Marcha Soldado, Cabeça De Papel



Marcha soldado, cabeça de papel. Assim, a garotada de antigamente, na sua gostosa irresponsabilidade da meninice, brincava o 7 de Setembro, o Dia da Independência, logo após terem assistido ao desfile das corporações e das escolas.

Nesta ocasião não faltava a apresentação de senhores de cabeça branca que num dia histórico da pátria haviam por ela lutado, e no 7 de Setembro, exibiam, orgulhosos, suas medalhas de combatentes. Aos mortos, flores.

Brincava montada em cavalos imaginários feitos de cabo de vassoura. Como complemento, na cabeça, o tradicional chapeuzinho de jornal velho confeccionado pelo pai, pelo avô, pelo vizinho, detalhe sem importância.

Alguns, levando mais a sério a brincadeira militar, empunhavamespadas fabricadas de qualquer material descartável encontrado no quintal. Brincavam e comemoravam a Independência. Fugidiamente lembravam de Pedro, até então escondido nas páginas dos livros de História. Aquelesoldado metade português, metade brasileiro, que majestosamente, um dia, havia empunhado a espada da esperança. Marcha soldado, cabeça de papel.

O 7 de Setembroagora é outro, mesmo que toda gente continue indo para a rua assistir a parada militar. Tem banda tocando música popular, garota de uniforme escolar lavado e passado especialmente para a festa, primeiras damas de cabelos escovados e em sentinela nos palanques oficiais.

Carros ornamentados, vendedor de sorvete e tacacá e os meninos de antigamente, ao invés de estarem nos seus inocentes cavalinhos decabo de vassoura,estão nas ruas soltando pipasem verde e amarelo. O papel saiu da cabeça e se transformou em pipas coloridas rumo aos céus de um Brasil nortista, povoado de uma brava gente brasileira, que faz de cada pipa um desejo de real liberdade.

A independência agora tem que ser a deter o trabalho certo todos os dias, da comida quente na mesa, a educação do filho assegurada além da Constituição, a saúde certinha, a serviço de toda gente. Pedro também é outro, de repente, não amava tanto o Brasil.

Marcha soldado, cabeça de valente. Empina, apara, soqueia, costura e trança a sua pipa. Leva-a ao alto como prova de que a liberdade não é tardia.


Autor: Jussara Whitaker


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