200 Anos



Estamos chegando ao final de 2008, ano em que o Brasil completou seu segundo século de fundação como Estado. É evidente que a questionada independência só ocorreu em 1822 e o período anterior a 1808 é chamado de período colonial.

O que estamos querendo dizer, como já o temos dito em outros momentos, é que o Brasil, como Estado, nasceu em virtude da transferência da sede da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808. Esse episódio se deu como conseqüência da espetaculosa fuga da família real portuguesa acossada pelas tropas francesas, comandadas por Napoleão Bonaparte, quando estas invadiram Portugal, provocando a debandada geral. Fuga tão atabalhoada que a mãe de d João (futuro d. João VI), dona Maria, a louca, teria dito: "Não corram tanto. Vão pensar que estamos fugindo". Em conseqüência dessa fuga e da aportagem pelo litoral do Brasil, nascemos como sede da corte. E, com isso, logo em seguida, o Brasil passou a ser sede de um Reino Unido – bem ao modelo inglês que apoiava os portugueses naquela ocasião.

Mas o propósito deste texto não é discutir ou comentar a história do Estado brasileiro, mas comentar uma fachada comemorativa dos 200 anos do banco fundado por ocasião dessa aportagem – uma instituição financeira que nasceu em resposta às necessidades da corte e do novo Estado, que precisava de um aparato financeiro; também não vamos entrar na discussão da rapinagem que a família real, alguns anos depois, efetivou nesse mesmo banco, quando voltou para Portugal a fim de reorganizar a monarquia portuguesa; lembrado que esse regresso ensejou, logo após, fortes pressões sobre d. Pedro, culminando com o processo da independência. Independência que se deu sem acontecer, pois a mesma família que governava antes, permaneceu depois... A ruptura só ocorreu em 1989, com a implantação da República.

Mas, mais uma vez, isto não é um texto sobre a história do Brasil, mas uma história de uma fachada. Uma fachada em que se lia o seguinte convite: "Neste mês de outubro de 2008 comemore com o Banco da Brasil seus 200 anos". Tudo bem desenhado na fachada vítrea do banco seria um bom slogan marqueteiro – meio fajuto, mas marqueteiro... como se o cidadão tivesse algo a comemorar com uma instituição que tem seus lucros às custas daqueles a quem convida para a comemoração.

Mas existe o lado hilariante do cenário, pois havia algo a mais. Sempre tem algo a mais. Esse algo a mais é o que dá sabor às situações cronicáveis. Leia as crônicas de Drummond, de Sabino, de Machado de Assis, entre outros, para verificar como o cotidiano ganha hilariante literariedade não pelo cotidiano, mas por causa daquele ingrediente a mais que o cronista captura na sucessão das letras que enfileira para criar a crônica cotidiana com características claramente cômicas, com constantes situações cômicas, é bom que se diga...

Neste caso só a fachada publicitária já poderia ser contemplada com sua dose de comicidade. A começar com a pergunta: quem está comemorando 200 anos, o Banco ou o leitor da frase? Notemos que a frase convida a comemorar "seus 200 anos" e não os "200 anos do Banco do Brasil". As pessoas, passando pela porta pública, em frente à fachada poderiam se perguntar: "por que devo comemorar meus 200 anos se minha idade é ainda tão tenra?"

Mas o cômico da situação não é a ambigüidade da frase convidativa. O tom hilariante é que, ao lado do desenho com a frase comemorativa, havia um significativo cartaz: "ESTAMOS EM GREVE".

Agora leia a frase: "Neste mês de outubro de 2008 comemore com o Banco da Brasil seus 200 anos". "ESTAMOS EM GREVE". A dúvida ocorre pelo seguinte: devemos comemorar 200 anos? Comemorar a greve? Ou é a greve que é a comemoração? E, o que é mais importante: o que é que nós, eu e você, vítimas do sistema financeiro, temos para comemorar, principalmente a convite de um banco?

Talvez a direção do Banco venha me responder, dizendo, como diz em uma campanha publicitária de nível nacional: "acontece que o Banco do Brasil é o seu banco. Assim como é o banco do Pedro, da Maria, do José...". Mas se é o meu banco, por que nunca recebo minha parte nos lucros dessa instituição? Ah! Tá certo, é o banco dos brasileiros!!! Mas por que os brasileiros – e eu sou brasileiro – não são bem atendidos? têm que esperar horas e horas e horas, nas filas? Por que nos são cobradas tantas tarifas e taxas e outras tranqueiras que só emagrecem nossas contas correntes? (a conta é corrente possivelmente porque o dinheiro está sempre correndo de nossa conta para o banco!). Certo, para a instituição ter lucro! Mas por que nós, os brasileiros, não participamos desses lucros? Ah! ele é socializado para oportunizar os empréstimos. Mas se o dinheiro emprestado é resultado do lucro do meu banco – é minha parte do lucro – por que me são cobrados juros tão altos, quando necessito do meu dinheiro??????

É evidente que alguém do banco poderia me apresentar muitas explicações. Mas nada tira a comicidade da frase desenhada e do cartaz, impresso em vermelho, que permaneceram lá, desafiando nossa inteligência: "Neste mês de outubro de 2008 comemore com o Banco da Brasil seus 200 anos". "ESTAMOS EM GREVE". E, com todas as crises financeiras que se abatem sobre o povo, talvez não fosse má idéia pensarmos em uma greve contra esse sistema...

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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Autor: NERI P. CARNEIRO


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