Trabalhadores, Anarquistas e Sindicalistas no Contexto Histórico Marxista



RESUMO: Este estudo procurar discutir a relação fundamental do capitalismo. Contudo, entende-se que os capitalistas pagam aos trabalhadores salários em troca de um determinado número de horas de trabalho. É nesse ponto que essa relação disfarça uma desigualdade real. Isso significa dizer que os capitalistas se apropriam de parte da produção dos trabalhadores. É preciso destacar ainda que o sindicalismo é o movimento social de associação de trabalhadores assalariados para a proteção dos seus interesses. Em seguida, ao mesmo tempo, é também uma doutrina política segundo a qual os trabalhadores agrupados em sindicatos devem ter um papel ativo na condução da sociedade. Além disto, o movimento sindical efetivou-se basicamente no século XX, em decorrência do processo de industrialização, e esteve ligado a correntes ideológicas como o positivismo, o marxismo, o socialismo, o anarquismo, o anarco-sindicalismo, o trabalhismo vanguardista, e o populismo. Palavras - Chave: Trabalhadores – Anarquistas - Sindicalistas.

"Penso que perderíamos a dimensão da utopia anarquia se nos mantivéssemos presos à lógica do partido. Afinal, os libertários difundem uma outra concepção do poder que recusa percebê-lo apenas no campo da política institucional. Por isso mesmo, desenvolvem intensa atividade de crítica da cultura e das instituições e formulam todo um projeto de mudança social que engloba os pequenos territórios da vida cotidiano. Propõem múltiplas formas de resistência política, que investem contra as relações de poder onde quer que se constituam: na fábrica, na escola, na família, no bairro, na rua. Desvendam os inúmeras e sofisticados mecanismos tecnológicos do exercício da dominação burguesa.(RAGO, 1985, p. 14)

No conteúdo desta citação que Margareth Luzia Rago apresenta em seu estudo científico sobre as primeiras manifestações anarco-sindicalista e os ideais operários em confronto com um patronato encabeçado pelo discurso do exercício de dominação burguesa, no fim do século XIX e início do século XX, tendo como espaço de conflitos de interesses de ambos os lados, às fábricas. E é esta a proposta da primeira questão, enriquecer a discussão histórica sobre as relações de poder do sujeito deste contexto percebendo as variadas formas de transgressões, resistências, permanências, rupturas, estratégias, em fim, toda dinâmica presente neste período de consolidação e implantação do discurso republicano.

Uma ligeira contextualização: Desde o século XIX, boa parte da Europa já vive a fomentação da expansão do capitalismo industrial, principalmente Inglaterra e França que são modelos desta nova política mercadológica. Como um apêndice, a elite dirigente do Brasil no início do século XX, incorpora esta idéia de industrialização nacional tendo por base à própria fábrica e seus componentes como mão-de-obra barata e a maquinária trabalhando em pleno vapor sempre sobre o seu comando e virgília. Daí, o texto " Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar" de Margareth Luzia Rago, que discute a concepção de fábrica satânica que passa por uma transição até a nova concepção de fábrica higiênica, tendo como base para esta problemática a dinâmica que envolve estas relações de poder.

"Os industriais procuram convencer a sociedade da necessidade vital do aumento da produtividade do trabalho para construir a riqueza da nação por esses homens, mulheres e crianças que deveriam submeter-se sem nenhuma objeção".(RAGO, 1985, p. 18)

É desta citação e seu conteúdo problematizador que percebemos o nítidointeresses dos industriais ao usarem o discurso de riqueza nacional ligada ao "desenvolvimento" e o "progresso" para justificarem a submissão e o convencimento de homens, mulheres e crianças no trabalho duro e produtivo. Mas, estamos falando do contexto histórico da formação e consolidação da república no Brasil, isto nos leva a mobilizações, readaptações, fluxos e refluxos sociais, além das mudanças de hábito do cotidiano e de novas resignificações dos trabalhadores fabris.

