O Enfermeiro e a Morte



Processo de luto:

A situação de fase final de vida obriga os doentes a enfrentarem novas situações e implica adaptações sucessivas. UNIRP - Centro Universitário de Rio Preto.

A Morte:

reflexão acerca da assistência de Enfermagem

Realizado por : Aluno: Luis Claudio Paulino,UNIRP - Centro Universitário de Rio Preto

Sumário

0 – Introdução....................................................................................... 3

1 - A Morte........................................................................................... 4

- A Morte no Hospital ........................................................................... 4

- No Hospital a morte é desumana?........................................................ 5

- A conspiração do silêncio.................................................................... 6

2 - O Enfermeiro e a Morte.................................................................... 8

3 - Processo De Luto.......................................................................... 11

- Fases do processo de luto................................................................ 11

- Apoio espiritual ................................................................................ 16

- Apoio à família ................................................................................. 17

- Actuação do Enfermeiro perante o momento da Morte........................ 19

4 – Conclusão..................................................................................... 20

5 – Bibliografia.................................................................................... 21


0 - Introdução

Este trabalho elaborado por Luis Claudio Paulino servir de suporte teórico à acção de formação sobre o tema " A Morte, reflexão acerca da assistência de Enfermagem"; que visa abordar a fase terminal de vida do indivíduovitima de doença com mau prognóstico clínico.

Este é um tema relevante, visto no Serviço de Cirurgia Cardiotorácica, onde os doentes submetidos a cirurgia pulmonar de índole curativa, paliativa ou diagnostica, apresentarem na sua maioria, diagnósticos de neoplasia pulmonar. Assim como as cirurgias cardíacas, traduzirem também, alguns casos de insucesso e mortalidade, que levam os profissionais a depararem-se com o dilema da morte.

Sendo assim traçamos os seguintes objectivos:

-Reflectir acerca do conceito da morte na actualidade.

-Reflectir acerca das reacções dos enfermeiros que lidam com a morte.

-Discutir qual a actuação do enfermeiro na assistência ao doente e m fase terminal.

-Sensibilizar os colegas para uniformização de comportamentos perante o doente terminal.

1 - A Morte

A Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem, define a morte como um fenómeno pertencente ao desenvolvimento físico, com a seguintes características específicas: cessação da vida, diminuição gradual ou súbita das funções orgânicas levando ao fim dos processos de manutenção da vida; a cessação da vida manifesta-se pela ausência dos batimentos cardíacos, da respiração e da actividade cerebral.

A Morte traz consigo outros fenómenos associados que exigem a nossa atenção como seja o luto e o coping ( como a negação ou aceitação ) do doente ou família.

A Morte no Hospital

A morte é o fim da vida, faz parte dela, é um momento pessoal e único. O novo modelo de morte, nos últimos tempos é no hospital, e como tal, o profissional de saúde deve dar uma resposta acertada. A possibilidade de morrer de uma doença crónica aumenta a cada avanço médico.

Actualmente, obtêm-se resultados espectaculares no que se refere à cura das doenças e ao prolongamento da vida graças aos antibióticos, à cirurgia e às novas técnicas de diagnóstico. Todo o ser humano caminha para o seu fim e nega o momento em que lhe é revelado que a medicina já não consegue fazer mais nada por ele.

Contrariamente à antiguidade, a morte "boa", passou a ser a que surge num contexto perturbador, de tal forma que os que lhe estão próximos não tenham tempo de se aperceber. Referindo-se à morte no contexto hospitalar, Kastenbaum & Aisenberg comentam que "não se espera que o doente hospitalizado morra em qualquer lugar a qualquer hora. Considera-se importante que ele não exponha os sobreviventes ( outros doentes, os profissionais de saúde, os visitantes ) ao fenómeno da morte, excepto em circunstâncias cuidadosamente especificas". Esta nova forma de morrer traduz uma verdadeira "hospitalização da morte".

Na cultura ocidental, preferem ignorar a morte apesar de ser uma realidade. Não estamos preparados nem educados para morrer. Nas escolas, não há uma pedagogia da morte que deveria fazer parte do princípio da educação. Os pais não falam, nem sabem falar com seus filhos acerca deste tema, assim como os professores com os alunos.

