDUCAÇÃO CRISTÃ HODIERNA[1]

 

João Francisco Xavier Neto

Pós-Graduado em Docência Universitária pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, UNASP-EC.

Graduado em Teologia, em 1992, pelo Instituto Adventista de Ensino, atual UNASP-EC.

Graduando em Comunicação Social (Jornalismo), pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, UNASP-EC.

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Resumo: Esta pesquisa tem o intuito de analisar algumas práticas educacionais hebraicas, as quais influenciaram acentuadamente a educação cristã atual. Primeiramente, será considerada a influência do Antigo Testamento e seu reflexo educacional sobre a educação cristã. Em seguida, a abordagem se concentrará em demonstrar como as escolas dos profetas do antigo Israel serviram de modelo para a criação das escolas cristãs. Na sequência, o estudo focalizará a concepção hebraica da Divindade e seu ofício educador, ambos, também um paradigma para a filosofia educacional cristã. Finalmente, o artigo conclui com a promessa do Messias e Seu exemplo educacional para a educação cristã. Este trabalho está fundamentado em uma pesquisa bibliográfica que contribuirá para a formação educacional de estudantes, mormente os cristãos, e também para estudiosos e acadêmicos cristãos interessados em compreender as origens dos valores cristãos como sendo legados da educação hebraica.

 

Palavras-chave: educação, Bíblia, escolas, Divindade, Messias.

 

Abstract: This research aims to analyze some Hebrew educational practices, which greatly influenced the current Christian education. First, it is considered the influence of the Old Testament and its reflection on the educational Christian education. Then the approach will focus on demonstrating how the schools of the prophets of ancient Israel served as a model for the creation of the Christian schools. Further, the study will focus on the Hebrew conception of the Deity and his craft educator, both also a paradigm for Christian educational philosophy. Finally, the article concludes with the promise of the Messiah and His educational example for Christian education. This work is based on a literature search that will contribute to the educational development of students, especially Christians, and also for scholars and Christian scholars interested in understanding the origins of Christian values as legacies of Hebrew education.

 

Key-words: education, Bible, schools, Divinity, Messiah.

 

Introdução

 

Nos lugares da Terra conhecidos como mundo cristão, percebe-se a presença e utilização de princípios que regem a vida moral, ética e legal das comunidades. Tais princípios ao contrário do que alguns habitantes dessas sociedades possam pensar, não foram concebidos no presente em que se vive, mas são oriundos de valores cristãos, os quais por sua vez, descendem da educação hebraica com seus princípios estabelecidos por Deus na Bíblia, a qual é a Sua Palavra para o homem.

Pode-se exemplificar a asserção sobrescrita com a criação de leis em diversos países onde são considerados crimes o homicídio; o furto ou roubo; maus tratos aos pais idosos; abuso e violência contra as crianças. Qual é a origem de tais leis? Em que as pessoas se basearam para a elaboração de seus códigos legais?

A resposta está na educação hebraica e cristã das quais promanam os princípios de honrar os pais e também os filhos, que um dia serão pais; de não matar; de não furtar e de não mentir. Essas são leis que aparecem no decálogo ou dez mandamentos dados aos hebreus por Deus. (Êxodo 20: 2-17).

Este artigo tem o intuito de abordar quatro aspectos importantes na educação hebraica tais como a Bíblia (O Antigo Testamento) como sendo o livro texto que conduziu a vida dos hebreus; o papel fundamental que as escolas dos profetas tiveram para Israel; a concepção hebraica da Divindade e Sua obra como educadora do homem; a promessa do Messias prometido a Israel e o Seu exemplo para a educação cristã; bem como a influência que essas quatro práticas educacionais hebraicas exerceram na educação cristã, ao ponto de caracterizá-la como modelo educacional, em cuja realidade, a Bíblia, as escolas, A Divindade e a promessa do Messias são grandemente valorizadas. 

 

Primeiro Legado: A Bíblia (O Antigo Testamento)

 

Os hebreus consideravam o Antigo Testamento como a Palavra de Deus para o Seu povo. Essa ideia é confirmada por Champlin (2000, p. 5360) ao afirmar que: “Os hebreus sempre levaram muito a sério as suas Escrituras, como a Palavra revelada de Deus”.

 Além de ser considerada como a Palavra de Deus, também é vista como sendo uma importante fonte de valores para a vida: “A principal fonte da história hebraica é a Bíblia, pois sua primeira parte, o Antigo Testamento, é dedicada à apresentação conjunta de seus valores religiosos, morais, jurídicos e filosóficos”. (CONFEDERAÇÃO DAS UNIÕES BRASILEIRAS DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, 2004, p. 15).

Em Isaías 8:20 se lê a seguinte citação: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva”. Neste capítulo o profeta fala da invasão Assíria em Judá, da esperança que deviam ter no Senhor e condena as orientações de pessoas que aconselhavam a consulta aos mortos. Para adverti-los dessa prática errônea, apresentou a Bíblia (Antigo Testamento) descrito nas palavras Lei e Testemunho, as quais compunham as duas grandes porções da Bíblia.

Tora parece ter o sentido básico de “lançar a sorte sagrada”, prática de adivinhação oracular. Ao progredir a fé dos hebreus, a palavra ganhou um significado mais abarcante: oráculo, conteúdo da revelação divina, a lei divinamente outorgada e o conteúdo inteiro da interminada revelação a Israel e através dele. (CHAMPLIN, 2000, p. 5384). “[...] a Tora designa os primeiros cinco livros do Antigo Testamento, o Pentateuco, porção da Bíblia atribuída a Moisés”. (CHAMPLIN, 2000. p. 5384).

