Transdisciplinaridade em Pesquisas



Como envolver as comunidades tradicionais nas pesquisas que visam à conservação e uso de recursos genéticos? Alguns trabalhos científicos trazem essa pergunta como premissa, e a maioria conclui que as comunidades devem assumir o papel de agentes de pesquisa, em detrimento de simples objetos de observação. Em consonância com essa premissa, a partir de 2003, uma equipe transdisciplinar composta por pesquisadores, técnicos e estudantes de pós-graduação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Universidade Federal do Pará, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra/SE) e Universidade Federal de Sergipe (UFS) passou a desenvolver ações de pesquisa e desenvolvimento em torno da atividade extrativista da mangaba em Sergipe.

A transdisciplinaridade da problemática do extrativismo da mangaba

Em 1994, no "I Congresso Mundial da Transdisciplinaridade", realizado em Arrábida, Portugal, foi formulada a "Carta da Transdisciplinaridade", com 14 artigos tendo no comitê de redação: Lima de Freitas, Edgar Morin e Basarab Nicolescu. Ali, a transdisciplinaridade é definida como aquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.

Assim, para que um projeto transdisciplinar tome forma, é necessário que se considere o problema em questão a partir de vários níveis de realidade possíveis e não apenas a partir de uma visão setorizada. No meio rural, conforme descreveu Maria Dione Carvalho de Moraes, no artigo intitulado "Agricultura Familiar Camponesa nos Cerrados Piauienses: Desafios para a Sustentabilidade", a conjunção tradicional dos sistemas de posse, propriedade e uso dos recursos naturais, podendo promover sinergias capazes de produzir dinâmicas territoriais de desenvolvimento, é comumente desprezada pelos agentes responsáveis pela proposição de políticas públicas e projetos ditos de desenvolvimento local. Pode-se citar como exemplo, os projetos de carcinicultura e de expansão agrícola (coco, cana-de-açúcar e pastagens) e a especulação imobiliária nas áreas litorâneas do Nordeste do Brasil, que têm sido as principais causas da dizimação de mangabeiras e outras espécies úteis de ocorrência nativa na região pelo fato das atividades serem pensadas isoladamente sem considerar as especificidades do ecossistema e da cultura envolvente. Com isso, o espaço nas instituições de pesquisa e universidades vem a ser fundamental para a realização de estudos transdisciplinares que abordem a totalidade da problemática do extrativismo da mangaba, por meio de uma interação entre diferentes atores segundo uma perspectiva teórico-metodológica capaz de superar uma visão fragmentada da realidade.

A transdisciplinaridade da equipe

O que está subjacente à transdiciplinaridade da equipe não é a idéia de que a simples presença de diferentes profissionais em torno de uma mesma questão cria automaticamente um real confronto de perspectivas. Pesquisadores ávidos por explorar a sua área de conhecimento costumam analisar separadamente os diferentes objetos e atores envolvidos no mesmo contexto. Neste caso, há total co-responsabilidade de todos os membros da equipe, nas tomadas de decisão, na execução das atividades e na avaliação dos resultados, sendo fundamental a partilha de informação do conhecimento, possibilitando que cada membro da equipe integre conhecimentos e estratégias que ultrapassam a sua formação. As informações triangulam entre os membros da equipe visando à elaboração coletiva do objeto, objetivos e termos a serem conceitualizados (contribuição das diferentes áreas). Os indicadores são definidos conjuntamente, garantido o caráter contextual, relacional e de mediação das ações. No trabalho de campo, os instrumentos de pesquisa são aplicados separadamente. As informações são registradas em diários de campos e imagens fotográficas, para posterior compatibilização. O documento final é validado por toda equipe, respeitando os campos disciplinares, relativizando a visão fragmentada de cada um e, promovendo a capacidade dialógica dos pesquisadores frente a abordagens diferentes e a vários atores.

Raquel Fernandes de Araújo Rodrigues, Dalva Maria da Mota, Josué Francisco da Silva Junior

Autor: Raquel Rodrigres


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