Há uma necessidade imperiosa de preparar futuros profissionais, capazes de dar uma resposta acertada a este problema, e prestar os cuidados oportunos para melhorar nesta fase, a qualidade de vida através de uma resolução e alívio de sintomas, assim como, sentimentos de angústia e solidão.

"No Hospital, a morte é desumana?"

Os doentes vão ao Hospital em busca de um lugar em que os possam atender e solucionar os seus problemas de saúde, em busca da cura. Há pessoas que encontram a morte no Hospital como resultado final da sua doença.

A morte troca "a casa pelo hospital". O homem impossibilitado de morrer em casa, rodeado pela família, morre no hospital, sozinho. "Morre-se sem saber" porque não se é advertido, porque a morte não é reconhecida espontaneamente. Não se tem tempo para morrer.

O local da morte modifica-se mesmo dentro do hospital, passando o doente, em função do seu estado, da enfermaria para a Unidade de Cuidados Intensivos ou para um pequeno quarto onde permanece sozinho, de forma a não perturbar os que lhe estão próximos. O homem passa a morrer sozinho, separado dos outros por um biombo, pelas paredes de um quarto solitário ou no meio de sofisticados e incompreensíveis aparelhos de uma unidade especializada. Em qualquer dos locais, morre no vazio, sem ninguém que partilhe os seus medos, as suas dúvidas, a angústia, a paz, a alegria, "o que sente"... A morte torna-se um momento solitário.

A morte não pode suscitar emoções fortes, pois elas não são compatíveis com a vida profissional de cada um, e ainda menos com o hospital. Neste sentido, a morte contradiz a finalidade do hospital. A morte torna-se a imagem e o fracasso da Ciência e a tecnologia em que o homem confiava.

Os doentes receiam ser sujeitos a uma intensificação de cuidados que levem ao prolongamento da sua vida para além dos limites toleráveis. Outros, receiam a falta de cuidados, que Pacheco traduz "eutanásia sócio económica - consequência directa da estrita aplicação das leis da economia e da gestão super-pragmática aos cuidados de saúde. Assusta-os, no fundo – e a nós também – a lógica da outra ciência, aquela que nos governa já há muito tempo, a economia...". Para o doente, a morte é temida, porque poderá corresponder a um processo de dor, isolamento, de dependência física.

Perante situações de fase final de vida a necessidade de tomar decisões é uma constante. Estas decisões devem exprimir um comportamento responsável, sustentado nos princípios orientadores da prática de cuidados. Estas deverão ser decisões apoiadas em conceitos morais (de bem, de justiça e de verdade), éticos e deontológicos.

O anonimato, a despersonalização, a generalização, e sobretudo, o silêncio que reina em volta do doente encerra-o na sua solidão. Os profissionais de saúde estão preocupados com a eficácia da terapêutica, com a sua produtividade e com as rotinas.

A conspiração de Silêncio

Pacientes e familiares projectam no profissional de saúde, aspectos emocionais decorrentes da situação de hospitalização e/ou da gravidade da doença, o que leva o profissional a utilizar-se de mecanismos de defesa , para se proteger da ansiedade gerada pela pressão dos pacientes, familiares e também pela cobrança pessoal.

A negação da morte, é um mecanismo constantemente utilizado pelos profissionais, o que acaba por impossibilitar o reconhecimento das angústias do paciente e familiares perante a morte, não favorecendo a elaboração do luto.

Esta sociedade "negadora" da morte, torna o processo de morrer como um assunto privado e tecnicamente controlado. Como vimos anteriormente, com o avanço da ciência e tecnologia, a morte troca a casa pelo hospital. Não há suporte profissional institucionalizado para ajudar a enfrentar a morte. No hospital as preocupações aumentam, encontramos as angústias na relação e os comportamentos desajustados à realidade do doente em fase final de vida. Glaser & Strauss ( citado por Serra et al ) referem que "o pessoal hospitalar define como estilo aceitável de encarar a morte: a morte daquele que finge que não vai morrer...".