A palavra Tora também identifica o rolo em que o Pentateuco era escrito. Uma cópia desse rolo ficava guardada dentro da arca de cada sinagoga judaica, nas quais durante os cultos religiosos se faziam leituras regulares e selecionadas da Tora. (CHAMPLIN, 2000, p. 5384). Isso nos permite entender quão importante era o Antigo Testamento e seu estudo para o culto hebraico nas sinagogas, pois a leitura da Tora ocupava um tempo singular durante o culto.

No que tange ao assunto de justiça para a sociedade, observa-se a ausência de parcialidade na aplicação da mesma, mostrando equilíbrio na resolução dos problemas. O vocábulo Tora está relacionado com o princípio de justiça, o qual era aplicado tanto para os nativos quanto para os estrangeiros residentes na terra, conforme aparece em (Êxodo 12:49 ). (CHAMPLIN, 2000, p. 5384).

Outro fator destacável sobre o valor da Tora chama atenção para sua abrangência na educação das pessoas, visto que ela era ensinada tanto para a criança, jovem, mulheres, homens e autoridades (Rei, sacerdotes e profetas).

Esse pensamento aparece em Jó e no comentário de Vine, “Aceita, peço-te, a lei da sua boca e põe as suas palavras no teu coração”. (Jó 22:22). Em Israel as pessoas incumbidas de educar os jovens deveriam cultivar na mente deles um temor do Senhor de modo que eles vivessem de acordo com a vontade divina. (VINE, 2004, p. 165).

Além do ensino formal na escola “o pai natural também podia instruir o filho no viver sábio, até como uma mulher temente a Deus era exemplo de instrução benigna [...]”. (VINE, 2004, p. 166).

A influência da Tora se fazia sentir em todos os setores da sociedade hebraica de tal forma que o rei era orientado a ter uma cópia da “lei” confeccionada exclusivamente para ele em sua coroação. (Deuteronômio 17:18). Os sacerdotes, por sua vez, tinham a missão de estudar, ensinar e exercer o direito com base na lei (Jeremias 18:18), enquanto que os profetas foram responsáveis por concitar Israel à mudança de vida (arrependimento) através de uma atenção especial à Tora.  (VINE, 2004, 166).

Ainda no contexto da Tora, deve-se considerar outro assunto de suma importância para os hebreus, a saber, o momento no qual Deus lhes outorgou Os Dez Mandamentos. (Êxodo 20:2-17). Também conhecido como Decálogo “que significa dez palavras, foi usada pelos pais gregos da Igreja para se referirem aos dez mandamentos do Antigo Testamento”. (CHAMPLIN, 2000, p. 4140). Outros nomes lhes são dados na própria Bíblia tais como, as duas tábuas do testemunho (Êxodo 34:29) , as tábuas da aliança (Deuteronômio 9:9) e dez palavras conforme são chamados em hebraico (Êxodo 34:28). (CHAMPLIN, 2000, p. 4140).

Para viver em sociedade, Deus sabia que os hebreus precisariam de normas que conduzissem o convívio interpessoal, inclusive com outros povos.

Este aspecto é salientado com propriedade no comentário bíblico adventista do sétimo dia, ao comentar os Dez Mandamentos no livro de Êxodo 20:2-17 in www.ellenwhitebooks.com:

 

Também não pode ninguém negar a necessidade vital que têm todos os homens de um código tal de conduta devido a suas imperfeições morais e espirituais e sua tendência a fazer o que é mau. O Decálogo destaca-se de todas as outras leis morais e espirituais. Abarca toda a conduta humana. É a única lei que pode controlar com eficácia a consciência. É um manual condensado da conduta humana que abarca todo o dever humano em todos os tempos.

 

O que impressiona no Decálogo é a sabedoria, bondade e ética revelada pelo Senhor a tal ponto de não apenas nos mandamentos, contemplar o amor e respeito para com a Sua pessoa, mas também com todo o ser humano:

 

O Decálogo é a expressão não só da santidade senão também do amor (Mateus 22: 34-40; João 15: 10; Romanos 13: 8- 10; 1 João. 2: 4). Se carece de amor qualquer serviço que prestemos a Deus ou ao homem, não se cumpre a lei. É o amor quem nos protege de violar os Dez Mandamentos, pois como poderíamos adorar outros deuses, tomar o nome de Deus em vão e descuidar a observância do dia de repouso, se verdadeiramente amamos ao Senhor? Como podemos roubar o que pertence a nosso próximo, testemunhar contra ele ou cobiçar suas posses, se o amamos? O amor é a raiz da fidelidade para com Deus e da honra e o respeito pelos direitos de nossos próximos. Este sempre deve ser o grande motivo que nos mova à obediência (João 14: 15; 15:10; 2 Corintios 5: 14; Gálatas 5: 6. (www.ellenwhitebooks.com)

 

É importante ressaltar a verdade de que o Senhor desejava uma obediência apoiada no amor de Israel por Ele, por si mesmo e pelo semelhante. Tal relação amorosa, vivida pelo poder do Espírito Santo, deveria caracterizar a atitude do povo em relação ao Decálogo e a Tora.

