Relações Sociais No Casamento: A Cotidianidade Sob O Olhar Feminino Em Santana - AP



Legar importância ao tempo imediato não é tarefa das mais fáceis para um mundo acostumado a criar e conviver com grandes mitos e grandes heróis que, desde sempre corresponderam sistematicamente a sua função última de identificação social, cultural e histórica em nosso mundo ocidental. De repente, virar esta página e vislumbrar uma perspectiva alternativa mais plural para o desenrolar do processo histórico, obrigou-nos a enxergar melhor o cotidiano e a partir daí observar com minúcia os eventos que compõem a cotidianidade humana, entendendo-se, assim, o cotidiano como a própria vida privada, tanto no seu caráter individual quanto coletivo, associado a padrões de adaptações que garantem o cumprimento das diferentes funções estruturais das personagens ao longo do processo histórico-social. É pois

"...no movimento de uma transformação profunda das relações sociais que a "vida cotidiana" vai se redefinindo e tomando as formas e o conteúdo atuais. A noção de "vida cotidiana", fórmula vazia que a cada época serve para preencher um conteúdo diferente..."(DEL PRIORE, 1997, p. 261),

prova, indiscutivelmente, o seu potencial de historicidade, dada sua capacidade de revelar às diferentes sociedades, suas necessidades iminentes e principalmente suas mutações histórico-sociais e culturais.

Dentro das inovações sugeridas à pesquisa pela Micro-História, talvez a principal contribuição resida na oportunidade que teve, então, o historiador de corroborar de forma definitiva para um novo olhar sobre as relações sociais e seus agentes, não fazendo a partir destes uma história em migalhas, mas, atuando para a desmitificação da idéia de que as atividades e atitudes do dia a dia da população comum, estão a margem do foco de interesse científico da História, ao contrário, representam uma forte base de sustentação, posto da produção das pequenas estruturas que compõem o emaranhado social, uma vez que, "a vida cotidiana não está "fora" da história, mas no "centro" do acontecer histórico: é a verdadeira essência da substância social" (HELLER, 2000, p. 20).

O cenário da vida cotidiana é o espaço onde se materializam os pressupostos das relações sociais, quer entre pessoas ou grupos, que fazem do homem e da mulher objetos e sujeitos da História. É no funcionamento da vida cotidiana que se manifestam os aspectos da individualidade e da personalidade de cada homem e cada mulher e é por meio destes adjetivos que cada um representa suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, suas paixões e suas ideologias no trato com o outro, isto é, na imposição e, às vezes, na supressão de suas heterogeneidades. No entanto,

"...a significação da vida cotidiana, tal como seu conteúdo, não é apenas heterogênea, mas igualmente hierárquica. Todavia, diferentemente da circunstância da heterogeneidade, a forma concreta da hierarquia não é eterna e imutável, mas se modifica de modo específico em função das diferentes estruturas econômico-sociais" (HELLER, 2000, p. 18).

Assim, é possível distinguirmos dentro das relações conjugais situações em que uma mudança de comportamento pode ser responsável pelo rompimento de uma hierarquia socialmente construída.

Para localizar estes eventos dentro do cotidiano do casamento em Santana-AP, foram realizadas três entrevistas. Destas, duas com mulheres que vivem em união estável e uma que viveu um casamento tradicional e que hoje se encontra em processo de divórcio. Em sua entrevista Iraciara da Rocha Nunes dos Santos comentou sobre seu profundo desconforto quanto ao marido se posicionar contra seu trabalho:

"...acredito que tinha a questão de ele se sentir desvalorizado, porque ele é muito machista (...) para ele, dentro de uma casa a figura masculina é a referência, é aquela idéia de que é aquela pessoa que tem que tomar de conta, financeiramente da casa, o esposo é quem manda na casa, na família e quando eu comecei a trabalhar eu passei a ganhar mais do que ele..." (IRACIARA, entrevista nº03).

Apesar de enfrentar grande resistência, Iraciara não só se lançou ao mercado de trabalho, como também extirpou de sua relação a idéia hierarquizada do marido, para o qual, a mulher deveria restringir-se ao seu "estado natural de mãe e esposa", idéia esta que assombrava sua cotidianidade e anulava a heterogeneidade de seu gênero, se colocando inclusive em condição mais privilegiada que o marido no que diz respeito a renda familiar.

Em seu relato, Irene dos Santos Silva falou sobre situação semelhante à vivida por Iraciara:

"...ele nunca gostou que eu trabalhasse, não sei se era (...) orgulho. Só que eu gostava de trabalhar, hoje se eu tivesse a oportunidade, mesmo que ele não quisesse, eu iria trabalhar, por prazer mesmo, agente se sente valorizada"(IRENE, entrevista nº01).

Contudo, em sua experiência, Irene não se mostrou disposta a questionar a hierarquia patronal estabelecida por seu marido. Embora tenha manifestado grande vontade de trabalhar em outras atividades que não as do lar desde o início de seu casamento, ela só despertou para esta valorização social quando em seu discurso usou o termo: hoje, e ainda assim, condicionado ao surgimento de uma suposta oportunidade. No entanto, ao falar do sentimento de valorização, próprio da mulher que trabalha fora, fica implícito que em seu inconsciente, Irene sabe que abriu mão daquilo que tinha de exclusivo, sua heterogeneidade, seu direito de poder ser e estar diferente, em função da auto-afirmação do imaginário masculino de seu marido, do homem da casa. Em oposição à Iraciara e à Irene, temos Maria Lucimar Pereira de Oliveira (Lúcia), a qual afirmou convictamente jamais ter tido qualquer imposição ou restrição do marido a respeito de trabalhar fora de casa, dando a entender que, em seu caso, a diferença e o outro foram tratados com sobriedade.

Entre as relações sociais que traçamos ao longo da vida, o Casamento é um campo privilegiado de análise, pois neste, a cotidianidade explicita sua forma mais intensa ao proporcionar intimidades e contatos com o outro, que seriam impróprias em outras relações. Ao lidar com este arrebatado contexto em que se multiplicam as heterogeneidades individuais, a vida cotidiana permite uma certa aproximação do que se convencionou chamar relações de gêneros. Quando a história rompeu com o pensamento da continuidade e passou a voltar seu pensamento para as descontinuidades,

"...sua preocupação em compreender objetivamente os mecanismos que regulam a estrutura social cedeu espaço para as micro-histórias (...) e é justamente este rompimento com a História universalizante que conduzao tema gênero"(RAGO; GIMENES, 2000, p.238-239).

No Brasil, produções historiográficas têm reconstruído a perspectiva de gênero dentro das relações sociais que se consolidaram em nosso padrão comportamental desde os primeiros anos de nossa colonização. E, como herança e produto que somos do plano de expansão de fronteiras européias no Novo Mundo, não destoamos do sistema uniformizante de sociedade patriarcal que impera entre a raça humana desde os homens de Neanderthal. Por conseguinte,

"O sistema patriarcal instalado no Brasil colonial, sistema que encontrou grande reforço na Igreja Católica que via as mulheres como indivíduos submissos e inferiores, acabou por deixar-lhes, aparentemente, pouco espaço de ação explícita"(DEL PRIORE, 2003, p. 09).

