Língua e Ensino: políticas de fechamento
MENDONÇA, Marina Célia. Língua e Ensino: políticas de fechamento. In: MUSSALIN, Fernanda & BENTES, Anna Christina. Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2009, 233-262.
O texto aborda as relações de língua e ensino mediante a reflexão dos avanços e das contribuições da Linguística no ensino da língua, ao passo que problematiza as práticas de leitura e produção de texto na escola, tendo como base a concepção bakhtiniana de linguagem e os fundamentos da análise do discurso.
Para tanto, apresenta diferentes concepções de gramática que embasam as práticas de ensino, de forma que percebemos a visão de língua e de sujeito que se tem em cada tipo de gramática apresentada, destacando também o caráter sócio-ideológico de cada uma. A imagem que temos de norma culta, por exemplo, é formada a partir de um discurso autorizado da escola e, por isso, essa imagem se distancia do uso real dos falantes dessa norma.
Para Mendonça (2009), deve-se considerar o caráter ideológico da língua, pois “não há palavra sem valor ideológico” e todo discurso se constrói em função do outro por meio do processo de interação. Por isso, afirma que o discurso é heterogêneo, pois nele se fazem presentes outros discursos (polifonia).
No entanto, há mecanismos disciplinares presentes na nossa sociedade que atuam na tentativa de esquecermos essa heterogeneidade discursiva, chamados de políticas de fechamento, uma vez que fecham as possibilidades de trabalho da língua na escola.
Desse modo, entende-se que esses mecanismos de controle do discurso e do sujeito são processos de homogeneização e silenciamentos dos sentidos, decorrentes do papel dos formadores de opinião como a mídia, a escola, o livro didático e outros, que visam combater a heterogeneidade e imprevisibilidade do discurso e reforçar as ideias e valores linguisticos equivocados.
Na escola, as políticas de fechamento são descritas no silenciamento de sentidos dos textos, num banimento das variedades linguísticas não privilegiadas que destituem a autonomia do sujeito na realização dos seus atos de linguagem. Assim, os questionários nos exercícios de leitura, ou a apresentação de único modelo de produção textual, ou a idéia de que há apenas uma forma de se expressar, impedem que o aluno desenvolva suas competências textuais e comunicativas, já que não se considera outras possibilidades de leitura, de produção de texto e de outras variedades, mediante a imagem de língua que a sociedade tem.
Essa ideia adentra-se no sistema de apropriação do conhecimento de modo que direciona o trabalho do professor e institui o que deve ser a disciplina Língua Portuguesa.
Entretanto, a autora apresenta alguns caminhos alternativos para o trabalho do docente no ensino da língua, considerando que só é possível esse trabalho no entrelaçamento de diversas atividades.
De um modo geral, o texto de Mendonça (2009) nos faz refletir sobre as nossas práticas pedagógicas e da necessidade de análise dos livros didáticos que adotamos em sala de aula e, principalmente, ressalvar a importância do papel do professor no processo de transformação do ensino da língua, de forma que subsidie a formação dos sujeitos ativos e autônomos no processo de aprendizagem.