ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA ESCRITA E DA LEITURA



 ASPÉCTOS FUNDAMENTAIS DA ESCRITA E DA LEITURA

AUTORAS -SUÉLI APARECIDA RANGEL

                  FABIANA ALVES MORAES RANGEL

 RESUMO

Este artigo relata aspectos fundamentais desenvolvidos por crianças a partir de 2 anos com relação a escrita e leitura, segundo as educadoras Emilia Ferreiro e Ana Teberosk..

É importante lembrar que o desenvolvimento infantil, principalmente nos primeiros anos de vida acontece de forma singular entre as crianças em seus primeiros anos escolar, sendo assim, são considerados os conhecimentos e valores culturais que a criança já tem e progressivamente, como educadoras deveremos garantir ampliação de forma a possibilitar que a criança  construa com autonomia, criatividade e responsabilidade sua formação de conhecimento e auto estima que levam á formação do cidadão atual.

 PALAVRA CHAVE >Alfabetização, leitura, escrita.

 INTRODUÇÃO

 Atualmente, existem grandes interesses e ao mesmo tempo grandes preocupações em buscar resultados eficazes  nos estudos da aprendizagem das crianças nas séries iniciais. Busca esta que leve a criança a um processo aprendizagem que modifique a estrutura atual e que ao mesmo tempo impulsione a ação de aprender, seja ela qual for, mas que alcance um objetivo, uma meta, ou seja,  que impulsione algo, que mobilize a criança em direção a aprendizagem de sociabilidade e de desenvolvimento evoluindo ao longo de sua caminhada na construção do conhecimento.

Segundo Emilia Ferreiro e Ana Teberosk ( 1982). Os primeiros rabiscos deixados no papel pela criança assim que consegue pegar no lápis, com aproximadamente dois anos de idade é considerada por muitos estudiosos  como imitação mecânica do ato de escrever. Apesar de que estas escritas aos adultos nada querem dizer, para a criança embora a nível conceitual, já possuem significados lógicos e específicos, podendo se referir a esses rabiscos como se fossem desenhos ou palavras. Após seus rabiscos e interpeladas sobre os mesmo respondem com propriedade. É o papai, esta é minha escola, minha irmãzinha ou sua professora. Podemos então entender que os rabiscos podem ter significados diferentes para os adultos e pela criança que os fez.

Em uma de suas falas Emilia diz que “Uma das maiores maldades que se pode causar a uma criança é levá-la a perder a confiança na sua própria capacidade de pensar”. Sendo assim, numa mesma atividade a criança usa tanto as garatujas quanto algumas entradas da fase icônica, sendo que, esta transição das garatujas para a fase icônica só se dará por completo à medida que a criança  for crescendo e a medida que lhe for dado a oportunidade de folhar revistas, jornais, fotos, livros infantis e demais materiais impressos levando-as a interpretar as gravuras que irão visualizando em determinados momentos e representando em outros  com lápis, giz de cera, pincel atômico e muitas folhas brancas. Estas representações serão as representações gráficas de seu pensamento através de desenhos, onde a criança por sua vez estará deixando espontaneamente a fase das garatujas  entrando na fase icônica.

Nesta fase a criança vivência hipóteses de que escrever é desenhar e seus desenhos são escritos e tenta representar o objeto desenhado através do que acredita ser a escrita. É claro que sua escrita ainda estará bem distante do objetivo desejado, no entanto, apesar de efetuar desenhos com formas ainda indefinidas está no caminho de se aperfeiçoar a cada dia até chegar à representação bem definida de determinado objeto desenhado e como já foi mencionado, a cada estímulo que a criança terá durante sua jornada é que definirá o tempo que levará para alcançar o aperfeiçoamento em sua representação gráfica. Tudo dependerá da família, escola e das oportunidades  que lhe serão dadas e não sua idade especificamente.

A cada dia, a criança irá avançando em seu aprendizado e é claro num dado momento passará a perceber que escrever não é desenhar e inconscientemente irá diferenciar desenho de escrita passando para o nível 1 ou fase pré silábica como diz Emilia Ferreiro.