O silêncio em torno da morte perturba a possibilidade de relação entre o doente grave, a sua família e o resto da equipa. Klatt ( citado por Serra et al ) refere que "a última ameaça para a vida não é o fracasso, a doença ou a morte. A ameaça pior é a falta de significado, isto é, de valores absolutos que iluminem a existência, no campo social, espiritual e emocional".

As manifestações públicas de sofrimento são interditas, sendo assim,trabalho do enfermeiro deve ir na direcção contrária a esta interdição, procurando facilitar a manifestação dos sentimentos.

Serra et al consideram que um suporte organizacional poderá se uma das formas de redução das dificuldades sentidas pela equipa de saúde, normalmente através de:

recurso a reuniões interdisciplinares periódicas, que permitam a abordagem e discussão de situações; de encontros informais, que fortaleçam a coesão do grupo, apoio e orientação dos novos elementos da equipa, de forma a preparar todos os seus elementos para o confronto com as situações do processo de morrer.

2 - O Enfermeiro e a morte

A morte de um paciente causa um impacto muito grande na identidade pessoal e profissional de toda a equipe que o cuida. A vivência do stress pelo contacto constante, com a possibilidade e a ocorrência da morte, pode ser pensada como uma vivência de um "luto do profissional" em relação aos pacientes perdidos e à situação de trabalho.

"A ideia de morte é uma ideia traumática por excelência."

Edgar Morin

O modo como o profissional compreende o conceito de morte, bem como a forma que relaciona este conceito com a sua própria existência e as suas vivências pessoais de perdas anteriores dentro e fora do âmbito profissional são aspectos que influirão na sua actuação diante da morte.

Na prática profissional hospitalar é muito frequente que surjam erros de informação e comunicação com os doentes e familiares, reconhecidos pela grande maioria dos profissionais. As atitudes, o paternalismo unido à subprotecção dificulta o processo de autonomia do doente.

Os próprios profissionais podem manifestar dificuldades pessoais de adaptação ao processo da morte, incapacitando-os de atender doentes numa situação difícil de doença avançada. Este tipo de dificuldades sentidas têm de ser reconhecidas numa tentativa de resolução num contexto solidário de uma equipa.

Pensámos que as dificuldades de relação com os doentes em fase final de vida e que condicionam a interacção junto deles estão essencialmente associadas a três aspectos: a falta de formação, incapacidade de lidar com os seus próprios medos e a instabilidade emocional da equipa de saúde.

Os profissionais de saúde são preparados através de um modelo biomédico tradicional, que tem por objectivo qualificar profissionais aptos para tratar, curar e prolongar a vida, numa perspectiva nitidamente técnica. Temos assistido a uma participação das escolas na formação dos profissionais de saúde, com a preocupação centrada na aquisição e conhecimentos (através da memorização) e de técnicas (competências e destreza). Dado orientação central estar direccionada para a doença e as intervenções face ás suas alterações, menosprezou a aquisição de condutas a adoptar perante situações que envolvem a interacção com o doente num processo de constante desenvolvimento e mudança.

A Ignorância/falta de formação, impede-nos de ter em conta mecanismos de adaptação, o "não saber o que dizer", ou não conhecer as técnicas básicas de comunicação, a falta de suporte pessoal e de trabalho em equipa, podem impedir a compreensão e consequente criação de esforços para a sua resolução. Os métodos inadequados no que se refere a metodologia básica de comunicação podem ser classificados em verbais e não verbais. Entre os primeiros destacam-se: a mentira, o evitar, as dúvidas, a distância física, a interposição de barreiras, o acto de não se sentar, de olhar e manifestar sinais não verbais das nossas dificuldades.

Medos relacionados com a falta de resposta para as diferentes situações relativas à comunicação da verdade são uma realidade constante na nossa vida profissional. Relativamente à comunicação da verdade existem grandes controvérsias e divergências. Alguns profissionais de saúde pensam que a transmissão da verdade é fundamental, pois eliminará certas indefinições e diminuirá as angústia; outros pensam que ela é problemática, que desencadeará situações conflituosas, podendo alterar a qualidade de vida durante o processo de morrer. O problema da quantidade de informação que deve ser transmitida aos doentes, é por isso, um dos problemas com que se debatem os profissionais de saúde.

