A Tragédia dos Namorados



De tudo o que conheci nada foi mais fascinante que a minha princesa. Nada se assemelha à sua formosura e ao seu coração afável. O seu sorriso contém o remédio para todas as moléstias. A sua voz seduz a todos. Quando, excepcionalmente, se nota uma lágrima em seus olhos, é possível vê-los se iluminarem em seguida.

Ela caminha rumo aos céus. É o meu anjo e nunca estará longe. Sempre poderei sentir a sua pele tenra e aromática e o seu néctar encantado, beijando-lhe os lábios.

Um dia pertenceremos um ao outro e então eu a desposarei eternamente e para sempre manteremos os mais divinos votos de amor e afeição.

Contudo o tempo é o nosso inimigo fugaz. É a maldição dos namorados. Porém um dia dominaremos o tempo e ele ficará preso nas entranhas da eternidade.

O nosso aliado é o sentimento mais íntimo. Eu a tenho em meus sonhos e ela me detém para que eu possa desfrutar da sua magnânima presença. Aqui estamos a sós, maravilhosamente ligados pela paixão que nos completa.

Eis que escutamos a nossa canção. O lirismo nos completa ainda mais. Os seus olhos chamejam e ela me aquece com a sua poesia.

É mister encontrar-me com o amor mais leal, pois ao seu lado estou feliz e confiamo-nos reciprocamente.

Um único abraço seu denota a paz em meio à guerra e nada é mais romântico do que lhe tocar os lábios lentamente, sentindo o seu coração pulsar com veemência e sabendo que ela me deseja concupiscentemente.

As suas palavras são sempre doces e delirantes. Precisamos de um momento singular em que eu me debruce diante o seu colo e lhe recite as mais intensas poesias.

O seu sabor é excepcional. O seu corpo é arrebatador e demasiado formoso. Às vezes nos deixamos levar pela mais romântica sensação e nos vemos presos um ao outro lascivamente. E assim ela me completa deliciosamente.

Aqui estou a contemplá-la. E ela se aproxima formosa como sempre de costume. Eu sinto a sua pele macia e cálida. O seu coração pulsa agressivamente e o meu se entrega àquela percepção.

Ela sussurra meticulosamente:

— Não podemos mais...

O tempo pára finalmente. Porém a cena é triste. Uma lágrima se faz em seus olhos fulgurantes. Sinto-me atônito. De súbito eu recuo, mas depois eu a enlaço com força, não querendo que ela se vá e que a cena não perdure. Que ela diga: "Desculpe-me, foi uma troça."! Mas ela fica emudecida; fita-me os olhos profundamente e em pranto completa:

— Não te amo mais.

E uma lira toca ao fundo. Uma serenata morticínia!!! Não posso acreditar. E então ela se liberta de mim e eu a deixo partir. Pranteio o nosso romance e Shakespeare sorri diabolicamente.

Ela se foi... mas em mim ainda resta um fragmento dela. Este pedaço intrínseco me comove, pois ela não se foi de todo. Ainda me resta os seus temores, as suas desventuras, as suas canções preferidas, os seus amores e os seus inimigos. Ainda me resta a sua essência de mim.

O amor é apenas uma palavra, não uma sinfonia romanesca. O amor não é um sentimento, tampouco uma dádiva. Ele é simplesmente o amor, às vezes ínfimo, às vezes enfático.

Ronyvaldo Barros dos Santos


Autor: Ronyvaldo Barros dos Santos


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