Há que se dizer que, sob o julgo de homens (pais, esposos ou irmãos) e da Igreja pouco ou quase nada de individualidade e de escolha sobrava às mulheres, a não ser o legado milenar das tarefas de mãe, da educação para o lar e da multiplicação da fé. E,

"...apesar de estar presentes desde o início do processo de colonização, de participar da luta contra as árduas condições de vida entre os séculos XVI e XVIII, da grande variedade de lugares que ocupavam em diferentes grupos sociais, raciais e religiosos, elas não eram muito visíveis..."(DEL PRIORE, 2003, p. 09),

pois, o patriarcalismo imposto pelos colonizadores e reproduzidos pelos colonos miscigenados, encontrou no seio da sociedade brasileira um útero fértil, pelo qual gerações e gerações de homens e mulheres foram gestados e educados como seguidores, defensores e multiplicadores de uma relação entre gêneros que se caracterizava principalmente pelo seu alto poder de dominação e hierarquização que condicionava as mulheres à base das pirâmides sociais.

Em Santana-AP, o cotidiano das relações matrimonias foi caracterizado pelas relações de poder existentes entre os gêneros e pela influência que a dinâmica cultural exerceu no comportamento dos cônjuges. Tendo em vista uma melhor sistematização e abordagem destes processos norteadores, proporei a seguir a análise do tripé que melhor representa a cotidianidade do casamento santanense:

As Relações de Poder no Cotidiano Matrimonial;

Cultura: um elemento norteador das relações conjugais;

Memória: cenário da vida privada.

1- As Relações de Poder no Cotidiano Matrimonial

Desde os tempos mais remotos de nossa história, a sociedade humana se desenvolveu sob o postulado do sistema patriarcal de organizar o mundo, de tal forma que as relações sociais a partir daí jamais foram as mesmas. Na incessante busca do estado perfeito de organização, as instituições responsáveis por padronizar nossos comportamentos foram criando leis, normas e dogmas que se enraizaram com tanta convicção em nossas almas que a hierarquização de papéis imposta às relações entre gêneros se banalizou ou melhor, se consolidou em nosso meio como se fosse uma condição inerente à nossa existência, como se fosse um elemento X em nosso DNA. Daí por diante, a disciplinação das relações entre homem e mulher, foi determinada pela defesa da moral e pela manutenção do estado patriarcal, pelo qual toda uma civilização havia aprendido a viver e a conviver e sem o qual, perderíamos nosso honroso pudor de sociedade civilizada. Assim, as diferenças entre os sexos ultrapassaram o limite do óvulo e do espermatozóide e ganharam dimensões sociais, ou melhor dizendo, passaram a corporificar toda uma construção histórico-social acerca do que representava para a sociedade patriarcal e cristã ser homem e ser mulher, estabelecendo sistematicamente aquilo que podemos denominar de relação de poder entre os gêneros. Na verdade,

"O estudo da questão do gênero vai além das diferenças biológicas existentes entre o homem e a mulher e diz respeito, também, às diferenças culturais. Isto significa redimensionar o significado de ser uma mulher ou ser um homem em uma determinada cultura e em um dado momento histórico, bem como reavaliar as relações de poder fundamentadas sobre as diferenças concebidas entre eles" (RAGO; GIMENES, 2000, p.240).

Trata-se, portanto, de se discutir sobre as estruturas sociais que hoje se apresentam e como se apresentam e, até que ponto, as mesmas, correspondem às necessidades e objetivações do mundo moderno em que, tanto o homem quanto a mulher já não se prendem a antigos modelos de comportamentos, isto porque, os processos evolutivos que nos conduziram ao status de sociedade moderna só se processaram porque as mudanças comportamentais não se fizeram unilateralmente, pelo contrário, em muitos momentos se complementaram e se fortaleceram a ponto de romper com velhos e enraizados conceitos do processo civilizador. Considerando este pressuposto, talvez, o casamento, o qual já foi descrito anteriormente como uma das instituições mais relevantes no processo de organização da sociedade, represente um dos melhores exemplos de como o padrão comportamental vem se alterando e equacionando as relações de poder entre os cônjuges a medida que novas necessidades se impõem ao trato social.

Dentro do casamento as relações de poder podem se manifestar de diversas formas. O pedir permissão, o dar satisfação, a proibição, a adoção do nome masculino, uma renúncia qualquer, uma imposição, enfim, vários são os eventos da cotidianidade conjugal em que o marido detém o suposto direito natural de determinar o que pode e o que não pode, direito este, que, aliás, lhe foi passado diretamente das mãos de seu sogro no dia de seu casamento e, se por outro lado tratar-se de uma união estável, este direito lhe foi passado das mãos onipresentes do modelo moral-conservador-cristão que refletimos no espelho e, de outro modo, ainda neste caso, é possível que este direito tenha lhe sido entregue pelas mãos da própria cônjuge num processo inconsciente de obediência a educação patriarcal que teve.

Um dos maiores ícones de distorções e conflitos de poder entre marido e mulher reside no tema: trabalho. Observe que não se trata apenas de uma vontade absorta de trabalhar fora de casa ou de um modismo de fazer parte do cenário produtivo. Quando falamos em relação de poder evocamos implicitamente toda uma discussão histórica acerca da ordenação política, econômica e cultural em que nos encontramos, posto que, aquele que detém o poder nas mãos é capaz de dominar e de ditar o futuro daquele que se subordina. Impérios foram abaixo, multidões foram extirpadas e mutiladas, nações foram escravizadas em nome do poder, pela disputa do poder, para eleger aquele que seria dono do poder. Logo, discutir sobre conflitos pelo direito de poder dentro do casamento não é divagar sobre quem deita do lado esquerdo ou direito da cama, sobre quem vai dirigindo ou quem vai de carona, trata-se, outrossim, de discutir sobre quem pode mais e quem pode menos, sobre quem manda e quem obedece, sobre quem será o dono do poder dentro da relação. É exatamente por esta razão que,

"A participação da mulher no mercado de trabalho, nas últimas décadas do século XX, afetou sensivelmente as relações no interior das famílias, provocando mudanças radicais em suas estruturas"(NADER, 2002,p. 01).

Isto porque as relações de poder também se alteraram a medida em que a mulher passou a participar ativamente da produção da renda familiar, dando a esta mais voz e liberdade de agir segundo sua ótica e percepção de si mesma, além de que o trabalho fora de casa constituiu um importante instrumento de visualização social da mulher como uma população economicamente ativa na qual valia a pena investir. Mas, além da grande reviravolta conjugal, a introdução no mercado de trabalho corroborou de forma decisiva para a formação de uma nova mentalidade diferente daquela em que

"...durante gerações, o poder do imaginário social consistia em que as mulheres ficassem em casa cuidando dos filhos e acreditassem que o trabalho realizado por ela fora da unidade doméstica era desprezível e pobre. Mas, apesar desse imaginário, grande contingente feminino, geralmente provindo das camadas empobrecidas, participou da força de trabalho desde o período do Brasil Colônia" (NADER, 2002,p. 01).