Há algo de impressionante quanto a Tora, cujo significado e propósito era instruir, ensinar a Israel a vontade de Deus. Era o fato de que o Senhor desejava ter um relacionamento marcado pelo amor com o Seu povo. Muitos enxergam a Tora apenas sob a ótica do sentido legal, porém deveria ter um significado muito mais profundo. “A palavra Tora não deve ser interpretada somente em sentido legal. Antes indicava uma maneira de viver, derivada da relação de pacto entre Deus e o povo de Israel”. (CHAMPLIN, 2000, p. 5384). Deus não estava impondo regras como um tirano cruel para ter obediência compulsória, mas oferecendo um novo estilo de vida ao povo a quem Ele havia salvado da escravidão egípcia, e esse modo de vida deveria ser caracterizado pelo amor, por causa da liberdade dada ao povo por Seu Salvador. 

Em se tratando do Testemunho, o qual também identifica outra grande porção do Antigo Testamento Champlin (2000, p. 5372) diz: “A expressão testemunho passou a indicar o livro inteiro da lei de Deus [e] em algumas instâncias, testemunho quer dizer a Palavra de Deus dada a algum profeta (Isaías 8:16,20)”.  

A mensagem profética tinha muita importância para o povo, pois representava a semelhança das verdades divinas reveladas a Moisés na Tora, o querer do Senhor para o Seu povo através da voz profética, também apresentada desde o livro de Isaías até o de Malaquias. Isso é salientado no pensamento a seguir:

 

Os profetas de Deus eram suas testemunhas ou porta-vozes, e o "depoimento" que davam era a mensagem divina de sabedoria e vida. Nesta passagem [8:20] Isaías dirige a mente dos homens à Palavra de Deus como norma de verdade e guia para uma vida reta. Deus se revelou a si mesmo em sua Palavra. (www.ellenwhitebooks.com)

 

 

 

 

 

 

O legado bíblico no mundo cristão

 

“No início do século XXI o cristianismo conta com 2,2 bilhões de fiéis [...]”. (FOREIGNPOLICY.COM.).

Tal crescimento se deu indubitavelmente por causa do poder de Deus que atua através da Bíblia (Antigo e Novo Testamentos), bem como de sua pregação ao redor do mundo.

A influência do Antigo e também do Novo Testamento sobre o cristianismo é algo notório, pois permeia muitas áreas da vida cristã e da sociedade atual:

 

1) É o livro usado durante o culto cristão. Assim como o Antigo Testamento e a Tora (que é parte dele), constituíam o âmago do culto na sinagoga judaica com leituras regulares, a Bíblia (Antigo e Novo Testamentos) ocupa o centro do culto público, pois é pregada, lida e os adoradores concitados a viver os seus ensinos. “A Bíblia é o livro supremo e principal do culto e deveria ser a parte central de nossa adoração. É a fonte para meditação, louvor e oração. Sobretudo, é a revelação da vontade de Deus para hoje e para todos os dias de nossa vida [...]”. (SILVA, 1984, p. 127).

 No lar quando se realiza o chamado culto familiar também se observa a sua preponderância. “O culto doméstico é um ótimo momento para a memorização das Escrituras”. (CHRISTENSON, 1986, p.163).

2) Educação cristã. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça [...]”. II Timóteo 3:16.

 “As Escrituras Sagradas são a perfeita norma da verdade, e como tal, a elas se deve dar o mais alto lugar na educação”. (WHITE, 1977, p. 17).

Provérbios 22:6 nos diz, “ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”.  Desde a infância até a vida adulta a Bíblia está presente na vida e na educação cristã, tendo importância basilar. Nesse aspecto se encontra outra semelhança com a educação hebraica, na qual a Tora era ensinada a todas as pessoas desde os primórdios da existência.

3) Influência sobre o direito moderno. “ [...] os direitos humanos referidos no mundo ocidental democrático descendem diretamente de um tronco único de direitos que se desenvolveu a partir da Torah – fonte do antigo direito hebreu – e, posteriormente, com o cristianismo e com a exegese talmudista, ramificou-se até chegar aos nossos dias”. (GUIMARÃES, NÚMERO 6, 2008). É impressionante constatar como a sociedade democrática ocidental está permeada do direito hebreu, o qual é muito mais do que uma produção jurídica hebraica, constituindo a revelada orientação divina através do Antigo Testamento, o que declara quão maravilhoso é Deus, Sua Palavra e Sua influência na vida ocidental.

4) A Bíblia e o estilo de vida do cristão. O rei Davi, líder israelita do passado, via a Palavra de Deus, como o seu estilo de vida, não apenas como um livro de regras, por isso escreveu: “Admiráveis são os teus testemunhos; por isso, a minha alma os observa”. Salmos 119: 129. Para o cristão a Bíblia é muito mais do que um livro histórico com princípios religiosos e normas reguladoras de vida. Ela é o “modus vivendi” do cristão, o qual pauta o seu modo de viver, a partir dos ensinos nela exarados. Outro exemplo da influência dos princípios veterotestamentários na vida do cristão é os Dez Mandamentos conforme citados no livro de Êxodo 20:1-17. Esses dez princípios ensinam o cristão a respeitar a Deus, evitando a idolatria, tendo um tempo na semana para o Criador durante o dia de sábado, bem como orientam o filho de Deus a ter a devida consideração com o semelhante através do cuidado com os pais e afastando-se de qualquer atitude que o leve a matar, adulterar, furtar, mentir e cobiçar o que pertence ao próximo.

