Sexo? Coisa Feia?



Há pessoas que acham que sexo é coisa feia, proibida. Negam-se, de fato, a falarem sobre o assunto em qualquer situação. Vemos que muitas pessoas se negam a falar sobre o assunto dentro de seus lares, em suas famílias. Existem pessoas que, neste início terceiro milênio, ainda tem o assunto sexo como tabu ou àqueles que simplesmente o banalizam.

Na verdade fomos mal orientados sobre o assunto e o que é pior, toda a orientação que a maioria das pessoas tem acesso, principalmente os jovens, vem de forma distorcida.  Poucos, mas poucos mesmo são os que possuem real noção do que o sexo representa para nossas vidas, principalmente a vida a dois, para o nosso corpo, nossa mente e espírito.

O fato mais surpreendente é algumas pessoas não se conhecem - não conhecem seus próprios corpos. Chegam até a ter vergonha dele, de suas partes mais íntimas. Sequer ousam tocá-las, olhá-las, quanto mais permitem que seus parceiros as toquem ou as olhem também. Conheço pessoas com cinqüenta anos de casados ou mais - mais de meio século de vida a dois - com filhos, netos, bisnetos que nunca viram seus companheiros nus. Conheço homens que não permitem, ainda hoje, que suas esposas consultem um ginecologista, homem.

Muitas pessoas não se permitem falar sobre o assunto com seus parceiros, falar de seus desejos, de suas ansiedades, de seus sonhos ou de alguma coisa que um dia imaginaram ser possível fazer a dois com o intuito de proporcionar e obter prazer; trazer felicidade. 

Na verdade, muitas pessoas somente "usam" o seu companheiro ou companheira. Infelizmente viemos de uma época, de um tempo, de uma educação tacanha, em que a prática do ato sexual teria a finalidade única da preservação da espécie, da procriação. Um tempo onde toda a relação sexual que não se revestisse dessa característica era, e ainda é por muitos, tratada com um sigilo quase que em tom criminoso, uma piada de botequim ou uma conversinha à-toa (não tão à-toa assim); Conversas de auto-afirmação em rodinhas de amigos e amigas para aparecerem no grupo, como quem transou ou "comeu" mais; para quem seria o ou a mais experiente no assunto, ou quem seria melhor, o bom ou a boa de cama.

Vemos homens intitulando-se machões, pois assim foram educados pelos modelos paternos, no fundo são uns despreparados, que não procuraram e até hoje não procuram conhecer, saber, descobrir algo novo sobre a essência da mulher em si ou de sua própria mulher, esposa, companheira. 

Com essa bagagem toda, muitos deles tratam as mulheres e suas mulheres como seus brinquedinhos pessoais, mas muitos deles nunca terão acesso aos seus sonhados objetos de desejo, pois, esses mesmos homens, impedem que suas companheiras e esposas se soltem com eles. Vivem aprisionados pelo medo de serem descobertos como libertinos maravilhosos que são por suas esposas e com medo de descobrirem a prostituta maravilhosa que possuem bem ao seu lado.

Por outro lado temos mulheres submissas, envergonhadas, pois assim também foram educadas pelos seus modelos maternos, tornando-se mulheres despreparadas também. E, pela pressão exercida pela sociedade extremamente machista, - (já soa meio falsa esta afirmação) - continuam se submetendo àquele modelo antigo e ultrapassado, não conseguindo revelarem-se, como deveriam, para os seus companheiros e esposos como verdadeiras mulheres, amantes inigualáveis que são.

E o grande paradoxo nisso tudo é que os homens quando descobrem a sua sexualidade, já sonham com mulheres quentes, avassaladoras, que lhes servirão como verdadeiros "Reis do Prazer", tipo àquela que tiveram, talvez na primeira vez,  num bordel ou tiveram notícia de que uma mulher fogosa, gostosa assim existiria.

As mulheres, por sua vez, não possuem sonhos muito diferentes. Sonham com maridos que lhes levarão às alturas na cama. Sonham com o seu garanhão, com o seu atleta de alcova, com o seu gostosão, com um amante inigualável e assim por diante.

Depois do casamento estes casais, geralmente, já ao se casarem, nem sabem que enfrentarão grandes problemas, pois, a maioria destes homens e mulheres considerados aptos ao matrimônio não tiveram uma educação adequada para falarem, conversarem dos seus sonhos, aspirações, desejos, fantasias no que tange sexo. Na verdade, ambos morrem de medo de parecerem ridículos, vulgares, pois o assunto sexo é tratado com muito e até um falso pudor na intimidade e muita vulgaridade externamente, a olhos vistos.

Dentro de casa, na intimidade é coisa feia, proibida e ponto final. Fora de casa... Vamos pra zona!

