A Banda de Congo Mirim 'Sant’anna' de Manguinhos - Um caso de inclusão social.



EDUARDO CÉSAR MIOTTO 
  1. INTRODUÇÃO

A Banda de Congo é um elemento cultural que existe desde o século XIX, possui tradições e características próprias e recentemente incorporou as apresentações infantis. Originado em tradições indígenas, passou a ser mais difundido quando incorporou elementos da cultura negra, com seus cantos e instrumentos rudimentares. Dentre os instrumentos originais, destaca-se a casaca (casaco, cassaca, canzaco), um cilindro de madeira escavado em um de seus lados onde se fixa um pedaço de bambu, talhado transversalmente, que é atritado por uma vareta do mesmo material. Na parte superior, onde o tocador a segura, é esculpida uma cabeça humana, e aí se pintam os olhos, boca e face. As Bandas de Congo são peças fundamentais de um ritual profano-religioso de maior porte: as Festas do Mastro, uma tradição que, segundo o historiador Guilherme Santos Neves, possui características genuinamente capixabas:

"Se há festas do mastro em outros pontos do Brasil – e as há, especialmente no ciclo junino – nem uma só delas se assemelha às festas capixabas como a cortada, a puxada e a fincada do mastro, dentro do ritual profano-religioso que as distingue, com o barco, o mastro e a bandeira do santo, e com o vibrante aparato poético-musical das Bandas de Congos".[1]

A banda de Congo Mirim "Sant'Anna" de Manguinhos (BCMSM), fundada em abril de 2001 por Dona Elcy Rosetti Machado, é uma entidade cultural sem fins lucrativos que busca resgatar a tradição da Banda de Congo daquela comunidade e, também, criar uma maior integração entre crianças do balneário de Manguinhos e de bairros adjacentes, com a participação em eventos e apresentações no município de Serra (ES).É constituída de 27 tocadores e 6 dançarinas, entre 5 e 15 anos, que devem seguir dez "mandamentos", ou seja, regras de comportamento e atitudes para que possam continuar participando da Banda.

  1. OBJETIVOS

Esta pesquisa fundamental pretende demonstrar as atividades da BCMSM que, ao utilizar-se da tradição cultural existente no Congo como instrumento de inclusão social, busca dar determinados valores morais às crianças participantes, visto que a maioria delas reside em áreas de risco social, onde o tráfico de drogas, roubos, assassinatos e demais delitos são freqüentes. A inclusão social a que se referirá esta pesquisa não é apenas a inclusão encarada sob o ponto de vista econômico. Ela passa por considerações mais importantes, no sentido dado por Jessé de Souza, como a valorização subjetiva dos participantes enquanto construtores de uma identidade cultural e coletiva. Outro objetivo da pesquisa é o de analisar os caminhos encontrados por ex-integrantes da Banda e avaliar se as atividades nela desenvolvidas foram relevantes para uma mudança nas perspectivas de desenvolvimento social dos mesmos.

  1. REFERENCIAIS TEÓRICOS

Analisar as representações coletivas tradicionais como constituintes da valorização de pessoas que estão à margem de processos de desenvolvimento social e as representações sociais existentes em eventos sacralizados pela Igreja, utilizando-se do trabalho de Roberto da Matta. Com apoio de trabalhos de Jessé de Souza pensar como enquanto discute-se a inclusão digital, por exemplo, a exclusão social é, marcadamente, um dos grandes entraves para se alcançar igualdade de condições entre todos os componentes da sociedade. Refletir sobre as iniciativas populares em resposta à ausência de políticas públicas que tentem amenizar as dificuldades enfrentadas por uma grande parcela da população, buscando compreender a formação das identidades dos participantes, sob a luz da análise de Izildo Correa Leite.

    4.   METODOLOGIA

População e amostragem/coleta de dados

A pesquisa se desenvolverá por intermédio de entrevistas com as crianças e seus principais responsáveis no que se refere à mudança nas perspectivas para o futuro dos participantes da Banda, ou seja, se poderão reconhecer suas identidades enquanto participantes de um evento afirmador da identidade cultural de uma região. Serão abordados assuntos relevantes como, por exemplo, a evolução ou não nas atividades escolares, comparação de dados da Secretaria de Educação com relação à evasão escolar dos componentes da Banda, aspectos referentes à saúde e mudanças comportamentais dos mesmos. Também serão entrevistados os organizadores da BCMSM, assim como os principais mantenedores. As entrevistas se realizarão, de preferência, nas residências dos componentes da banda, com a finalidade de se observar aspectos sociais com os quais convivem (espaço físico e interações com demais moradores do local), mas também serão realizadas no decorrer das apresentações. Além disso, serão utilizadas pesquisas em acervos bibliográficos e iconográficos.

Materiais e equipamentos: serão utilizados gravador de voz, máquina fotográfica e filmadora, para os registros, inclusive, das apresentações.

  1. BIBLIOGRAFIA

MATTA, Roberto da. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

LEITE, Izildo Correa. Caminhos entrelaçados: Pobreza, questão social, políticas sociais e Sociologia. In: MANFROI, Vânia Maria. Política social, trabalho e subjetividade. Rio de Janeiro: DP&A. 2006.

_________________ Políticas sociais de combate à pobreza: Novos olhares, novos lugares. In: Encontro Nacional de Política Social, 2006, Vitória. [Trabalhos apresentados]. Vitória: UFES, 2006. 1 CD-ROM.

NEVES, Guilherme Santos. Artigo: Folclore Capixaba. A Gazeta. Vitória-ES, 23 de maio de 1968.

__________________ Bandas de Congo, Caderno de Folclores, nº 30, Rio de Janeiro, Ed. FUNARTE, 1980.

SOUZA, Jessé José. Para compreender a desigualdade brasileira. Revista Teoria e Cultura: Revista do Mestrado em Ciências Sociais da UFJF. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2006. pp 83-100.




Autor: Eduardo César Miotto


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