 

Segundo legado: As escolas dos profetas

 

“Então, enviou Saul mensageiros para trazerem Davi, os quais viram um grupo de profetas profetizando, onde estava Samuel, que lhes presidia; e o Espírito de Deus veio sobre os mensageiros de Saul, e Também eles profetizara”. (I SAMUEL 19:20). “As escolas dos profetas foram fundadas por Samuel [...]”. (WHITE, 1993, p. 593). Os discípulos das escolas “viviam em comunidade e o ensinamento era bíblico, místico e através do exemplo pessoal”. (CHAMPLIN, 2000, p. 4241).

Essas escolas “foram mais firmemente estabelecidas por Elias e Eliseu, no reino do norte, das dez tribos (II Reis 2:3,5; 4:38; 6:1)”. (CHAMPLIN, 2000, p. 4241).

Nas cidades de Ramá e possivelmente Gibeá (I Samuel 19:20; 10:5,10) havia mais duas escolas organizadas, assim como em Gilgal, Betel e Jericó (II Reis 4:38; 2:3,5,7,15). Além do estudo da Bíblia, percebe-se que o currículo abrangia música sacra e poesia ou ao menos, a presença de pessoas hábeis nessas áreas, as quais se relacionavam com os alunos dos profetas. (I Samuel 10:5). (CHAMPLIN, 2000, p. 4241).  Um detalhe interessante no cotidiano escolar é que:

 

Os alunos destas escolas mantinham-se com o próprio trabalho, cultivando o solo ou ocupando-se em algum trabalho mecânico. Em Israel isto não era considerado coisa estranha ou degradante; efetivamente, considerava-se um crime permitir que as crianças crescessem na ignorância do trabalho útil. (WHITE, 1993, p. 593).

 

Tais escolas não surgiram como mera iniciativa de Samuel para introduzir algo diferente que agradasse aos israelitas. Não. O intuito é que elas constituíssem um anteparo contra a corrupção grassada; fomentassem a formação moral e espiritual da juventude e promovessem o progresso de Israel através da formação de uma liderança que trabalhasse no temor de Deus. Havia, contudo, o ideal supremo de todo estudo naquelas escolas, o qual era aprender a vontade de Deus e o compromisso do ser humano para com o Seu Criador. (WHITE, 2008, p. 63).

 

Reflexo do legado nas escolas cristãs

 

A influência das escolas dos profetas no mundo cristão é grande. Como exemplo disso basta considerar a quantidade de instituições cristãs existentes só no Brasil:

 

Com a graça de Deus, as Instituições Educacionais Evangélicas têm realizado uma grande obra educativa no Brasil, há mais de um século, abrangendo um universo, ainda com dados iniciais, de 450 mil estudantes, 30 mil professores e funcionários e, aproximadamente, 1.000 instituições’’. (www.abiee.org.br).

 

Esse legado de escola de profetas influenciou de modo particular os Adventistas do Sétimo Dia, cuja filosofia educacional contempla “o desenvolvimento harmonioso das faculdades físicas, intelectuais e espirituais”. (WHITE, 2008, p. 5). Nas escolas dos profetas no Antigo testamento o aluno era educado no estudo da Bíblia, recebia instrução musical, poética e realizava trabalho prático, físico; assim também funciona a educação adventista, a qual fomenta o desenvolvimento físico, pois “a educação não consiste em empregar o cérebro apenas. A ocupação física é parte do preparo [...]. Falta um importante aspecto de educação, se o estudante não aprender a se empenhar em trabalho útil”. (WHITE, 2008, p. 180); o intelectual através do conteúdo comum, “matérias comuns devem ser ensinadas de maneira completa e com oração”. (WHITE, 2008, p. 125); o espiritual por meio do estudo da Bíblia: “Usada como guia em nossas escolas, a Bíblia fará em favor do espírito e da moral o que não pode ser feito por livros de ciência ou filosofia”. (WHITE, 2008, p. 250).

Sendo que a escolas cristãs hodiernas surgiram em razão de Cristo e da Bíblia, há uma questão a ser considerada. Nas escolas dos profetas a Bíblia era o livro texto do currículo. E hoje, que implicações há de se adotar a Bíblia como livro texto no currículo? É possível fazer isso nas escolas cristãs?

George Knight em seu livro Mitos na Educação Adventista apresenta três modelos curriculares quanto ao estudo da Bíblia:

1) “No modelo mais comum de currículo, a Bíblia ou a religião é apenas um tópico entre muitos [...]”. “[...] cada tópico é estudado de acordo com sua lógica e cada um é considerado como sendo basicamente independente do outros”. (KNIGHT, 2010, p. 140). Por exemplo: Religião/História/Matemática/Ciências e Outras são matérias estudadas isoladamente sem que haja uma relação entre esses campos de estudo.

2) “Os reformadores adventistas, procurando escapar do modelo acima, foram ao extremo de fazer da Bíblia e da religião todo o currículo [...]”. (KNIGHT, 2010, p. 141). Esse modelo não fornece uma solução, pois “não poderíamos usar a Bíblia como livro-texto para todas as disciplinas do currículo, uma vez que ela não aborda todos os assuntos”. (KNIGHT, 2010, p. 138).

3) Modelo de integração – “[...] indica que devemos abordar cada disciplina à luz da perspectiva bíblica se queremos entendê-la no seu significado mais amplo”. (KNIGHT, 2010, p. 141-142). Esse parece ser o modelo mais equilibrado para o currículo das escolas cristãs atuais, conforme sugere Knight, pois “a Bíblia nos ajuda a entender cada tópico do currículo, mas também que o estudo da história, ciência, etc; também iluminam o significado das Escrituras”. (KNIGHT, 2010, p.142).

