Da Historiografia a sala de aula: uma análise da Coleção “História Temática” de Cabrini, Catelli e Montellato (2010).



da Historiografia a sala de aula: uma análise da Coleção “História Temática” de Cabrini, Catelli e Montellato (2010).

Vanderley de Paula Rocha[1]

Introdução 

        A proposta dessa análise foi consequência das aulas de Oficina IV ministradas pela rofessora Ms. Angela Ribeiro Ferreira, do Curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paraná. Desse modo, o presente trabalho procura entender o livro didático como veículo mediador entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento escolar, trazendo a tona o complexo processo que envolve esse universo, procurando entender o papel do autor na construção de um livro didático, até evidenciarmos, a chegada desse material nas mãos dos professores e dos alunos nas escolas.

        Nesse sentido, entendemos o importante papel do livro didático na construção da consciência histórica do aluno, pois um bom livro didático deve possibilitar ao aluno que o mesmo problematize, conseguindo questionar, pensar, reelaborar, enfim consiga construir o conhecimento a partir dos conteúdos que o livro apresenta. E não somente reproduza palavra por palavra escritas nos textos trazidos pelo material didático.

        O papel do livro didático, portanto, é mediar o conhecimento acadêmico, ou seja, é transformar o conhecimento para que o aluno entenda-o.  Entretanto, não se pode entender o processo de didatização como uma vulgarização do conhecimento, tão pouco afirmar que o conhecimento só é produzido nas academias e que as escolas são meras reprodutoras desse conhecimento. Mas, que as escolas também devem ser compreendidas como produtoras do conhecimento. Por isso, a necessidade da disciplina Didática da História, que por sua vez tem o papel de tornar determinados conteúdos históricos transmissíveis e assimiláveis. 

        Assim, a Coleção escolhida foi “História Temática” lançada pela Editora Scipione em 2010 de autoria de Conceição Cabrini (Bacharel e Licenciada em História e Ciências Sociais pela PUC – SP, Mestre e Doutora em Comunicação pela USP), Roberto Catelli Junior (Bacharel e Licenciado em História pela PUC – SP, Mestre em História Econômica pela USP) e Andrea Montellato (Bacharel e Licenciada em História pela PUC – SP).

        Já nas primeiras palavras, os autores apontam para o principal objetivo da coleção: traduzir em livro uma concepção e um método de ensino, baseando-se em ensino e pesquisa. Para tanto, os autores fazem uma pequena introdução a respeito do ensino de história. Assim, para esses a história não pode ser vista como algo pronto e acabado, um passado morto, mas sim, sendo construída no próprio tempo presente. Nesse mesmo sentido, os autores afirmam que os estudantes não podem ser vistos como simples receptores de conhecimento, mas, serem vistos também, como construtores de conhecimento.

        Assim, a estrutura dos capítulos é construída com a intenção de tornar os objetivos supracitados mais assimiláveis. Sendo assim, os quatro grandes temas e os conteúdos trabalhados nestes são divididos em:

- Refletindo sobre o tema: É proposta uma atividade inicial que segue a introdução ao tema. A intenção é motivar o aluno por meio de textos e imagens, abrindo espaço para problematizações iniciais, ou para direcionar o restante do capítulo.

- Trabalhando com documentos visuais: Com a intenção de proporcionar ao estudante o contato inicial com a imagem, a descrição, diferentes interpretações e registros escritos.

- Trabalhando com documentos: Trata de uma seção que tem por objetivo valorizar a análise dos documentos, proporcionando mais de uma interpretação acerca do conteúdo estudado, tornando possível a percepção de conflitos em determinados contextos históricos. A intenção é a de apresentar ferramentas para elaborações e reelaborações de hipóteses iniciais e prováveis conclusões surgidas no início do capítulo.

- Vamos pesquisar: Proposição de uma atividade de pesquisa, iniciada por um questionamento. A atividade subdivide-se em: definição do tema/problema, coleta de material, organização das leituras e apresentação dos resultados.

- Trabalhando com mapas: Tem por objetivo desenvolver a habilidade de leitura de mapas, através de observação e análise. Esta seção busca permitir a conscientização da importância de pensar o mapa enquanto produção de um determinado contexto histórico.

