Luta Pela Dignidade



A palestina Leila Shahid vive exilada em território francês, travando um conflito existencial a cada dia, lutando para mostrar aos europeus o real retrato da causa palestina, tão vítima de estereótipos inverossímeis, que só tenderam a crescer após o 11 de setembro.

A tibetana Ngawang Sangdrol deste a infância luta contra a ocupação chinesa e pela defesa da liberdade de sua nação, o Tibete. Amparada pela fé budista, quase não resistiu quando foi presa por autoridades chinesas, passando nove anos sob torturas e sofrendo espancamentos, até que em 2002, com fortes problemas de saúde, sob forte pressão internacional, o governo de Pequim a libertou.

Os dois exemplos acima mostram duas mulheres que vivem no exílio, sonhando e ainda lutando pela liberdade de sua gente. Os dramas de Leila e Sangdrol são somente dois exemplos de quatorze relatos que encontramos no livro Mulheres Livres, que a editora Novo Conceito publicou recentemente no Brasil com apoio da Anistia Internacional, entidade que há mais de quarenta anos tem a missão de fazer respeitar os Direitos Humanos no mundo.

As jornalistas francesas Aurine Crémieu e Hélene Julien constroem um trabalho sério, onde a história dessas mulheres que lutam pela liberdade, histórias terríveis, de violência, como também de vitórias, de resistências, de solidariedade. As duas viajaram pelo mundo e quando não encontraram suas entrevistadas, conseguiram de maneiras mil, por email, cartas, testemunhos de pessoas próximas, livros e documentários para compor os relatos e a história devida de cada uma.

São 14 mulhees, originárias da Tunísia, do Malaui, dos Estados Unidos, da França, do Chile, do Paquistão, do Tibete, da Palestina, entre outros – inclusive três delas por razões de segurança tiveram seus nomes trocados e seus rostos não foram fotografados - que compõem um retrato bem real da situação de muitas mulheres ao redor do planeta. Aïssata, Sihem Bensedrine, Vera Chirwa, Christine C., Angela Davis, Viviana Diaz, Asma Jahangir, Eliza Moussaeva, Ita Fatia Nadia, Arundhati Roy, Ngawang Sangdrol, Leïla Shahid, Sofia Y. e Leyla Zana, alguas com nomes impronunciáveis mas todas mostram a busca pela dignidade para superar a dor física e moral.

Histórias que relatam famílias destroçadas, os problemas psicológicos que ocorrem após tanta pressão, como o estupro ou a mutilação, o assédio moral e sexual, a violência doméstica e a que seu povo vive, prostituição forçada, tortura, escravidão, seqüestro, espancamentos e chibatadas são os lados negros abordados por cada uma.. Mas não é somente relatos de sofrimento que encontramos nas palavras dessas guerreiras, também há dignidade, respeito pelo próximo, esperança, diante de tudo que passaram e sentiram, elas na renunciaram aos seus sonhos, aos seus direitos. Como no prefácio de Zazie,uma cantora francesa, que diz da importância das mulheres "Dessa união e do amor dos homens, as mulheres carregam a vida, dão a vida e respeitam a vida. Elas são, desta a noite dos tempos, o berço da humanidade", nos mostra o quão é importante zelar os direitos das mulheres.


Uma bela edição, a foto da capa do livro chama a atenção pela beleza do olhar e pelas cores representadas. Vale a pena conferir cada um dos relatos impiedosos e reais de pessoas que não desistem de sua luta.

SERVIÇO

MULHERES LIVRES: 14 HISTORIAS DE LUTA E RESISTENCIA AO REDOR DO MUNDO

FEMMES LIBRES La résistance de 14 femmes dans le monde

Aurine Cremieu e Helene Jullien

Tradução de Ana Luísa Ramazzina Ghirardi

Novo Conceito, 2008

ISBN 9788599560334

160 páginas, R$ 29,90


Autor: Cadorno Teles


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