Dialogismo E Realismo Nas Manifestações De Um Ultra-romântico.
Sabe-se que a obra de Álvares de Azevedo reúne poesia, teatro, conto, romance e prosa crítica. Esta ultima é composta de discursos e de cartas.
Este breve estudo pretende focalizar, em especial, as cartas escritas por Álvares de Azevedo para sua família e seu amigo Luiz Nunes. Convém destacar que tanto as suas cartas quanto sua poesia são importantes testemunhas da história pessoal desse escritor. Estas produções situadas entre o indianismo de Gonçalves Dias e o engajamento literário de Castro Alves refletem um jeito especial de sentir o cotidiano do país, já que alia preocupações rotineiras a confissões de sentimentos íntimos, trazendo as marcas de sua personalidade melancólica, zombeteira e masoquista.
Pretende-se focalizar nos textos epistolares de Álvares de Azevedo os percursos percorridos no sentido de questionar preceitos estéticos convencionais, tendo como foco de especial atenção à extrema consciência crítico-estética em que ocorrem questionamentos e até ironização a cerca dos fundamentos canônicos do romantismo. Percebe-se com isso que ele insinua a dessacralização de imagens e conceitos mitificados: "Tudo isto é sublime nos livros, mas é soberanamente desagradável na realidade!".2 Pode-se dizer que em alguns momentos Álvares de Azevedo desconstrói os espaços paradisíacos evocados por José de Alencar para evidenciar outros espaços através de uma descrição realista que se opõe aquelas ritualizadas.
A característica intrigante de sua obra reside na articulação consciente de um projeto literário baseado na contradição, talvez a contradição que ele próprio sentisse na condição de adolescente submetido aos dualismos que caracterizam a linguagem romântica. Tal contradição é perfeitamente visível nas partes que formam sua obra principal, a Lira dos Vinte Anos. Na primeira e na terceira partes mostram um Álvares adolescente, casto, sentimental e ingênuo. Já a segunda parte apresenta uma face irreverente, irônica, macabra e por vezes orgíaca e degradada, um jovem em conflito com a realidade, tragado pelos vícios e amadurecido precocemente.
Autor: Sandra Moreira dos Santos
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