Kubler-Ross cita uma carta dirigida aos enfermeiros e que foi escrita por uma aluna de enfermagem em fase final de vida. Através desta carta, ela tenta alertar os enfermeiros para a problemática da fuga e dos medos: "... Se tivéssemos ao menos a coragem de fazer o ponto da nossa situação e admitirmos os nossos medos, vós tal como eu, seria que isto vos iria prejudicar na vossa preciosa competência profissional? Será proibido comunicarmos como pessoas, no momento da minha morte?"

A instabilidade da equipa de saúde, traduzida pelo referido "vácuo de responsabilidade", induz nos diferentes elementos da equipa, a falta de respostas para as diferentes situações e questões que os doentes lhe colocam. Tudo se parece passar, segundo Berger & Hortala "como se cada um desejasse que o doente conhecesse o que tem, sem ter a necessidade de lhe dizer. Uma enfermeira disse a este propósito: "toda a verdade poderá não ser adequada para ser dita, porque nem todos estão dispostos a encarar a verdade. Esta verdade deveria ser um processo de descoberta por parte do doente...".

O contacto com o doente deverá levar à descoberta sobre o que ele quer saber, como e quando pretende obter essa informação. Assim, deve-se deixar o doente controlar esse fluxo de informação, proporcionar a oportunidade para que este coloque as suas dúvidas e os seus medos. Mas também, teremos que ter em consideração que se ele não aproveitar estes momentos para fazer perguntas, não deve ser confrontado com a situação.

O ponto de partida para o reconhecimento das necessidades dos doentes em fase final de vida será a identificação de duas realidades. O doente em fase final de vida é um ser humano e, por outro lado, é um ser humano que morre. Ou seja, o profissional de saúde tem de encarar este doente como um ser humano inserido num processo de morrer, que inclui a passagem por diferentes etapas ao longo deste percurso.

3 - O Processo de Luto

O luto refere-se a um estado de pensamento, sentimento e actividade que se produz em alguém como consequência da perda de uma pessoa ou coisa amada, associando-se a sintomas físicos e emocionais. A perda é psicologicamente traumática, pelo que é sempre dolorosa e quem a sofre necessita de tempo para transitar ao equilíbrio normal.

Fases do processo de luto

A situação de fase final de vida obriga os doentes a enfrentarem novas situações e implica adaptações sucessivas. O doente apresenta uma crise de vida significativa no seu equilíbrio pessoal, conduzindo a alterações no relacionamento social e familiar.

Neste processo vão surgir múltiplas manifestações: sentimentos como a tristeza, solidão, saudade, ira, reprovação, culpabilidade; sensações físicas como estômago vazio, pontadas, hipersensibilidade aos ruídos, sentido de despersonalização, boca seca; pensamentos como incredulidade, confusão, preocupação, presença do falecido, alucinações visuais e auditivas; comportamentos e condutas como sonhar com o falecido, perturbações do apetite por defeito ou por excesso, comportamentos de risco, evicção social, frequentar os mesmos lugares do falecido, choro frequente, hiperactividade. e dor. Estão descritas cinco fases no processo de luto:

Negação

Ao tomar consciência com a situação de fase final de vida, o doente tende a negar a iminência de morte, negando inclusivamente a doença. Para Andrés, "negar é deformar a realidade quando uma pessoa não pode ou não quer adaptar-se a ela. Esta forma de defesa implica sempre um autoengano consciente...". A negação permite que o doente mantenha a esperança perante essa ameaça. Com frequência, alguns doentes procuram reassegurar-se do diagnóstico, contactando outros médicos, realizando outros exames. Outros doentes, manifestam a negação de uma forma mais implícita, podendo insistir no caracter passageiro da doença, continuando a falar com optimismo de planos para o futuro. Os profissionais de saúde devem compreender esta negação, como um sinal de que o doente ainda não está preparado para enfrentar essa realidade . É necessário aceitar o doente como um ser humano, que necessita de tempo e de alguém para partilhar os seus sentimentos de medo, angústia e insegurança.