A criança ao chegar ao nível 1, nitidamente  passa a reproduzir rabiscos típicos da escrita que terá como forma básica, podendo ser letra cursiva ou letra bastão, trabalhando basicamente com a letras que lhe for apresentada na escola e fará seus rabiscos separados por retas e curvas de forma a imitar a letra de imprensa apresentado pela professora, por outro lado, se lhe for apresentado a letra cursiva fará grafismos ondulados usando sempre os mesmos sinais gráficos podendo inclusive ser letras convencionais ou símbolos.

Símbolos estes que poderão possuir realismo nominal, porque a crianças na fase pré-silábica acha que as coisas ou pessoas possuem relação com seu tamanho ou com sua idade. Acreditam  que coisas grandes possuem nome grande e coisas pequenas possuem nomes pequenos, a exemplo disso ao escrever VACA a criança lembra o tamanho do animal e por isso escreve a palavras com muitas letras, chegando as vezes a utilizar a largura da folha de seu caderno e se for escrever FORMIGUINHA colocará poucas letra acreditando ser este nome bem pequeno como a formiga.

Nesta fase a criança faz uma leitura global do que irá escrever, não separando os elementos das palavras, acredita que cada letra ou sinal vale pelo todo e quando alcança a diferenciação qualitativa inter-relacional está no nível pré-silábico que é uma sub-fase do nível 1, porém a criança nesta fase descobre que coisas diferentes podem ter nomes diferentes utilizando de diferentes grafias nas palavras, mudando apenas a ordem das letras, letras estas que maioria das vezes são as de seu nome que irá repeti-las o tempo todo não podendo conseqüentemente ser lidas ou interpretadas e é claro que tanto no nível 1 quanto no nível 2 a escrita não está regulada por diferenças ou semelhanças entre o significado sonoro.

A aprendizagem da criança exige um grande esforço intelectual e é preciso que a mesma deverá dedicar-se com perseverança na construção de seu intelecto.

As palavras que forem rabiscadas com menos de três sinais ou letras não servem para ler, por isso ela não irá escrever palavras com menos de três letras. Nesta fase de hipóteses quantitativas, as palavras só poderão dizer “algo” se tiverem no mínimo três letras passando então a explorar critérios que lhes permitam variações sobre sua escrita, utilizando quantidades diferentes de letras de uma escrita para outra  ou por ainda não conhecerem uma grande variedade de letras somente irá variar a posição das mesmas sem modificar a quantidade de acordo com a palavra sugerida ou pretendida.

Desta forma, nesta fase é muito importante que a criança tenha contato com as letras convencionais a partir do seu próprio nome ou alfabeto móvel, senão ficará por muito tempo ao nível 1, que consiste em repetir as letras que conhece.

É importante que nesta fase trabalhe com textos orais e escritos, frases, palavras soltas dentre outras atividades.

Para chegar ao nível 3 que é o silábico, é imprescindível chamar a atenção da criança para atividades sonoras porque neste período será significante a fonetização da escrita.

Ao fazer a descoberta dos sons e da fala à criança irá se iniciar com o período silábico e conseqüentemente este se  culminará no período que chegará a hipótese de que a escrita representa a fala, fazendo conseqüentemente correspondência entre elas permitindo-lhe regular a variação na quantidade das letras que deverá utilizar em cada palavras e também porque a sonorização das palavras centra sua atenção nas variações sonoras entre as palavras que ouve e a escrita.

Nesta fase é interessante observar as contradições e os conflitos presentes na concepção de escrita criança. Ela possui dúvidas quanto às palavras monossílabas porque acredita que a palavra deveria ser escrita com uma única letra, assim a escrita não poderá ser lida. Como poderia  então escrever PÉ, SOL ou MAR = Será que a escrita do adulto possui mais letras do que a hipótese silábica = Ela poderá representar a palavra PÉ usando unicamente a letra E que significa pé para ao modo de ver da criança. E hipoteticamente ao observar sua escrita os conflitos surgirão. A mesma dúvida terá ao escrever a palavra BOLA  que será escrita com as vogais O e A, não visualizando as consoantes B e L.

