A visão saussuriana: linguagem, língua e fala
CORREA, Manoel Luiz Gonçalves. A visão saussuriana: linguagem, língua e fala. In: CORREA, Manoel Luiz Gonçalves. Linguagem e Comunicação Social: visões da Linguística Moderna. São Paulo: Parábola Editorial, 2003, p.22-27.
O texto discute a distinção entre linguagem, língua e fala a partir da obra póstuma de Saussure, Curso de Linguística Geral, apreendendo noções e conceitos na circunscrição do objeto da Linguística.
Desse modo, entende-se linguagem como faculdade própria do ser humano, tendo sua abrangência universal. Diferentemente, a língua é o produto da capacidade humana de produzir signos e arranjá-los em sistemas, com o grau de abrangência para o campo de produção social. Já, a fala, que se opõe a língua, é definida como específica do indivíduo, ou seja, restrita ao falante e suas capacidades.
É por meio dessa distinção que Saussure constrói o objeto que tornou a Linguística uma ciência, com base na ideia de totalidade sistêmica da língua e seu caráter homogêneo e autônomo.
No entanto, Correa (2003) afirma que desde os primórdios a Linguística dispunha de método científico de análise, como por exemplo, o método comparativo que serviu por muito tempo para explicar os fatos da língua, sendo um avanço, em termos científicos, em relação ao trabalho de outras Ciências Humanas.
Para tanto, o autor descreve as escolhas teóricas e as exclusões feitas por Saussure na construção do objeto para ciência Linguística. Podemos destacar as seguintes escolhas: a ênfase da construção da língua pela coletividade; a proposição de um sistema de signos; proposição numa sincronia, equilíbrio relativo da língua; considerar a língua como instituição social; preocupação no estudo da língua como sistema autônomo e homogêneo; e preposição de uma disciplina científica que observasse o funcionamento interno do sistema.
Por outro lado, fez algumas exclusões que são alvos de críticas nos estudos linguísticos atuais, como: desconsiderar o caráter dinâmico da língua, as variações linguísticas, os fatores de ordem externa, além do caráter sócio-ideológico da linguagem e etc.
Por fim, nota-se a relevância dos ensinamentos de Saussure em torno da construção do objeto da Linguística, mas, por outro lado, há lacunas na sua teoria que precisamos superar para podermos pensar e analisar os fenômenos linguísticos, em especial, aplicados à educação, consoante ao entendimento de que é preciso considerar a heterogeneidade linguística e, principalmente, o caráter sócio-ideológico da língua.