Gravidez na Adolescência: Explorando as Miríades da Experiência Para um Novo Olhar na Construção da Práxis do Enfermeiro



INTRODUÇÃO

A vida acadêmica tem nos possibilitado, enquanto profissionais de saúde, estudantes e professores, compreender que além de uma prática que os futuros profissionais, em sua maioria, querem desenvolver, existe uma lacuna a ser preenchida: a reflexão sobre as ações.

Na esfera da saúde pública, as políticas de prevenção não demonstram impacto na redução dos índices de gravidez na adolescência, o que cria espaço para reflexão e debate, principalmente no que condiz ao entendimento das causas e compreensão de um processo multifatorial, por vezes subjetivo. Especialistas apontam várias causas para o fenômeno, que variam de acordo com a condição sócio - cultural das famílias e com a idade que os jovens iniciam vida sexual.

Existe em algum momento uma falha nas nossas condutas, na nossa práxis no sentido do cuidado destas adolescentes, que continuam a engravidar precocemente, devendo ser repensadas num novo olhar que certamente se estende a conhecimentos técnico-científico. Pensar em saúde, não é mais um conceito que remete a ausência de doença, mas abrange diversas esferas, desde comportamento, contexto em que o individuo se insere na sociedade, suas expectativas de vida, acesso aos serviços de saúde, lazer, trabalho, etc. É também neste conceito de saúde que se inserem os adolescentes, porém, estando muito mais sensíveis e vulneráveis por atravessarem uma fase da vida onde um turbilhão de mudanças biológicas e comportamentais estão se moldando, numa verdadeira metamorfose.

O ENFERMEIRO NA EXPERIÊNCIA DA GRAVIDEZ NA ADOLESCENTE

O cuidar na gravidez na adolescência, necessita de uma abordagem pautada nas possibilidades de compreensão nas origens e possíveis causas do fenômeno o que subsidiou pensar numa nova práxis em saúde, bem como a perceber uma necessidade premente de abertura dialógica entre o enfermeiro e a comunidade em que vive e atua. Essa abordagem é uma explícita convicção de que os cuidados em saúde estão diretamente relacionados às formas pelas quais cada um de nós percebe e age sobre a realidade em que vive. Entender a experiência da gravidez na adolescência, requer um olhar acolhedor.

Deste modo, nossa compreensão de saúde nos conduz a refletir que o contexto social mais amplo absorve nosso interesse de pesquisa. Logo, refletirmos que no aspecto amplo da condição de adolescente grávida existe um contexto social que precisa ser compreendido, extrapolando a visão biológica e adentrando no campo social de nossa prática. A questão não é simples, e merece engajamento, vontade comprometimento e pensamento crítico por parte de nós cuidadores e atores também deste cenário, estando certamente envolvidos nas falhas que o abrangem.

As políticas dirigidas às camadas mais vulneráveis da população, a exemplo dos adolescentes, têm sido pouco enfatizadas pelas políticas de saúde. É preciso reforçar a idéia de que os profissionais são formuladores de política, e que a natureza de seu trabalho requer que detenham um arsenal suficiente de conhecimentos para incorporar novas estratégias de trabalho e detectar demandas sociais importantes.

FATOR SÓCIO CULTURAIS

Sabe-se que as adolescentes engravidam mais a cada dia e em idades cada vez mais precoces. Observa-se que a idade em que ocorre a menarca tem se adiantado em torno de quatro meses por década no nosso século.O contexto familiar tem relação direta com a época em que se inicia a atividade sexual. Assim sendo, adolescentes que iniciam vida sexual precocemente ou engravidam nesse período, geralmente vêm de famílias cujas mães também iniciaram vida sexual precocemente ou engravidaram durante a adolescênciaIII.

Além da precocidade das relações sexuais, a condição financeira das famílias, as faltas de perspectivas no futuro fazem com que a gravidez seja um subterfúgio para diversos problemas vivenciados pelos adolescentes. A falta de auto-estima, a glamurização da gravidez, e até mesmo a idéia fantástica do "comigo não vai acontecer" em relação a não prevenção da concepção, são fatores que estão presentes nesse contexto.