Tal evento só vem confirmar que, embora, desvalorizadas e relegadas à invisibilidade, muitas mulheres acrescentaram às suas biografias e a história coletiva dos grupos dos quais faziam parte, a façanha de ter conseguido penetrar no mundo do trabalho quando este era tarefa, direito e papel fundamental do homem, provando que nosso país não se fez apenas pelo trabalho de homens fortes, mais também, pelo trabalho de mulheres corajosas que souberam se fazer heroínas num mundo que só condecorava heróis.

O despertar da mulher para o mercado de trabalho mudou o mundo, mudou o casamento, mudou a própria mulher e o próprio homem. O trabalho deu às relações entre gêneros a caracterização das diferenças culturais, da heterogeneidade e da individualidade dos cônjuges, da necessidade de se repensar o estado de desequilíbrio da balança do poder. Pelo trabalho, a mulher passou

"...a colaborar no sustento da família,(...), eliminou de sua vida o processo de aceitação e conformismo diante das diferenças sexuais. O poder, a resistência ou mesmo a indiferença masculina diante de novas solicitações femininas, tenderam a levar a uma situação de conflito dentro do lar. As relações de poder que existiam entre marido e esposa passaram a ser questionadas no interior das unidades domésticas" (NADER, 2002,p. 06).

Mas, não sejamos provincianos, alterar as relações de poder dentro do casamento significava romper com todo um tradicionalismo, no qual, muitos de nós nasceram e cresceram, portanto, mais que uma mudanças de hábitos, estas mulheres foram pioneiras, ultrapassaram fronteiras incogitáveis, fragmentaram o poder patriarcal e ditaram novos paradigmas sociais para a existência feminina. A participação destas mulheres no mercado de trabalho,

"...permitiu-lhes alterar costumes que as atrelavam à família e ao casamento, sendo esse último considerado o objetivo primordial de suas vidas...Sua inserção no mercado de trabalho e na educação profissionalizante lhes possibilitou independência financeira, o que contribuiu para a modificação dos padrões de comportamento que lhes foram impostos durante séculos..." (NADER, 2004, 01).

Contudo, é necessário lembrar que a condição econômica corroborou muitas vezes para que as mulheres casadas tenham buscado o mercado de trabalho, principalmente naqueles casos em que a força de trabalho dos maridos tornou-se insuficiente para suprir a demanda doméstica. Assim, o contexto em que o homem era profissionalmente absoluto em sua casa, foi perdendo sua razão de ser na sociedade em que você valia aquilo que produzia. Tão logo, esse imperativo econômico-social mudaria radicalmente as estruturas sobre as quais se assentaram as bases comportamentais do casamento. Pois,

"A necessidade de sobrevivência da família se sobrepôs à relação social criada para a mulher e o casamento. As mulheres que foram educadas somente para serem dependentes e submissas aos maridos viram-se obrigadas a trabalhar fora de casa e passaram a gerir suas próprias vidas e, muitas vezes, a de toda a família. Elas assumiram uma posição na sociedade em função da qual não mais seriam vistas apenas como seres passivos de reprodução, mas também como trabalhadoras capazes de sustentar suas famílias, sem depender dos maridos" (NADER, 2004, 03).

Nesse momento surgia um novo modelo de casamento, um novo modelo de mulher e um novo sistema de relações de poder dentro do casamento, posto que, não havia mais lugar para a submissão inconsciente, para o medo da não sobrevivência financeira, para a dependência ilimitada. As esposas passaram a desempenhar um papel tão significativo quanto o dos esposos na questão do sustento familiar e, isto por si só, já consistia pressuposto suficiente para a anulação das desigualdades de poder no cotidiano da relação conjugal. Mas, não esqueçamos que o trabalho é apenas um dos muitos ícones de distorções e conflitos de poder entre marido e mulher.

Na entrevista com Irene, ao relembrar momentos de sua época de namoro, ela chega a relatar uma passagem interessante que caracteriza de forma bastante explícita o comportamento e a postura de seu marido com relação as diversas imposições que se avolumam durante uma relação conjugal, principalmente, tendo como alvo a docilidade histórica da mulher. Com toda singeleza e naturalidade ela contou:

"Quando foi para agente se juntar ele fez eu sair do meuemprego, ele foi lá me buscar, só que os patrões iam sair, então eles não quiseram que eu saísse também, aí o Luís brigou com a mulher do patrão e disse assim: "de hoje em diante ela não trabalha mais para a senhora". Depois mandou eu arrumar as minhas coisas e eu dizia: Luís, eu não vou que é daqui que eu tiro o meu dinheiro e ele "há, eu tô trabalhando, eu te sustento e vamos embora que tu não vais mais ficar aqui, se tu não vieres eu vou te carregar e tu vais carregada daqui" (IRENE, entrevista nº01).

Em uma aparente e só aparente cena de amor arrebatado, Irene nos informa sobre como a força do poder outorgado ao homem na relação conjugal atuou sobre ela. Num ato de renúncia pessoal ela não só abdicou de sua independência financeira, como aceitou e obedeceu passivamente ao mandado de arrumar suas coisas e de tornar-se, daí por diante, sustentada pelo marido. Talvez, ao fazer tal escolha Irene não tenha tido consciência do alto preço que pagaria futuramente, pois como já foi dito anteriormente, aquele que detém o poder determina as decisões, no caso de Irene, isto não demorou acontecer. Como ela própria coloca:

"A minha liberdade não continuou a mesma, eu sempre tinha que dar uma satisfação, só que muitas vezes ele disse "não, não vai". Às vezes agente estava lá no Oiapoque e eu dizia que vinha para Macapá e ele "não, tu não vais só, não. Vamos esperar eu pegar dinheiro para agente ir os dois juntos" (IRENE, entrevista nº01).

Logo, o eu te sustento proferido por seu marido continha implícito o discurso da propriedade pós-casamento. Sendo homem, ele atuava como o mais forte da relação, nãoimportando a vontade particular de sua esposa. O caso é que social e moralmente ele tinha esse direito. Quanto a Irene, teve sua liberdade reduzida, teve que acatar decisões de onde e quando poder ir, teve suas peculiaridades suprimidas e inferiorizadas pelo poder do marido, o poder do mais forte sobre o mais fraco, o que remete ao ditado popular que diz: manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Num caso que destoa da hierarquização comum na relação de poder dentro do casamento, a entrevista de Lúcia nos detalha uma situação diferente da vivida por Irene. Ela afirma que sua liberdade, sua individualidade e sua heterogeneidade foram mantidas mesmo depois de casada:

"...eu tinha liberdade e depois que casei continuei tendo, nunca fui restrita, nunca tive aquela situação de não poder ter amigos, porque, geralmente quando se casava a mulher não podia mais ter amigos, não podia mais estudar e, eu não, continuei tendo minhas amizades, estudando" (LÚCIA, entrevista nº02).

