Suposta Origem Histórica e Imaginário Brasileiro da Expressão Corno



Wolney Blosfeld

Em nosso dias ser chamado de corno é tido como grande ofensa, o "usar chifres" é sinal de fraqueza e impotência diante de situações "especiais", porem não foi sempre assim, o presente artigo visa a esclarecer como o "usar chifres" já foi simbolo de grande poder e superioridade.

São frequentes as representações de personagens com capacetes de cornos, de cabeças de touro, ou de outros elementos diretamente relacionadas com o touro. Temos provas físicas deste culto entre os achados arqueológicos pelo mundo todo, A cabeça de touro era utilizada como um símbolo de adoração divina.

Uma das civilizações mais adiantadas que influenciaram a cultura ocidental até estes dias foi a civilização de Mesopotamia. Esta era talvez a primeira civilização para criar a arte com objetivo religioso. Esta arte ajudou a cada civilização próxima crescer e desenvolver sua própria cultura. Um símbolo consistente da potência real da Mesopotamia foi a cabeça do touro. O gado era fundamental pois fornecia desde que leite, couro, carne e era de grande importância religiosa.

O mais venerado e o mais célebre dos animais sagrados é, sem nenhuma dúvida, o touro Ápis. Os antigos egípcios consideravam-no como a expressão mais completa da divindade sob a forma animal e representaram-no muitas vezes. Diferentemente de outras divindades, era sempre representado na forma animal e nunca na forma humana com cabeça animal. Ele encarnava, ao mesmo tempo, os deuses Osíris e Ptah. O culto do touro Ápis, em Mênfis, existia desde a I dinastia pelo menos. Também em Heliópolis e Hermópolis este animal era venerado desde tempos remotos.

Um dos mais importantes vestígios arqueológicos da Escandinávia durante o período de migração são os dois cornos de Gallehus (Dinamarca). Figura que pode ser comparada com petróglifos da idade do Bronze e com o deus celta Cernunnos, como a mesma função simbólica: fertilizar e participar da força fertilizante do mundo. Obtemos assim uma relação extremamente comum na religiosidade européia pré-cristã: chifres = poder.

Durante a quase totalidade da existência humana, os chifres sempre apareceram como símbolo de poder e fertilidade, (virilidade), então têm que este símbolo sempre relacionado com a religiosidade passa a ter o caráter pejorativo e depreciativo que presenciamos nos dias atuais, e o que é realmente interessante a que tudo indica o "Homo cornus" surgiu no Brasil em nossos dias e entre nós.

A comparação e a subseqüente adaptação do termo ao brasileiro provavelmente tem suas origens, nas caatingas do nordeste e nas pradarias do sul do Brasil, ou seja, onde a criação de gado se faz presente. Os pecuaristas a muito perceberam que o touro impõe sua força perante seus adversários pelo chifres o mesmo acontece com o bode, mais presente no nordeste brasileiro.

O animal chifrado perde seu poder territorial e sua posição de macho alfa para um animal mais poderoso, o que pode ocorrer devido à vitalidade (juventude), quando o antigo alfa está velho e fraco, ou quando o alfa é novo e inexperiente.

Temos então que o alfa foi "chifrado", perdeu seu poder, os chifres são a expressão do poder do vencedor, um sinal de força e virilidade, tão valorizado entre as culturas desde a antiguidade.

O que ocorre e que provavelmente teve suas origens nestas mesmas regiões é que o "levar uma chifrada", ou seja, perder o poder de macho alfa foi adaptado para expressar as traições conjugais entre os seres humanos, nascia o "Homo cornus" porem com algumas adaptações: O touro é masculino então teoricamente só homens poderiam "chifrar e serem chifrados", ao mesmo tempo percebe-se que os chifres ou o uso de chifres historicamente são símbolos de poder e não de fraqueza.

Temos então nos dias atuais que o ser corno implica em estar usando chifres, e curiosamente o termo também se aplica às fêmeas (mulheres) que adquiriram o poder de "dar e levar chifradas".

Em resumo, os chifres antes sinais de poder viril, por volta do início do século XX representam agora sinais de fraqueza, e podem ser usados democrática e politicamente corretos por homens e mulheres.

A cultura do "homo cornus" foi tão rapidamente assimilada pelas gentes brasileiras que por todo território nacional vemos suas manifestações, em músicas, folclore, literatura e com a criação de clubes onde os sócios reconhecem-se cornos, inclusive com carteirinha que oferece descontos em vários estabelecimentos comerciais e serviços a exemplo de Porto Velho em Rondônia.


Autor: Wolney Blosfeld


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