Martinez ( citado por Andrés) refere que outra forma de negação "é a dos familiares e outras pessoas (amigos, profissionais de saúde) que rodeiam o moribundo e que actuam como se ele não o fosse...". se tivermos em consideração a linguagem hospitalar, verificamos que implicitamente, ela revela que a negação da morte é uma posição defendida pelo próprio hospital (como instituição de saúde) e pelos profissionais de saúde, o que permite que o doente receba continuamente reforços para se manter no estado de negação. A este respeito e dirigindo-se aos profissionais de saúde, Kluber-Ross recomenda que: "um outro aspecto ao qual é preciso dar muita atenção neste estado inicial, para poder ajudar o doente, é assegurarem-se com o maior cuidado, que não é a nossa própria reacção que bloqueia a comunicação. Nove doentes em cada dez já não se encontram nesse estado, embora o pareçam. É por vossa causa que eles simulam. Sentem que não sois capazes de falar disso e portanto não falarão...".

Raiva

À medida que o seu mecanismo de negação se vai atenuando, o doente começa a experimentar um sentimento de revolta, interrogando-se: "Porquê eu?..."; exteriorizando a sua hostilidade contra o tratamento, contra os profissionais de saúde, contra Deus...

Stedeford refere que "a cada nova perda ou aumento da incapacidade, há uma revolta e um período de lamentações, até que seja feito o ajustamento às novas limitações e sejam descobertas novas fontes de satisfação...". É nesta fase, que o doente toma atitudes perante as perdas e limitações. Serra et al consideram que "esta raiva deverá ser exteriorizada, ela é quase inevitável, para que o doente evolua para uma aceitação da morte: terá que se confrontar com a solidão, os seus conflitos, a sua culpabilidade e com a falta de sentido de vida...".

Este sentimento de raiva conduz, por vezes, ao perigo de alienação e isolamento por parte daqueles com que o doente se relaciona. É necessário aprender e a aceitar esta raiva como expressão da angústia. Os profissionais de saúde devem evitar a censura, pois, ela é a forma característica de "castigar" o doente com uma maior solidão.

Negociação

Neste estadio, constata-se com frequência o desejo que os doentes manifestam, em realizar acordos "por um pouco mais de tempo de vida". Essa negociação, que se pode apoiar na tentativa de prolongar o tempo de vida (habitualmente associado a uma melhor qualidade de vida: diminuição da dor),poderá ser realizada com Deus, com os profissionais de saúde, ou até mesmo, com ele próprio: "se eu pudesse viver o tempo suficiente para...eu...".

O doente, segundo Serra et al, "passa a seguir escrupulosamente o seu tratamento, começa um regime mais saudável, promete ser mais compreensivo e tolerante com os outros, dedica mais tempo às práticas religiosas,...".

Depressão

Neste momento, o doente toma consciência das consequências reais da sua situação. Ele passa a viver um mundo à parte, isola-se, não manifestando interesse pelo que o rodeia. Serra et al referem que "de início a depressão é reactiva, o doente verbaliza e activa-se. Chora sobre as provações passadas, os seus pecados, as decepções da sua vida...". na sociedade actual, onde as emoções são extremamente contestadas, dificilmente este tipo de tristeza é tolerado e as respostas são dadas com superficialidade (Não chore, tenha coragem..."). Este tipo de atitude por parte do doente, provoca nos diferentes profissionais de saúde, o sentimento de culpa, tornando-os inseguros. Perante estas situações, assistimos com frequência, a um período de silêncio. A comunicação é essencialmente não verbal. A distância para com o mundo que rodeia o doente é enorme. È necessário, que os profissionais de saúde estejam atentos, não só ao que o doente exprime, mas também aquilo que ele não diz, recorrendo à linguagem simbólica.