“A Bíblia não é o todo do conhecimento, mas fornece uma moldura de referência dentro da qual devemos estudar e interpretar todos os tópicos. Uma escola cristã é cristã somente quando ensina todas as disciplinas a partir da perspectiva da Bíblia”. (KNIGHT, 2010, p. 138).

 

Terceiro legado: A Divindade e Sua obra como Educador do homem

 

Às vezes se ouve perguntas como: Quantos Deuses há? Não há só um Deus cristão? E por que se fala em Deus pai, Deus filho e Deus Espírito Santo? E qual é o papel divino na educação humana? Auferir uma concepção equilibrada da pessoa de Deus é de suma importância ao homem, pois ele não só busca um bom modelo de vida, geralmente baseado em alguma filosofia, como também está à procura de amparo educacional “superior”, o qual, no contexto cristão, traduz-se em condução divina no desenvolvimento educacional humano.

A natureza de Deus se mostra na Bíblia da seguinte maneira:

 

a) Pessoal, mas presente em toda parte (onipresente) de Seu Universo criado (Salmos 139:1-4); b) Conhecedor de todas as coisas (onisciente) (Salmos 139:1-4); c) Todo-poderoso (onipotente) (Mateus 19:26); d) Existente ‘’de eternidade a eternidade’’ (eterno) (Salmos 90:2); e) Imutável em Sua natureza e caráter (imutável) (Malaquias 3:6); f) Totalmente justiça e bondade (bondoso) ( Salmos 145:9; 19:7-9); g) Um ser de amor (amor perfeito, desinteressado) (I João 4:8). Portanto, se algum desses traços divinos faltar, certamente não estamos falando a respeito do grande Deus da Bíblia. (WHIDDEN, MOON, REEVE, 2003, p. 27).

    

O Antigo Testamento em Deuteronômio 6:4 diz: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Como entender o ensino cristão à luz desse texto, sendo que os cristãos creem em Deus Pai, Filho e Espírito Santo?

 

Esta famosa passagem apresenta vários pontos úteis em nosso estudo. Antes de mais nada, o Deus de Israel é nenhum outro senão o Senhor [...]. Em segundo lugar, Deus Jeová é o Senhor que é ‘’um’’. O ponto notável a respeito da palavra traduzida como ‘’um’’ é que ela provém do hebraico ’echad.  Ela ‘’significa ‘um [entre outros]’, sendo que a ênfase repousa sobre um em particular. [...] A possibilidade de existirem outros é inerente a ’echad, mas yachid exclui tal possibilidade’’ (Christensen, p. 69).

(WHIDDEN, MOON, REEVE, 2003, p. 39).

 

Moisés por inspiração divina identificou a Divindade, sendo formada por três pessoas e não só por uma:

 

Ora, certamente Moisés poderia dispor da palavra yachid, que haveria utilizado sem problemas se quisesse descrever o Senhor Deus de Israel como um ser exclusivamente unitário. Em contraste com ’echad, a palavra yachid “significa ‘um’ no sentido de ‘único’ ou ‘sozinho’” (ibid.). Dito em outros termos, ela se refere a ‘’um ‘’ no sentido unitário, não no sentido plural. Moisés, entretanto, empregou o plural ’echad (um entre outros numa unidade combinada ou compartilhada). (WHIDDEN, MOON, REEVE, 2003, p. 39).

 

O Novo Testamento também testemunha sobre a existência de mais de uma pessoa, compondo a Divindade, mostrando que o cristianismo foi influenciado na adoção da visão hebraica sobre a Divindade:

 

Provavelmente a indicação mais forte dessa triunidade divina ocorra na famosa comissão evangélica, dada por Jesus à igreja através da fórmula batismal: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:19). Observe que esta fórmula declara que os três membros da Divindade possuem um nome (singular, não plural), o que sugere fortemente que Eles são um em caráter pessoal e natureza. (WHIDDEN, MOON, REEVE, 2003, pp. 38).

 

Conclui-se, portanto, que a compreensão hebraica da divindade, como sendo formada por três pessoas distintas, unidas em natureza, caráter e objetivo (salvação humana), influenciou fortemente a visão cristã de Deus, bem como consolidou a Divindade como a fonte e a razão de todo êxito da educação cristã.

A Divindade como Educadora do homem

 

Visto que Deus é o nosso Criador, Salvador, Senhor, Consolador e Mantenedor, nada melhor do que conhecer o ideal divino exarado em sua Sua Palavra, a qual O apresenta sob a imagem de Educador na pessoa de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito.

 “[...] porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste”. João 17:8. Nesta passagem Cristo salienta a função educadora do Pai, embora não use uma terminologia educacional para descrê-la, pois “Todos os nossos testemunhos, as nossas instruções e exortações, se derivam, em sua origem primária e em seu poder contínuo, do fato de que o Pai deu ao Filho, e o Filho em seguida deu aos seus servos [...]”. (CHAMPLIN, 1995, pp. 575-576).

Cristo também tem a sua obra educadora confirmada segundo a declaração evangélica: “Aconteceu que, num daqueles dias, estando Jesus a ensinar no templo e a evangelizar [...]. Lucas 20:1”.