- Lendo sobre o tema/compreendendo o contexto: Essa seção explora a importância da interpretação dos textos, e a consideração da biografia dos autores (instrumento chave nos estudos de História). Tem por objetivo acrescentar informações sobre o conteúdo.

- Painel: Apresenta informações históricas sobre o tema, com elementos importantes para o estudo do conteúdo.

- Para conhecer mais: Suplemento para uma análise mais rica do tema, oferecendo outras informações.

- Saber fazer: Aplicação de atividades como produção de textos e desenhos, jogos, execução de experiências, com caráter lúdico.

- Diferentes versões: Apresenta diferentes pontos de vista sobre o mesmo assunto, com a intenção de mostrar ao aluno que não existe uma verdade absoluta.

- Fazendo uma síntese: Essa seção trata de uma atividade final que tem por finalidade retomar os assuntos e as conclusões iniciais, a fim de organizar as ideias surgidas no decorrer do conteúdo e fazer uma síntese.

        No caminho de atingir sua “clientela” os autores apontam para a necessidade de ligar os conhecimentos da história a vivência cotidiana, e segundo os mesmos, essa coleção escrita por eles atende esta característica. Outro elemento apresentado pelos autores, a respeito dessa obra é que a mesma foi atualizada procurando atender e incorporar várias sugestões e criticas feitas professores de todo o país. Entre essas mudanças e incorporações destaque-se a utilização de vocabulários, tabelas, mapas, imagens e novas atividades.

        Essa coleção foi muito usada em sala de aula, sobretudo no estado de São Paulo, pois segundo Cassiano, os indicadores das instituições escolares públicas de São Paulo em 2002 apontaram o livro “História Temática” com 162.387 exemplares vendidos. Sendo o mais adotado pelos docentes paulistanos, sendo que este livro foi o segundo mais bem recomendado no Guia de Livros Didáticos[2].

         A referida obra é dividida em quatro volumes, sendo que cada um corresponde a um ano do ensino fundamental. E cada volume é dividido por unidades que por sua vez são divididas em capítulos.

        De maneira geral a coleção é rica em imagens e gravuras, nas primeiras páginas de cada volume encontra-se um prefácio escrito pela Doutora em Educação Ernesta Zamboni, seguida de uma apresentação escrita pelos autores tratando do tema especifico, porém abrangente de cada volume.

        Assim, direcionamos nossa análise para a Coleção acima citada, a qual será baseada no pressuposto de que o livro didático é um veículo portador de um sistema de valores de uma ideologia, de uma cultura[3].

Análise do Livro: “História Temática” Tempos e Culturas 6º Ano.

           

            O texto analisado faz parte do capitulo 1 “Fazer prender e lembrar história”, neste capítulo os autores trabalham sobre a memória e sua capacidade de guardar informações de sua vida de sua história particular, destacando sempre que nossa história faz parte de outras histórias.

            No livro destacam as formas de se contar a história, através de biografias, pinturas usando como um dos exemplos o famoso quadro Guernica de Picasso de 1937, mas também se usou xilogravuras de alunos demonstrando que também podem registrar suas histórias de outras maneiras alem da escrita.

            Todos nós temos histórias, negros, brancos, povos indígenas, qualquer pessoa possuiu história e cada cultura trata a história a sua maneira, as nações indígenas por exemplo usam a história para ensinar e educar suas crianças como forma de perpetuar suas tradições

            Os textos são apresentados de forma descritiva, clara e de fácil entendimento pelos alunos, desconstruindo conceitos antigos com respeito aos índios americanos, para povos do continente que se chamaria América.

            O livro apresenta fotos e desenhos que demonstram como registramos nossas histórias e a importância deste registro para a posteridade.

            Os exercícios são condizentes com o assunto tratado no livro didático, os outros capítulos também apresentam uma boa articulação entre o texto e as imagens apresentadas, o livro traz uma linguagem clara objetiva, trazendo um vocabulário próximo ao texto ajudando o aluno na interpretação do texto. Os exercícios do livro propõem exercícios que levem o aluno a uma reflexão e não ao “copismo”.