Mas, se por um lado Lúcia pertence a um grupo de esposas que convivem de igual para igual com seu marido, a entrevista de Iraciara nos revela, no contexto das três entrevistas, a situação mais contundente de imposição do poder masculino sobre a esposa na relação entre gêneros dentro do casamento. Ela não lutou apenas por sua liberdade, como também esteve prestes a perder sua mais significante característica de ser humano, sua singularidade, seu direito nato de ser diferente e aceita como tal:

"Eu lembro que na última semana de aula da universidade ele me falou: "tu vais escolher, ou eu ou o estudo" e eu escolhi o estudo, então, quando eu cheguei em casa, à noite, nós conversamos e eu falei para ele que se elequisesse continuar (...)teria que ser aceitando eu trabalhar, eu estudar. Mas, não adiantou,(...), depois continuou a cobrança e aí ele bebia, ficava ofendendo a minha moralidade, a minha integridade" (IRACIARA, entrevista nº03).

Ainda que não tenha conseguido mudar as idéias do marido, Iraciara resitiu contra a imposição do marido em fazer dela uma esposa que se limitasse apenas às ocupações domésticas e que não se dedicasse em hipótese alguma a outras atividades que não as dor lar. E como de tal forma ela não permitiu estar, deflagravam-se assim os conflitos de ordem social e moral que compunham o cotidiano de seu casamento. Ela ainda acrescenta:

"Eu não podia sair para lugar nenhum que não fosse para o trabalho e mesmo assim, ele ia me deixar e me buscar (...). A minha liberdade se restringia ao que ele quisesse, onde ele quisesse, em quem ele quisesse. A minha vida ficou totalmente em função da vida dele, só saia com ele,(...), não podia sair com amigos, ir a festas. Eu também mudei os hábitos, porque nem novela eu ele queria que eu visse" (IRACIARA, entrevista nº03).

A experiência de Iraciara nos dá conta de que dentro do casamento estabelece-se uma relação de poder onde alguém sempre está condicionado a perder, generalizadamente, poderia-se afirmar que esse alguém, invariavelmente, é a mulher, posto que, a ela é atribuído o papel social do ser dócil, do cônjuge ao qual cabe a tarefa de ceder, restando à elas as grandes e as pequenas renúncias.

É curioso notar como as idéias vão se formando e se consolidando em nossasociedade até chegarem ao ponto de se tornarem ideologias massificadas. Quando o poder de um e, neste caso, consideremos o poder patriarcal e, portanto, este um apresenta dimensões de coletivo, é utilizado para propagar uma idéia, uma normatização de comportamento, um ritmo de vida que devemos seguir, muito rapidamente estes passam a compor o que chamamos de padrão social, quer dizer, o padrão de uniformização de hábitos, costumes, pensamentos. Mas, é claro que isto só é possível porque o próprio homem e a própria mulher renunciam, ainda que inconscientemente, a sua identidade passando, então, a fazer parte do senso comum. É neste exato momento que o poder se estabelece dentro das relações sociais com base nos padrões de hierarquia que nós mesmos ecoamos.

Dentro do casamento, é possível que muitas esposas vislumbrem uma postura ou uma relação de equidade com seu cônjuge ao dizer que trabalhar ou não trabalhar, estudar ou não estudar é uma escolha pessoal e, contudo, afirmar em seu discurso que a renúncia faz parte da relação conjugal, que cabe ao papel de esposa, propugnando mais uma vez a idéia de que a liberdade do marido implica na sujeição da esposa. Portanto, se por um lado estar no mercadode trabalho redimensionou as relações entre marido e mulher, por outro, tentativas de imposição e dominação ainda pesam na balança do poder, principalmente quando estas ganham ares de normalidade.

2- Cultura: um elemento norteador das relações conjugais

Mudar sempre é um processo muito difícil e doloroso para a maioria das pessoas. A mudança implica em escolhas e renúncias que nem sempre estamos dispostos a fazer. Quando se trata de mudanças comportamentais a situação se complica mais ainda. Isto porque nosso comportamento é regulado por elementos sociais construídos com base na hierarquia patriarcal e na uniformização das formas de se comportar. Mas, o discurso do comportamento uniforme além de servir ao controle das massas, apresenta também um sentido cultural de interpretação, pois, trata-se do ato de ignorar as diversidades e heterogeneidades presentes nos grupos sociais.

A política de enquadramendo no sistema social padrão começou a ser desenhada quando o ser humano criou o estado e suas organizações. Com estes surgiu a hierarquia, a segregação racial e social, a intolerância ao diferente e o preconceito que, associados, transformaram a natureza e a naturalidade do homem e da mulher de se relacionarem. Em nome da ordem e da moral, leis foram publicadas, normas foram decretadas e pessoas morreram queimadas por apresentarem desvios de comportamento ou comportamentos inadequados para a sociedade vigente. Foi assim na Idade Média, na ideologia de raça pura de Hitler, na escravização de negros e índios, nas ditaduras latino-americanas e agora na luta contra o terrorismo. Entretanto, o que sempre esteve em jogo em todos esses exemplos, foi a manutenção do poder das elites através da doutrinação e dominação das massas. Portanto, admitir e tolerar comportamentos diferentes do modelo criado significaria abrir precedentes para a desordem, para o caos e para ameaças ao poder e autoridade instituídos, em outras palavras, significaria colocar em risco os destinos de toda uma civilização.

Rupturas e transformações sociais são processos que demandam tempo e espaço determinados, são eventos geralmente construídos por sangue, motins e pessoas consideradas desvairadas, são lutas contra o poder, contra a razão, contra a normalidade e, às vezes, contra a cultura e a identidade falsamente construídas de um povo, talvez por isso sejam tão pouco constantes. Isso me faz pensar:até que ponto fomos capazes de modificar a imagem e a dinâmica da relação entre homens e mulheres estruturada desde a antiguidade clássica, por exemplo?

Sabemos que na Idade Média a Igreja assumiu um papel de destaque no que diz respeito às relações matrimoniais, isso significa dizer que ela, além de intervir diretamente na relação entre os cônjuges, também elencou barreiras comportamentais que se aplicavam à vida cotidiana dos casais chegando ao ponto de regulamentar, inclusive

"...a atividade sexual dentro do casamento, proibindo-a em todos os dias de festas religiosas e jejuns (dos quais havia 273 no século VII,(...) reduzidos para 140 no século XVI), aos domingos e nos períodos em que se considerava que a esposa estivesse impura (durante as regras menstruais,(...) a gravidez, (...) o aleitamento e por quarenta dias após o parto). De maneira geral, isto permitia que os parceiros casados praticassem sexo menos de uma vez por semana"(RICHARDS, 1993, p. 39-40).