"O discurso operário sobre a fábrica traduz, desde cedo, a revolta contra a imagem edulcorada do mundo do trabalho projetada pelo imaginário burguês. Falar da fábrica significa, nesta perspectiva, questionar praticamente a organização capitalista do processo de produção por vários lados. Neste movimento, as estratégias de luta preconizadas pelos libertários, desde a sabotagem, o boicote, o roubo, a destruição de equipamentos, até a greve geral, confluem na direção das práticas de resistência cotidiana criadas pela combatividade operária". (RAGO, 1985, p. 20)

A citação acima, agora representa o discurso do operário em resposta ao do patronato e o projeto burguês de domínio fabril, e é nesta dinâmica discursiva que tentarei problematizar com o auxílio do texto das primeiras décadas do século XX. A resistência e a transgressão operária é ajustada, incentivada e difundida por intelectuais socialistas e anarquistas como Gigi Damiani, fundador do jornal libertário La Battaglia, ou literários como Edgard Leuenroth que editou a Plebe em 1903, convocando e incentivando as pequenas lutas e resistências diárias do operariado no interior das fábricas: O movimento anarquista como parte desta união ideológica subversiva e opositora da dominação burguesa merece ainda hoje se melhor lida e relida pela historiografia, pois o anarquismo no imaginário de muitas pessoas erroneamente esta representado e associado ao vandalismo, ócio e fanatismo político sem um projeto e causa social, mas, o anarquismo. Podemos perceber que Rago"Propõe uma nova maneira de viver, anuncia um mundo fundado na igualdade, na liberdade e na felicidade, que deve ser construído por todos os oprimidos, aqui e agora".(RAGO, 1985, p. 16)

É este o contexto do anarquismo e sua proposta nas primeiras décadas do século XX, contexto porque o conteúdo desta citação acima reflete as aspirações e propostas anárquicas. Uma sociedade mais justa, aqui e agora, logo, o boicote, a sabotagem, a resistência ao trabalho nas fábricas e até o incentivo a quebra das máquinas são idéias que surgem desta dinâmica opositora a dominação burguesa, a propriedade privada e os mecanismos de repressão por parte do estado conservador da manutenção e dos interesses do patronato. Mas desta dinâmica entre patronato e a resistência operária, Margareth Luzia Rago de forma investigativa e coerente percebe através de suas pesquisas, as estratégias burguesas que vão se desdobrando no decorrer do século XX, e que são voltadas para tornar os operários de perigosos manifestantes subversivos em operários de corpos dóceis.

Como já foi esclarecido, constantemente os artigos, jornais, e os idealizadores anarco-sindicalistas batem de frente com o patronato ao denunciarem as péssimas condições físicas e higiênicas das fábricas que comportam como mão-de-obra homens, mulheres e crianças trabalhando de 12, 14 e até 16 horas diárias em meio ao jogo, fumo, álcool e a enorme promiscuidade. De forma geral é este o cenário do espaço "satânico" das fábricas, além da dominação hierárquica e punitiva de capatazes, mestres, contra-mestres e inspetores que visam impedir a " ação espontânea" do trabalhador. Desde o começo destas relações de poderes no início do século XX até os dias de hoje, esta prática ainda é exercida, o que mudou foram as formas de vigiar e punir a ação espontânea dos trabalhadores. É aqui que eu entendo que entra a história como método científico privilegiado de análises sobre esta dominação da ação espontânea do trabalhador, pois a idéia de "fábrica higiênica" discutida no texto já é indicativo desta transição por qual passa a fábrica. A estratégia burguesa sob o discurso técnico-científico de modernização transforma a fábrica satânica de espaço "alheio a si", em fábrica higiênica, como espaço de "identidade de si", logo a dominação da ação espontânea passa a ser executada no interior da subjetividade do operário, através.

