Família-escola: Limites e Possibilidades



Respeitadas as especificidades da família e da escola, essas instituições podem, sim, estabelecer parcerias produtivas a favor do êxito escolar. Foi isso o que expressou um grupo de professores que participou de um minicurso na semana passada, em Arraias, Sudeste do Tocantins. O evento foi promovido pela Secretaria de Educação e Cultura tocantinense e abordou a relação família e escola, seus limites em termos de atribuições e possibilidades de êxito em parcerias pontuais. Em tese, a família e a escola têm papéis sociais bastante específicos; porém, não antagônicos. Podem, em muitas circunstâncias, ser complementares: se à família cabe o cuidar, a escola trata do ensinar.

No entanto, como escola e família são instituições sociais que se prestam a contribuir para o desenvolvimento histórico do entorno natural e humano de nossas comunidades, torna-se crucial compreender que modo de produção material da vida interfere no trabalho de uma e de outra; que tipo de regime político mantemos para lidarmos com as questões relativas ao poder; e que modalidades de expressões culturais, ideológicas e epistêmicas alimentamos como válidas e dignas da ocupação da família e da escola. Isso é importante porque todos esses fatores transversalizam a família e a escola, e não me parece sensato pedir a ambas que façam aquilo que cabe à economia, à política, à cultura e à epistemologia. Contrariamente a isso, o que podemos esperar de família e escola é que atuem de maneira a clarearem questões ideológicas que pressionam uma e outra instituições sociais em suas atribuições cotidianas.

Não cabe à escola e à família perpetrarem justiça social, participação política consciente e justa distribuição de bens simbólico-culturais, entre eles os epistêmicos, onde a economia não se faz justa, onde a política não é ancorada na soberania do povo e onde a cultura simbólica e os diversos conhecimentos humanos não são concretamente produzidos, disponibilizados e apropriados segundo os critérios eqüinânimes da igualdade nas diferenças e da liberdade responsável. No máximo, a escola e a família podem participar de projetos de sociedade que se encaminhem nesse sentido, pois se a família não é a salvadora da pátria, também a escola não pode tudo, até porque educação escolar nunca foi e nunca será tudo. Se educação fosse tudo, os professores estaríamos no topo da pirâmide social.

Por aí seguem as iniciativas compartilhadas entre escola e família que podem melhorar as estruturas sociais, desde que isso faça parte, como foi dito, de um projeto de sociedade que se harmonize com essas aspirações e que visem à criação de condições de possibilidade ao saudável desenvolvimento das pessoas e à equilibrada realização humana. Para tanto, é necessário que trabalhemos em prol da justiça, da eqüidade, da igualdade e da liberdade, coisas que cabem à rede inteira de instituições sociais, e não apenas à escola, nem apenas à família. Com essa ressalva em mente, aquela parceria entre família e escola que os professores defendem pode mesmo contribuir para o êxito do trabalho educativo da instituição escolar. Tomara que cresça entre nós a consciência sobre esses limites e essas possibilidades!

* Artigo publicado incialmente no Jornal do Tocantins, dia 31 de setembro de 2008, p. 04.


Autor: Wilson Correia


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