Na sociedade medieval, desrespeitar estas regras poderia implicar em penitência, por conta do comportamento desviante e pelo ato de anarquia contra o poder da Igreja. Deste modo, entre o medo e a fé, os preceitos matrimoniais da Igreja Católica foram se infiltrando e se consolidando em na cultura ocidental, fazendo de nós meros espectadores na ordenação do mundo. Por isso mesmo, é que podemos reproduzir a afirmativa de que os componentes ideológicos da cultura podem ter conseqüências adaptativas no controle da sociedade.

Mas, o que é este elemento que constitui nosso imaginário de forma tão imperativa, que ora nos liberta, ora nos torna reféns de nós mesmos? Uma possibilidade, é pensarmos a cultura como

"uma dimensão do processo social (...) Não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções (...) como se poderia dizer da arte. Não é apenas uma parte da vida social (...) como se poderia dizer da religião (...), cultura diz respeito a todos os aspectos da vida social (...). É uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social (...), é um produto coletivo da vida humana"(SANTOS, 1996, p. 44-45).

Em outras palavras, a cultura é o todo da generalidade humana, é o maior instrumento da liberdade social. Só por meio dela é que se podemprocessar as singularidades e as diferenças, mas, é também por meio dela que se podem construir teias ideologizantes, para o bem e para o mau. Assim, é pela cultura que nos tornamos fortes e nos tornamos vulneráveis a medida em que abrimos nossa mentalidade e nosso imaginário para o desconhecido. É a ela que culpamos e é com ela que explicamos atitudes como a necessidade de tolerância da esposa em relação a um comportamento do esposo. Na entrevista de Lúcia esta situação é explicitada da seguinte maneira:

"Eu mudei com o tempo (...) porque queria manter meu casamento (...) tive que compreender que ele jogava bola (...) e o que vinha depois: o pagode, a cerveja, os domingos (...).Se fosse o contrário sei que ele não teria a mesma compreensão (...), naquele momento eu cumpria o papel de esposa (...), que era diferente do papel de esposo, até pela própria formação do homem, porque é cultural, ele nasce e quando chega aos 15 anos ele é o pegador (...) a menina tinha que se guardar"(LÚCIA, entrevista nº02).

Neste discurso fica implícito que à esposa cabia o papel de tolerar as ausências e o poder de liberdade do marido, porque, a sociedade havia lhe concedido este direito ao nascer, isto é, ao nascer homem. Nesse sentido cultural nascer homem significava ter prerrogativas que as mulheres não tinham, percebe-se, então, que Lúcia tornou-se refém de seu próprio conceito de cultura, ao aceitá-la não como um instrumento, mas, como um condicionante da vida social. O que talvez Lúcia não vislumbrasse é que "a cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações" (LARAIA, 2003, p.48), logo, cabe a ele mudá-la ou não, isto é, não se trata de um determinismo biológico, mais de uma escolha pessoal.

A cultura nos impõe uma forma de vermos o mundo, nos faz eleger como normais e corretos os valores, as normas e os comportamentos que nos foram passados como herança pelas gerações anteriores. O estigma da mulher separada, da mulher que ficou para "titia", da mulher que usou o casamento como uma opção de sobrevivência, foram assim estabelecidos. E como

"...a nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade..." (LARAIA, 2003, p.48),

tais mulheres passaram a viver sob a fobia da exclusão social, sob o imaginário do casamento a qualquer custo. Era a tônica do casamento socialmente construído, até porque, o casamento inibia o "falatório", dava status ao marido, a esposa e a suas respectivas famílias. A propósito desta simbólica situação, Iraciara revelou:

"...mesmo que não tivesse toda essa questão familiar, nós ainda teríamos optado por esse casamento oficial, pela própria formação que eu tive e pela cobrança da minha família (...). É aquela questão do padrão social que agente vive e, até de dar uma resposta para a própria sociedade (...) para que os "outros" não falassem" (IRACIARA, entrevista nº03).

Como bem coloca Iraciara, tratava-se da resposta dos proclamas, então, dava-se uma resposta à sociedade e ela, por sua vez, acenava com sua aprovação.

Como se pode notar, a idéia de casamento, arquitetada desde a antiguidade, ainda faz parte do imaginário da mulher contemporânea, são dados na verdade como elementos da própria cultura.

O tradicionalismo do casamento religioso não está presente apenas em seu ritual, como também, na reprodução de um discurso milenar difundido entre nós, o qual subentende que a conjugalidade fora do casamento oficial, além de ser um grave pecado contra as doutrinas religiosas, é um desvio à conduta padrão, a qual, homens e mulheres deveriam se submeter sem questionamentos, posto que, é daí que nasce a verdadeira família. As mulheres que cresceram ouvindo tais preceitos, culturalmente, têm dificuldades em romper com estas ideologias, e outras, por estarem convictas de sua religiosidade podem manifestar a vontade de seguirem a risca estas regras. No primeiro caso temos o exemplo de Iraciara:

"Nós casamos no religioso no Rio Grande do Sul, por causa da família dele que é de lá (...). Não que eu ache necessário, mais a formação que agente teve desde de pequeno, o exemplo que eu tive (...) dos meus pais, é que se deve casar na Igreja e no civil"(IRACIARA, entrevista nº03).

No segundo caso, temos as experiências de Irene e Lúcia, respectivamente:

"...ele até agora não quis casar comigo, agora, por mim, eu casaria na minha religião" (IRENE, entrevista nº01);

"...eu vou casar no religioso (...) a importância do casamento religioso é pela própria religiosidade que eu tenho hoje (...). Não acredito que por não ser casada no religioso eu viva em pecado, mas para algumas posturas dentro da Igreja, não posso atuar (...), então, é por isso. É mais pela questão religiosa mesmo" (LÚCIA, entrevista nº02).

Vê-se, portanto, que para estas mulheres a importância do casamento religioso foi construída com base em dois fundamentos: o primeiro é a questão cultural, pela qual se apreendeu que esse era o modo correto de viver, o segundo é a questão da fé, que foi introjetada em suas almas, e que tem uma forma particular de estabelecer o casamento. De todo modo, não podemos deixar de considerar que a fé é só mais um mecanismo pelo qual os ditames culturais se fazem presentes em nossas vidas.

Pelas iconografias 2,3,4,5 fica também implícita uma outra questão: a transferência do poder patriarcal sobre a mulher que passa do pai para o marido, determinando a partir daí quais seriam as funções da mulher dentro do casamento.

