POR QUE AGENTE É ASSIM... PREOCUPADOS MAIS COM A DOENÇA DO QUE COM AS PESSOAS



O enfermeiro pode ter conquistado seu espaço devido ao passado de muitas lutas para se tornar profissão e de poder ter autonomia no mercado de trabalho. Muitos dos avanços, decorrente de cada época, tiveram seus prós e contras. Hoje, percebe-se que existe um distanciamento entre profissional e usuário. A necessidade de se igualar ou ultrapassar as ciências pode ter rompido com a essência da enfermagem que é o cuidado. É por essa razão que tanto o “cuidador” quanto quem recebe não reconhece essa ação no seu mais alto grau de complexidade. A expressão cuidador cabe ao enfermeiro, contudo, está destacada por que pode não se aplicar da forma correta para aqueles que têm a concepção de que o cuidado se restringe a procedimentos técnicos que possam diminuir ou erradicar a doença, sendo esse o caso, esse conceito de saúde pode estar inserido no modelo biomédico.

A enfermagem tem um passado respaldado no resultado percebido nos dias atuais, sabe-se que teve inicio como uma atividade sem remuneração e inserida na religião, qualquer pessoa que praticasse o cuidado em prol dos necessitados e dos doentes eram considerados enfermeiros. Entende-se que o cuidado mencionado era praticado de forma integral e que antes de se conhecer a expressão enfermagem, esse ato já era praticado de forma instintiva (OGUISSO, 2007). Pois, sabe-se, com base em Boff (1999), que o cuidado faz parte da raiz da humanidade. A autora Oguisso (2007) complementa dizendo que, tem origem desde o inicio da vida, e Waldow (2008) diz que, o cuidado é praticado como uma forma de sobrevivência e depois como uma forma de preocupação e solidariedade.

Segundo Saint-Exupéry (2006) o cuidado é expresso em atos de amor, carinho, compaixão. É necessário o se faça de forma continua para preservar a vida dos que necessitam de cuidados.

            O cuidado no passado estava ligado às mulheres que eram encarregadas de cuidar não apenas das crianças, mas também dos doentes, idosos e feridos. A prática do cuidar também teve influência do cristianismo na idade média no século XII, como uma atividade exercida por caridade, as doenças epidêmicas e as tragédias eram vistas como castigo divino que reforçavam superstições e misticismo (OGUISSO, 2007).

            No decorrer da trajetória, a enfermagem foi modificada, por Florence Nightingale, e passou a obter outros objetivos. Considerada a pioneira da enfermagem moderna, Florence contribuiu transformando a enfermagem em profissão no século XIX com a criação da primeira escola de enfermagem e após foram criadas outras escolas no mundo com o modelo modificado (OGUISSO, 2007).

            O objetivo de Florence era preparar enfermeiras para que servisse a medicina, a cirurgia e a higiene, e não aos profissionais destas áreas. A enfermagem moderna agora visa cuidar dos enfermos e está intrinsecamente ligada à medicina (OGUISSO, 2007). Esses aspectos mencionados, segundo Prado, Santos, Cubas (2009) fazem-se lembrar da concepção de saúde em que o profissional está mais preocupado com a doença do que com as pessoas, sendo predominante nos hospitais, e que teve inicio no período industrial e ainda prevalece nos dias de hoje.

            É por esse motivo que foi necessário a criação de um novo modelo assistencial que priorizasse a pessoa e possibilitasse ao cuidador enxergar o usuário como um todo, resolvendo suas necessidades de forma integral. Isso ocorreu por que o modelo biomédico não era o suficiente para atender a demanda da população. Sendo assim, esse período deu um novo caminho para enfermagem o de se tornar uma profissão independente das demais.

            Esse novo modelo assistencial atende pelo nome de SUS (Sistema único de saúde), criado no século XX que possibilitou um avanço significativo na enfermagem, pelo fato de que, tem a função de liderar, coordenar e organizar os serviços de saúde. Inserido ao sistema a nova concepção de saúde/doença, em que, agora não se fala mais em ausência de doença e sim em determinantes e condicionantes de saúde que com a existência ou a falta deles é possível ou não ser saudável. Esses podem ser caracterizados por salário, moradia, lazer e entre outros. (SANTOS, MIRANDA, 2007).

            Outro aspecto importante desta época foi à criação do Programa de Saúde da Família (PSF) que concretiza esse avanço especificando um espaço para a execução do trabalho da enfermagem coordenando uma equipe multiprofissional. (SANTOS, MIRANDA, 2007).

            O processo pelo qual a enfermagem passou para se tornar uma profissão autônoma e cientifica através das diversas possibilidades, fez com que ela se afastasse do seu trabalho de cuidar das pessoas. Tantas responsabilidades podem ter sido a causa da falta de reconhecimento mútuo do que é o verdadeiro cuidado, o que faz-se lembrar do fato de que o cuidado em sua essência é o principal objetivo da enfermagem, desvincular e esquecer deste propósito faz a profissão perder o foco que é cuidar em si mesmo. Por fim, entender o cuidado no seu mais alto grau de complexidade e com olhar holístico, enxergando a necessidade daqueles que necessitam e sabendo o que é saúde e doença, pode ser o principio para modificar a imagem de uma profissão que tem como objeto de trabalho o ser humano.

REFERÊNCIAS

  • SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe. Tradução de Marcos Barbosa. Rio de Janeiro. Agir. 2006.
  • OGUISSO, Taka. Trajetória legal da enfermagem. 2ª edição. Barueri. SP. Manola.2007.
  • BOFF, Leonardo. Saber cuidar. Ética do humano- Compaixão pela terra. Petrópolis. Rio de Janeiro. Vozes. 1999.
  • WALDOW, Vera Regina. Bases e princípios do conhecimento e da arte da enfermagem. Petrópolis. Rio de Janeiro, 2008.
  • SANTOS, Álvaro da Silva. MIRANDA, Maria Resende Camargo de. A enfermagem na gestão em atenção primária a saúde. Barueri, SP. Manole. 2007.
  • PRADO, E. V. SANTOS, A. L. CUBAS, M. R. Educação em saúde : ultilizando rádio como estratégia. 1. Ed. Curitiba. Editora CVR. 2009.
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Autor: Vanúsia Santos Ferreira


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