"Através de "concessões" como a instalação de armazéns, cooperativas, farmácias, restaurantes, escolas, vilas operárias, assistência médica junto às fábricas, o cerco aos passos do trabalhador torna-se mais consistente, sistemático e globalizante. Procura-se destilar, juntamente com estes "benefícios", a idéia de que trabalhadores e patrões pertencem a uma mesma "comunidade", lutando por interesses comuns. A imagem da família, utilizada para pensar a fábrica, cumpre a função explícita de negar a existência do conflito capital/trabalho, sugerindo a idéia de uma harmoniosa cooperação entre pessoas identificadas. Representação que os operários criticam violentamente". (RAGO, 1985, p. 34)

Estas concessões e benefícios estruturais e materiais intencionalmente apresentados a partir da segunda década do século XX, visam minar o controle e o fortalecimento dos movimentos anarco-sindicalistas de duas formas. Primeiro, ao promover e hierarquizar os trabalhadores das fábricas em cargos e salários diferenciados, o que traz a individualização e a disputa interna frente a proposta do singular coletivo anarquista. E a segunda podemos tomar por exemplo a Votorantim e a Cia Antártica que são exemplos de empresas que neste contexto passam estrategicamente a construir e purificar a fábrica a tornando higiênica, por exemplo, melhorando suas estruturas internas ao instalarem ao redor das fábricas, lojas, cinemas, clubes, escolas, quadras de tênis, piscinas, campos de futebol, água encanada, luz elétrica, esgoto, farmácias, praças, etc. A idéia é tornar de forma mais eficaz possível, as fábricas no imaginário da grande parte de seus operários não mais vistas como "presídios industriais" e sim em um espaço harmonioso, limpo e identificado como as novas relações domésticas e familiares que também passam por mobilizações e readaptações neste contexto. É neste sentido, que o modelo de fábrica higiênica tem também como ideal o patrão moderado, bondoso e partenalista como propõem Jorge Street em 1919.

"Em 1919, Jorge Street, médico e industrial "progressista", símbolo do novo patrão, repreendia publicamente os empresários por não considerarem " as necessidades vitais de seus trabalhadores". Roberto Simonsen, em conferência pronunciada aos seus colegas no mesmo ano, descrevia O Trabalho Moderno como produto da organização "científica" do processo produtivo, utilizado como meio de "evitar a todo transe que sejam trazidas para o nosso Brasil as lutas de classe,..."(RAGO, 1985, p. 40)

Seguindo, vemos Roberto Simonsen industriário, descrevendo como trabalho moderno em conferência pronunciadas aos colegas também em 1919, aquele organizado pelas técnicas científicas e defendido por Jorge Street, onde o ambiente da fábrica purificada com a figura do patrão comprometida e unida as necessidades do operariado, afastará do Brasil a lepra já conhecida na Europa, a luta de classes. A apropriação do discurso científico traduzida em novas instalações ligadas a medicina, o automatismos das máquinas, o registro e a documentação individual dos trabalhadores, a redução das horas de trabalho e suas sub-divisões trabalhistas internas são novas tentativas de desarticular o agrupamento ideológico anarco-sindicalista. E é com a implantação primeiramente do Fordismo e depois do Taylorismo nas décadas subseqüentes, e que são novas formas e linhas de montagens que agem no interior das fábricas advindas de experiências da indústria norte-americana, que podemos considerar dentro de um relativismo, que as técnicas de normatização fabril foram eficazes, tornando os trabalhadores(as) em operários(as) de corpo dóceis, mesmo esse operariado sempre buscando novas estratégias.

Para finalizar, a dimensão desta temática que envolve as relações de poderes no final do século XIX e início do século XX, de forma geral, são indicativos das mudanças desencadeadas pela implantação e consolidação da República no Brasil.

Para iniciar esta problematização da segunda questão que recai sobre o "etos civilizador" e o "etos guerreiro" configurados nos arranjos sociais brasileiro do século XX, e interligados em seus "enigmas" e conflitos, o samba por sua vez é visto com um elemento indicativo desta mudança social e comportamental. Devemos também, levar em consideração a "relatividade" e "subjetividade" desta temática para que não formemos idéias que sirvam de pontos isolados e determinantes na exemplificação dos novos modelos de comportamento e suas repercussões a partir dos anos 80.