            A proposta do manual do professor apresenta uma boa articulação com os temas do livro didático e apresenta propostas interessantes para trabalhar o livro didático, aproveitando a experiencia dos alunos para trabalhar grupos sociais e suas perspectivas de história. Ele estimula o uso de revistas, jornais, filmes e estimula o professor a usar materiais produzidos pelos próprios alunos e sugestões de material de apoio.

            Com relação ao PNLD 2011, apesar de certa evolução em relação ao livro que foi analisado no primeiro semestre, esta coleção ainda apresenta certa dificuldade em tratar de assuntos polêmicos como a cultura indígena, negro na sociedade e das mulheres sempre vistas em segundo plano na sociedade brasileira.

            Com relação a cultura africana só aparece um texto na pagina 55 falando sobre o povo Orubá

            O material didático da 6° série, não resgata a mulher como produtora de sua história, promovendo a sua dignidade, a não violência contra a mulher, o debate das questões de gênero, questões raciais, questão afro-brasileiro, multirracial ou quando aborda estas questões são de forma superficial, simplesmente a meu ver, como critério de não desclassificação.

            Conforme exemplos das pagina 110 destaca da criação da mulher, segundo a Bíblia Sagrada e nas paginas 37 e 129 mostrando a foto de uma mãe relacionando com a família e amamentando seu filho.

            O texto introdutório de cada texto tem a função de fazer o aluno questionar, refletir muitas vezes fazendo uma reflexão do capitulo anterior.

            Outra informação interessante do livro faz os alunos refletirem sobre o trabalho infantil e sobre o que é ser criança em diferentes culturas, também faz uma reflexão interessante de como é construído o conhecimento, usando exercícios e ilustrações que ajudam na reflexão do educando.

            O livro traz a proposta de quebra da história cronológica, do eurocentrismo e mostra que no mesmo recorte temporal de diferentes cultural atuavam em suas sociedades, quer seja no novo mundo, na Europa, Ásia, Oceania, África, o mundo não girava em torno do velho mundo.

            O livro não traz erros conceituais, podendo ser usado, o que prejudica um pouco não é a qualidade do livro em si, mas a quebra da ordem cronológica a qual estamos acostumados. 

Análise dos Livros: “História Temática” diversidade cultural e conflito. 7º Ano e “História Temática” terra e propriedade. 8º Ano.

 

        O volume aqui analisado te formado não só por conteúdos “oficiais” com informações voltadas para assuntos como: política, economia, mas também, contempla assuntos culturais, tais como “Festas na Cultura popular”, “Religiosidade e feitiçaria no Brasil colonial” passando por “Receitas brasileiras tradicionais” até “Hábitos e costumes das moradias coloniais”, desta forma, percebemos que a coleção procura atender os conceitos contemplados e extremamente debatidos pela chamada História Cultural. Fazendo com que os educandos percebam que os fenômenos históricos não estão apenas ligados a assuntos oficiais. Contemplando a discussão contemporânea da disciplina histórica de que “todos os indivíduos, são sujeitos da história”[4]

        Outra característica observada é a adequação desses conceitos da historiografia de forma didática e pedagógica sem vulgarizar os conteúdos trabalhados, uma vez que ao discutirem sobre os diversos temas procuram apresentá-los utilizando-se de uma linguagem formal, contudo de fácil entendimento.

        Evidenciamos também, que a maioria das propostas feitas pelos autores apresentadas aos professores por meio da Assessoria pedagógica são cumpridas, por exemplo, quando os autores argumentam que “A história não é um passado morto, mas se encontra também no próprio tempo presente [e] A intenção e tornar o estudo de história uma experiência ligada a vivência cotidiana”[5]. Assim, os autores respeitam esse pressuposto ao discutirem, por exemplo, “Festas na cultura popular”, pois discutem as festividades do passado, suas características, mas, também, discutem a influência dessas nas festas contemporâneas, bem como, as discutem como fenômenos vivos, dinâmicos e presentes na vivência cotidiana.

        Todos os capítulos são encerrados com um “Boxe” que propõe uma síntese do conteúdo, que apesar dos conteúdos nesse boxe estarem elencados em itens, esses propõem aos educandos uma discussão sobre os assuntos discutidos, para isso são utilizadas perguntas, fazendo com que os alunos reflitam sobre o conteúdo abordado, ao mesmo tempo em que os organizam.

