O Auto Da Alma: A Via-crucis Existencial



Os valores daquele tempo refletem o momento de transição e, portanto de dualidades em que opostos como: andar/parar, levantar/cair, luz/trevas, alegria/tristeza, vida terrena/vida eterna, inscrevem-se no auto como forma de definir o caráter comportamental e existencial daquele período. Nota-se que a "Alma" representa figurativamente, a forma de ser, de agir e de pensar do homem medieval em transição para a Idade Moderna. Traduz-se neste auto, o choque de dois jeitos de pensar; do Teocentrismo e do Antropocentrismo, concepções que fazem o povo, alegoricamente representado pela Alma vicentina, ser ou não ser conduzido à perdição.

A configuração de um plano divino, ... Pera isso sam e a isso vim. Torna-se evidente sendo elaborado na perspectiva de conduzir a Alma por um caminho definido na busca de um abrigo para protegê-la contra os os mui perigosos perigos..

 A doutrina religiosa prega o desapego material, o desprendimento terreno e a abdicação do mundano em prol do celeste. Defende que tais atitudes são indispensáveis para se obter a salvação ainda que para isso seja necessário o sofrimento. Diante dessa perspectiva, nota-se no Auto da alma uma espécie de estatuto, sobre o qual, os representantes divinos chegam a enumerar os males a serem evitados e as virtudes a serem cultuadas e seguidas.

ANJO

mas enfim,
cumpre-vos de me ajudar
a resistir.

Não vos ocupem vaidades,
riquezas, nem seus debates.

Além de condenar esses comportamentos tipicamente materialistas, Gil Vicente, através do Anjo, reitera a necessidade de devoção e abnegação em prol da vida eterna e do deleite celestial. Além disso, a importância do plano divino para o destino das almas, vistas como construções perfeitas, à imagem e semelhança de Deus e, por isso, devem trilhar os caminhos recomendados por Deus. Assim, o sacrifício é colocado como fundamental para a preservação, a purificação e a santificação da alma:

ANJO

A alma que lhe é encomendada
se enfraquece
e lhe vai tomando raio
de desmaio,

O Anjo alerta para a atenção redobrada que devem ter as almas em seu trajeto terrestre, pois um descuido ou uma negligência para com suas obrigações espirituais podem implicar em retardamento do percurso, em pecados e até mesmo na perdição eterna.

A função mediadora da Igreja como aquela que intercede, protege e zela para que as almas se mantenham no caminho da virtude é demonstrada na fala de Santo Agostinho.

Nesta carreira da glória
meritória,
foi necessário pensada
para as almas.


Autor: Sandra Moreira dos Santos


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