Sobre o ofício do Espírito Santo como educador a Bíblia diz: “[...] mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”. João 14:26. “Cristo descreve a obra do Espírito Santo com duas ações: Ensinar e fazer lembrar”. (VELOSO, 1984, p. 293).

“A mente humana é suscetível do mais elevado cultivo. Uma vida devotada a Deus não deve ser uma vida de ignorância”. (WHITE, 2008, p. 26).

Há muitos no mundo cristão que criticam a educação pelo fato de Cristo ter escolhido pescadores iletrados como pregadores do evangelho. Declaram que o Mestre preferiu os incultos aos educados. Contudo, muitos homens de boa formação creram em Seus ensinos. Faltou-lhes obediência à Sua palavra e amostra de força moral diante da oposição da liderança religiosa, cujo propósito era fazê-los recuar em sua aceitação de Cristo. Se O tivessem seguido seus talentos seriam aceitos no serviço de Cristo. (WHITE, 2008, p. 26).

A Divindade, representada por Cristo, que é Deus conosco, é a maior Educadora do mundo:

 

Jesus não desprezava a educação. A mais alta cultura do espírito, quando santificada mediante o amor e o temor de Deus, receberá Sua inteira aprovação. Os humildes homens escolhidos por Cristo estiveram com Ele por três anos, sujeitos à enobrecedora influência da Majestade do Céu. Cristo foi o maior educador que o mundo já conheceu. Deus aceitará a juventude com seus talentos e a opulência de suas afeições, caso a Ele se consagrem. É-lhes possível atingir o mais elevado grau de grandeza intelectual; e, se forem equilibrados pelos princípios religiosos, poderão levar avante a obra que Cristo veio do Céu efetuar, sendo assim coobreiros do Mestre. (WHITE, 2008, p. 26, grifo nosso).

 

A promessa do Messias e Seu exemplo para a educação cristã

 

A palavra unção é usada “como termo técnico do Messias, pois Ele é, supremamente, “o Ungido”. Esse é o sentido da palavra “Cristo”. Messias é uma transliteração do vocábulo hebraico que significa “ungido”. (CHAMPLIN, 2000, p. 5410).

O Antigo Testamento fala da promessa do Messias:

 

Deus prometera que o Salvador-Messias – o Ungido – viria através da linhagem de Abraão: “Multiplicarei a tua descendência [...] serão benditas todas as nações da Terra” (Gênesis 22:17,18). 

Isaías profetizara que o Salvador vindouro nasceria como criança do sexo masculino, e teria em Si tanto a natureza divina quanto a humana: “Porque um menino nos nasceu [...]; e o Seu nome será: [...] Deus Forte [...]” (Isaías 9:6).

Esse Redentor haveria de ocupar o tono de Davi e estabelecer um sempiterno governo de paz (Isaías 9:7). Belém Efrata seria o local de Seu nascimento (Miquéias 5:2). O inocente Salvador sofreia imensamente pelos pecadores. “[...] Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos sarados” (Isaías 53:5. (ASSOCIAÇÃO MINISTERIAL DA ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA, 2008, pp. 51-52).

 

Os cristãos herdaram a compreensão hebraica e profética sobre a vinda do Messias, com a sensibilidade de tê-Lo reconhecido e recebido na pessoa do Senhor Jesus, O Messias, O Cristo:

 

Somente Jesus Cristo cumpriu todas estas profecias. As Escrituras traçam a Sua genealogia desde Abraão, chamando-O de “filho de Abraão” (Mateus 1:1); Paulo, a seu turno, afirma que as promessas feitas a Abraão e sua semente cumpriram-se em Cristo (Gálatas 3:16). O título messiânico “Filho de Davi” foi largamente aplicado a Ele (Mateus 21:9). Ele foi identificado como o Messias prometido, o qual deveria ocupar o trono de Davi (Atos 2:29,30).

Os seguidores de Cristo reconheceram Sua morte como sendo o único sacrifício capaz de salvar os pecadores. “Deus prova o Seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8). (ASSOCIAÇÃO MINISTERIAL DA ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA, 2008, p. 52,53).

 

Sendo que os cristãos reconheceram em Jesus, o Cristo prometido, apoiando-se nas profecias veterotestamentárias, legado hebraico para os cristãos, os quais também receberam a herança da promessa do Messias identificado na pessoa do Senhor Jesus, por que o povo judeu ainda hoje espera o Messias, tendo rejeitado a Jesus como o Ungido?

Os judeus entendiam que havia mais de um tipo de messias em sua expectativa do Ungido, “Em Qumran, por exemplo, esperava-se um messias de Israel e um messias de Arão (isto é, real e sacerdotal)”. (SKARSAUNE, 2004, p. 314).

  Outro pensamento descreve , “[...] Essa ideia volta com frequência aos textos rabínicos com os dois messias de Davi e Efraim: o primeiro, vitorioso; o segundo, morrendo no campo de batalh”. (SKARSAUNE, 2004, p. 314). A citação a seguir começa a esclarecer a compreensão da obra do Messias em fases duais:

 

 [...] é verdade que a Escritura proclama um Messias vitorioso revestido de grande poder e glória – e Jesus cumprirá tudo isso em sua segunda vinda. Mas também é verdade que a Escritura proclama uma primeira vinda do Messias em que Ele surge humilde e manso, morrendo pelos pecados de todos (Isaías 53). (SKARSAUNE, 2004, p. 316).

