Resenha Crítica da Vida Política de Martin Luther King



Por detrás da "mitificação" de Martin Luther King como símbolo da luta pelos direitos civis dos negros nos EUA se esconde uma política deliberada por parte da burguesia mais reacionária de condicionar um movimento revolucionário aos interesses do Estado capitalista. Este meu comentário acima serve de referência para ilustrar todo o poder que envolvia a sociedade americana no contexto de Luther King, onde além de seu sonho existia também os interesses da burguesia reacionária, com os seus interesses capitalistas. Sendo assim.

"Eu tenho um sonho de que um dia, esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios". Para a maioria das pessoas não seria necessário dizer quem foi o autor desta citação, famosa principalmente pela história da luta dos negros pelos direitos civis.

O famoso discurso de Martin Luther King em frente ao Monumento Nacional de Washington em 1963, ato que celebrou a assinatura de John F. Kennedy sobre a Lei dos Direitos Civis, seria o epílogo de uma luta de séculos contra a escravidão e a opressão dos negros. A lei, no entanto, não seria mais que uma mera formalização do Estado capitalista para engolir de vez um movimento negro de fortes características revolucionárias.

Há 40 anos atrás, no dia 4 de abril de 1968, Martin Luther King foi assassinado na saída do hotel onde estava hospedado, na cidade de Memphis, onde participaria de mais uma marcha. Todo o invólucro messiânico criado em torno dele teve um propósito bem objetivo: conter a luta revolucionária dos negros norte-americanos e agregar o movimento aos interesses do imperialismo.

[É uma unanimidade entre os livros de história e em todo o ambiente acadêmico louvar os feitos de figuras como Mohandas "Mahatma" Gandhi e Martin Luther King, que seriam figuras unânimes contra as quais não se poderia ir contra .

Ambos estão lado a lado e intrinsecamente ligados à resistência pacífica contra a opressão. Gandhi foi o precursor da filosofia da não-violência. Quando se fala em Gandhi ou Luther King, é esta idéia que está sendo vendida, a da passividade diante das forças repressivas do Estado burguês. Passividade que contribuiu decisivamente com a repressão brutal de inúmeras manifestações tanto dos hindus na Índia como dos negros nos EUA.

Uma exceção a esta unanimidade está o grande revolucionário russo Leon Trótski. Em seu texto "Tarefas e perigos da revolução na Índia", publicada no dia 12 de julho de 1930 para o jornal The Militant, ele analisa esta questão no momento em que havia se iniciado um grande movimento contra a dominação britânica sobre a Índia. Sua análise cabe perfeitamente à política seguida por Luther King e sem dúvida continua sendo ainda muito atual entre setores pequeno-burgueses que atuam no movimento operário e popular, inclusive no Brasil.

O movimento de resistência passiva de Gandhi é um nó tático que ata a ingenuidade e a abnegada cegueira das massas pequeno-burguesas dispersas às traiçoeiras manobras da burguesia liberal. As fórmulas tolstoinianas de resistência pacífica foram em certo sentido a primeira etapa do despertar revolucionário das massas camponesas russas. O gandhismo é o mesmo em relação às massas populares na Índia. Quanto mais 'sincero' se mostra Gandhi pessoalmente, mais útil será para os amos disciplinarem as massas. O apoio que presta a burguesia à resistência pacífica ante o imperialismo é só uma condição preliminar para sua resistência sangrenta ante as massas revolucionárias.

Por isso mesmo é necessário esclarecer e denunciar que não é por acaso esta "eternização" de Martin Luther King e outros líderes. O imperialismo transformou numa espécie de patrimônio da humanidade e num exemplo, muito conveniente para o imperialismo, diga-se de passagem, a ser seguido: o de não resistir contra as armas da repressão. Tanto é assim que hoje, os EUA celebram até mesmo o Dia de Martin Luther King, feriado nacional que acontece toda terceira segunda-feira do mês de janeiro. Outro exemplo foi a premiação recebida por King, a pessoa mais jovem a receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1964; na verdade um agradecimento do imperialismo por ele ter condicionado um movimento revolucionário em lei.

Nesse sentido, muito mais do que um símbolo de resistência, sua política foi um instrumento do imperialismo para conter o crescente levante do movimento negro pelos direitos civis, isto é, um movimento verdadeiramente revolucionário. Luther King foi nos EUA o que Gandhi foi no processo de independência da Índia, um freio de contenção de uma mobilização revolucionária. Além de pastor, Martin Luther King Jr., nascido no estado sulista da Geórgia, Atlanta, no dia 15 de janeiro de 1929, se formou também advogado, mas foi como ativista político que se tornou conhecido.

Filho de Martin Luther King e Alberta Williams King, graduou-se no Morehouse College em 1948 em sociologia e em 1951 formou-se no Seminário Teológico Crozer, em Chester, Pensilvânia. Em 1954, já era pastor da Igreja Batista, em Montgomery, Alabama e um ano depois recebeu um PhD em Teologia Sistemática pela Universidade de Boston. Casou-se em 18 de junho de 1953 com Coretta Scott King (falecida em 30 de janeiro de 2006) e com ela teve quatro filhos - todos vivos e igualmente defensores dos direitos civis dos negros.

