A Bruxa Má de Teresina



Este artigo é uma síntese da dissertação de mestrado, defendida no Mestrado em Políticas Públicas – UFPI, em 30 de novembro de 2005, sobre o estudo do estigma de "lugar violento", logo, de "gente perigosa", sobre a comunidade da Vila Irmã Dulce, construído pelo discurso oficial midiatizado. Esse trabalho teve como privilégio à orientação da Profª.dra. D'Alva Macedo e co-orientação do Profº. Dr. Fabiano Gontijo.

No contexto da reconfiguração urbana de Teresina, entre a verticalização e a favelização, a Vila Irmã Dulce surgiu como parte de uma forma de organização territorial dos pobres – as ocupações coletivas de terras.

Sociologicamente, o estigma é uma categorização de atributos considerados como comuns e naturais construído pela sociedade para rotular/caracterizar um indivíduo, ou grupos de indivíduos, como um ser inabilitado para a aceitação social plena – uma espécie de "identidade social" ou marca identitária. "Um estigma é, então, na realidade, um tipo especial de relação entre atributo e estereotipo", que, no caso da Vila Irmã Dulce, a polícia construiu o atributo – "violento", a imprensa deu o estereotipo – "lugar", e ambos, cada qual com o seu modo discursivo disseminaram a relação entre o atributo e o estereotipo na sociedade teresinense – "lugar violento".

O estigma de "lugar violento", logo, de "pessoas perigosas", sobre a Vila Irmã Dulce não faz jus à comunidade. Já que a convivência social na localidade não se expressa em função da violência, como induz o discurso oficial que impregnou o imaginário teresinense.

O estigma de "lugar violento" sobre a Vila Irmã Dulce é perpassado pela condição social de seus moradores, pois a ideologia policial ainda associa crime à pobreza. A discriminação e a desqualificação social de seus moradores é o maior castigo imposto pelo estigma sobre a comunidade.

Os moradores da Vila Irmã Dulce, pela própria dinâmica da condição humana desejam e almejam por reconhecimento, valorização, acolhimento, visibilidade, significado, distinção e poder que revigorem a sua auto-estima e permita-lhes alcançarem acessibilidade em um grupo social com identidade e apreço próprios.

Tem na resistência um fator primordial para desencadear o processo de mudança e na consciência política da força coletividade o elemento essencial para articular a organização comunitária e superar os desafios postos pelas discriminações, os preconceitos de classe, as exclusões, as intolerâncias, a violência e a condição de pobreza.

Com o estudo foi possível perceber que a história dos pobres em Teresina, no caso da Vila Irmã Dulce, é constituída de trajetórias incertas, onde a intensa mobilidade espacial só cessa quando encontram refúgio numa área desocupada, no afã de superarem a longa experiência de negação do direito à moradia e à cidadania por parte do Estado.

As interpretações sobre as relações sociais estabelecidas pela comunidade e a constatação da existência de redes de solidariedade e de reciprocidade, demonstraram que a localidade não é um "lugar violento", ou de "incivilizados", ou onde a violência é uma marca identitária, já que o seu convívio social não é, essencialmente, estabelecido em função de uma suposta prática de sociabilidade violenta.


Autor: Arnaldo Eugênio


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