Isso não significa que sua capacidade para assimilar as  sílabas não foi  compreendido. Ela percebe as sílabas tanto orais quanto escrita, isso acontece porque nesta fase a criança mesmo treinando as famílias silábicas não as emprega na sua escrita silábica.

Muitas vezes chega ao final do ano e ainda terá crianças que não é capaz de utilizar na sua escrita nenhuma sílaba, pois considera dentro do seu nível silábico que uma letra  é uma sílaba. Sendo assim, a sílaba para ela ainda não é observável e esta dificuldade só será sanada no nível 4, silábica alfabética. Nível este que perceberá que a sílaba só será formada com a junção das consoantes e as vogais. Provavelmente esta criança terminará a pré-escola ainda no nível 3 , silábico.

Devido ao método silábico, comumente ensinado na maioria das escolas, esta criança teria alcançado ao nível 5 – alfabético, caso a escola mudasse sua forma de alfabetizar.

 O ensino que tradicionalmente é transmitido nas escolas é comum a criança demorar muito mais tempo a cada nível e às vezes não evoluem em seu processo aprendizagem e muitas vezes são considerados deficientes, incapazes ou com dificuldades de aprendizagem e as que avançam com o método silábico possivelmente já alcançaram o nível 4 – silábico-alfabético e chegam rapidamente ao nível  sem maiores dificuldades.

Essas crianças não chegam  ao nível 4 trabalhando com as famílias silábicas, elas só evoluíram com atividades lúdicas, jogos alfabéticos, silabas móveis, e demais atividades que lhes permitiram construir e comparar as palavras, as silabas e demais atividades específicas a este nível.

Compete ao professor trabalhar ao mesmo tempo leitura e escrita senão correrá o risco de que a criança fique defasada numa ou noutra aprendizagem.

É comum também nesta fase que reconheçam e leiam as sílabas simples, porém não sabem empregá-las na escrita.  Nesta fase a leitura é visual por isso,  observamos que para a criança é mais fácil ler que escrever.

Cada aluno tem sua própria forma de aprender, isto tem de ser respeitado. É importante que o professor que é subjacente à construção deste processo de aprendizagem respeite as necessidades de cada aluno assim, logo o mesmo chegará ao nível desejado sem que precise usar de recursos mirabolantes.

Vale ressaltar também que nesta fase o aluno pode utilizar a leitura da soletração. Isso é normal segundo Emilia Ferreiro e Ana Teberosk em seus estudos... “Porém necessário para alguns alunos”...

Passar do nível silábico para o nível silábico-alfabético é muito importante que esteja claro para a criança como se constroem a silaba na formação da palavra. Isto lhe será possibilitado com atividades de jogos com alfabeto móvel, onde poderá colocar uma consoante e ao lado as vogais, descobrindo assim as famílias silábicas transpondo a cada palavra construída seu conhecimento para as demais consoantes e vogais, ampliando a cada dia seu vocabulário.

Esta hipótese silábica, ao chegar nesta fase marca o período de transição entre os esquemas prévios em vias de ser abandonadas, construindo assim outras hipóteses silábicas. Este é o período onde cada criança descobre que a sílaba não pode ser considerada como unidade, mas que é composta de elementos menores, entende também que não basta uma letra por sílaba, que não poderá duplicar simplesmente a quantidade de letras por sílabas, conseguindo então perceber que há  sílabas com uma, duas, três ou mais letras.  Percebe também que a identidade do som não garante a identidade das letras e nem vice-versa,  percebe que existem palavras com o mesmo som e com várias letras e com som parecido mas com escrita utilizando letras diferentes. Ex, xícara e chinelo, selo e cedo etc.

