A Essência Do Amor



Segundo um dos maiores filósofos franceses Jean Paul Sartre a existência precede a essência. Segundo Sartre aquilo que nominalmente chamamos essência e que idealmente reproduzimos como o miolo sagrado do homem nada mais é do que um conteúdo que acumulamos ao longo da nossa existência. Para o filosofo francês não há uma essência nata no homem, ele a adquire com o rolar da vida, ele a absorve das coisas foras de si e as internaliza em forma de personalidade, características pessoais e valores.

Frente a isto nos vem a pergunta: o que é minha essência ?Tenho uma ? O que faz de mim alguém único ? e do outro alguém insubstituível ? Estas perguntas são bem compreensíveis para quem já amou. É engraçado como amamos as pessoas: nós as amamos ( se amamos de verdade ) pelo conjunto. É o jeito, a conversa, a inteligência, a simplicidade, os gostos dela e por ai vai. Talvez nem tudo nos agrade, mas quando amamos até mesmo o que nos desagrada nós aceitamos porque é parte daquela pessoa. Mas ai volta a pergunta: o que amamos distintamente nas pessoas ? Seria o que chamamos de essência?

Na Espanha e em alguns outros paises europeus surgiu um novo costume na culinária que é muito engraçado. É uma diversão com os pratos oferecidos, chama-se, ´´ desconstrução do prato ``. É algo mais ou menos assim: é servido a você um arroz, com todo aspecto do arroz, mas ao comer você sentira o sabor de uma saborosa feijoada. É um embaraço para os lobos do córtex, pois você vê uma coisa, e ao comer com a espera pré programada de um sabor que já esta fixo no seu cérebro, você se depara com algo não esperado. E neste caso alimentício, onde esta a essência do alimento: aspecto? Sabor? Cheiro? Difícil de dizer!

Um outro exemplo poderíamos ver num filme de um amor malgrado pela tragédia de um dos pares ter sido assassinado. Golhst do outro lado da vida. Conta a história de um belo casal que no ápice de seu amor sofre o infortúnio de repentinamente ver assassinado o homem da relação. A mulher então perde seu chão, seu ideal, seu Adão e se vê só na vida. Mas neste filme o amor transpõe as barreiras até mesmo da morte e a alma do amado começa uma peregrinação, é uma daquelas ditas almas penadas que não caça seu rumo e não vai nem pro inferno e nem pro céu, fica no mundo esperando amor, perdão e compreensão dos vivos. Ele então, aliás, sua alma, fica vagando e tentando se comunicar com ela, mas se vê impossibilitado até que, começa atormentar uma médium caloteira até que ela o faça ter um contato com sua amada. Mas a parte que me chamou atenção foi quanto a alma dele incorpora na médium para por meio do corpo dela dar um beijo em sua amada. Para ela deveria ser estranho, já que a médium não era nada bela e não parecia em nada com seu amor, mas sabendo ela que o desejo, a força, a atração e o amor que movia aquele beijo vinha do seu amado, ela aceitou aquela condição e se entregou ao beijo. Já pensou sobre isso: a alma da pessoa que você ama em outro corpo? É estranho não? Mas é ai que percebemos que o amor possui uma essência e as pessoas também, e é isso que não se esvai nunca. Quando penso nisso compreendo porque se acredita em reencarnação e em contatos de almas com os vivos. Embora eu não creia nestas realidades, vejo-as como a ultima ´´esperança desesperada `` de uma ponte com aqueles que amamos. Veja como é interessante: no filme a mulher só aceitou o fato da alma de seu amado esta querendo lhe comunicar quando a médium lhe revelou coisas intimas de sua relação com seu falecido amor. Estas coisas intimas lhe fizera ver a verdade.

Parece-me que não só as pessoas tem uma essência, algo que as difere de tudo e todos, como o amor entre as pessoas também tem uma essência, algo peculiar, próprio e insubstituível.

O que buscamos no outro? O que de fato amamos no outro? Não poderia ser suas qualidades do tipo: inteligência, por que isso outros tem. Não deveria ser o formato do corpo porque isso muda e rápido demais. Não pode ser coisa que me desperte apenas um sentido, deve ser um conjunto, um todo único, uma combinação tão bem elaborada que é irrepitível, é como as digitais ou o código genético.

Li certa vez a história de um homem que fora enviado a guerra para defender sua nação. Era um sargento. Mas sua dor foi tremenda, pois deixou para trás aquela que ele tanto amava. Ele todos os dias ao acordar olhava nos olhos de sua amável esposa e dizia: eu me vejo em seus olhos! Ela sorria e eles se beijavam. Haviam a pouco se casados, mas a guerra todos sabem, dividiu em sua trágica longa história, muitos corações. Mas entre as lágrimas da partida ele prometeu: ficaremos juntos de novo! A guerra foi longa e os anos se desenrolaram e quando ele voltou, sua terra havia sido devastada pelo inimigo. Ele não sabia se ela tinha morrido. Enlouqueceu. Uivou e urrou de dor. Dor de amor frustrado, de amor perdido, desencontrado. Ele procurou-a por mais uns longos anos e não a encontrou, até que seu amor foi adormecido e ele não quis mais arrumar outra esposa, mas sua carne pediu que arrumasse outra carne e dividisse o calor da paixão e ele assim o fez. Começou a freqüentar prostíbulos. Já era um homem envelhecido pelo tempo e magoado pela dor da perda. Saiu para guerra ainda na sua mocidade e agora já passara dos cinqüenta. E então sempre que sua dor era sufocante, ele procurava uma prostituta e se entretinha num coito que era ao mesmo tempo tão vazio quanto frio. Até que certa noite ele se arrastou a uma casa noturna e novamente se deitou com uma prostituta num quarto escuro, mas essa noite foi diferente, ele estava cansado e acabou dormindo junto da prostituta até o raiar das primeiras luzes do dia e foi quando ele acordando e ela também, se entreolharam e a surpresa: era sua amada perdida! Ela estava mudada e ele também, fisicamente eram irreconhecíveis, mas a força do amor dos dois os revelou. Ele se viu no olhar dela, no olhar do amor. Os olhos estavam mais enrugados, mas o olhar era o mesmo. E ele se viu por que o amor nos descobre, nos revela na alma, nos desnuda e nos mostra tal qual somos na essência. O caminho da prostituição de ambos, era o meio de fugirem de si mesmos, de se esquecerem que amavam e que eram amados. Era melhor não ser de ninguém sendo de todo mundo. Mas ao se verem frente ao amor verdadeiro, eles se viram. E o amor pede exclusividade, não aceita prostituição, ou seja, não ser de ninguém, esse é o pior mal da prostituição. Na essência do amor se encontraram e no encontro se revelaram em sua essência.


Autor: Rodrigo Virtuoso


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