Steiner considera que nestas situações, os profissionais de saúde podem sempre fazer alguma coisa: "quando a palavra já não é possível, uma presença silenciosa deve ajudar o agonizante para que este não fique abandonado à angústia da solidão...".

Aceitação

A aceitação surge num período, em que o doente se mostra capaz de entender a sua situação, com todas as suas consequências. È neste momento, que o doente começa a falar claramente na morte. O doente revela necessidade de rever as suas experiências passadas mais significativas, como forma de dar sentido à vida e à morte. Serra et al descrevem que neste momento os doentes "podem manter conversas profundas com pessoas significativas, mostram um diálogo real e conseguem aceitar as coisas boas e más..." A aceitação não excluirá a esperança. Poder-se-á mesmo dizer, que permanece sempre para o doente uma "leve esperança": um tratamento novo, um "milagre",...

Serra et al consideram que "nem todas as mortes podem ser completamente adequadas, mas a condutas mais tranquilizadoras podem ser facilitadas, permitindo melhorar mortes potencialmente dolorosas...".

Os objectivos da orientação a prestar no luto são:

- Aumentar de forma adequada a realidade da perda;

- Ajudar a pessoa a expressar a sua afectividade;

- Ajudar a vencer os impedimentos que evitam o reajuste depois da perda;

- Ajudar a formular novos projectos para o futuro;

- Ajudar a "dizer adeus" ao falecido e a sentir-se confortável na sua nova situação.

Também neste período deverá ser valorizado o processo de comunicação, particularmente a escuta activa. Muitos dos enlutados ficam sós e necessitam de alguém que os ouça e os ajude a reenquadrar perspectivas e a atingir o equilíbrio natural para viver.

Apoio espiritual

O apoio espiritual, consiste sobretudo em oferecer a atenção espiritual, atenção integral, com uma atitude de absoluta humildade e respeito porque vamos entrar no lugar mais secreto de cada pessoa. Esta humildade,exige o dever de escutar antes de falar, compreender antes de convencer e aceitar antes de impor

"Os indivíduos que se encontram a ponto de morrer agradecem a oportunidade de poder falar com alguém e expressar os seus próprios pontos de vista."

Reed

Uma ajuda espiritual específica, será preferencialmente efectuada, por profissionais devidamente preparados neste âmbito, como os assistentes pastorais.

A capacidade de compreender, detectar, e acompanhar o paciente no seu particular caminho deve ser tarefa de todos aqueles que cuidam dos pacientes e seus familiares na situação de doença terminal, devolvendo assim a todos eles o sentimento profundo de serem queridos como pessoas, porque todos nós sabemos que a aceitação e o amor são os primeiros e os maiores recursos terapêuticos.

"O Homem não se destroi pelo sofrimento, mas sim, por sofrer sem sentido."

Viktor Frankl

Devemos detectar o sofrimento espiritual para que possa ser aliviado, ou extinto na medida do possível de acordo com o processo clínico. Para isso é importante ajudar o doente a recuperar a força para viver e reelaborar os aspectos fundamentais da sua vida, através de um balanço com a sua biografia espiritual. As inquietações que o paciente manifesta revelam as suas necessidades espirituais e estão relacionadas com:

- O sentido do sofrimento humano;

- O sentimento de injustiça;

- O balanço da sua própria vida;

- A necessidade de reconciliação humana;

- O medo da morte.

Apoio à família

O impacto da doença terminal sobre o ambiente familiar, pode tomar aspectos distintos de acordo com os factores predominantes, sejam eles relacionados com a doença ou relacionados com o contexto social do doente.

Ao planear o apoio à família, devem valorizar-se uma série de factores socio-culturais:

- situação económica da família face às despesas previsíveis, condições básicas de habitabilidade,

- nível cultural que permita à família a execução das indicações sobre o tratamento e cuidados a prestar.

A primeira atitude da equipa de saúde, será a de avaliar se a família pode, do ponto de vista emocional e prático, cuidar de forma adequada o paciente.

Para Cassileth & Hamilton(1979) " A doença terminal impõem-se à família de três maneiras diferentes: distorce ou destrói os padrões de interacção dentro da unidade familiar; afecta os planos e as orientações da família em relação ao futuro; altera o conjunto de grupos de referência exteriores com os quais a família interage."

