Ato Potência – O Poder De Fazer



Como é que se explica o ato potência no texto Críton?

O elemento potencializador da vontade e do querer é a ligação do homem com sua consciência e as raízes plantadas nessa. Significa dizer que a presença da ética, da moral e de outras virtudes possibilitam à construção do poder de fazer, e, por outro lado, a fé, a liberdade e a filosofia (princípios bazilares) fazem com que o homem acredite que existe a possibilidade de concretude em REALIZAR SEU QUERER.

É necessário que o homem detenha uma crítica apurada para compreender o fazer. Acredita-se que para existir o fazer é necessário um requisito básico: a liberdade. Só existe o poder de fazer quando liberdade. Por exemplo, um país tem que ser democrático de Direito para que seu povo detenha em "mãos" a possibilidade de poder se expressar, de poder ir e vir, de ficar, permanecer e estar em algum lugar, como também o direito de poder dizer o que é a vida e lutar por ela.

Gandi, Sócrates e tantos outros, através de um acreditar, de um querer original, ou seja, um querer interior materializado para o exterior, fizeram de suas vidas exemplos de como atingir a verdade, a virtude, a ética e o amor. O que eles pregavam condizia com aquilo que acreditavam ser o mais certo e o melhor para as vidas, desvinculando-se da mentira, da falsidade, da perversidade presente na sociedade, e, para que isso fosse possível, fez-se necessário ser livre até de si mesmo, ou seja, do corpo, dos pensamentos mundanos e do espírito para pregar a verdade da consciência, da virtualidade, da moralidade e da espiritualidade trazidas pela luz da sabedoria.

Já dizia Khalil Gibran como atingir essa liberdade:

"Vós só podereis ser livre quando o desejo de buscar a liberdade tornar-se uma canga e quando cessardes de falar de liberdade como um objetivo euma meta a ser atingida.

Só sereis verdadeiramente livres não quando vossos dias não tiverem uma única preocupação, e vossas noites não tiverem uma única necessidade e uma tristeza,

Mas quando estas coisas sujeitarem a vossa vida e mesmo assim vos elevardes sobre elas, sem vestes e sem amarras."(pág.:63

Para Sócrates, ele era o seu Mestre e o seu Guia. Os seus pensamentos, a certeza da pregação do bem e o que tinha de mais verdadeiro dentro de si ratificavam a existência de uma sabedoria interior chamada de "meu próprio mestre". Para ele, o homem conseguiria encontrar a paz interior quando fizesse jus ao seu modo de pensar. E dessa forma muitos poetas, filósofos e profetas pensaram o mesmo.

Faz-se necessário abordar as belas palavras de Walt Whitman:

"Eu canto a meu próprio Ser, pessoa em si e à parte,

Embora expresse o verbo democrático, a expressão das massas. A fisiologia, o que vai da cabeça aos pés, eu canto,

Não apenas a fisionomia, nem o cérebro somente é digno da Musa, [eu digo que a forma completa é muito mais valiosa,

A fêmea, tanto quanto o macho, eu canto.

Da vida plena de paixão, pulso e poderio,

Cheio de alegria, porque, pela forma mais livre que há debaixo das[leis de Deus,

O homem moderno eu canto. (pág.: 25)

E para que o homem seja ele mesmo é necessário ser livre como diz o poeta Fernando Pessoa nas palavras:

" A liberdade, sim, a liberdade! A verdadeira liberdade!

Pensar sem desejos nem convicções. Ser dono de si mesmo sem influência de romances! Existir sem Freud nem aeroplanos, Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço! A liberdade do vagar, do pensamento são, do amor às coisas naturais

A liberdade de amar a moral que é preciso dar à vida! Como o luar quando as nuvens abrem [A grande liberdade cristã da minha infância que rezava [Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim...

A liberdade, a lucidez, o raciocínio coerente, A noção jurídica da alma dos outros como humana, A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez [Gozar os campos sem referencia a coisa nenhuma E beber água como se fosse todos os vinhos do mundo!..."(Pág.: 363)

Em algumas passagens do texto, percebe-se a preocupação de Críton em libertar Sócrates para que a sociedade não o visse como um mal amigo e falasse da sua atitude negativa de não salvar Sócrates da morte. Todavia, Sócrates o ensinou, naquele momento, que não se deve preocupar com o que os outros falam, mas, é imprescindível que se tenha um bom coração, seja fiel aos pensamentos, a verdade, a dignidade e, por fim, ter uma consciência limpa.

Contudo, sabe-se que Sócrates morreu tentando defender suas teorias, e nem ele mesmo conseguiu ser livre verdadeiramente.

Se houvesse a fuga de Sócrates, numa tentativa de se salvar, ele derrotaria o discurso de uma vida toda de pregações. Poderia salvar a sua pele, mas não salvaria a sua alma. Alguém que pregava o respeito às leis, mesmo que estas fossem más, nunca poderia esquivar-se de ser julgado por elas. Hoje, entende-se que a fuga de Sócrates seria o mesmo que desprezar as leis de seu país, envergonhar a sua familia e rejeitar o solo sagrado onde encontravam enterrados seus descendentes, seus deuses. Em terra nova, muda-se o costume, leis, linguagem e, dependendo do lugar, os deuses.

Sócrates morreu no intuito de reafirmar seu discurso e tudo que pregara ao longo da sua vida na Grécia. Deixou bastante claro que o seu corpo morreria, mas permaneceriam vivas as suas idéias- ficariam intactas para a humanidade.

Mais uma vez, percebe-se que Sócrates morreu reafirmando seu discurso de manter-se livre, perdendo a sua liberdade interna para tentar assegurar a sua liberdade externa.

Há uma pergunta que não quer calar: Porque Sócrates ensinou a Críton que não se deve dá ouvidos ao que os outros dizem, se ele mesmo ia entregar a vida para afirmar o seu discurso perante a sociedade? Quem é liberto de si e dos outros, como ele sempre formulou para se chegar á felicidade, não precisaria entregar a vida para que os outros acreditassem nele, bastava ele mesmo acreditar.

Firma-se com isto que o filosofo grego não era livre o suficiente. Queria demonstrar a sociedade a sua liberdade externa (de aparências), mas, não era livre internamente (no seu eu).

Liberdade ou você a tem ou você não a tem. Ela só se satisfaz em sua plenitude.

Por fim, fica entendido que o Ato potência (poder de fazer) somente se realizará se for possível a existência de uma liberdade interna e absoluta do homem, desvencilhando-o de todas as regras, fatores culturais e outros elementos que controlem direta ou inderetamente as suas atitudes. Há, em segundo plano, os princípios básicos que reafirmarão a possibilidade negativa de sofrer influências com o mundo: a verdade interior e a fé.


Autor: Diego Bruno de Souza Pires


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