Falsos amigos
Autor: José Patrocínio de Souza
FALSOS AMIGOS.
Pior que inimigo é um falso amigo. “Deus cuide de meus amigos, que dos inimigos cuido eu” já diz o velho ditado. Não foi sem razão que, sua sabedoria, Rui Barbosa escreveu que amigos e inimigos estão, muitas vezes em posição trocada: “Uns nos querem mal e fazem-nos o bem”.
“Outros almejam o bem e nos trazem o mal”. Amigo são inimigo, amizade e inimizade, são palavras irmãs, tem a mesma origem. O que muda é apenas o prefixo. Canta-se, por isso, a amizade, como nos versos dos dois amigos Erasmo Carlos e Roberto Carlos “Meu amigo de fé, meu irmão camarada”. Ninguém, até hoje, no entanto, ousou cantar a inimizade, a falsidade e a traição. No falso amigo mora, sem piedade, a traição, simbolizada no beijo de Judas. Nada mais desprezível entre as misérias humanas.
A falsa amizade é a arma dos fracos, dos pobres de espírito, dos indecisos, dos que não tem alma e do caráter nem firmeza para ser verdadeiros amigos. Com sua experiência da alma e das fraquezas humanas, o sábio Montesquieu já tinha sentenciado há mais de dois séculos que “a amizade é um contrato pelo qual nos comprometemos a prestar pequenos serviços a alguém a fim dele nos prestar grandes”. Até parece, em seu ceticismo, que ele não acreditava em amizade sem interesse.
Algo, por sinal, cada vez mais raro nos dias atuais.
Olhemos em volta de nós. Veremos não só amigos que nos cercam e os inimigos que nos invejam. Lacemos nossa vista um pouco mais longe, e enxergamos amigos de nossos amigos. É uma trama sinistra, cruel, insensível, a que a vida nos reserva. Por isso, quem acredita na falsa afirmação, tantas vezes ouvida. “Os amigos de meus amigos”? Será que os inimigos de nossos amigos serão também nossos inimigos? É difícil acreditar que nessa conturbada e traiçoeira vida as coisas sejam tão simples. É como a lógica cínica praticada na política, quando ouvimos os que dizem: “Não tenho amigos, tenho interesses”...
Amizade, amizade, onde estas que não me ouves? Parecem dizer os amigos cada vez mais, nos dias atuais os amigos traídos, as vitimas dos falsos amigos, parodiando o poeta do “Navio negreiro”, quando clamava pela liberdade.
O trágico e o triste de todas essas angústias é que escolhemos os amigos, os inimigos, não.
Por isso, no fundo, somos nós mesmos responsáveis pelos amigos que escolhemos e pelas traições deles de que possamos ser vítimas. A virtude do sábio, portanto, não reside em escolher bem os amigos, mas sim em reconhecer-lhes os defeitos.
Lamentável, não é pelas virtudes que os escolhemos. Daí o meu recado: Que bom ter verdadeiros amigos!
Autor: José Patrocínio De Souza
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