       Outro exemplo que os autores buscaram atender as propostas realizadas por eles mesmos na assessoria pedagógica e também buscaram atender os Editais do PNLD (Plano Nacional do Livro Didático) esta ligado ao fato de gradativamente aumentarem o nível de complexidade, ou seja, cada volume possui uma complexidade de conteúdo respectiva ao ano que esses conteúdos serão trabalhados.

        Ao proporem também, na assessoria pedagógica apresentar aos alunos que o conhecimento histórico é construído, os autores no decorrer dos capítulos de todos os volumes trazem no Boxe “Diferentes Versões” dois textos de diferentes autores, sobre o mesmo tema, fazendo com que os alunos percebam que os fatos podem ter diversas interpretações, que serão construídas de diferentes formas porque os autores irão olhar para os fatos de diferentes perspectivas. Um exemplo disso é quando no Capítulo “Independências políticas e ideias de nação” os autores trazem dois textos, sendo o primeiro de Adolfo Varnhagen e o segundo de Caio Prado Junior, ambos tratndo da Independência do Brasil, mas por diferentes perspectivas.

        Outro elemento que podemos destacar desse mesmo capítulo é o próprio título do capítulo “ Independências políticas e a ideia de nação”, pois ao utilizar essa metodologia de trazerem a discussão da Independência do Brasil inserida em um contexto maior, proporcionam ao aluno que o mesmo perceba que os processos históricos se relacionam, não são processos isolados no tempo e no espaço que ocorreram, na imagem abaixo é possível perceber o elemento apontado nesse parágrafo,

          O uso de documentos para entender os processos históricos, também, é recorrente nessa coleção. Esses estão inseridos nos boxes “Trabalhando com documentos visuais” e “Trabalhando com documentos”, ambos com a mesma finalidade demonstrar aos alunos o uso de documentos para construir e elaborar as interpretações históricas.

          A utilização de mapas no conteúdo sobre a Independência da Américas foi sem dúvida um acerto, pois ao se apropriarem de elementos de outras ciências, nesse caso a Geografia, os autores atendem outra questão que a história procura atingir, a da multidisciplinaridade.

          As atividades são outro ponto positivo na coleção, porque cada capítulo possui no mínimo cinco atividades, com enunciados claros, objetivos, que estimulam a interação dos alunos, um exemplo é que a cada capítulo pelo menos uma atividade é proposto que seja realizada em grupo.

          Por outro lado, a imagem da mulher não aparece em nenhum dos volumes analisados nesse momento (7º e 8º Anos), tão pouco seus papéis na sociedade são problematizados. Encontramos imagens femininas em algumas figuras, apenas como ilustrações.

          No que tange a contemplação de assuntos ligados a cultura: Afro, poucas são as páginas que tratam desse assunto. Na unidade 3, do livro do 7º Ano, um capítulo é dedicado aos negros, quando os autores discutem sobre escravidão. Assim, evidenciamos mais um ponto negativo, pois dão entender que os negros só fizeram parte da história quando esses eram escravizados. Aos povos indígenas também foi dedicado um capítulo do livro do 7º Ano: “Indígenas do Brasil”, no entanto, ao contrário dos negros, os indígenas foram problematizados nos assuntos da contemporaneidade, como na “demarcação das terras indígenas” a partir da Constituição Brasileira de 1988. 

               

 

Análise do Livro “História Temática”: o mundo dos cidadãos. 9º Ano.

 

           Nesse livro do 9º ano o eixo temático é direito, trabalho e cidadania. Sendo assim, dentro destes temas estão inseridos os seguintes conteúdos conceituais: Capitalismo, Sistema de fábrica, Disciplina, Liberdade, Neoliberalismo, Globalização, Dominação, Resistência, Estado, Nação, Totalitarismo, Democracia, Movimento operário e lutas sociais. Estes conceitos são trabalhados a partir dos conteúdos obrigatórios do currículo do ano em questão, que é basicamente de História Contemporânea. A maior proposta do livro está em proporcionar que o aluno desenvolva a habilidade de interpretar diferentes versões sobre um determinado assunto, visto que o livro apresenta diferentes olhares. E, também, que consiga comparar épocas diferentes e estabelecer relações entre elas. Isto justifica a escolha por temas que contemplem diferentes contextos históricos, mas que apresentam características comparáveis e ligações conceituais.