A criança enfrenta novos problemas. Problemas estes quantitativos e qualitativos, descobre que o esquema de uma letra por sílaba não funciona, então procura acrescentar letras à escrita da fase anterior. Esta fase é caracterizada pela omissão de letras, pode grafar algumas sílabas completas e outras incompletas, podendo ser a primeira sílaba ou a ultima, mesclando as fases  silábicas e silábicas- alfabéticas. Fase esta considerada progressão e não retrocesso considerado então nível 5-alfabético, já que consideravelmente atingiu a compreensão do sistema de representação da linguagem escrita proposto pela escola.

A criança silábica percebe que a palavra escrita é constituída  de letras que juntas formam as sílabas, É capaz de fazer a análise sonora dos fonemas da palavras, descobrindo que cada letra corresponde a valores menores que a sílaba e as diferencia ao ouvi-las na oralidade.

É evidente que este avanço não significa que as dificuldades estejam sanadas, muitas dificuldades ainda estão  por serem vencidas, será a partir daí que surgirão os problemas relativos a ortografia que com muita paciência serão tratadas no período pós-alfabetização, período que estará fazendo atividades que enfatizarão a construção da base ortográfica da crianças nas séries iniciais.

Vale lembrar que a passagem da criança por cada nível aqui mencionado, será feito de forma natural e a evolução da escrita dependerá dos estímulos e oportunidades que a criança terá ao longo de sua aprendizagem.

Por isso, não existe uma correspondência nem com a idade da criança nem com o nível de escrita ou série escolar.

Cada criança descobrirá seu tempo de aprendizagem conforme seus estímulos e oportunidades oferecidas ao longo de sua escolaridade. É muito importante, no entanto, que a criança na fase alfabética ela possa começar a descobrir que as partes da escrita podem corresponder  a outras tantas partes da palavra escrita que são as sílabas, formulando hipóteses de que cada letra vale por uma sílaba, sendo neste primeiro momento da grafia diferenciada e sem que as letras tenham seu valor sonoro convencional;

É claro que cada criança num grau de evolução maior ou menor empregam em suas grafias vogais e até consoantes tendo já o seu valor convencional, porque nesta fase já empregam vogais e consoantes nas silabas simples e até complexas que querem escrever.

Neste nível 5 alfabético, atinge a compreensão do sistema de representação da linguagem escrita e conseqüentemente da oralidade.

Cabe ao educador evidenciar este aprendizado com atividades criativas e que levem a criança a pensar e buscar soluções as sua dificuldades, potencializando assim a fase alfabética.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam as mais diferentes formas de  linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e de criarem hipóteses originais sobre aquilo que buscam desenvolver no seu dia a dia na escola ou fora dela e, para fundamentar estes processos buscamos intervenções para garantir que este aprendizado já adquirido pelo aluno seja satisfatório.

Porém a problemática quanto as dificuldades encontradas  em ensinar ler e escrever continua. O que nitidamente mudou foram as prováveis soluções que tem buscado os educadores das séries iniciais. Preocupações estas para que a aprendizagem tenha significado para cada aluno. Com isso, é importante que se respeite cada nível que o aluno apresente, pois vivenciar estas etapas de aprendizagem permitem a criança conhecer sua própria aprendizagem na prática, considerando suas opiniões, interesses, criatividades trazidas de seu conhecimento prévio e somando a eles novos conhecimentos que possivelmente possibilitam um elo integrador entre os aspectos cognitivos, motores, afetivos e sociais que a criança necessita para construir seu próprio aprendizado.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ALMEIDA, Paulo Nunes. Educação Lúdica Técnica e Jogos Pedagógicos. Ed. São Paulo-S.P. 2003 11ª edição

.WALLON, Henri. As Origens do Pensamento da Criança, São Paulo > Manole, 1989.

 FERREIRO, Emilia. Alfabetização em Processo São Paulo Cortez, 1985

 CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização sem o ba, be , bi, bo, bu, 1ª edição São Paulo Scipione, 1996

 Sobre Suéli Aparecida Rangel, pedagoga, pós-graduada em Filosofia e Sociologia na Educação Básica,  e lecionando nas séries iniciais do ensino fundamental na rede Estadual de Cuiabá - Mato Grosso.


Autor: Suéli Aparecida Rangel


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