As Múltiplas Facetas da Tecnologia: Uma Visão Kenskiana



As múltiplas facetas da tecnologia: uma visão kenskiana

Adilsomar de Oliveira Leite

RESUMO: A tecnologia tem transformado as nossas vidas de tal forma que é praticamente impossível viver sem ela. Este artigo é baseado no trabalho de Vani Moreira Kenski - Tecnologia e as Alterações no Espaço e Tempo de Ensinar e Aprender. A autora, que toma como objeto de estudo as diversas questões e implicações referente às tecnologias, define seu propósito como uma tentativa de mostrar que, no cotidiano, as tecnologias trouxeram novas maneiras de viver, de trabalhar e de se organizar socialmente.

Palavras – Chave: Tecnologia - Visão Kenskiana

Introdução

Esse artigo visa explorar, através das idéias kenskiana, as diversas vertentes encontradas no uso das tecnologias. A metodologia utilizada pela autora é a de tentar mostrar a grande influência que as tecnologias têm exercido em nossa vida, bem como a sua importância para os trabalhos ligados à educação escolar.

...Um pequeno exemplo dessa nova realidade é vista pela maneira comum como as pessoas conseguem, por meio de telefones celulares ou correio eletrônico (e-mail), comunicar-se mais frequentemente com outras pessoas, mesmo quando estas se encontram em locais bem distantes... (KENSKY, 2003, 4)

Realmente o avanço das tecnologias tem interferido na vida do homem moderno de maneira surpreendente e  a autora, na busca de apreender evidências que sustentem as suas idéias, seus questionamentos, utiliza uma diversidade de fontes. Dentre elas ressalta-se Baudrillard (1994), Laurillard (1995) Lévy (1994) e Serres (1994).

Kenski (2003) no seu trabalho de construção do conhecimento, ligado às tecnologias, retrata uma série de aspectos, abordando que as velozes transformações tecnológicas da atualidade é quem dita a maneira pela qual se aprende e se ensina.

O trabalho encontra-se dividido em onze tópicos, além da introdução. No primeiro tópico, O Impacto Temporal das Tecnologias, a autora salienta que vivemos no mundo cada vez mais urgente em que há uma percepção mecânica e objetiva, defendida pelos relógios e calendários que orientam nossas atividades rotineiras. Ou seja, o homem moderno está, de maneira pragmática, subordinado às suas determinações-minutos, horas, dias, semanas, anos e assim por diante. Imaginemos o seguinte: toda vez que o despertador de nossa casa toca, ali não só está impregnado que naquele momento temos que acordar porque temos um compromisso, mas como também anuncia que estamos na era da tecnologia e que já não podemos viver sem ela.

O segundo tópico, O Conhecimento na Nova Era, trata das três diferentes formasdo conhecimento: a oral, que é a forma pela qual tem a maior predominância comunicativa vivenciada; a escrita, que prevalece em nossas culturas letradas e a digital, que em meio a forma oral e escrita, apesar de ser ainda incipiente, tem se proliferado de maneira muito rápida.

Nos tópicos três, quatro e cinco, Kenski explana, de maneira mais abrangente, as três diferentes formas do conhecimento, retratando que estas formas sugiram em épocas distintas. Primeiramente surgiu a língua falada que até hoje é a forma de conhecimento mais utilizada pelo homem para apreensão e uso dos conhecimentos. É atreves dela que se estabelecem os diálogos, conversas, transmitem-se informação, avisos, notícias etc. Mas a linguagem falada, por outro lado, limita o homem no espaço circunscrito do seu grupo. Ou seja, onde ele circula e se comunica, a presença do comunicador é essencial. Já a linguagem escrita,que surgiu bem depois da linguagem falada, não exigia mais a necessidade do comunicador, informando e orientando seu grupo. Na sociedade da escrita o que prevalece é a necessidade de compreensão do que está sendo comunicado graficamente. Ela mudou de maneira significativa o comportamento humano, liberando-o da obrigatoriedade de memorização permanente. Dessa forma, como bem coloca a autora, o tempo é compreendido em novas complexidades: o tempo vivido e o tempo recuperado na lembrança ou no relato escrito. Por outro lado, ainda, temos a linguagem digital que incorporou as duas primeiras. Ela surgiu há pouco tempo, exatamente com o advento das novas tecnologias. Ela representa, assim como a linguagem um outro momento revolucionário na maneira deo homem pensar e de compreender o mundo. A linguagem digital, na verdade, tem seu próprio tempo, ela nos deu o poder de estar em vários lugares, ao mesmo tempo, sem sair do lugar.