 

Considerando a declaração acima e a infracitada entende-se que os judeus nutriam uma expectativa muito grande em torno do Messias em Sua segunda fase triunfante ou gloriosa, desconsiderando a primeira fase na qual Ele viria como o Servo Sofredor para oferecer salvação ao mundo com a Sua morte:

 

[...] Os judeus preocupavam-se apenas com o segundo advento messiânico, porque aparecia com maior clareza nas profecias e era tido como mais digno do Messias. Eles ignoravam o primeiro advento proclamado pelos profetas, “por causa da grande obscuridade das profecias [no tocante a esse advento], e pelo fato de ser tão indigno [do Messias] (Contra Marcião 3.7.8)”. (SKARSAUNE, 2004, p. 316).

 

Os judeus não apenas erraram na compreensão das profecias, como desprezaram a ideia de um Ungido sofredor. Esperar e aceitar só o Messias glorioso em vez de recebê-Lo em Sua fase de sofrimento é uma das razões porque rejeitaram a Cristo como Messias e até hoje ainda esperam o Ungido.

Além de desenvolver uma concepção sobre o tipo de Messias que fosse conveniente aos interesses judaicos, os judeus também cultivaram tradições sobre “quando” e “onde” o Messias se revelaria, as quais, por sua vez, também influenciaram a educação cristã.

Quanto ao tempo:

 

 A igreja antiga tinha uma tradição que dizia que a “parousia” ou segundo advento de Cristo ocorreria certa noite, na véspera da Páscoa; e daí se originou o costume de se fazerem vigílias naquela noite. Jerônimo [...] diz: “Há uma tradição entre os judeus no sentido que o Messias virá à meia-noite, à semelhança daquela noite, no Egito, quando a páscoa foi celebrada, quando então veio o anjo destruidor, e o Senhor passou por cima das habitações. Penso que essa ideia foi perpetuada no costume apostólico que, do dia da vigília, na páscoa, não era permitido despedir o povo antes da meia-noite, porquanto esperavam então o advento de Cristo”. (CHAMPLIN, 1995, pp. 209, 210).

 

No que tange ao lugar deve-se ponderar a última tentação de Cristo no deserto: “Então, o levou a Jerusalém, e o colocou sobre o pináculo do templo, e disse: Se és o Filho de Deus, atira-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”. Lucas 4:9-11. O diabo citou as Escrituras Salmos 91:11-12, e deve ter tido o intuito de usar a tradição judaica que mencionava o lugar onde o Messias surgiria, para enganar Cristo. “De acordo com Norval Geldenhuys em seu comentário sobre o evangelho de Lucas:

 

O Midrash, conhecido como Pesiqta Rabbati (162ª), registra uma crença tradicional de que o Messias se manifestaria de pé sobre o telhado do templo. A parte do templo indicada na narrativa da tentação pode ter sido a parte que dá para a “Colunata Real’’ – que Josefo (Antiquities, XV, II, 5) descreve como dando para uma inclinação precipitada para o vale de Cedrom, sendo tão alta que deixava do espectador tonto. (EXLEY, 2000, pp. 116,117)”.

 

“Obviamente Jesus estava familiarizado com as Escrituras que Satanás citou. E é bastante provável que também tivesse ouvido a respeito da crença tradicional referente ao Messias se revelando do pináculo do templo”. (EXLEY, 2000, p. 117).

 

O Messias como exemplo para a educação cristã

 

1) Exemplo de vida religiosa:

 

Tendo em vista tornar-Se um exemplo de como as pessoas deveriam viver, Cristo teria de viver vida sem pecado em Sua natureza humana. [...] Cristo desfez o mito de que os seres criados não podiam obedecer à lei de Deus e obter vitória sobre o pecado. (ASSOCIAÇÃO MINISTERIAL DA ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA, 2008, p. 66).

 

“Demonstrou à raça humana que é possível ser fiel à vontade de Deus. No ponto em que o primeiro Adão caiu, o segundo Adão obteve a vitória sobre o pecado e sobre Satanás, tornando-Se nosso Salvador e perfeito exemplo”. (ASSOCIAÇÃO MINISTERIAL DA ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA, 2008, p. 66). Essa última parte da citação acima quer dizer que os alunos cristãos ou não cristãos devem ser perfeitos exemplos? A educação cristã não tem a pretensão de formar alunos perfeitos, no sentido de impecabilidade, isto é, “evitar certas formas de comportamento indesejáveis” (RICE, p. 188), com a ênfase de chegar ao ponto moral de não mais pecar ou transgredir a lei de Deus; pois, primeiro, isso é impossível, sendo que apenas Cristo foi perfeito, sem pecado. O Salvador sempre será o modelo, a referência de vida para o estudante que, no poder divino, poderá ser semelhante, jamais igual ao Salvador. Segundo, deve-se entender o conceito bíblico de perfeito o qual, “No Novo Testamento [...], muitas vezes descreve pessoas amadurecidas, que viveram à luz da melhor verdade conhecida e assim alcançaram elevado potencial espiritual, mental e físico [...]”. (ASSOCIAÇÃO MINISTERIAL DA ASSOCIAÇÃO GERAL DOS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA, 2008, p. 160), tal conceito não sugere a ideia de impecabilidade. Maturidade é a definição de perfeição mais adequada:

 

Uma definição mais ampla identifica a perfeição como maturidade cristã. [...] Refere-se a uma profunda consagração a Deus e a presença de positivos traços de caráter. [...] O cristão perfeito é aquele que nunca trai sua lealdade a Deus e cuja vida está repleta de amor a Deus e aos outros [...]. (RICE, p. 187-188).

