Amanhã



Quando aquela senhora me indagou e procurou dividir seu sofrimento comigo me lembrei de uma canção do grande Guilherme Arantes: "Amanhã será um lindo dia da mais doce alegria que se possa imaginar...".

É sempre hora de recomeçar, dar um chute no que ficou para trás e seguir em frente, apoiar-se em fatos que nos fortificaram no passado, mas não se remeter somente a eles, pois quem vive de passado são museu e professor de História. Poderia sair daqui um discurso de auto-ajuda, mas este não é meu objetivo, pelo contrário, sou um analista do cotidiano, transformo o dia-a-dia em textos, e até por que essa é a função de um cronista. Podemos ajudar sim nossos semelhantes, mas não dar forma como almejam os fazedores de texto por encomenda como Paulo Coelho e seus seguidores. Nossa sensibilidade não nasce através de conceitos religiosos, questões místicas etc., é claro que elas podem se aglutinarem no texto ou aparecerem separadamente, mas são elas elementos do cotidiano. E assim foram, vários dias de conversa, conselhos, reclamações, aflições e uma amizade especial entre um jovem e uma senhora. Uma união questionada por muitos e sem fundamentos, acampada por outros.

Sempre é tempo de aprender, mesmo longe dos livros o ser humano vive aprendendo. O idoso tem muito a nos ensinar, e mesmo aqueles que nunca estudaram, leram um livro, contam com os caminhos de conhecimentos deixados pela vida com suas asperezas, veredas, certas aflições. Mas a vida não tem apenas momentos difíceis, possui belezas indescritíveis que apenas o coração é capaz de captar. Essa senhora era um exemplo desses, mesclando glórias e decepções. Assim é o ser humano. Uma ilha cercada de sentimentos bons e ruins, mas nada que um arquipélago não possa melhorar. Ela era o sinal do isolamento, da ausência de com quem conversar. Estava, sempre fui, disposto a ouvi-la. Dos seus discursos brotaram revoltas; dos adjetivos bradados soaram amarguras; do vocábulo nem um pouco aguçado nasceu a esperança e da minha atenção cresceu nossa fraterna amizade.

É isso, o homem não aprendeu a ouvir, está preocupado com o seu mundo, com seu trabalho com seus anseios e devaneios, com a sua materialidade. Onde se encontra a alma de Platão? O ato da escuta foi poupado, ignorado pela aceleração da vida, a mudança do curso desse caudaloso rio. Não devemos nos esquivar dessa chance, a possibilidade de ouvir, sentar e compartilhar através do silêncio a experiência daqueles que um dia viveram e sonham em viver, mesmo que a velhice, através da foice da morte decepe este momento lindo. E depois, amanhã será outro dia...


Autor: Sergio Sant'Anna


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