A partir da oficialização do ritual do casamento, quer seja este civil, religioso ou união estável, marido e esposa assumem, daí por diante, um compromisso de ordemmoral, sexual e financeira. Na particularidade da mulher, algumas funções passam a fazer parte de seu dia a dia. Tais funções foram inseridas em seu imaginário desde a infância, algumas mulheres foram educadas e condicionadas a viver para casar e para servir exclusivamente ao marido e a futura prole. Nem sempre lutar contra isso foi permitido, principalmente, porque

"Enquanto a sociedade entendeu que a principal finalidade da vida feminina era o casamento, as mulheres foram encorajadas a sustentar relações conjugais insatisfatórias, tanto pela força da religião quanto pela legislação. A moralidade cristã, que transformou o casamento em um sacramento, condenou-o, porisso, a permanecer válido por toda a vida..." (NADER, 2004, p. 11).

Era, portanto, a força da tradição, a imposição cultural e o medo da excomunhão insistindo na realização e na manutenção da conjugalidade. Só uma mudança de mentalidade poderia alterar o direcionamento deste eixo social tão arraigado em nossas entranhas.

À época do Brasil Colonial, por exemplo, a função da mulher pós-casamento era rigorosamente definida: cuidar e educar os filhos, servir ao marido e a casa, mas, principalmente, ser um agente de propagação do catolicismo. Na entrevista com Irene tem-se a seguinte definição: "Para mim, dentro do casamento, a função da mulher é ser mãe, cuidar do marido, trabalhar fora e em casa se for preciso"(IRENE, entrevista nº 01). Lúcia, por sua vez, afirmou que "...a função da mulher dentro do casamento é de construir uma família, de conviver bem, mesmo que tenha uma dupla, tripla jornada de trabalho..." (LÚCIA, entrevista nº 02). O que nós podemos com certeza inferir destes três discursos é que, a função da mulher dentro do casamento pouco se reformulou, no que diz respeito ao imaginário social e cultural de acordo com Irene e Lúcia, o que não significa, necessariamente, que as mesmas limitem suas vidas conjugais a seguir estes preceitos, muito embora, a base de suas concepções seja muito semelhante àquela definida no Brasil Colonial e sancionem, ao enfatizarem que cabe à mulher a responsabilidade de cuidar dos filhos, a velha segregação sexual que determina a superioridade masculina em detrimento da submissão e aparente docilidade da mulher.

A naturalidade declarada com que a infidelidade masculina deveria ser tolerada dentro do matrimônio é outra questão que causa desconforto entre os cônjuges. Esta idéiafoi comumente justificada pela construção secular e cultural da masculinidade e virilidade do homem, para o qual se admite um relacionamento aberto com mulheres que não sua esposa, posto da reprodução do discurso que já figura como um ditado popular: "é da natureza do homem trair". Quando assim o concebemos, admitimos e reproduzimos a idéia complementar de que deve ser da natureza feminina aceitar a infidelidade, posto de seu imperativo cultural. Por outro lado, devemos lembrar que a infidelidade feminina sempre foi combatida, por várias razões: na antiguidade, por exemplo, exigia-se a fidelidade da mulher casada para assegurar a legitimidade dos filhos; na sociedade medieval essa exigência se dava no mesmo sentido e ampliava-se à questão moral, tal como hoje. Na voz de Irene, esse discurso chega a se espelhar:

"Eu nunca soube de ele ter me traído, mas, eu desconfiava sim, eu ficava com o pé atrás, agora, se ele tivesse me traído e eu soubesse que fosse uma coisa séria, tipo outra família, um filho, eu teria separado, claro, agora, se não fosse sério, eu acho que teria continuado com ele..." (IRENE, entrevista nº 01).

Para ela, a questão da infidelidade tem um diferencial: ser sério ou não. Assim, um simples caso seria relevável e até considerado normal, afinal ele é homem. Mas, um filho, isso sim seria inaceitável, talvez, porque ele transformaria a traição do marido em mais do que um registro escondido em sua memória, seria uma marca viva de sua subordinação.

Lúcia, por sua vez, afirma:

"No meu caso eu não aceito, a fidelidade é imprescindível, a questão de ser infiel porque se sentiu atraído por outra pessoa não existe, se é assim então não case, não constitua família...Nunca soube de ter sido traída, mas, acho que se tivesse acontecido eu não teria me separado, é até contraditório dizer isso, mais é verdade, talvez eu relevasse por não querer perder..." (LÚCIA, entrevista nº 02).

Lúcia não destoa do discurso de Irene, não aceitaria, todavia, perdoaria. E nos informa mais, seu comportamento de tolerância estaria ligado, não necessariamente, ao papel estruturado para a mulher em relação à traição do marido, mas, fundamentalmente, atrelado ao sentimento de posse quem tinha em relação a ele, sentimento este, que a faria preferir a subjugação a perder o marido, a condição de esposa e de mulher casada.

Seja como for, é importante termos em mente que, a partir dos anos de 1980, nossa sociedade vem apresentando mudanças em seus valores, os quais vão desde o comportamento atribuído a homens e mulheres,eultrapassam os dogmáticos preceitos religiosos. Assim,

"...as atitudes (...) dos religiosos, que (...), pregavam o comportamento feminino baseado no viés da tolerância e da submissão (...), deixaram de existir e os casamentos tornaram-se suscetíveis ao rompimento (...) o estigma de mulher separada deixou de existir" (NADER, 2004, p.15).

Começava a ser desenhado um novo caminho, um novo paradigma para as relações matrimoniais, e que, embora, ainda não tenha conseguido romper com velhos valores e conceitos, tende a fazê-lo pelas mãos das próximas gerações.

3- Memória: cenário da vida privada

A História do Cotidiano e da Vida Priva fazem parte de uma gama de tendências historiográficas que vêm ganhando força entre os historiadores nas últimas décadas. Mas, para que a mesma se afirmasse enquanto campo de investigação, vários embates teórico-metodológicos foram travados até que se olhasse para a História do Cotidiano e da Vida Privada como uma História-problema e não como uma mera História-descritiva. Este processo fez parte do que poderíamos chamar de democratização dos objetos e sujeitos da História, pois, com este pressuposto, a historiografia passou a inserir em seus manuais as vozes, os sentimentos e os feitos dos anônimos e pequenos heróis, fazendo da coletividade e da cultura de massas um campo de investigação.

O trabalho com a Memória, enquanto fonte de pesquisa do historiador, se transformou em um elemento importantíssimo para a reconstrução de uma História do Cotidiano e da Vida Privada mais recente. A análise dos discursos presentes nas lembranças da população comum nos permite contrastar fontes e documentos oficiais, produzidos por uma elite que não compartilha dos mesmos cenários desta outra população que coexiste, com a seleção que a memória faz dos acontecimentos que julga relevante. Quando esta memória representa uma coletividade, percebemos que o tempo e o espaço interagem na composição das identidades coletivas. Assim, é possível que, através da memória coletiva e seletiva, o historiador perceba traços de continuidades e/ou rupturas comportamentais, definidas pela cultura e identidades humanas reestruturas no tempo e no espaço.

