A Diversidade Lingüística na Sala de Aula (Por Tathiany Pereira de Andrade)



A diversidade lingüística na sala de aula

Diante da realidade social brasileira, marcada pelas diferenças e pela discriminação e exclusão, torna-se imprescindível que se discuta a diversidade lingüística e a desvalorização de variantes lingüísticas em prol da valorização da norma culta da Língua Portuguesa.

Embora o padrão de língua idealizado pelos gramáticos permaneça como o modelo a ser imitado, a Lingüística Moderna deu abertura "para as variantes da oralidade, sem hierarquizá-las valorativamente" (MATOS e SILVA, 2001, p. 11).

Não há por que desvalorizar os saberes trazidos pelos alunos, só porque estes não fazem uso da variedade padrão da Língua Portuguesa. Afinal, segundo Paulo Freire (1996), uma das figuras de maior destaque na pedagogia brasileira, pensar certo impõe ao professor a obrigação de respeitar os saberes dos educandos e discutir com eles a razão de ser desses saberes em relação aos conteúdos ensinados na escola. Levando para o "ensino de língua" (expressão questionada por muitos estudiosos que dizem que afirmam que não se ensina língua na escola, mas que a criança já chega à escola falando uma língua), isso implica em que o professor, além de respeitar a variante lingüística utilizada pelos alunos, deve refletir sobre as relações existentes entre as diversas variantes, inclusive a variedade padrão, que não deve deixar de ser apresentada aos alunos. Afinal, é como afirma Possenti (1997): "Não ensinar o padrão é tirar o português da escola" (p. 33).

Desta forma, a escola deve criar condições para que os alunos menos favorecidos que não dominam a norma padrão passem a dominá-la.

Achar que os alunos são incapazes de fazer o uso do português padrão seria subestimar a sua capacidade. Por outro lado, negar a sua variedade lingüística em valorização à norma padrão seria discriminatório e hierarquizador, demonstraria o desconhecimento da diversidade lingüística brasileira.

De acordo com Mauricio Gnere, citado por Matos e Silva (2001), as variantes estigmatizadas são o "arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder" (p. 13). Eis a importância do ensino do português padrão. Entretanto, como já foi bem destacado, é fundamental que a escola respeite a modalidade de língua que cada um traz de sua comunidade, e que permanecerá utilizando em seu meio social.

Assim, apesar da discriminação e exclusão existentes no meio escolar, o professor de língua portuguesa deve contribuir para o desenvolvimento lingüístico e social dos alunos, respeitando seus falares, suas histórias, enfim, respeitando o ser humano que se encontra na sala de aula.

Referências Bibliográficas

MATOS e SILVA, Rosa Virgínia. Contradições no ensino de Português: A língua que se fala X A língua que se ensina. São Paulo: Contexto, 2001.

POSSENTI, Sírio. Sobre o ensino de Português na escola. In.: GERALDI, João Vanderley. (Org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Àtica, 1997, p. 22 – 38.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).


Autor: Tathiany Pereira de Andrade


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