Pois, a partir das intencionalidades políticas, científicas e tecnológicas da classe dirigente republicana que modificam os hábitos do povo brasileiro, que se vêem obrigados a se readaptarem as suas novas condições durante o século XX, por toda esta dinâmica, o "etos social" deste contexto é representativo e parte da nossa atual violência desenfreada nos pequenos e grandes centros urbanos. É esta a proposta de Alba Zaluar no texto "Para não dizer que não falei de samba: os enigmas da violência no Brasil", questionar o presente de nossa situação de violência desenfreada, voltando-se para o nosso passado histórico de forma dialética, presente-passado, dando ênfase ao contexto dos anos 80 e suas implicações.

"Quando o povo unido comemorava as pequenas conquistas da democracia no início dos anos 80, não poderia imaginar que outros problemas por vir seriam tão mais difíceis e ardilosos a ponto de confundi-lo e desuni-lo nas décadas seguintes".(ZALUAR, 2000, p. 246)

Vemos na citação acima que no início dos anos 80, o "povo" comemora as pequenas conquistas democráticas que dão o parecer de dias melhores, mais na verdade "a grande massa" com a redemocratização nunca teve tais dias. Tomando como exemplo a primeira questão vimos que desde o início do século XX, a elite republicana emerge com a idéia de progresso e desenvolvimento nacional usando os mecanismos burocráticos via Estado para "garantir" seus interesses particulares, coube ao "povo" se readaptar as novas mobilizações sociais. Percebemos estas mobilizações com os movimentos discutidos em sala, Juazeiro do Norte, Contestado e Canudos por exemplo, e é no foco dessas mobilizações sociais que o samba carioca citado no enunciado da questão também será lido como lugar de mobilização social para os sujeitos dos morros(o malandro da lapa), o boêmio que vê no samba uma forma de protesto social contra as péssimas condições em que vive, mas o samba vai além de protestos, ele é o fio condutor de aproximação entre literatos, eruditos, músicos, instrumentistas, e populares da própria cidade com o morro e vice – versa, une policiais e sambistas, fato exemplificado na biografia de Geraldo Pereira citado no texto nos anos 30.

"Essa história, como tantas outras contadas nos livros citados, pode ajudar a esclarecer o enigma da interiorização de um etos civilizado numa população tão afastada das instituições enquanto tais e tão desrespeitada no sistema de justiça vigente no país".(ZALUAR, 2000, p. 278)

Esta citação é importantíssima para que entendamos a importância da nova história cultural e suas problematizações e releituras da formação da sociedade republicana, na intenção de que a historiografia se renove e torne o sentido histórico vivo a cada nova geração de historiadores(as). E é na releitura feita por Alba Zaluar que podemos constatar o samba na década de 30 como parte integrante do etos civilizador.

O Estado nacional neste contexto não tem adotado o samba ainda como parte de nossa identidade nacional, só a partir do Estado Novo em 1937 com o nacionalismo varguista o samba passa a ser apropriado como representação imagética de nossa unidade cultural. Passando por toda a Era Vargas, entrando nos governos da República nova até a chegada da ditadura de 1964, percebemos evidentemente características comportamentais de nossa sociedade em efervescência, principalmente quando chegamos na chamada redemocratização, pois é daí que no imaginário social tudo ou quase tudo é permitido. Como se trata de um período longo torna-se um possível detalharmos especificamente estas mudanças comportamentais, isto não quer dizer que a vemos como ruptura brusca, mas é a partir da redemocratização que Alba Zaluar problematiza com mais clareza o etos guerreiro.

Se antes da década de 80 havia uma relativa identificação da população com as organizações vicinais como associações de bairros, clubes de mãe, paróquias, catequeses, além de movimentos sociais fortes e centrados no núcleo da família, onde podemos incluir também a própria comunidade unida em torno do samba que é parte de sua própria identidade, e são também características do "etos civilizador" que tem em comum projetos sociais, mas.