Utilizar a memória como instrumento para composição da História humana é um procedimento bastante antigo verificado em nossa sociedade. Por muitos anos, fez parte da tradição de populações que não conheciam outra forma de relacionar presente e passado. Assim,

"Para os povos ágrafos, a memória é o repositório dos feitos e fatos do passado. Para garantir a manutenção das lembranças, era escolhido...o pastor da memória, encarregado da manutenção do passado, que deveria passar para seu sucessor. O guardador da memória realiza a união entre o fato e a sua representação e mantém vivo o passado para o grupo..."(LENSKIJ; HELFER, 2000, p.23).

Isto prova que a importância da memória e de seu guardador é relativa. Para as sociedades quem adotaram a escrita, a mesma foi perdendo seu sentido de ser. Mas, para o pesquisador que nela vê a possibilidade de compreender detalhes escondidos e silenciados de fatos históricos sacramente definidos, a memória se transforma em fonte, da qual, não se pode prescindir quando se trata de reescrever uma História mais plural. Como, por exemplo, enxergaríamos hoje a História das Ditaduras Militares sem os valiosos depoimentos dos presos e das famílias dos desaparecidos políticos, dos torturados, dos exilados, dos mutilados? Como conheceríamos a verdadeira História dos horrores do holocausto? Certamente não enxergaríamos e não conheceríamos, pois, teríamos nos limitado àquilo que os documentos oficiais nos informassem.

Palavra de origem latina, memória deriva dos vocábulos menor e oris, e significa lembrança. Mas, do ponto de vista histórico, está ligada a existência de uma deusa: Mnêmesis (Memória).Filha de Cronos (Céu) eGea (Terra), Mnêmesis representa a união do mundo da representação com o mundo real simbolizado, respectivamente por seus pais. E, sabe-se que "de...Zeus e Mnêmesis, nasce Clío (a História). Filha da Memória e de Zeus, senhor do poder do Olimpo, Clío tem seu berço no cume do poder terrestre e na representação do passado"(LENSKIJ; HELFER, 2000, p.24). Podemos, então, considerar que a partir da primitividade da memória se fez a história, como uma forma mais elaborada e dotada de métodos e técnicas científicas, de se redescobrir e relacionar o passado ao presente.

A memória não é uma fonte das mais simples de se trabalhar. No entanto, se justifica pela possibilidade que nos apresenta de contextualizarmos de maneira mais presente a história regional a qual é, sem dúvida, uma via bastante eficaz de inserirmo-nos na elitisada história nacional. Assim, através das memórias de minhas entrevistadas, Irene, Lúcia e Iraciara, venho tentando contextualizar o cotidiano do casamento em Santana, com os casamentos de outros tempos e espaços, evocando a memória coletiva transmitida por suas experiências.

Irene tem 52 anos e é casada há 12 anos. Casou-se, interessantemente, só aos 40 anos. Mesmo assim, teve seu direito do tempo de namoro garantido, um namoro de 1 ano que entre idas e vindas acabou se transformando em casamento:

"Eu morava na casa do primo dele e ele trabalhava e sempre ia para lá... No começo eu não queria namorar ele, aí a sobrinho dele dizia: "namora com o titio que ele é trabalhador" e eu dizia não, eu não quero namorar com este homem não, ele é muito feio. Bom, ele ia e lá se passavam 15 dias lá vinha ele novamente, trazia as coisas e dizia para a sobrinha dele: "dá para ela, eu trouxe foi para ela"(...). Ele (...) ficava 15, 20 dias fora, aí quando ele chegava (...)ele ia lá onde eu trabalhava, fazia o primo dele, Zé Maria, ir lá me buscar de noite, para agente namorar"(IRENE, entrevista nº01).

Depois de muito ser cortejada aconteceu que Irene foi mesmo vencida pelo amor, logo ela, que tinha ido à Caiena pensando em encontrar por lá um homem alto, loiro e dos olhos azuis, acabou casando com o príncipe que ela achava feio. Não chegou a noivar, na verdade, seu casamento trata-se de uma união estável, mas, ela afirma: "eu me considero casada com ele e ele também se considera casado comigo, independente de papel, de cerimônia, de casamento civil. Isso tudo eu não tive, foi mesmo só a união pessoal..." (IRENE, entrevista nº01), em outras palavras, os dois assumiram um compromisso social que vai muito além do estereótipo do concubinato.

Lúcia casou-se com 18 anos. Atualmente com 39 anos ela faz a seguinte narrativa:

"Não casei nem no civil, nem no religioso, foi uma união simples, hoje uma União Estável. Preferi isto, pois achava que casar não dava certo, eu não acreditava na instituição Casamento, casamento oficial, cartório, no civil mesmo, eu não acreditava, achava aquilo tudo uma bobagem".

Hoje, a opinião de Lúcia mudou, ela quer casar no religioso. Todavia, é curioso perceber que mesmo não acreditando, ela optou em casar-se, posto que, é disto que se trata. Um casamento não é feito apenas pela assinatura de um contrato, este, aliás, é tão somente, um detalhe que se pode descartar. É feito sim, pelo enlace pessoal, pela vida conjugal assumida e compartilhada a partir de então. Talvez, ao se posicionar desta maneira, Lúcia tentasse romper com o padrão social de comportamento transmitido pela memória coletiva que ela reproduziu em sua vida real. Tanto que, durante o namoro Lúcia seguiu o ritual matrimonial ao pé da letra. Seu marido pediu permissão para namorar e depois pediu permissão para noivar. Após 1 ano de namoro e 5 meses de noivado, uniram-se, sem grandes festejos, é verdade, mas, o que importa? A motivação era o amor. Assim, "quando casamos, não tivemos festa, o Sebastião já morava lá em casa mesmo, trabalhava com o papai, só mudou de quarto, nem de chá de panela, nem nada..."(LÚCIA, entrevista nº 02).Depois de tantas formalidades e pedidos de permissão ao pai da noiva, acabaram dando o famoso "jeitinho brasileiro" de acomodar as coisas.

Iraciara casou-se oficialmente em 1993 com 22 anos e separou-se em 2004, 11 anosdepois do sacramento. Não chegou a noivar e, após 6 meses de namoro partiu direto para as bênçãos do padre e para os braços do desconhecido:

"Nós namoramos muito pouco tempo e aí houve aquela empolgação toda, namoramos pouco tempo e logo nos casamos e isso foi um fator que contribuiu para a separação, porque você tem que conhecer a pessoa para ver se é aquilo que tu queres e, comigo não aconteceu assim, nós namoramos 6 meses, resolvemos casar, casamos e pronto" (IRACIARA, entrevista nº 03).

Apesar de ter sido, entre as três, a única que se casou tanto no civil quanto no religioso, isso não representou certeza de sucesso em seu casamento, aliás, Iraciara vê no curto tempo de namoro um dos motivos de sua separação.