            O livro apresenta uma seção de Assessoria Pedagógica que conta com quase setenta páginas. Nele estão presentes a proposta pedagógica da disciplina de História, a estrutura e características do livro didático, recursos didáticos que podem ser utilizados dentro da disciplina e a metodologia necessária para isto, avaliação e os procedimentos para trabalhar com cada unidade do livro em específico.

            A apresentação dos capítulos tenta mobilizar o aluno através de indagações sobre o assunto, e através de trechos de documentos históricos (pra incentivar a interpretação livre), assim como imagens relacionadas ao tema, sempre com legendas.

            Um exemplo está no eixo temático “Autoritarismo e democracia”. Esta unidade apresenta quatro contextos que contemplam a temática: As duas guerras mundiais: nacionalismo e preconceito, Era Vargas: retratos de uma nova ordem, Brasileiros, mostrem suas caras e O exercício democrático: inclusão. Estes temas são interligados no que diz respeito aos conceitos de autoritarismo e democracia, que são trabalhados no decorrer dos conteúdos.

            No Capítulo da Era Vargas em específico, o texto introdutório aparece perguntando ao aluno sobre os direitos dos cidadãos e introduzindo a falta de democracia presente naquele momento da sociedade brasileira. Junto ao texto, duas fotos paradoxais: uma onde os soldados vistoriavam carros após a Intentona Comunista, e outra da solenidade de promulgação da Constituição Brasileira de 1988 que contou com uma grande representação e participação dos cidadãos brasileiros. A intenção dessa primeira apresentação é problematizar o contexto para o aluno, mostrando uma fase onde a ditadura reprimia, e outra onde a democracia surgia.

            Na sequência desse tema, o livro apresenta um texto da carta magna de 1937, na seção “Refletindo sobre o tema”, seguido de fotos dos cartazes de duas épocas diferentes em que o Brasil sofreu com a ditadura, a de Vargas e a de Médici. Texto e fotos acompanhados de legendas e vocabulário.

            Na Assessoria Pedagógica, o livro auxilia o professor a trabalhar cada seção do capítulo. No assunto Era Vargas em específico, a aparição dos textos “oficiais”, das fotos e cartazes, tem por finalidade permitir que o aluno interprete e construa as suas conclusões a respeito dos direitos e deveres dos cidadãos nessa fase, comparando-as com outras. Também são apresentadas diferentes visões sobre o assunto, na seção “Diferentes versões”, para que o aluno perceba que não existe verdade absoluta, mas sim diferentes pontos de vista sobre um determinado assunto.

            Na seção “Fazendo uma síntese” o livro também ajuda, através da Assessoria Didática, a trabalhar da melhor maneira a retomada final do assunto. No conteúdo em questão, trata-se de resgatar a memória que ficou de Getúlio Vargas, sugerindo atividades com entrevistas, coleta de objetos, livros e documentos do período através de pessoas que conviveram na mesma época. A intenção é dividir a sala em grupo e orientar a confecção dos trabalhos. Feito isso, é proposta a apresentação dos resultados.

            A assessoria pedagógica ainda apresenta questões motivadoras para introduzir o assunto e problematizar o conteúdo, bem como sugestões de material de apoio, com leituras complementares para os professores e para os alunos. Entre eles livros, sites, cd’s, filmes e a Carta Testamento de Getúlio Vargas.

            No geral, o capítulo em questão apresenta uma estrutura completa em relação a diversidade de assuntos, fotos, charges e documentos escritos. Porém, a figura da mulher no decorrer de todo o livro aparece de maneira sutil. Nesse capítulo não é diferente, aparecendo a figura de Olga Benário apenas em uma foto e um parágrafo, enquanto que Luís Carlos Prestes aparece em praticamente uma página inteira.

Numa tentativa de, talvez, suprir a característica “temática” do livro, esse capítulo conta com uma cronologia da Era Vargas, proporcionando a orientação temporal deste contexto.