"A fragmentação das organizações vicinais e familiares facilitou o domínio dos grupos de traficantes no poder local, que, por sua vez, aprofundou a ruptura dos laços sociais no interior da família e entre as famílias na vizinhança, acentuando o isolamento, atomização e o individualismo negativo".(ZALUAR, 2000, 291-292)

Tomando como referência esta citação do texto podemos dizer que ha um retrocesso do processo civilizador a partir dos anos 80, pois o "etos guerreiro" pode ser representado no esfacelamento da família, dos movimentos sociais como um todo eajudados pela ineficiência do Estado, que na minha opinião nunca atuou como representante do poder público nas comunidades, morros e favelas do Rio de Janeiro, mas ironicamente cobram destas comunidades a responsabilidade por todo mal que existe entre os seus habitantes. Voltando ao início da questão, não vejo só o Estado como justificativa de causa e efeito para responder ao alto nível de violência e criminalidade que se faz presente no Brasil hoje, mas dentro do processo de nossa formação social, o Estado tem uma enorme culpa ao não promover políticas de urbanização, educação pública de qualidade, moradia, saúde e segurança que ofereçam as básicas necessidades para os sujeitos das periferias das grandes metrópoles nacionais.

Um ótimo exemplo desta omissão estatal se deu na década de 70 com a construção da Cidade de Deus, que longe dos cartões postais do Rio de Janeiro como Copacabana, e o Pão de Açúcar, nada é feito no intuito de sociabilizar e incluir estas comunidades aos bens públicos. É nesta falta de representação histórica do Estado como atuante do poder público que assisti as necessidades do povo, que podemos perceber a partir da década de 80 com maior força a entrada de drogas nas favelas cariocas como a cocaína e a heroína, que passam a condicionar um poder paralelo nas favelas. É neste contexto também que os cartéis e o crime organizado se fortalecem através dos gerenciamentos dos traficantes e de uma grande demanda de consumidores que sustam o tráfico. Destas relações complexas surgem estatisticamente altas taxas de mortalidades entre os jovens tendo como força motriz à droga, sejam assaltos, seqüestros, homicídios e o enfrentamento com a polícia, este quadro de violência urbana tem características nítidas do etos guerreiro. Alba Zaluar aponta que:"Vivem, de fato, segundo as regras da vingança privada, graças à predominância de um etos guerreiro e à ausência de uma instância jurídica, estatal ou não, na resolução de conflitos".(ZALUAR, 2000, p. 296)

Nesta citação, percebemos a visão de Alba Zaluar, que entende a ausência de instâncias jurídicas que levam a impunidade e a banalização da violência, que traduzindo em outras palavras significa a omissão histórica do Estado para intervir nestes conflitos. De maneira geral a predominância do etos guerreiro dos anos 80, assim como o etos civilizatório das primeiras décadas do século XX, também são complexos em suas características de análises, pois não trata-se de aspectos isolados que o compõem sempre prontos a serem esclarecidos, peguemos o exemplo.

"A atividade policial no Brasil tem ainda hoje pouca legitimidade devido à noção disseminada de que a polícia não está presente apenas no aparelho do Estado, mas se ramifica nas redes que exercem atividades ilegais, ou seja, trata-se de uma polícia que está na fronteira entre o crime e a lei".(ZALUAR, 2000, p. 306)

Na citação, vemos o exemplo da pouca legitimidade da prática policial perante a sociedade, por constantemente percebemos que a fronteira entre a lei e a criminalidade estão dividindo um espaço muito curto e confuso entre um e o outro, e tocando neste ponto lembrei-me da discussão travada durante o seminário apresentado em sala, onde vimos que a interpretação por exemplo entre traficante e consumidor é confusa e incoerente por parte da lei. Quem é traficante? Quem é consumidor para a lei?. Entre consumir e vender a lei pode a partir de sua interpretação dos fatos e provas apresentadas aos julgadores de direito, inverter o sentido de traficar e consumir a partir do ato de venda comprovada ou não dá droga, no próprio texto existem exemplos de consumidores de uma tonelada de cocaína e traficantes de sem gramas, isto comprova como a lei e sua interpretação pode ser incoerentes.

