Eles Abusam E Carimbam Seus Abusos. E Ainda Ficamos Parados?



Artigo escrito em fevereiro de 2008

Essa semana, eu reparei no ônibus que os cartazes divulgando as tarifas mais caras tinham estampados os logos da EMTU e do Governo de Pernambuco. Pelo menos essas entidades ainda têm coragem de dar a cara à tapa. Imediatamente pensei: soa como um governo autoritário dizendo por alto-falante "Aumentamos a passagem dos ônibus, e agora vocês terão que agüentar. Conformem-se ou míngüem na lisura, seus avarentos! Um comunicado do Governo de Pernambuco". Isso (os cartazes) para nós não-conformistas soa como imposição de medida autoritária e até como provocação, mas para o povo é mais um comunicado comum que deve ser aceito e seguido.

A questão é o conformismo e alienação do povo. É irritante até, mas temos que lidar com a coisa com calma. É de fazer "pegar ar" quando a multidão dos ônibus fica lá, quieta e calada com tanta chibatada que leva. É como um pastor que obriga os ovinos de seu rebanho a correrem sem parar uma distância cada vez maior. Segundo esse pastor, ou corre o que ele manda ou fica sem comer. Leva ele a vantagem que os ovinos não têm capacidade de raciocínio social para se rebelarem contra seu autoritarismo.

E é algo muito parecido o que acontece com o povo. A diferença é que a corrida é substituída pelo desembolso de dinheiro, uma tunga que se vê cada vez maior, e o "pastor Governo" aplica chibatadas extras - permitindo o sucateamento da polícia, persistindo com um transporte coletivo intragável, se omitindo na dignificação das favelas e roças pobres, etc.. Para a supressão do raciocínio social, vale a ajuda independente (alguns suspeitam conspiradamente de apoio governamental à subcultura alienante, mas não há provas disso) das emissoras de comunicação com atrações fúteis - novelas, bebebê, filmes americanos de tiro e pancadaria, etc. -, manipulação de noticiário sobre protestos, música de qualidade questionável para preencher o vazio intelectual com água de fossa, etc.. Sem falar na negação evidente de incrementação educacional das programações televisivas. Como conseqüência da lavagem cerebral cultural-intelectual, vivemos o que estamos vendo aí: o governo faz o que bem quiser e ainda tenta atiçar (não-intencionalmente) a indignação das pessoas ao estampar seu logo nos abusos oficiais praticados.

Será que é certo que você veja aquilo, que o governo teve a ousadia de assinar embaixo, e fique quieto? É ético isso, é moralmente certo que você não faça nada?

Vou pôr mais lenha na sua fogueira cidadã:

Lembro de 1994, quando eu era novinho. A passagem custava 33 centavos (fonte: EMTU). E de lá pra cá o real não se desvalorizou tanto assim generalizadamente. É certo, no entanto, que o preço dos carros se multiplicou, o de petróleo e derivados alçou vôo, e outros insumos tiveram graves inflações. Mas é certo deixar como está, deixando sem controle tarifas administradas? Lembro que ricos podem arcar com custos mais altos, mas pobres são extremamente mais frágeis perante majorações de preços. Considerando que a inflação do ônibus recai sobre todos independente de classe econômica, isso caracteriza uma omissão do Estado perante todos os quatro Objetivos Fundamentais da República (Constituição Federal, Artigo 4º). E quando um governo "rasga" a constituição e se omite perante as nossas dificuldades, isso deveria causar no mínimo uma comoção nacional. Nem precisa ser um conhecedor de Constituição, basta saber o óbvio da piora da concentração de renda. Mas não é o que acontece.

Então eu insisto: vamos proteger nossos interesses sociais e cobrar o cumprimento da Constituição. Se um governo "rasga a bandeira" e passa seus retalhos na nossa cara, como fazem ao "decorar" os cartazes das passagens mais caras com seus logos, é dever nosso reagir. Caso contrário, o povo estará sendo um incrível covarde. Ou melhor, já está sendo covarde por dar prioridade ao bebebê e ao carnaval em detrimento de seus interesses coletivos de uma vivência mais justa neste mundo movido a dinheiro. E negando a liderança de gente ativista de ideologia utópica e impraticável e ao mesmo tempo em que aceita calado um governo cuja ideologia prática quebra promessas e oprime.


Autor: Robson Fernando


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