Nas adolescentes pobres, a atração pela gravidez pode ser maior (ou menor o movimento para evitá-la), principalmente porque essas adolescentes são mais destituídas de benefícios sociais e mais expostas às pressões dos riscos de exclusão. Uma vez que o "social" provê pouco alimento psíquico, as respostas da "natureza" podem ser fontes procuradas, até como defesas, perante condições de esvaziamentoIV.

AS INTERVENÇÕES EM SAÚDE

O desafio que se coloca às políticas públicas relacionadas ao fenômeno da gravidez na adolescência, em geral nas instituições de saúde e nas escolas, refere-se à necessidade de articular as intervenções sociais com a dimensão ética que esse problema exige, já que essas ações estão direcionadas a alterar a maneira de essas adolescentes exercitarem seus direitos à liberdade.Significa que como cuidadores, somos também intermediadores de um processo social, que implica na liberdade de escolha de outrem dentro de uma perspectiva.

É difícil falar em prevenção com uma adolescente que deseja engravidar porque esse é o seu único objetivo na vida, o que faz com que quando isso acontecer não seja de maior importância. A falta de perspectivas no futuro, principalmente em populações mais carentes é também um importante fator a ser considerado.

Prejudicadas por condições sociais frustradoras pouco contornáveis, muitas adolescentes pouco "sonham" e pela tendência à ação que lhes é própria (característica do seu estágio de desenvolvimento) ficam mais propensas a uma atuação dentro da área de seu universo de possibilidades agora emergente - o da procriação - dentro de padrões muitas vezes repetidos da experiência da mãeIV.

Não é raro as adolescentes engravidarem devido as suas próprias mães terem engravidado durante a adolescência ou iniciado precocemente sua vida sexual. As jovens gestantes repetem padrões de comportamento de suas mães ou de algum parente muito próximoIII.

RESULTADOS

A Gravidez na adolescência vem sendo abordada com uma questão preocupante na sociedade contemporânea, como fenômeno Mundial em diversas sociedades, repercutindo em sérias implicações biológicas, familiares, emocionais e econômicas, além das jurídico-sociais. A atividade sexual na adolescência vem se iniciando cada vez mais precocemente, com conseqüências indesejáveis imediatas como o aumento da freqüência de doenças sexualmente transmissíveis (ISTs) nessa faixa etária.

DISCUSSÃO

O contexto social e muito particularmente a família vem se mostrando significativo fator para a ocorrência, ou o desejo de engravidar ainda que conflituoso, dessas adolescentes, ou seja, são fatores que propiciam maior vulnerabilidade a gravidez nessa faixa etária.

Tratamos, então, da perspectiva de uma tomada de consciência sobre os reflexos de nossa inserção no trabalho e na comunidade, bem como da responsabilidade que devemos e podemos assumir enquanto agentes e formuladores de políticas de cuidadosIV.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Obviamente que apontar, a todo tempo, as falhas e as deficiências do sistema, não constitui uma mudança. É preciso dar um outro passo, ultrapassar o lugar comum. Em outros termos, a abertura ao diálogo e a proposta para elaboração de uma agenda de trabalho com interesse comum é um caminho a ser trilhado, uma possibilidade de debate e de aproximação recíproca. Dessa maneira , esse debate é apenas o início de uma discussão com foco na integralidade do cuidado dessas adolescentes, num movimento que transborde a área da saúde. Romper com a idéia de que elas precisam apenas de métodos preventivos e assistência médicas. As pessoas também precisam de reposição de vida, empoderamento para que na tomada de suas decissões façam escolhas mais autônomas possíveis.

REFERÊNCIAS:

I - BANDURA, A. Self-efficacy mechanism in human agency. Amer. Psychol., 37: 122-133.

II - CAMPOS, M.A.B. Gravidez na Adolescência. A imposição de uma nova identidade. Pediatr. Atual 2000.

III - Newcomer, S. F.; VORY, R. R.; CAMERON, F. - Adolescent sexual behavior and popularity. Adolescence. 1983;18: 515-22.

IV - OLIVEIRA, N.R. Perfis de grávidas e mães adolescentes: estudo psicossocial de adolescentes usuárias de um serviço público de pré-natal e maternidade. 1999. Tese de DoutoradoSão Paulo . Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo,1999.


Autor: alex christiano


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