Voltando a falar do papel histórico do samba, a partir da década de 80, com a individualização das comunidades, o esfacelamento familiar e a perca do poder dos movimentos sociais, o samba é claro ainda existe nas comunidades e morros cariocas, mas seu significado de certa forma está enviesado pelo poder do tráfico de drogas que o usam como lavagem de dinheiro nas escolas de samba, além de perder o seu poder de sociabilização eunião dos morros.

Para finalizar, Alba Zaluar entende que o Estado ainda é o principal órgão que pode intervir na escalada violência do Brasil. Este discurso coincidentemente pode ser representado no atual governo Lula, com as propostas do recente PAC(Programa De Aceleração Do Crescimento), que visa implantar serviços e benefícios públicos nas favelas e morros no Rio de Janeiro. Mas, assim como a construção histórica do etos guerreiro e os vários pontos que formam a criminalidade no Rio de Janeiro são complexos, por outro lado podemos dizer que a sua resolução também o é. Cabe o Estado continuadamente rever todo o seu histórico de omissão a estas comunidades, para tentar reverter o nosso atual estado de desorganização e desigualdade social.

"O movimento operário e sindical brasileiro experimentou, no fim da década de 1970, um movimento marcante para sua história. Submergindo após o duro impacto promovido pelo golpe militar de 1964, que lhe havia deixado pouco ou quase nenhum espaço de manobra, senão aquele do silencioso trabalho no interior das empresas e de pontuais tentativas mais visíveis de contestação, o sindicalismo de corte progressista emergia, cobrando a ampliação dos espaços para a representação dos interesses da classe trabalhadora." (SANTANA, 2003, p. 286)

É no contexto da década de 70, que o movimento sindical ressurge no cenário nacional associado como representação dos interesses da classe trabalhadora, trazendo como proposta também a luta contra a ditadura que inflexibiliza e anula as possibilidades de negociação entre os trabalhadores e o patronato. É interessante compreendermos que a ascensão sindicalista no contexto da década de 70 parte de protestos dos setores privados e não públicos, só com a redemocratização na década de 80, é que os setores públicos que têm por base a classe média, passam a serem atingidos. Sendo assim, exemplos de greve como o de 1978, dos metalúrgicos do ABC paulista, estão ligados a esta ascensão sindicalista que vai abrindo caminho para outras categorias, tendo como pauta reinvidicatória, reajustes salariais, diminuição das horas de trabalho, garantia dos empregos, além de uma enorme inconformação com a carestia de vida e a alta inflacionária da economia que recai sobre a classe trabalhadora.

"O avanço e a expansão do movimento sindical desaguaram na busca de uma unificação, que o fortalecesse e lhe desse uma coordenação nacional. Porém, esse processo vai explicitar as subjacentes tensões acerca das práticas e orientações seguidas pelos grupos envolvidos".(SANTANA, 2003, p. 289)

Desta tentativa do movimento sindical em, unificar-se para fortalecesse, percebemos pontos de tensões internas que se caracterizarão em dois blocos, o "novo sindicalismos" e a "unidade sindical" que de forma conflituosa irão constituir em 1983 a CUT( Central Única dos trabalhadores), e em 1986 a CGT(Confederação Geral dos trabalhadores). A CUT tem como postura e proposta sindicalo combate direto á ditadura e a ampliação dos espaços de participação as oposições sindicais, já a CGT, segundo" Marco Aurélio Santana", apoiada pela "estrutura vigente" também é contra a ditadura, mas tem como protesto a negociação indireta e não aceita a ampliação dos espaços de oposição, alegando que só os dirigentes sindicais podem participar das oposições. Percebe-se nesta disputa através da leitura do texto, que, tanto a CUT liderada por Luiz Inácio da Silva(LULA), quanto a CGT foram rivais e críticas entre si, mais também são indicativos, históricos da "época de ouro" do movimento sindical, tanto por conquistas adquiridas, quanto por a ampliação de estratégias, apropriações e mobilizações para a classe trabalhadora, além de sua contribuição para o desfecho da redemocratização nacional.