No sexto tópico, Os Novos Modos de Compreender-A Árvore, faz alusão à importância de analisar a árvore para tentar compreender as estruturas do saber e das ciências. Nesta linha de pensamento, prevalecem a lógica binária que predomina em múltiplas áreas do conhecimento. Ou seja, segundo o autor, um"tronco" simbolicamente se refere a um seguimento específico do saber e que se desdobra em ramos específicos. Um elemento só pode receber informações de uma unidade superior, à qual é atribuído o poder de memória. A árvore, na verdade, remete-nos ao conhecimento temporal e espacialmente articulado, estruturando em uma continuidade determinada.

O sétimo tópico, O Rizoma,a autora cita a proposta de dois estudiosos: Deluze e Guattari.Segundo eles, o atual estágio do conhecimento humano prolifera por meio das novas tecnologias de comunicação que na forma de rizoma nos fornece a compreensão da "imagem do mundo". O rizoma é uma espécie de célula que diferencia das demais pela sua múltipla diversidade.Qualquer ponto do rizoma pode ser conectado a qualquer outro. Ou seja, o rizoma é basicamente caracterizado pela sua multiplicidade.Ele, na verdade, não é feito de unidades, mas de dimensões. E é dentro desse viés que se deve analisar um estudo específico de uma determinada área do conhecimento para que se possa atingir objetivos específicos de outra área.

O oitavo tópico, Os Impactos na Prática Docente,ressalta a importância de mudar as percepções do professor e não apenas as teorias. Ou seja, de acordo com a autora, é preciso que o professor posicione-se não mais como um detentor do monopólio do saber, mas como um parceiro, um pedagogo que encaminhe e oriente o aluno diante das múltiplas possibilidades e formas de alcançar o conhecimento e de se relacionar com ele. Nessa perspectiva, o aluno deve aprender "por descoberta", por interação, cabendo ao professor intermediar os conhecimentos, orientar os seus educandos. Dessa forma, a educação garantirá a necessária adesão social a um projeto de convivência com os outros espaços sociais e as mais recentes tecnologias.

No nono tópico, Espaços e Tempo do Docente, Knski aborda que a qualificação do professor deve ocorrer durante todo o seu caminho profissional, dentro e fora da sala de aula para que a prática docente aconteça de maneira significativa. Ou seja, é preciso que esse profissional tenha tempo e oportunidade com as novas tecnologias educativas para que possa usufruir juntamente com os seus alunos.

O penúltimo tópico, Desintermediação Entre o Professor e as Novas Tecnologias a autora faz alusão às mais variadas queixas colocadas pelos professores ao se depararem com as novas tecnologias. Segundo ela, o motivo das queixas está estritamente ligada ao fato de muitos programas de Softwares eram realizados por equipes técnicas que, geralmente, não entendem de educação. Isso contribui de maneira significativa para que, boa parte dos programas, não tenha êxito nas instituições escolares. Uma solução para este tipo de problema estaria na possibilidade de professores poderem também fazer parte do processo de construção dessas novas tecnologias educativas.

O último tópico, Espaço e Tempo Docent trata dos dois aspectos que as tecnologias redimensionaram o espaço da sala de aula. São eles: os procedimentos realizados pelo grupo de alunos e professores e o próprio espaço físico da sala de aula. Esses aspectos devem promover uma nova distribuição de espaço e uma nova relação de tempo entre o trabalho do docente com o discente e o trabalho de cada um deles entre si. Ao professor é necessária uma reorientação da carga horária de trabalho para que ele possa aprender a manusear os recursos multimididáticos.

Tecnologia e as Alterações no Espaço e Tempo de Ensinar e Aprende é um excelente artigo. Vani Moreira Kenski de maneira clara e elucidativa, responde a muitas das inquietações relacionadas às novas tecnologias. Ela faz uma viagem, passando pelas questões do impacto temporal das tecnologias, do conhecimento na nova era, das três formas de linguagem e tantas outras, oferecendo, desta forma, tanto ao leitor especializado quanto ao leitor comum e, especialmente, aos educadores uma nova concepção de ver as novas tecnologias não como algo burocrático e inacessível, mas sim como uma importante ferramenta para tornar o ensino aprendizado mais prazeroso e significativo.

Referência

KENSKI, Vani Moreira. Tecnologia e as Alterações no Espaço e Tempo de Ensinar e Aprender. São Paulo: Papirus, 2003.


Autor: Adilsomar de Oliveira Leite


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