 

“Somente a perfeição no sentido da maturidade cristã é um objetivo real [...] nesta vida. Impecabilidade pode ser um bom ideal para ter em mente, mas dificilmente podemos esperar alcançá-lo antes de sermos glorificados quando Cristo retornar”. (RICE, p. 188).

 

2) Exemplo de formação educacional: Sobre o desenvolvimento educacional de Cristo a Bíblia diz: “E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens”. Lucas 2:52.

Ao tratar do desenvolvimento equilibrado na vida do professor, o que se aplica também ao estudante e ao cristão, Hendricks cita o exemplo de Cristo:

 

Ele crescia “em sabedoria”: desenvolvimento intelectual; crescia em “estatura”: desenvolvimento físico; crescia em “graça, diante de Deus”: desenvolvimento espiritual; e crescia em graça diante “dos homens” é referência ao crescimento social e emocional. (HENDRICKS, 1991, p. 24).

 

Percebe-se que a formação educacional de Cristo aconteceu de uma forma equilibrada, contemplando um crescimento harmonioso de todas as áreas da vida.

“[...] Por mais estranho que pareça muitos deles não entenderam que só obterão um pleno desenvolvimento espiritual se o associarem ao crescimento intelectual, físico, social e emocional”. (HENDRICKS, 1991, p. 24).

Outro aspecto que se destaca na educação de Cristo e que também é exemplar para a educação cristã é o cuidado em não permitir que tradições e ideias humanas contrárias as Escrituras tomem o lugar da Palavra de Deus:

 

Nos dias de Cristo, os judeus prezavam muito a educação de seus filhos. Suas escolas eram anexas às sinagogas ou casas de culto e os professores eram chamados de rabis, homens tidos como cultos e preparados para o ensino. Jesus não frequentava essas escolas, pois muitas coisas ensinadas não eram verdadeiras. Ao invés da Palavra de Deus, os preceitos dos homens eram estudados e, com frequência, tais ensinos eram contrários à Palavra que Deus havia ensinado através de Seus profetas. (WHITE, 2001, pp. 18-19).

 

3) Exemplo no serviço:João 13:15 diz: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”.

“Três coisas um pai deve a seus filhos, três coisas um mestre deve a seus alunos: Exemplo... exemplo... exemplo”. (CHAMPLIN, 1995, p. 506).

“O exemplo específico que aqui [João 13:15] nos é recomendado seguir é o do serviço humilde prestado ao próximo”. (CHAMPLIN, 1995, p. 506).

“Nesta citação de Sêneca:

 

Precisamos escolher algum homem bom, tendo-o sempre diante dos olhos, para que vivamos como se ele nos vigiasse e para que pratiquemos tudo como se ele nos estivesse vendo. Se substituirmos aqui homem bom por “Deus”, teremos atingido em cheio a verdade encerrada nesta passagem do evangelho de João”. (CHAMPLIN, 1995, p. 506).

 

“Adquirir uma educação para servir a si mesmo e gloriar-se é a antítese do cristianismo porque comete o mesmo erro que Lúcifer cometeu no céu e que Adão e Eva perpetuaram no Éden”. (KNIGHT, 2010, p. 52).

“Por outro lado, uma educação que nos leva a usar nosso talento em prol de nossos semelhantes edifica a experiência de conversão e ajuda a sanar a alienação entre o homem e seus semelhantes”. (KNIGHT, 2010, p. 52).

Knight ainda acrescenta que o “alvo último ou resultado final” da educação cristã é o “serviço a Deus e as outras pessoas aqui e no porvir”. (KNIGHT, 2010, p. 51).

A educação cristã está inserida no contexto da obra do Messias, pois ela existe por causa dEle, por Ele e para Ele, visando educar homens não somente para esta vida, como também prepará-los para serem cidadãos e eternos alunos da pátria e da universidade celestial, respectivamente.

 

 

 

Metodologia

 

Esta pesquisa está categorizada no modelo de pesquisa bibliográfica para a fundamentação do tema tratado.

Conforme a análise dos textos pesquisados traçou-se um paralelo mostrando as heranças da educação hebraica presentes como características basilares da educação cristã hodierna.

 

Considerações finais

 

Esta pesquisa salientou a realidade de que a educação cristã atual recebeu vários de seus fundamentos da educação hebraica, fato perceptível na elaboração de várias doutrinas cristãs tais como a Divindade e também na confecção do modelo educacional cristão, bastante influenciado, conforme esta pesquisa ressaltou, pelos valores educacionais hebraicos.   Considerando a influência educacional dos hebreus sobre os cristãos, pode-se dizer que o zênite da educação cristã se firma na segunda vinda de Jesus, o Cristo, o Messias, a Fonte de todo conhecimento. Este será o momento, no qual milhares e milhares de vidas serão apresentadas ao Senhor e Salvador, como belos troféus transformados pela poderosa Palavra divina, a qual foi o livro que emoldurou a educação de pecadores salvos pelo poder de Deus.

 

Referências Bibliográficas

 

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CHAMPLIN, R.N. O Novo Testamento Interpretado. 9ª ed. São Paulo: Candeia, 1995.

 

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[1] Artigo redigido para Conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Docência Universitária– Centro Universitário Adventista de São Paulo- Campus 2, na cidade de Engenheiro Coelho, 2012, sob a orientação da Profª. Dra. Marinalva Imaculada Cuzin.


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