"Nestes termos, o movimento sindical brasileiro foi se consolidando como elemento importante não só na luta pelos direitos dos trabalhadores mas também em sua inserção nas definições do processo de transição democrática então em curso..."(SANTANA, 2003, p. 299)

Passando a problematizar a década de 90, com abertura política e institucional proporcionada pela redemocratização o movimento sindical é caracterizado por Marco Aurélio Santana como espaço de "rearranjo" das forças internas do sindicalismo nacional, pois os desdobramentos da conjectura da política econômica internacional influem diretamente na nacional. Como o neoliberalismo, surgem privatizações estatais, incentivo da interferência do capital estrangeiro na economia nacional, a livre concorrência de mercado e o enrijecimento do Estado contra as negociações dos movimentos sindicais. Santana coloca que"Diante de um quadro como este abriu-se então um momento de reorganização de práticas e estratégias para o movimento sindical no Brasil". (SANTANA, 2003, p. 305)

Com abertura econômica na década de 90, a unificação sindical e afetada pelo poder de barganha do poder privado pela a concorrência do mercado, abre-se assim um paralelo de novas estratégias em defesa dos direitos trabalhistas como a garantia do emprego por conta do aumento do desemprego, o discurso local que cresce, os centros sindicais ganham autonomia e divergem de categoria para categoria.

"Em muitos casos, tem sido difícil chegar-se a um consenso que oriente práticas mais unitárias. Embora nos anos 1980 a divisão interna não tenha produzido um enfraquecimento do sindicalismo, ainda que limitando seu alcance, nos anos 1990, período de retração, a divisão e a disputa acirrada ampliaram seus efeitos". (SANTANA, 2003, p. 307)

Requerendo ao conteúdo desta citação, podemos fazer uma ponte imaginária entre "Margareth Luzia Rago" com o texto "Do Cabaré ao Lar" e "Trabalhadores em movimento" de Marco Aurélio Santana. Primeiramente os contextos são totalmente diferentes, as relações trabalhistas com patronato também. O início do século XX, a indústria fabril e seus arredores é lugar de disputa das relações ideológicas que passam por uma transição de mobilizações técnicas e higiênicas, que agem diretamente no subjetivo do operariado como poder de resistências as suas manifestações. Já as duas últimas décadas do século XX, temos o movimento sindical fortalecido como mobilização dos direitos trabalhistas, mas como exemplificação acima, é difícil chegar- se a um consenso de práticas mais unitárias para o movimento sindical, mesmo que na década de 80, a divisão interna entre a CUT e a CGT por exemplo não tenham enfraquecido o movimento sindical, ela diminuiu seu poder de conquistas. Com a década de 90 e abertura tanto política quanto econômica, as divisões e disputas internas se acirram mais ainda, diversas categorias e movimentos sociais passam a engrossar as fileiras do movimento sindical.

Para concluir, é nítida as estratégias e apropriações tanto do patronato quanto dos trabalhadores, seja no início do século ou na década de 90, momento este de rearranjo e abertura política, que agrava a crise do movimento sindicalista que passa por novas definições e leituras, pois ao longo do tempo histórico percebemos a luta e trajetória dos brasileiros engajada na mudança de acordo com as conjunturas de cada contexto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • RAGO, L. M. . Do Cabaré Ao Lar. A Utopia da Cidade Disciplinar. RIO DE JANEIRO: PAZ E TERRA, 1985. 213 p.
  • SANTANA, M. A. Trabalhadores em movimento: o sindicalismo brasileiro nos anos 1980/1990. In: Jorge Ferreira; Lucília Neves. (Org.). O Brasil Republicano - O tempo da ditadura: regime militar e movimentos sociais em fins do século XX. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, v. 4, p. 283-313.
  • ZALUAR, Alba. Para não dizer que não falei de samba: os enigmas da violência no Brasil. In: Schwartz, Lílian.(Org.). História da vida privada no Brasil, vol.4: Contrastes da intimidade contemporânea. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2000.

Autor: Luciano Agra


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