Devemos promover à família, em conjunto, o ajuste individual à situação, aumentar a capacidade de cuidar e possibilitar uma adaptação normal.

O passo seguinte será o de planear a integração plena da família na prestação dos cuidados, o que se consegue através da sua educação, do suporte emocional e prático que lhe for proporcionado e da forma como se for preparando o luto.

A função da família deverá ser a da participação nas tarefas que dizem respeito à higiene do doente, alimentação, adopção de condutas adequadas quando surgem determinadas situações/problemas e comunicação efectiva com o doente.

Actuação do Enfermeiro perante o momento da Morte

Para que o fenómeno da Morte seja encarado com serenidade pelo enfermeiro, este deve prevê-la como inevitável. Assim deve ter como atitudes:

- Toda a equipa deve ter um comportamento e linguagem coerente , em relação à informação dada ao doente para não existir contradições.

- Comunicar a situação terminal do doente, conforme a vontade e capacidade de aceitação do doente.

- Compartilhar, deixar a pessoa expressar os seus temores e desejos

- Auxiliar correctamente o doente a assumir a morte como experiência que só ele pode viver.

- Promover a vivência da fase final de vida no domicilio sempre que possível, caso contrário, providenciar um espaço confortável na instituição hospitalar, onde familiares e doente, possam juntos partilhar o momento da morte

- Ter respeito pela diferença, cada doente tem o seu modo de estar na vida.

- O doente raramente está isolado, os familiares podem ajudar ou perturbar.

- Diminuir a dor, o sofrimento e a angustia.

4 - Conclusão

A morte continua a ser um grande obstáculo na cultura Ocidental. No entanto, nada de proveitoso se adquire deste tipo de comportamento e conduta, resultando no errado acompanhamento dos profissionais de saúde à família e doente, no momento da morte.

Se o acompanhamento ao doente em fase terminal, for adequado e atempadamente se inserir a família neste processo de apoio, o doente usufruirá de uma melhor qualidade de vida, do ponto de vista emocional e afectivo, assim como, na diminuição da dor e angústia, inerentes á doença.

Por isso, é necessário ajudar os profissionais de Saúde a ultrapassarem os seus próprios temores relativos á morte, sensibilizando-os para o papel preponderante, que têm no acompanhamento do doente e família.

Para Bresh, uma atitude de acompanhamento do doente em fase final de vida "inscreve-se numa nova ritualização perante o fim da vida e testemunha uma certa evolução das atitudes e mentalidades face à morte... Acompanhar uma pessoa perante uma etapa crucial da sua existência poderá ser uma oferta de escuta, de acompanhamento no seu processo de luto... entender as sua interrogações , o seu sofrimento. Esta solidariedade é fundamental e permite que cada um se sinta sujeito de um encontro; e não como portador de uma doença e objecto de cuidados...".

5 - Bibliografia

MORIN, E. - "O homem e a morte", 2ª Edição, Publicação Europa-América, Men Martins, 1976.

ARIÈS, P. - "Sobre a história da morte no ocidente desde a Idade Média", Editorial Teorema, Lisboa.

ARIÈS, P. – "O homem perante a morte", Bublicações Europa-América, Vol. II, Men Martins, 1988.

KASTENBAUM, R. e AISENBERG, R. – "Psicologia da morte", Editora Universidade de S. Paulo, S. Paulo, 1983.

KLUBER-ROSS, E. – " Encontro com os moribundos", Revista Acção Médica, nº3, Setembro, Lisboa, 1975.

HILL,F. – "Cuidar de doentes terminais", revista Nursing, nº 50, março, Lisboa, 1992.

PACHECO, F. – "A morte a que chegamos – algumas reflexões éticas", Revista Divulgação, nº 23, Julho, Porto, 1992.

SERRA, V. et al – "Reacções emocionais à doença grave: como lidar...", Ed. Clínica psiquiátrica dos H.U.C., Coimbra, 1991.


Autor: LUIS CLAUDIO PAULINO.


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