Mesmo não tendo sido evidenciado entre as entrevistadas, é fascinante notarmos o imaginário existente em torno da noiva no ritual do casamento, desde o buquê, disputado pelas convidadas solteiras, até a criação de supertições, como o do noivo não poder ver o vestido antes do casamento sob pena de maus presságios ao futuro do casal. Na Grécia antiga, a preparação da noiva antes do casamento, mais que um ritual era um ato de sociabilidade e confraternização, como se observa nas representações iconográficas da época.

Nos casamentos de Irene, Lúcia e Iraciara, a virgindade já não era matéria de discórdia. É claro que é importante considerar que Irene casou-se aos 40 anos, Iraciara já não era virgem e nem o deixou de ser com o futuro marido e Lúcia tinha uma mãe liberal que, cobrava apenas responsabilidade e que queria que os filhos fossem felizes sem viver em hipocrisia. Isto, sem dúvida, foi uma mudança de comportamento e de mentalidade que se assentou com o tempo em nossa sociedade e, em muitos momentos de nossa história, a virgindade limitou-se a classe social da moça. No caso do Brasil,

"...virgindade não era o forte das noivas no período colonial, época em que muito poucas tinham condições financeiras de pagar um vestido nupcial para ir à Igreja e em que a maioria entregava-se ao noivo nas redes e quintais das casas em troca de "promessa de casamento"(DEL PRIORE, 2001, p. 35-36).

Mais do que amor, essas mulheres viam no casamento a garantia de sua sobrevivência. Elas não perdiam nas redes dos quintais sua virgindade, esta era apenas uma moeda de troca, elas perdiam sim, suas esperanças de um futuro melhor. Assim foi por muito tempo, pois, a castidade e os adornos das noivas só passaram a fazer parte do cotidiano dessas mulheres a partir do século XIX com a popularização dos valores burgueses. Deste ponto em diante, ser virgem poderia significar a possibilidade de realizar um bom casamento e, principalmente, entre as moças de famílias mais abastadas, a virgindadegarantia seu valor político e econômico em seu círculo social.

Para essas mulheres, a possibilidade de um concubinato era incogitável, todas cresceram sonhando com o casamento e todas queriam, a exemplo de suas mães, o status de mulher casada. Mas, a coisa nem sempre aconteceu dessa forma. Muitas vezes a condição e o medo da pobreza conduziu mulheres a se desprenderem do sonho de esposa e adotarem a realidade de concubinas. Na antiguidade,

"As mulheres atenienses que recorriam ao concubinato faziam-no em caso de extrema pobreza, e sobretudo por não disporem de dote. O pai que era incapaz de angariar o dote para sua filha preferia dá-la como concubina a um cidadão rico, assegurando, previamente, a promessa de uma compensação financeira em caso de separação"(VRISSIMTZIS, 2002, p. 64).

Assim, o concubinato tornou-se uma válvula de escape para as mulheres pobres e, para seus pais que, embora, as negociasse a um preço mais baixo, em virtude da ausência de um dote, ainda assim, faziam um bom negócio.

A pobreza como motivação ao concubinato também se reproduziu no Brasil Colonial e, para as mulheres das esferas mais pobres da população, o concubinato ou as uniões consensuais, era a única opção que estas mulheres, solteiras e/ou viúvas tinham para a realização da maternidade e da vida conjugal.

Desta forma foi se desenhando o cotidiano do casamento de nossas mulheres, com sonhos e realidades, com encantos e desencantos, com renúncias e submissão, mais também, com prazeres, vitórias e realizações. Não atoa, Irene, Lúcia e Iraciara assim resumiram suas relações:

"...agora está muito bom...o que passou, passou..."(IRENE, entrevista nº01);

"...amor, paciência,cuidado, compreensão..."(LÚCIA, entrevista nº02);

"...foi bom enquanto durou..."(IRACIARA, entrevista nº03),

um discurso sem tom derrotista, carregado de lembranças, todavia, marcado pelas renúncias e mudanças com as quais tiveram que conviver. Repare neste texto citado por José Maia Bezerra e Décio de Alencar Guzmán a propósito do que seria o casamento em Belém no início do século XX:

"Palavrinhas

-Você gosta muito do seu benzinho? Pergunta ella, emitindo a sua voz mais suave.

-Muito, responde elle, quase num murmúrio, que só os ouvidos amorosos delle percebem.

Vêm ambos, afinal, para a mesa.

Quando ella se ausenta por um breve minuto, elle logo a reclama: Caboclinha!

E ella:

-Que é, meu amorzinho?

-Sente aqui ao pé de seu maridinho.

É o período incomparável das palavrinhas, cuja poesia todos os casados experimentaram já.

Depois, deste segue-se o período menos poético das – palavras

 

Palavras

-Este cozido está duro como chifre! Parece que só passou por uma fervura ou que nem chegou a ferver.

Ella arreda o prato, com visível mau humor(...)

-Deixe vem a sobremesa.

Já não está aborrecido, está encolerizado(...)

E' a primeira vez que elle fala assim tão asperamente, sem reparar que não se acham sós, que a Gregoria ainda não voltou à cozinha.

Ella ergue então seus olhos amendoados, onde bailam duas lágrimas. Elle fica franzido! Uma brusca mudança se opera nelle!...Pede lhe perdão, diz-se bruto, boçal, indigno do seu amor.

 

Palavrões

Desde as 11/¹/² horas da manhã, horas em que elle costuma chegar para almoçar, que ella o espera, não na janela como no começo, mas na varanda, impaciente, porque tem fome, e irritada, por que elle demora. Estamos em plena lua de fel.

O meio-dia não tarda abi. E' depois desta hora que elle, afinal, aparece picado de schopp.

Comem silenciosos, de burros amarrados. No fim da refeição, ao levantar-se, é que elle diz que a comida vai de mal a peor" (BEZERRA; GUZMÁN, 2002, 411-412).

Nestas palavras, palavrinhas e palavrões, narra-se o cotidiano do casamento: uma vida compartilhada em que marido e mulher atravessam corriqueiramente mudanças de comportamento e mudanças de humor. Reproduzem ideologias plantadas em suas almas, vivem conflitos de interesses e personificam os elementos que constituem as estruturas básicas milenares do casamento: poder, sexo, romantismo, amor e liberalismo. É certo que o casamento mudou, também é certo que os cônjuges mudaram junto com ele, e, principalmente, também é certo que, as permanências e as rupturas com os modelos de outros tempos e espaços se confundem, tendo ocorrido, portanto, o que creio seja mais sensato chamar de reconfiguração.

REFERÊNCIAS

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Eletrônicos:

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Entrevistas:

·SILVA, Irene dos Santos. Entrevista de nº 01, concedida em 31 de outubro de 2006. Santana-AP;

·OLIVEIRA, Maria Lucimar Pereira. Entrevista de nº 02, concedida em 30 de outubro de 2006. Santana-AP;

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Autor: Glauciela Sobrinho Cunha Pantoja Ferreira


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