Considerações Finais

 

        Por fim, nos deparamos com a complexidade do universo do livro didático. Entendemos por meio dessa análise que o trabalho dos autores dessa obra esta longe de ser uma tarefa fácil, ao contrário, foram muitos os itens e elemntos a serem contemplados, sejam esses teóricos, metodológicos, exigências comerciais, afinal é um produto comercial, e principalmente atender as exigências da legislação, sobretudo as ligadas as diretrizes curriculares que regem o ensino no Brasil.

        Por outro lado, entendemos que a partir do momento que esses autores de livro didático aceitam esses desafios em suas carreiras, devem ter em mente que se trata de um trabalho de extrema responsabilidade, pois o livro didático também pode ensinar e como escreve Paulo Freire “ensinar é criar situações que propiciem aos alunos a observar, a formular questões, a encontrar dados e instrumentos que lhes permitam elucidar questões e os tornem capazes de expressar seus achados e suas novas dúvidas”[6].

        Assim, compreendemos que o livro didático é parte integrante do ensino e deve ser percebido como um dos instrumentos que o professor poderá utilizar em suas aulas, mas que não deverá ser o único. Pois, um bom professor saberá identificar que em alguns momentos, ou melhor em alguns conteúdos somente o livro didático não atenderá a demanda necessária para a compreensão do conteúdo e não dará conta de atingir talvez o principal objetivo do ensino: criar dúvidas, incertezas, enfim ensinar o educando a questionar.

Portanto, o livro apresenta uma proposta inovadora se comparada com outros livros didáticos mais “tradicionais”. Durante todos os conteúdos o professor e os alunos são levados a pensar a História de uma maneira mais reflexiva e interligada com o cotidiano de acordo com temas que são comuns a diferentes contextos. Isso facilita e torna mais atrativo o ensino de História, no sentido de proporcionar uma funcionalidade nos conteúdos trabalhados. O aluno pode não só perceber, como criar sensos de sentido em relação aos temais propostos, visto que é incentivado a construir suas próprias conclusões. Porém, por se tratar de um livro de ensino fundamental, ainda pode se questionar a real efetividade dos objetivos apresentados nessa coleção. Mesmo que dentro dos temas os conteúdos estejam separados de maneira cronológica, é necessário um cuidado muito grande por parte do professor para que os alunos dessa faixa etária não acabem confundindo as temporalidades, já que está impregnada dentro dos currículos “tradicionais” a metodologia linear do ensino de História. Enfim, levando em conta que o livro didático é um dos recursos pedagógicos disponíveis no processo de ensino-aprendizagem, a coleção História Temática apresenta uma eficiência muito grande em propor uma nova visão de ensino, mais atraente, mais funcional e que ajude a transformar o estudante em um ser mais autônomo e autor das suas próprias conclusões. Cabe ao professor se influenciar pela proposta e conduzi-la de acordo com a realidade a qual está inserido.

Referencias Bibliográficas

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livro didático e conhecimento histórico: uma história do saber escolar. 1993. 369 f. Tese (Doutorado em Educação) - Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – USP, 1993.

 

 

BURKE, Peter. O que é História Cultural? 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2008.

CABRINI, Conceição, CATELLI, Roberto & MONTELLATO, Andrea. História Temática: (Tempos e Cultura, Diversidade cultural e conflitos, Terra e propriedade e O mundo dos cidadãos). 4 ed. São Paulo: Scipione, 2009.

CASSIANO, Célia Cristina de Figueiredo. Aspectos políticos e econômicos da circulação do livro didático de História e suas implicações curriculares. História, São Paulo, 23 (1-2): 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.


[1] Bacharel e Licenciado em História pela UEPG e Pós-graduando em História, Arte e Cultura pela mesma instituição.

[2] CASSIANO, Célia Cristina de Figueiredo. Aspectos políticos e econômicos da circulação do livro didático de História e suas implicações curriculares. História, São Paulo, 23 (1-2): 2004, p.41

[3] BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livro didático e conhecimento histórico: uma história do saber escolar. 1993. 369 f. Tese (Doutorado em Educação) - Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – USP, 1993.

[4] A esse respeito ver: BURKE, Peter. O que é História Cultural? 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2008.

[5] ASSESSORIA PEDAGÓGICA, Coleção ora analisada, p. 4.

[6] FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 48.


Autor: Vanderley De Paula Rocha


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