A vida política de King teve início com o boicote ao transporte público no estado do Alabama que durou 381 dias e do qual foi um dos organizadores. No dia 1º de dezembro de 1955, Rosa Parks, conhecida como a mãe dos direitos civis, desafiou a lei de segregação por não ceder seu lugar em um ônibus para um branco.

O ato de Parks foi a culminação de um movimento que iniciou um boicote em massa contra o transporte público por parte de toda a população negra do Alabama, iniciando uma luta que culminaria no fim da segregação no transporte público e, em 1963, na Lei dos Direitos Civis. Sentada na seção reservada aos negros, o motorista do ônibus exigiu que todas as pessoas negras cedessem seus lugares aos brancos que estavam de pé.

No entanto, Parks não cedeu o seu lugar para um dos brancos e imediatamente foi presa, sendo também obrigada a pagar uma multa de US$ 14 por infringir a lei de segregação, que previa que um negro sempre cedesse o seu assento em transportes públicos para uma pessoa branca. Parks foi solta sob pagamento de fiança. Logo após ser detida, o Conselho Político Feminino idealizou um boicote ao sistema de ônibus, que foi aceito por unanimidade em uma assembléia realizada e liderada por Martin Luther King Jr. O dia 5 de dezembro de 1955 foi a data do primeiro dia de boicote, que só viria a terminar em janeiro de 1957.

Depois deste grande movimento, participou da fundação da Conferência de Liderança Cristã do Sul (CLCS, na sigla em inglês), um grupo que unia várias comunidades negras ligadas à Igreja Batista que deveria impulsionar a luta pelos direitos civis. Seguiu como líder deste grupo até a sua morte.

A maior força política do movimento negro norte-americano se deu basicamente a partir de 1954 até a década de 70. Organizações como o Black Power e os Panteras Negras na década de 60, sucessores das idéias socialistas de Malcom X, representavam um novo nível de mobilização contra o racismo. Eram grupos que se distinguiam das idéias não-violentas encabeçadas por Martin Luther King.

A tomada dos negros pelas suas liberdades democráticas adquiria um caráter cada vez mais revolucionário. O governo norte-americano tinha uma grande preocupação em impedir que o movimento chegasse a proporções incontroláveis. Para isso atuou com a ala direita do movimento negro, como o próprio Martin Luther King. Ao mesmo tempo em que a repressão aumentava, o Estado procurava não coibir totalmente o "direito democrático" dos negros de se manifestarem. Em algumas ocasiões, o governo precisou intervir até mesmo militarmente contra as recusas dos governos locais em aderir aos direitos conquistados em Cortes Federais.

No dia 28 de agosto de 1963 acontecia na capital norte-americana a maior manifestação política que o movimento negro já realizou, a famosa Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade. Martin Luther King, líder da marcha - foi neste dia que ele fez seu famoso discurso, "Eu tenho um sonho" – estava totalmente fechado com o governo para dar à mega manifestação um caráter pró-governo, louvando a aprovação do Ato dos Direitos Civis, assinado pelo presidente John F. Kennedy.

Mais de 250 mil pessoas vindas de todo o País ocuparam as ruas de Washington para exigir seus direitos democráticos e acabar com a Lei de Segregação Racial. A manifestação era formada pela esmagadora maioria de negros, no qual muitos partiram de suas casas a pé. A própria burguesia, apesar da oposição dos setores racistas do Sul, teve que liquidar o que restava do regime de segregação para não dar lugar à sua liquidação revolucionária, que levaria a uma crise do regime político de conjunto.

Embora a Lei de Segregação Racial tenha sido extinta, até hoje os negros não só nos EUA, mas em todo o mundo continuam sofrendo discriminação em todos os setores da sociedade. O movimento negro norte-americano é a parte oculta da história política dos EUA. Sua importância política e revolucionária torna impossível esconder todos os fatos que influenciaram decisivamente a política, a economia e a cultura dos EUA. O movimento negro deve se organizar em torno de um programa revolucionário e independente da burguesia, pois só assim pode garantir seus direitos elementares e, acima de tudo, o fim da exploração do homem pelo homem, com o socialismo.

Em 1968, Luther King planejava uma nova marcha para Washington para despertar a opinião pública para a relação entre pobreza e violência urbana, porém, antes ele viajou para Memphis, Tennessee, para apoiar uma greve dos trabalhadores de limpeza pública, que recebiam péssimos salários. Mas, no dia 4 de abril, foi assassinado no Motel Lorraine, por James Earl Ray. Sua morte repercutiu com revoltas de negros por todas as partes onde haviam comunidades negras nos Estados Unidos, e o congresso federal estabeleceu a partir de 1986, um feriado nacional em memória a Martir Luther King, e a sua luta, que era um sonho, que um dia, homens e mulheres, brancos e brancas, negros e negras seriam tratados e respeitados não por suas cores, mas pelas suas condições de cidadãos norte-americanos.

BIBLIOGRAFIA

·SHUKER, Nancy. Os Grandes Líderes - Martin Luther King. São Paulo, 'Editora Nova Cultural, 1987.


Autor: Luciano Agra


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