O Silêncio De Maria!



Tomamos conhecimento de Maria através das Escrituras Sagradas, lá nós encontramos as poucas, as ínfimas informações sobre ela. Todavia, tal constatação não revela uma possível insignificância da pessoa e missão de Maria. Digo isto, por nascermos numa sociedade ocidental, onde mais falamos do que agimos e isso acontece pela importância agigantada que conferimos à retórica. Como base nessa mentalidade Maria acaba que sedo entendida como uma figura pouco importante, o que não é verdade. Realmente, alguns personagens bíblicos como: Abraão, David, Salomão e Paulo foram mais citados, tiveram mais espaços e são narrados por numerosas páginas, o que não acontece com Maria.

Diz o texto do Evangelho sobre Maria: "Aquela que ouve, guarda no coração e põe em prática a palavra." Quando Deus declara a Sua predileção, a Sua eleição a Maria, esta não cria obstáculos, embora não entendesse como se daria os desígnios do Pai – "Bendita és tu entre todas as mulheres e bendito o fruto do teu ventre." (Lc 1, 42). Maria não se escandaliza, simplesmente proferi as palavras: "Faça-se em mim segundo a Tua palavra." (Lc 1,38). Ela deixa-se ser um barro na mão do Oleiro (Deus) a ganhar formas. E vence o possível desejo de gritar aos quatro cantos da Terra Santa o seu estado de graça perante o Todo Poderoso. Contrariando a lógica da vaidade, Maria põe-se ao encontro de Isabel para servi-la. (Lc 1, 39-40) Maria conhecia as Sagradas Escrituras e sabia que "quem despreza a palavra se perderá." (Provérbios 13, 13a).

Acho que nesse momento cabe uma reflexão: durante toda a história da Igreja, Maria é aclamada por Rainha, por Senhora, títulos que foram e estão sendo confirmadas pelas elites políticas, intelectuais e pela tradição Católica Romana. Contudo, se consultássemos Maria e a perguntássemos: "Agrada-te tais títulos?" Não sei (!), mas, possivelmente nos surpreenderíamos com a reposta: "Não!"

Maria é simples. Ela nasce no seio da pobreza, sofre com as imposições absurdas do Templo e as Tradições da Igreja de Esdras com suas leis de purificação (Lc 2, 23-25ª) e anseia por ver a derrocada dos grandes exploradores (Lc 1, 52-53). As imagens ornadas de ouro e riqueza não condizem com a simplicidade de Maria.

Ser Mãe de Jesus não confundiu a missão servil de Maria perante o povo de Deus. Maria dos pobres, Maria das dores, dos excluídos, dos desvalidos, desamparados, dos rejeitados, das espancadas e prostituídas, dos que sofrem todo tido de preconceito, dos que tem fome e sede de justiça... No popular, Maria dos abandonados dos quebrantados por um sistema vil, cruel e corrupto.

Não estou dizendo que Maria não seja digna de toda forma de carinho, mas exageramos quando a transformamos em uma 'Dondoquinha Celestial', coberta por luxo divino. Maria é povo, é sertaneja, é negra, é índia é de todos! É virgem, pois não se deixou contaminar pela vaidade e orgulho tão conhecidos nossos. Não perco tempo nas divagações dogmais marianas: 'assunta aos céus! Virgem, não virgem!' Até gosto de pensar que Maria teve outros filhos, pois a aproxima de mim (Mt 47, 49-50).

Entendo que algumas aclamações são extrapoladas e que a própria Maria, a D. Maria, a Mariazinha pense: "Mas, isso pertence a Deus que é Pai e Mãe!" Maria é Mãe! Sinto-me filho dela (Jo 19, 26-27), pois apenas o filho insensato despreza sua mãe. (Pr 15, 20). Sei que Maria se importa com seus filhos (Jo 2, 3-5) e acolhe-os no seu colo, o primeiro altar de Jesus Cristo.

É bom pensar em Maria limpando o terreiro, ajudando e acarinhando José, recebendo os vizinhos em sua casa, indo à sinagoga, ensinando Jesus a andar, chorando de preocupação com a febre alta de seu Filho, adorando o Seu Deus. Gosto de pensar em Maria enraizada na sua cultura, uma humana, pé no chão. Maria de poucas palavras e ações convictas, Maria de silêncio, mas de gestos eloquentes.Maria minha Mãeinha!


Autor: ANTÔNIO SOUZA


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