Conheci mulheres que, quando casadas, na primeira vez que elas esboçaram ter um orgasmo durante uma relação sexual com seu companheiro, esposo, naquele momento o ato foi interrompido (por ele). Parada surpresa com cara de assustado! Meio que já querendo coçar a testa, vem as perguntinhas: "Como?", "Onde?", "Com quem?" (ela teria aprendido "aquilo"). É o fim do momento! Foi tudo por água abaixo, quando não partem para agressão verbal e até física.

É que muitos homens iam, e ainda vão, buscar esse tipo de reação (o orgasmo escandaloso) com mulheres fora de seus casamentos, pois consideram que tais reações estão reservadas somente às prostitutas em bordéis ou às suas amantes escondidas.

Coitados! Estes homens não possuem o discernimento, a percepção de que suas amadas esposas e companheiras são tão mulheres quando as prostitutas ou as amantes que eles curtem fora de casa, no anonimato.

Na maioria dos casais é isso que vemos: - Uma união de pessoas infelizes e fadadas a viverem infelizes para o resto de suas vidas sem se darem conta disso, achando que está tudo normal, o que não deixa de ser uma doce ilusão enquanto um dos parceiros não acordar para a realidade, não tiver motivos para parar e pensar de que algo ou tudo está errado. Caso isso aconteça este casal estará destinado à separação, mais dia menos dia, se não existirem ainda outros motivos para tamanha acomodação.

Como convidado, tive a oportunidade de participar, não faz muito tempo, de um "Curso para noivos" - curso este obrigatório em minha cidade para aqueles que pretendem contrair núpcias - onde o tema sexo foi abordado de uma forma um pouco mais aberta, até por membros do próprio clero, alguns dos palestrantes. Mas ainda, pelo que presenciei, creio que este curso está longe de tratar o tema com a profundidade e o real esplendor que ele merece.  

A maior parte deste curso deu enfoques em questões de fidelidade, doenças sexualmente transmissíveis, até de planejamento familiar e quase nada relacionado ao prazer que o contato corporal, sexual, pode proporcionar. Houve muito pouco destaque sobre o que o sexo, sobre o que uma relação sexual plena, compartilhada, poderia representar na vida dos futuros nubentes. 

Em determinados momentos percebi alguns participantes espantados ou até mesmo sem jeito com algumas colocações consideradas por mim mais do que normais e corriqueiras sobre sexo. Comentários até leves, longe da ótica de que sexo é somente um agente para a perpetuação da espécie - feitas pelos palestrantes. Colocações que nem deveriam fazer parte da pauta do curso de tão óbvias que são, mas que alguns dos presentes se entreolharam como sendo efeitos ou situações desconhecidas. Outros baixaram a cabeça. Outros ouviam as preleções com um jeito de otários, com cara de como não estivessem entendendo nada ou se fazendo de bobos, de desentendidos.

Este curso, em meu entender, foi mais uma formalidade para que os participantes obtivessem uma espécie de "Carteira de Habilitação" para se casarem, certificado de participação sem o qual os trâmites não prosseguem, mas, infelizmente, pelo que presenciei, concluí que este certificado não tornará ninguém, nem de longe, aptos a dirigirem suas vidas sexuais quando casados. Observei que muitos saíram deste curso quase que na mesma ou pior do que entraram, mas com o Certificado de Conclusão do Curso para Noivos. Grandes coisas!!!

Praticar relações sexuais ou fazer amor, expressão que me soa meio estranha, pois creio que amor não se faz, amor se sente, dá-se, compartilha-se - exige muito conhecimento de si próprio e da pessoa com quem vamos, desejamos compartilhar nossas vidas. Exige muito diálogo entre os parceiros, desprendimento total e, além de muita conversa franca e aberta, exige-se muita, muita criatividade.

Nada melhor para estimular essa criatividade do que o diálogo, a busca uma boa leitura, pois sempre haverá informação sobre uma nova descoberta sobre os efeitos do sexo.

Mas tudo isso tem que ser feito a dois, o assunto novo tem que ser compartilhado, criando-se meios de abrir novos horizontes para que ambos não permaneçam naquela mesmice de quando se casaram. Além disso, deve haver o que eu chamo de desnudamento físico, mental, espiritual de ambos; Aspecto este obrigatório, fundamental, imprescindível na relação como um todo, não somente na relação sexual, mas isso só se alcançará com o diálogo, diálogo esse que deverá ter como ingrediente principal, a confiança mutua, de que tudo deverá ser feito, praticado, experimentado na totalidade que for permitida em consenso, sem falsos pudores.

Creia! Sexo é uma coisa linda, maravilhosa, revigorante para o corpo, a mente e a alma.

Coisa feia é não ter relações sexuais no tempo certo para elas! É não praticar ou praticar de forma irresponsável, banal, apenas consumir o sexo ou ainda fazer mal feito. Tudo isso sim é muito feio.

Luiz Antonio Schimanski
Curitiba/Paraná
NEQETAM


Autor: Luiz Antonio Schimanski


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